Lugar Ensolarado escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Hinata pode significar “lugar ao Sol”, “Lugar Ensolarado”, “Em direção ao Sol”, “Girassol”.



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— Um milk-shake pequeno, de morango, por favor – Ela pediu com sua voz suave, quase baixa demais para que a atendente escutasse.

Hinata.

Uma jovem comum, no auge dos seus dezessete anos. Não muito alta, de pele clara, cabelos longos e escuros e uma timidez que não podia ser explicada.

Desde criança, ela sempre agia dessa forma, meio contida, introvertida. Que parecia nunca saber ao certo como agir. Tinha dificuldade em brincar com outras crianças ou fazer amizades, porém sua mãe sempre a animava, dizendo que com o tempo, ela veria como as pessoas amam um Lugar Ensolarado.*.

Quando ela morreu, no parto de sua irmã, as coisas pioraram e Hinata desistiu de tentar se aproximar de qualquer pessoa.

As poucas amigas que tinha atualmente eram pessoas maravilhosas, que tiveram muita paciência com ela. Ainda assim, ela não conseguia se abrir o suficiente para um convite simples, como ir ao shopping numa tarde de domingo.

Não era nada demais, ela sabia. Porém, depois de tanto tempo, ela aprendeu a amar estar consigo mesma. Sabia também que isso a atrapalhava em seguir adiante. Faria algo a respeito em outra oportunidade.

Após pagar seu pedido e receber o milk-shake, Hinata começou a caminhar de volta para a saída. Já tinha comprado o livro que queria e ido às lojas que costumava ir, então decidiu que já podia voltar.

No caminho, percebeu uma pequena aglomeração de pessoas, em um lugar do shopping que era reservado para pequenos eventos.

A nova atração era um evento gamer, e o tema parecia ser de um jogo, estilo RPG, conhecido da morena. Não que ela gostasse, sequer havia jogado esse ou qualquer outro jogo na vida. Mas ela o conhecia porque ele gostava.

Naruto.

Um jovem um tanto incomum. Alto, de pele bronzeada, loiro e com os olhos mais azuis que ela já tinha visto. Seu colega de classe há um ano e meio.

Ela o tinha visto jogar esse mesmo jogo, por horas seguidas, no ultimo festival escolar, quando uma sala montou um clube de jogos. Ele ria animado e conversava alegremente, com todos, como era de seu costumo. Ele era extrovertido, falante e barulhento. Era simplesmente impossível não notar sua presença.

E Hinata aprendeu a valorizar o quão diferente eles eram. Mas não foi apenas admiração que a fez passar várias e várias vezes por aquela sala, naquele dia.

Eles haviam se aproximado gradativamente, por se sentarem perto um do outro na escola. Ela até arriscaria dizer que eram amigos. Embora ele sempre falasse mais do que ela. E sempre mandasse mais mensagens que ela. E sempre brilhasse muito mais do que ela, como um grande sol.

Seu total oposto.

A morena voltou de seus pensamentos quando ouviu um grito vindo do local de eventos. Muitas pessoas, entre jovens e adultos, se divertiam lá. Ela sabia que Naruto ia amar isso.

Com isso em mente, pegou seu celular no bolso, tirou uma foto e enviou para ele, com apenas uma frase: “Lembrei de você”.

Uma pequena frase que jamais faria justiça ao sentimento que ela realmente tinha naquele instante.

Hinata encostou o celular no queixo, imaginando a animação do loiro ao ver a foto. Ele com certeza abriria um enorme sorriso enquanto seus intensos olhos azuis brilhariam.

A morena estava tão perdida na imagem fixada em sua mente que teve um sobressalto quando seu celular apitou.

Era ele.

“WOW!! Onde é isso?” – Ele havia mandado com alguns emojis de surpresa.

“No shopping”

“Você está ai?”

“Sim”

“Aguenta ai, que eu chego em cinco minutos”

Hinata se surpreendeu. Será que ele realmente estava indo até lá?  

“Você vai vir aqui agora?”

“Sim, menina! Mas sendo justo, vou levar mais de cinco minutos kkkkkkkkkkkkkk. Mas vou, então me espera!!”

A jovem morena respirou fundo, já sentindo seu coração acelerar só de imaginar que o veria pessoalmente.

“Tudo bem...”

Hinata olhou em volta, nervosa. Mais ao fundo, naquele mesmo corredor, tinha um banco livre, caminhou até lá e se sentou.

Não esperava encontra-lo, mas claro que adoraria que acontecesse. Quando mandou a mensagem, só queria animá-lo. Sabia que se empolgaria e que provavelmente fosse ao shopping , não imaginou que ele viria correndo, no mesmo dia.

Ela tomou seu milk-shake devagar, enquanto esperava. Quinze minutos depois, já quase no fim daquele da bebida doce, ela ouviu seu celular apitar novamente,

“Cheguei, cadê você?”

“Segundo andar, perto das escadas rolantes.”

Hinata respirou fundo, se preparando mentalmente para vê-lo de perto.

— Hina!! – Ouviu a voz chamar ainda longe, gelando todo seu estômago. Ela pode vê-lo se aproximar rapidamente, já com seu costumeiro sorriso instalado no rosto. E como sempre, toda sua concentração se desfez, quase instantaneamente. Ela sentiu seu rosto esquentar e tentou se manter calma, como pode – Cheguei, eu fiz você esperar demais?

O loiro disse, enquanto apertava levemente a mão da jovem, que ainda segurava o milk-shake, que mais parecia um suco.

— N-não, eu... Eu que demoro m-mesmo – Comentou sem graça, pois ele estava muito perto – Nunca... – De repente, parecia que não conseguia formar frases inteiras.

—... Consegue tomar tudo, eu sei, Hina – Ele disse descontraído, ainda sorrindo. Então, ele tirou o copo da mão dela e bebericou um pouco – Está quente, esse aqui já era.

Calmamente, ele caminhou até uma lixeira e jogou o copo fora.

Hinata só pode observar. Os breves momentos em que suas mãos tocaram as dela foram suficientes para enviar sinais elétricos para todo seu corpo.

Resistiu o quanto pode, mas a verdade é que tinha se apaixonado por ele. Nenhum outro sentimento poderia ser tão avassalador. Ela mal conseguia disfarçar todas as sensações que ele lhe causava.

— Tudo bem, Hina? Você está bem vermelha – Ele comentou e a olhou fixamente.  A intensidade era tanta que Hinata precisou fechar os olhos, para conseguir falar.

— S-sim... Eu... – Ela abaixou o rosto, abrindo os olhos, fitando o celular que ainda estava na sua outra mão, fingindo um súbito interesse em ver alguma coisa ali – Bom, v-você sabe, minha pele... É muito clara e...

— Você não controla. Eu sei – Novamente ele completou e sorriu.

Hinata levantou o olhar para ele, com um pequeno sorriso, mas desviando rapidamente.

— Então, é ali – Ela apontou o local do evento.

— Então não vamos esperar mais. Surtei quando vi sua mensagem – Ele disse animado e segurou a mão da jovem – Vem!

Sem forças para resistir, se permitiu ser guiada até o local.

Tinha várias pessoas jogando, outras admirando umas miniaturas. Outras trocavam ideias, tiravam fotos, compravam suvenir.

Naruto queria ver tudo, completamente empolgado e, em tudo, a arrastava.

Ele conversava com todo mundo, como se fossem amigos de infância. Hinata, por outro lado, dizia meias palavras. Não por que sentia algum desconforto, ou algo do tipo. Ela apenas era assim e Naruto a conhecia bem. Ele parecia sempre tentar trazê-la para as conversas, ao mesmo tempo, em que respeitava seu espaço.

Talvez por ele ser sempre assim, tão gentil, ela tivesse confundido as coisas e se deixado levar pelo sentimento.

Depois de um bom tempo, que ela não soube precisar quanto, saíram do evento com três sacolas e um Naruto muito feliz.

— Hina, você salvou meu dia, sabia?  – Ele se virou para ela, encostando-se na mureta de proteção que ficava na área central do shopping, de onde era possível ver os outros pisos – Eu estava prestes a morrer de tédio.

— Não exagera – Ela disse baixo, com um pequeno sorriso.

— Não é exagero não! A pobre vida desse pequeno mortal, agora, lhe pertence, minha princesa – Ele disse e fez uma reverencia, curvando-se pra frente.

— Naruto, por favor!! – Envergonhada, a morena se aproximou e tocou em seus ombros, pedindo que ele parasse. O jovem loiro achou graça da reação dela e endireitou-se sorrindo.

O coração de Hinata se preencheu de tal forma, que ela seria incapaz de por o sentimento que a dominava, naquele momento, em palavras. Ela apenas se permitiu dar risada. E foi tão espontânea que Naruto se surpreendeu.

— Eu sabia que você gostava desse jogo, Naruto-kun, mas não imaginava o quanto – Ela disse, no final do riso. Porém ao perceber que ele a fitava, corou, baixando o olhar ao chão.

Naruto permaneceu fitando-a, com um olhar quase encantado.

Quando Hinata percebeu, ficou mais constrangida. Respirou profundamente, recuperando um pouco do ar que havia sumido, e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, nervosa.

— O-o que foi? – Perguntou, ainda sem olhá-lo.

— Engraçado você dizer isso...

— Por quê?

— Por que eu estava pensando a mesma coisa.

Sem entender, Hinata finalmente levantou seu olhar, a tempo de ver a aproximação rápida dele. Porém, antes que pudesse entender, Naruto já havia encostado seus lábios nos dela, roubando-lhe um beijo.

— Eu sabia que gostava de você, mas não imaginava o quanto – Ele disse, afastando-se minimamente.

 Pega completamente de surpresa, Hinata sentiu todo o ar sumir mais uma vez. Seu rosto estava quente e a cabeça parecia estar girando, de algum modo. Tentou organizar os pensamentos de alguma forma lógica, mas com Naruto ainda tão perto, qualquer tentativa falhava miseravelmente.

Tudo o que ela podia fazer, era sustentar seu olhar.

— Você não gostou? – Naruto quase sussurrou, apreensivo, diante das reações combinadas com o silencio dela.

— Eu gostei – As palavras saíram firmes e Hinata quase duvidou que foi ela quem disse.

Mais aliviado, Naruto sorriu e colocou um braço ao redor da cintura dela, puxando-a para mais perto.

— Que bom... Por um momento, pensei ter interpretado mal todas as suas reações perto de mim – O loiro ainda mantinha o sorriso no rosto. Quando já estavam praticamente colados, voltou a dizer – Posso te beijar de novo?

— Por favor... – Hinata sussurrou, sem ainda entender como as palavras estavam saindo.

E agora, nem fazia mais diferença, pois Naruto novamente a beijou, deixando-a sem chão.

Um beijo real, muito melhor que qualquer uma das vezes em que se pegou imaginando essa cena.

Um beijo doce, mais do que qualquer um dos sonhos que ela já teve.

Um beijo intenso, mais ainda que os batimentos descompassados que martelavam no seu peito.

Um beijo que a morena retribuiu, sem saber ao certo como, pois sua cabeça ainda girava quase em branco.

Quase, porque um pensamento revelador passeava em sua mente: seu nome tinha mais sentido agora, do que nunca.

Um lugar só pode ser ensolarado se houver um sol.


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