Todo dia é a mesma coisa. Monotonia de manhã e de tarde. Silêncio. Sem nenhuma conversa de verdade, apenas monólogos vindos do computador. Eventual troca de palavras com minha irmã, mas nada que satisfaça. Música ajuda, mas não deixa de ser um preenchimento artificial. Passo o tempo tentando não ficar muito triste ou entrar em pânico por causa do que eu deveria conseguir fazer da faculdade. Tento e falho em não ficar pensando em onde essa estagnação vai me deixar.

Alívio me preenche quando enfim ouço o barulho de chaves na porta. São os meus pais chegando do trabalho, sempre pontuais. 

Como um gato que acorda de um sono profundo, minha atenção desperta e de imediato se volta para o som.

Deve ser assim que os animais de estimação devem se sentir. Cativos, presos à alegria de finalmente se deparar com outra forma de vida palpável. Ver os pássaros voando ou espiar os vizinhos no terraço pela janela já perdeu a graça até para mim.

Na maior parte do tempo, nem tem nada novo pra falar. Nenhuma novidade. Mas quando eles chegam, sempre tem barulho. Isso é importante. Gente andando por aí, falando alto, vivendo como sempre... É como um abraço do mundo real. Só que às vezes esse abraço é tão real e satisfatório que se torna doloroso quando percebo que passo a esmagadora maioria dos meus dias fora dele.

Mas nada muda. Os meses passam. Eu espero pelo mesmo barulho de sempre e sonho com quando poderei ouvir sons vívidos como aquele o tempo todo de novo.