Trocados escrita por Carol McGarrett


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Bem, como eu deixei o gancho no final da minha última fic... segue aqui a continuação.
Espero que eu tenha feito jus ao casal.
Boa leitura!



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Anteriormente em NCIS...

Não, peraí tá errado!

Anteriormente em Para Me Entender, Fique em Meu Lugar:

Com menos de dois minutos, Tony e Ziva, que tinham voltado para o país há menos de trinta e seis horas, começaram a brigar. Brigavam por tudo, desde o que um estava comendo até mesmo os lugares que eles queriam.

(...)

Abbs notou que eu a olhava e abriu um sorriso ainda maior. Eu sabia no que ela estava pensando.

Em língua de sinais, ela me perguntou:

— Posso dar uma lição nesses dois?

— Que lição? – Respondi da mesma forma. Meus gestos chamaram a atenção de Jethro que olhou para nós duas.

— A mesma que deu tão certo para você e o raposa prateada. – Ela disse simplesmente.

(...)

— Faça. – Sinalizei para ela.

Na mesma hora ela abriu um sorriso e começou a bater os pés em ansiedade. Sorte a nossa que vinha uma sexta-feira 13 por aí. E depois dessa sexta-feira, uma semana bem interessante.

—--------------

— Você tem certeza de que eles vão cair nisso, Abbs?

— Jenny!!! Mas é claro! Você e Gibbs caíram! – Tive que responder a mesma coisa pela milionésima vez. Mas parecia que Jenny não concordava comigo. – O que foi?

— Como você vai fazer isso? – Ela andava de um lado para o outro, ninando Alice que estava passando mal o dia inteiro por conta dos dentinhos que começavam a nascer.

— Do mesmo jeito que fiz com você e Gibbs.

— Nós dois bebemos café... ou bebíamos – Ela apontou para a filhota que a fez parar de beber café há quase um ano.

— Eu já sei como vou fazer com os dois! – Disse com um sorriso triunfante.

— Posso saber?

— Burritos. O almoço deles. A MCRT tá fora desde que amanheceu, os dois vão chegar mortos de fome.

Jenny abriu um sorriso.

— Confio em você! Será que a sua tia Gertrudes não tem nenhuma receita para acalmar bebês com dentes apontando?

— A Tia Gertrudes não era muito boa com crianças...

— Então tudo bem, vou te deixar trabalhando. Só me avise quando for feito.

— Vai contar para o Gibbs?

Jenny deu uma gargalhada.

— Ele vai perceber, Abbs. E vai ficar maluco atrás de nós duas! Até mais tarde. – Saiu com Alice no colo em direção ao elevador.

Peguei a garrafinha onde todos os problemas ou iriam se resolver ou piorar, dei uma olhadinha para o relógio e me certifiquei de que logo Tiva estaria chegando por aqui.

— Aqui vamos nós mais uma vez, Bert! – Apertei meu hipopótamo e esperei.

Nem meia hora depois, comecei a ouvir as reclamações.

— Eu te disse que o Chefe não estava para brincadeiras hoje! – Era Tony quem falava.

— E eu lá sabia que a Alice tinha chorado a noite inteira?

— Não é culpa da Lili, você é a culpada, Zee-vah! Precisava ter me jogado naquela poça de barro?

— Era você ou eu. Achei que você poderia ser cavalheiro o suficiente e se sujar por mim. – Ziva respondeu e os dois passaram pela porta. Tony estava parecendo o Monstro do Pântano.

— Não é Halloween... – Eu comentei.

Tony revirou os olhos e apontou para Ziva.

— Ele só quis me ajudar, Abbs. Por que nos chamou?

Abri meu sorriso mais angelical, o mesmo que há cinco anos faz Gibbs e Jenny saírem correndo.

— Tenho um presentinho para a melhor dupla de investigadores do NCIS! – Falei. E é lógico que Tony ficou com o ego inchado com o elogio. Ziva, como sempre, pareceu desconfiada.

— Por que para nós e não para o McGee ou o Gibbs? – Ela quis saber.

— Não posso fazer um agrado para vocês não?

Tony nem pensou duas vezes e já foi perguntando qual era o dele e com os dois burritos na mão, disse:

— Qual é, Ziva! Estamos desde madrugada na cena do crime, Abbs sabe disso e quis nos ajudar! Aqui o seu. – Ele estendeu o burrito à desconfiada israelense.

— Tudo bem, muito obrigada Abbs! – Ela me agradeceu e a abriu o embrulho.

Três... Dois... Um!

E lá foram os dois mastigando a poção mágica da Tia Gertrudes!

Eles caíram. segunda-feira será interessante!— Enviei a mensagem para a outra pessoa que sabia do plano.

Eu amo sextas-feiras 13!

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Eu não sabia descrever o alívio que era estar de volta aos EUA depois de uma operação de dois meses na Alemanha. Era tão bom acordar tendo dormido a noite inteira sem escutar os roncos de Tony.

Não que eu vá falar com alguém que dormirmos no mesmo quarto por todo o tempo, oficialmente eram quartos separados.

E agora eu estou em casa, tendo o final de semana inteiro para descansar e recarregar as baterias. Só não sabia o que eu faria primeiro, ficar jogada na cama até que eu me cansasse de ficar à toa, ou se eu ia dar uma corrida para começar a voltar à forma.

Depois de enrolar, decidi pela corrida e não fiz planos para o restante do dia. Não era preciso.

Ne espreguicei e notei que a minha cama tinha encolhido. Depois passei a mão por baixo do travesseiro para tirar a minha arma dali e ela não estava lá.

— Eu podia jurar que a coloquei aqui antes de dormir! – Me virei para levantar os travesseiros quando eu notei os arredores.

— Esse aqui não é o meu quarto! É o quarto do Tony! O que eu estou fazendo aqui?

Pulei da cama e vi que não tinha como Tony ter dormido ali. Antes de ir procurá-lo para saber o motivo de eu estar no apartamento dele, decidi dar um jeito no meu cabelo, eu sei como ele acorda quando eu durmo de cabeça molhada.

Abri a porta do banheiro só para fechá-la de novo.

Não... algo estava errado...

— Tony? – Chamei.

E aquela não era a minha voz.

Abri a porta do banheiro de novo e... fechei. Andei até a sala de visitas e me sentei no sofá, pensando no que isso poderia ser.

A primeira opção e mais plausível, um sonho. E eu queria me agarrar a isso. Mas... é possível se sentir tão desesperada em um sonho?

A segunda: no Mossad me ensinaram que temos que acreditar em tudo, nas coisas que podemos ver e, também, nas que não podemos ver.

Claramente esta é uma situação de coisas que não podemos ver. Ou melhor, é daquelas que se eu contar a alguém vou passar o resto da minha vida trancada dentro de uma cela acolchoada.

Terceiro: se a segunda opção era a correta – e estava fazendo todo o sentido de ser – onde e quem estaria dentro do meu corpo?

A resposta que veio na ponta da língua: Anthony DiNozzo. E um frio percorreu minha espinha. Tony no meu corpo. Eu devo ter feito algo muito ruim na outra vida para ter um carma pesado desses.

Diante da falta de possibilidades. Acabei por tomar um banho – pelo visto Tony não tinha feito isso antes de se deitar - e me arrumei para ir até a minha casa. Torcendo para que tudo isso pudesse ser resolvido o mais rápido possível.

—----------------

BANG BANG BANG

Me deixa quieto que hoje é sábado!

BANG BANG

Eu só me levanto daqui se o prédio estiver pegando fogo!

Só para conferir cheirei o ar. Não tinha o cheiro de fumaça, mas tinha o perfume da Ziva... estranho.

BANG BANG BANG!

Por Deus, quem estava fazendo todo esse barulho?

Me virei e decidi ignorar a situação. Dane-se quem tinha perdido o gato... Mas a minha cama não é grande assim! Tornei a me virar, e rolei sobre travesseiros, algo ficou preso no meu pescoço e eu senti uma dor na cabeça, como se houvesse uma arma debaixo de um dos travesseiros, eu não dormia com a arma debaixo do travesseiro...

Dia estranho....

— ABRE A PORTA!!! – Gritaram do outro lado. E a pessoa imitava muito bem a minha voz.

— TONY!!!! – Chamou a voz e por mais engraçado que fosse, parecia a Ziva estrangulada de ódio, só que a voz era a minha.

Não... não podia ser a minha voz, se eu estava deitado aqui...

Ouvi um som de algo ser chutado. Aí já era demais.

Me levantei... lado errado da cama. Aliás, cama errada, a minha é de solteiro. Algo tampou a minha visão, joguei para o lado e marchei até a porta sem enxergar. Tropecei o degrau que pareceu maior do que era e depois de brigar com a fechadura, escancarei a porta.

— O que foi?

E eu notei duas coisas:

A primeira, aquela não era a minha voz. A segunda eu estava parado do outro lado.

Antes que eu pudesse pronunciar qualquer palavra, meu corpo entrou de supetão no apartamento desconhecido e tapou a minha boca, me empurrando até o sofá.

Pronto, ia morrer ali. 

— Tony, me escute. – Meu corpo começou a falar comigo. – Algo muito estranho aconteceu.

Eu tinha 100% de certeza de que estava sonhando. Não tinha como eu estar em dois lugares ao mesmo tempo. Parecia até filme. Qual era mesmo o filme com o Bruce Willis que ele tem um clone mais novo e perfeito?

 - Muito boa a piada! – Comecei a rir, mas aquela risada não era a minha, aquela voz não era a minha.

Meu corpo se afastou com uma expressão de extrema confiança, como se me dissesse: “Não disse que tinha algo errado?”

Afastei meu corpo, estava mais ágil do que me lembrava e corri até a lareira, ali tinha um espelho.

Depois de tentar domar a cabeleira castanha que era uma juba em minha cabeça, eu olhei para o reflexo.

Dois olhos castanhos me fitaram de volta e eu conhecia esse par de olhos. Conhecia muito bem.

— Ziva? Eu estou no corpo da Ziva? – Guinchei.

— E eu estou no seu! – Minha voz me respondeu.

Me virei e me encarei.

— Mas o que aconteceu?

— Essa é uma boa pergunta, Tony... não faço ideia do motivo de termos trocado de corpos.

— Eu estou no seu corpo! – Um sorriso se espalhou no rosto.

— Nem pense nisso!

— Qual é, Ziva... quando foi que você.... – Meu corpo veio até mim e me deu uma chave de braço, praticamente o torcendo. Definitivamente era a Ziva quem estava ali dentro.

— Nem ouse pensar em fazer qualquer coisa com o meu corpo, DiNozzo, ou eu vou fazer você se arrepender por isso pelo resto da sua vida...

Ela falava sério. Muito sério. Mas como eu tenho certeza de que ela não ficaria vinte e quatro horas do meu lado...

— Nem pense nisso. Eu vou saber! – Ela sibilou perigosamente e antes que eu pudesse piscar, tinha uma faca em sua mão.

— O corpo é seu.

— É você quem vai sentir a dor.

Ela tinha um ponto, fiz uma careta e tentei sair do aperto.

— Você está maltratando uma donzela. – A alertei sarcasticamente.

Ziva me soltou de uma vez e eu cambaleei até o sofá.

— Gostei do pijama. – Comentei.

— Vá trocar de roupa.

— Tem certeza de que quer...

— Você TEM que fazer isso, Tony! – Ela praguejou.

— Vou saber o que a Ziva esconde dentro do closet hoje. – Cantarolei até o quarto.

Na mesma hora ela passou por mim e foi pegar a roupas.

— Que foi? Não posso ver?

— Veste isso. – E colocou a pilha de roupas na cama.

— Sem graça...

— Trate bem meu corpo, Tony.  – Ela avisou e ficou me encarando.

— Não vai sair?

— Para?

— Quero me trocar!

— Esse é o meu corpo, Tony.

— Teoricamente você é um homem.

— Teoricamente você vai morrer assim que eu conseguir o meu corpo de volta.

Era a segunda vez, em menos de dez minutos, que ela ameaçava a minha vida.

Troquei de roupa com ela me observando igual a um gavião.

— Esqueceu uma peça.

— Não é necessária. – Falei.

Ela me olhou mortalmente, talvez o soutien fosse necessário. Mas como se coloca aquilo? Ziva não me esperou perguntar, já foi logo me vestindo como se eu fosse uma boneca em tamanho real.

— Não precisava apertar.

— Não está apertado. Está normal. – Ela deu de ombros e foi para a cozinha.

— Como isso aconteceu? – Para falar bem a verdade, eu ainda achava que estava sonhando e que iria me dar muito bem nesse sonho, como se fosse uma reprise meio psicodélica do que aconteceu em Berlim.

— Eu não sei, Tony. Acordei desse jeito, na sua cama. Só para descobrir que você não tomou banho ontem.

— Estava cansado.

— Não, você é porco mesmo. – Ela retrucou. – Acho muito bom você lavar toda a sua roupa de cama.

Nem oito da manhã e ela já estava criticando.

— Vamos voltar ao ponto principal? – Falei. – Como vamos destrocar?

— Eu não sei nem porque trocamos, para começar!

— No Mossad não te ensinaram a lidar com isso, não? – Brinquei. Era a brincadeira errada a julgar pela cara dela. – Só checando, não precisa ficar toda mal humorada.

— Eu não estou mal humorada, DiNozzo. Eu só quero o meu corpo.

— Eu também gostaria o meu de volta! – Falei.

Nos olhamos. E de repente uma ideia me surgiu.

— Mas é claro! Sexta-Feira Muito Louca!

— O que?

— O filme!! Aquele que a mãe e filha trocam de lugar! Um dos atores até se parece demais com o Gibbs!

— Mas é claro! Um filme! Por que eu não me surpreendo que você só comente de filmes, DiNozzo?

— Vamos tentar uma coisa!

— Se for qualquer coisa que tenham tentado no filme, não vai dar certo! – Ziva me alertou.

— Não, não tentaram, eu que tive essa ideia!

Ziva me olhou desconfiada.

— Desde quando você tem ideias por você mesmo? Todas as suas ideias são tiradas de algum filme, Tony.

— Essa não foi, juro! – Disse. – Você, vai para lá. – Mandei Ziva para a extremidade oposta da sala, enquanto caminhei para o outro lado.

— E o que vamos fazer?

— Corra na minha direção. – Falei.

— Para que?

— Vamos bater um no outro, quem sabe não destrocamos.

Ziva me encarou cética.

— Vai dar certo! – Afirmei.

Ela estreitou os olhos. E posso te dizer que foi muito estranho ver aquele olhar de ninja assassina saindo dos meus olhos.

— No três? – Perguntei.

— Eu tenho escolha?

— Quer ficar no meu corpo para sempre, Ziva?

— Deus me livre. Você fede, Bundinha Peluda!

— Um... Dois... Três

Corremos um de encontro com o outro e no meio da sala, batemos.

Nada aconteceu, a não ser que, devido a diferença de altura, sentei a testa no nariz do meu corpo. Agora o corpo de Ziva tinha um galo e o meu um nariz sangrando.

— Grande ideia! – Ziva disse, tentando conter o sangramento.

Eu esfregava a testa.

— Não deu certo! – Ela se rebelou. – E agora?

Eu ainda estava murmurando de dor. A pancada foi forte.

— Larga de ser fresco. Não está nem sangrando. Mas eu acho que o seu nariz quebrou.

— VOCÊ QUEBROU O MEU NARIZ???

— Na verdade, foi você que o quebrou... a ideia de dar um encontrão foi sua. – Ela deu de ombros. – Preciso colocar a cartilagem no lugar antes que fique torto.

— Faça isso, não pense em devolver o meu corpo em um estado menos perfeito do que você pegou. – Avisei.

Ouvi o som de algo que se quebrava.

— Por que você não vai até um hospital?

— Não posso dirigir enquanto não estou enxergando.

— Eu dirijo.

— Até você chegar lá, o nariz já ficou torto... – Ela comentou.

Saí pela porta, ela dois passos atrás, segurando o nariz.

— Como vamos reverter isso? – Ela murmurou.

Eu estava preocupado demais com o meu nariz para respondê-la agora.

Meia hora depois, uma enfermeira colocava o meu nariz no lugar.

— Pare de ficar olhando para a enfermeira! – Ela chiou.

— Não.

— Você é uma mulher agora, DiNozzo. – Me lembrou.

Devia ser por isso que a enfermeira não respondeu ao meu sorriso.

— Faça alguma coisa então, assim quando destrocarmos eu posso ter alguma chance com ela.

— Nem pensar!

E aqui eu tinha perdido uma chance.

A essa altura já era metade da tarde e nós não tínhamos a menor pista do que nos tinha acontecido. Ziva já tinha jogado mil possibilidades na mesa, mas nenhuma parecia plausível.

— Dá para voltar com o gelo para o meu rosto, não quero ir trabalhar na segunda com a cara roxa.

E foi aí que algo me alarmou.

Trabalho.

Em menos de trinta e seis horas.

— Como vamos disfarçar isso no trabalho? – Ziva perguntou.

— Eu não faço ideia...

O domingo passou com nós dois fazendo planos. Os mais diversos. Desde inventar uma doença altamente contagiosa a dar a velha desculpa do “comi algo estragado”. Só que nenhuma delas iria colar, pois nós não tínhamos um chefe comum. E o Gibbs ia descobrir que tudo era mentira. Ele sempre descobria no final.

À noite, Ziva resolveu que não tínhamos alternativa. Teríamos que ir para o NCIS na segunda de manhã. A nossa sorte era a de que éramos parceiros e passávamos muito tempo juntos. Dificilmente alguém iria notar.

Correção: duas pessoas notariam, de cara, que algo estava errado.

Gibbs e Jenny.

— Eles vão nos mandar para um sanitário. – Ziva falou.

— É sanatório, Ziva! E sim, vamos viver acorrentados dentro de celas acolchoadas.

E com o pressentimento de tudo iria dar errado na segunda-feira, fomos dormir.

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Se o sábado tinha sido horrível, o domingo foi ainda pior. Só o pensamento de que eu estava fora do meu corpo me irritava e de nada ajudava que o meu corpo estivesse bem do meu lado... Tony tinha a posse dele e isso me dava arrepios.

O domingo passou devagar, como se as horas pingassem, e quanto mais eu pensava em tudo o que poderia ter causado essa situação, mais eu tinha certeza de que eu não fazia ideia.

— Eu quero meu corpo de volta! – Grunhi.

— Calma, Zee-vah, talvez é só temporário, algo de quarenta e oito horas.

Se Tony não estivesse dentro do meu corpo eu teria matado ele, com requintes de crueldade, com as técnicas mais dolorosas que o Mossad me ensinou.

— Por que você está me olhando como se quisesse me comer?

— Eu não quero te comer, Tony. Quero te matar.

— Sorte a minha que estou no seu corpo então.

— É, sorte. E falando em sorte... o que eu vou dizer disso aqui? – Apontei para o nariz roxo que eu tinha.

— Você estragou o meu rosto.

— Para de chorar por isso, nem foi você quem sentiu a dor.

— Mas eu só tenho isso, Ziva, eu só sou bonito. Não tenho mais nada para passar para frente.

— Dramático.

Tony fez uma careta.

— Fala qualquer coisa, ninguém vai acreditar mesmo.

— Então tá... – Ia inventar uma desculpa bem burra, bem estilo DiNozzo.

Na segunda cedo o suplício continuou. Não tínhamos destrocado e agora teríamos que trabalhar dessa forma. Vai ser complicado.

Nossa primeira briga do dia foi por conta do carro.

Quem ia dirigir?

O mais lógico seria eu, já que sou mais rápida, porém lembramos que o Tony dirigi igual a uma velha. Mas como explicar o meu corpo dirigindo como uma velha?

Acabei dirigindo e parando na minha vaga de sempre. Tony reclamou, ele não parava ali.

E isso foi só o começo.

Entramos no prédio junto com o Casal 20. Tony e eu tentamos diminuir o passo para não termos que dividir a viagem de elevador até o terceiro andar com eles, o que foi inútil, Gibbs segurou o elevador para nós.

— Bom dia... – Tony começou. – Diretora, Ch...Gibbs.

— Bom dia, Ziva, DiNozzo. – Ela nos respondeu. Gibbs deu o seu costumeiro aceno de cabeça.

Eu teria que controlar a minha língua para me acostumar a chamar Gibbs de Chefe...

Tanto Tony quanto eu, ficamos nos fundos do elevador, e eu pude perceber que Gibbs nos lançou um olhar estranho, como se quisesse ter certeza de que estávamos bem e depois encarou a esposa, que só sorriu docemente para ele.

Será que ele sabia de algo? Só por conta de um pequeno deslize de Tony?

Chegamos ao terceiro andar e aí foi a segunda má nota. Por força do hábito, já cheguei jogando a minha mochila na minha mesa e Tony fez o mesmo, só para notarmos que estávamos errados e trocamos o mais rápido possível.

Só que não foi tão rápido. McGee nos olhava com as sobrancelhas arregaladas e Gibbs estava certo de algo estava errado.

— O que foi, McCha..McGee? Ninguém pode se confundir na segunda-feira cedo? – Tony perguntou.

— Não Ziva... nada, só achei... inusitado. Você nunca se confundiu com nada. – McGee conversava com Tony acreditando piamente que conversava comigo.

— Só estava perturbando o Tony. – Ele respondeu.

— Vocês não vão começar com essa palhaçada cedo! – Gibbs alertou.

— Não vamos não, Chefe. – Falei assim que Gibbs passou atrás de mim e me deu um tapão.

E como isso doeu. Ele batia mais forte em Tony do que em mim. Muito mais forte.

Quando levantei o meu olhar, assim que a cabeça parou de rodar, vi que Tony ria, sentado na minha mesa. Na tela do computador, uma mensagem:

Isso dói, né? Se acostume.

Pus a minha mão naquele grampeador idiota do Super-Mouse que ele tem para arremessá-lo, parei o movimento porque McGee nos olhava com interesse.

— O que foi agora, McG... McCurioso? – Soltei.

— Vocês têm certeza de que estão bem?

— Não! – Respondemos juntos. – E pare de perguntar. – Nos jogamos nas cadeiras e encaramos as telas. Ia ser o pior dia da minha vida.

Nosso único momento de tranquilidade foi até a cena do crime. Gibbs e McGee foram em um carro e nós dois fomos discutindo como iríamos nos comportar pelas próximas horas.

— Gibbs já está desconfiando. – Avisei.

— Ziva, não tem como ele desconfiar de nada! Isso aqui nunca aconteceu com ninguém.

— Então somos o experimento de quem?

— Talvez fomos abduzidos enquanto voltávamos para casa na sexta-feira à noite. – Tony soltou.

— ET’s?! Você está realmente acreditando em ET’s agora?

— Tem outra explicação, Ziva? Não tem! Só se for Magia Negra. Vudu. Ou qualquer outra arte de Santeria...

— Magia Negra... quem acredita nisso? – Comecei a rir.

— Abby brinca com bonecos vudu.

— A Abby não faz mal a ninguém e vudu precisa de bonecos para atacar a pessoa. Nós trocamos de lugares. Isso não é vudu.

— Então ou fomos abduzidos ou é magia negra!

— Mas quem nos amaldiçoou Tony? Estávamos na Alemanha até dez atrás.

— Foi alguém que encontramos na última semana. – Ele estava certo.

— Ficamos dois dias só no serviço burocrático, escrevendo relatórios sobre o caso e os relatórios de gastos pessoais para reembolso.

— A SUSAN DA CONTABILIDADE! – Tony gritou.

— E o que ela teria contra mim? Sendo que ela ficou trabalhando do seu lado por quase oito meses há cinco anos!

— Não sei! Ela tem cara de doida! Eu ainda acho que foi a Susan.

— Não seria mais lógico ela odiar a Diretora, afinal todo mundo sabe que ela tem uma queda pelo Gibbs. – Falei.

— Talvez a zica tenha sido dirigida para a Diretora, só que desviou em nós!

— Impossível, Tony. Essas coisas costumam ser direcionadas...

— Então nós comemos, ou bebemos ou tocamos em algo. – Ele disse.

— Sim. Mas o que foi? E foi na sexta-feira.

Repassamos nossos passos da última sexta-feira, tudo o que nos lembramos foi da cena do crime.

— Será que foi lá? – Perguntei.

— Pode ser, não sabemos o que aquele casal fazia mesmo!

— É muito azar o nosso de pisar nisso.

— É tropeçar nisso. – Tony me corrigiu. – E por favor, não dê um fora desse enquanto estiver no meu corpo.

— E nem você comece a tagarelar sobre filmes estando no meu corpo!

A briga continuaria. Só que chegamos na cena do crime e Gibbs e McGee já nos esperavam. Nossa dupla foi desfeita e eu acabei parceira do Gibbs. Teria que fingir ser o Tony e eu não estava em um humor para isso!

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— Uhn... Ziva...

McGee deveria estar maluco, a Ziva estava com o Chefe.

— Ziva... – Ele tentou de novo.

Droga...

— Que foi, McGee? – Perguntei.

E o Novato estava todo nervoso olhando para a israelense. Ela ainda colocava medo nele. E olha quem não era a Ziva propriamente dita... que interessante.

— É...  – E ele começou a gaguejar. Tive que me segurar para não rolar no chão de rir.

— Desembucha logo, McGee. Gibbs vai estar aqui logo.

— Você tem certeza de que está tudo bem com você? Não me leve a mal, nem tente me matar, mas você está estranha.

Não tentar matá-lo. Esse foi, com certeza, o pior pedido de clemência da história.

— Eu já falei que está tudo bem, McGee.

Mas o novato não acreditou. E ficou me encarando.

— O que foi agora?

— Então... eu não vou contar para o Chefe sobre a regra #12, você e o Tony estão...

— E se estivermos? – Retruquei.

— Bem... – McInocente foi ficando vermelho... vermelho... até que todo o rosto dele estava pegando fogo.

— Por que ficou tão vermelho? – Interrogar o Novato era fácil demais.

— Não, nada. Só é um alívio saber que eu e a Abby não somos os únicos a quebrar a regra #12.

— O QUE? COMO EU NUNCA FIQUEI SABENDO DISSO? – Disparei, para então me lembrar de que a Ziva jamais daria esse grito. Contudo, o McNamorador não percebeu e continuou.

— Tentamos ser discretos por todos esses anos.

— Esses anos?! – A cada nova frase eu era pego cada vez mais de guarda baixa.

— Sim, já estamos juntos há seis.

Isso era antes do Gibbs e da Jenny se acertarem.

— SEIS?! – Mas eu tenho que falar isso para a Ziva.

— Sim. Na verdade, estou até pensando em pedir a Abby em casamento.

Casamento!

— Isso, isso é... – Fingi pensar na palavra ideal. Ziva teria essa dificuldade.

— Eu sei, Ziva. – E lá estava o sorriso do McApaixonado. – É muita coisa, e vamos ter que acabar contando para todo mundo.

— Vão sim.

— Abby já quis fazer isso, você sabe como ela é com o Chefe. – Ele deu de ombros. – Para Abbs, Gibbs é o pai dela, e ela não tem gostado de esconder dele, mas decidimos esperar. E agora, vendo como ele está feliz, nós queremos falar.

Assenti. Ainda estava muito chocado com a notícia.

— Abby tem certeza de que Jenny, ou melhor, a Diretora, vai nos entender e não vai deixar o Chefe falar muito.

— Claro, a Jenny vai fazer isso.

E McNamorador continuou.

— Abby quer você de Madrinha. É bem capaz que esperemos um pouco, para termos a Lili como Dama de Honra.

Planos para o casamento. Meu Deus, eu tenho que sair daqui. Com pouco escutamos passos.

O Chefe e Ziva vinham em nossa direção. E eu ainda não tinha conseguido voltar ao rosto normal. Ziva me levantou uma sobrancelha, e eu sinalizei que depois conversava com ela.

— O que aconteceu com você, McGee? – O chefe perguntou.

— Unh.. nada, Chefe. Por quê?

Gibbs encarou a nós três. E saiu murmurando qualquer coisa como estava todo mundo estranho hoje.

No caminho de volta, contei para Ziva o que McAmante tinha me dito.

Ela ficou tão atarantada que quase que pega o caminho errado e nós dois quase caímos no cais.

— Abby e McGee? Juntos há seis anos?! – Ela parou o carro e desceu.

 - E eu achando que eu era o exagerado e dramático. – Comentei sobre o comportamento dela.

— Deve ter vindo com o corpo. – Ela gritou.

Um dos estivadores que estavam passando perto de nós nos olhou assustado, como se fossemos dois malucos.

— E você, tá olhando o que, nunca viu uma mulher dar um ataque não? – Ziva soltou para ele.

O cara deu dois passos para trás, e eu estava certo de que ele ia ligar para a polícia para dizer que dois malucos fugiram do hospício mais próximo. Para que isso não acontecesse, tive que intervir.

— É uma nova tática do nosso conselheiro matrimonial, um ficar no corpo do outro. – Falei.

O homem me olhou ainda mais estranho, e pela cara dele, ele queria era esquecer o que tinha visto.

— Tá feliz, Ziva? Quase que descobrem.

— O MCGEE E A ABBY?! E NÓS DOIS....

— Você falou que não tínhamos nada! – Retruquei.

— Berlim não foi nada? – Ela quis saber.

Dei de ombros.

— Foi para você?

— Tony você é tão....

— Lindo, irresistível.

— CEGO!!!!

Não entendi... e fiquei encarando Ziva.

— Você não pode ser tão avoado assim... não pode! – Ela andava de um lado para o outro.

— Eu não sou avoado. Você é complicada!

E Ziva me olhou como se fosse me matar e esconder o meu corpo em algum desses navios, que muito provavelmente iriam me jogar no mar e nunca ninguém iria me reconhecer.

— Sim, você é lerdo, Tony. – Ela chegou a milímetros de mim. – Muito lerdo! – Ficamos nos encarando, será que seria muito estranho eu a beijar... – E eu queria muito que uma joelhada minha te causasse algum dano nesse corpo, mas não vai causar. – Saiu andando para perto do carro ainda murmurando sobre Abby e McGee e como eles tinham se acertado. – Eu não quero morrer sozinha!

Uma dupla de estudantes, claramente matando aula, passou por nós e ficou observando Ziva ir e vir.

— Ei, moça. – Me chamaram e eu NUNCA iria me acostumar de ser chamado de “moça”. – Tá tudo bem com o seu namorado?

— Namorado?! – Olhei para o casalzinho.

— Sim... eu vi como vocês dois quase se beijaram... formam um belo casal. – A menina, evidentemente constrangida, me disse.

— Está sim... ele só está...

— Ah... ele não sabe dizer, eu te amo, né? Ele também não sabe! – A garota que tinha várias sardas espalhadas no rosto, sorriu envergonhada. – Homens são assim mesmo. Um dia ele fala! – Ela me garantiu esperançosa. Creio que falava tanto para mim quanto era uma indireta bem direta para o namorado.

E agora mais essa. Eu estava recebendo conselhos amorosos de uma garota de quinze anos.

 - Não... ele não sabe. – Tive que responder, porque a loirinha aguardava uma resposta, notei pelo canto do olho que o dito namorado, estava mais sem graça ainda. – E você, trate ela com respeito. – Falei. A menina parecia ser gente boa demais para ter o coração partido.

— Eu vou sim... – Ele olhou para a garota com uma adoração que eu achei até estranha.

— Vocês vão resolver isso. – A menina me disse com um sorriso. – Deu para notar que vocês se amam. Tchau! – Ela se despediu e saiu de mãos dadas com o namorado.

Homens não sabem dizer eu te amo...

Será que era isso? Ziva queria ouvir isso? Mas ela nunca falou! Por quê?

— Quem eram? – Ela perguntou quando voltou.

— Só um casal de adolescentes que queriam saber se você estava bem.

— E o que você disse?

— Que estávamos bem.

— E estamos, Tony?

— Não sei, Ziva... você gostaria de me falar algo?

— Eu acho que já te mostrei o que queria falar, Tony. – Ela entrou no carro.

— Mostrou? – Eu quis saber. – Onde?

— Paris, Berlim... – Ela murmurou. – Mas eu acho que você não deve ter prestado atenção.

Tudo o que eu me lembrava dessas duas cidades foi: que, sem as amarras de ter um chefe por perto, finalmente pudemos ser um casal, mesmo que com prazo de validade e, dois, Ziva me fez jurar que o que tinha acontecido lá, era para ficar lá. E foi o que eu estava fazendo. Ou tentando, pelo menos. Era muito difícil, ainda mais quando ela estava por perto.

Voltamos para o estaleiro em tempo recorde. Ziva não disse mais nada. Só agarrava o volante com mais força.

Entramos na sala do esquadrão sem nos falar e fomos para nossas mesas, mais uma vez eu fui para a minha e Ziva para a dela. Quando notamos o erro, trocamos. No meio do caminho, tropeçamos um no outro, Ziva, que estava distraída com alguma coisa, quase caiu e eu me vi a segurando.

Nos endireitamos, porém não desviamos os olhos. Eu nem sabia dizer se tinha mais alguém naquela sala.

— Por que, Tony? – Ela me perguntou cheia de tristeza.

— Foi você quem falou...

— Não diga isso. – Ela me pediu. E ia continuar a falar se não tivéssemos escutado uma porta bater no andar de cima.

Demos um passo para o lado, nos separando. Bem a tempo de ver o Chefe descendo as escadas, bravo com qualquer coisa, ou melhor, alguém, quando olhamos para cima, vimos a Diretora passando no corredor, indo para o MTAC, ela parecia de bom humor, até sorriu na nossa direção.

Será que ela sabia alguma coisa?

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Tony não poderia ser mais insensível... não é possível! Será que eu fui só mais uma na vida dele? Será que eu o li tão errado assim?

Não era possível! Não podia ser possível.

Estávamos na minha casa. Eu no meu quarto, Tony no de hóspedes e eu nunca me senti tão sozinha na vida. Queria poder conversar com alguém, mas nesse corpo, ninguém acreditaria que era eu.

Não podia ligar para Abby ou Jenny. Mesmo sabendo que pelo menos uma delas saberia me dar um conselho agora. E eu tinha um grande problema.

Eu amava Tony. Ponto. Era essa a verdade. Acho que eu o amo desde o dia em que eu o vi pela primeira vez no NCIS, mas só fui ter certeza quando ele foi me resgatar na Somália.

E depois dessa missão na Europa. Desses dois meses, eu achei que tinha visto algo nele, uma mudança. Mas acho que me enganei. E isso doía.

Foi quando eu tive uma ideia, eu não poderia conversar com as minhas amigas, mas poderia mandar uma mensagem. Fui até a sala para pegar o meu celular e estava para mandar a mensagem que poderia me ajudar tanto, quando Tony parou atrás de mim.

— Acho que precisamos conversar, Ziva.

— Sobre? – Não me virei na direção dele e ainda estava com o dedo pronto para enviar a mensagem.

— Berlim.

— E o que você quer conversar sobre Berlim, Tony. A missão já acabou.

— A missão acabou, Ziva, mas não nós.

— Há um nós?

— Se você quiser, eu estou disposto. Sei que você pediu para que o que aconteceu ficasse lá, mas depois de ver a sua reação quando ficou sabendo de Abby e McGee.

— Sabe por que eu fiquei daquele jeito? – Decidi por ser sincera.

— Gostaria de saber.

— Porque você nunca seria capaz de assumir nada, Tony. Por que você é assim? – Pedi.

Ele deu um meio sorriso e eu notei que eu olhava para ele, não para mim.

— Acho que não foi você a única pessoa que voltou com mais dúvidas do que certezas da Europa, Ziva. – Ele ficou bem perto de mim.

— O que...

— Você me disse para esquecer, só que eu não posso. Eu não quis e não poderia esquecer o que aconteceu na Europa, Ziva, não quando eu queria aquilo tanto quanto você.

— E agora, o que...

— Que tal se acabarmos com a festa de McGee e Abby? Eu quero que nós dois passemos a ser algo de verdade, minha amada ninja.

— Mas e Gibbs? Ele tem ...

— Gibbs tem uma esposa e dois filhos, Ziva. Ele não vai se importar, não quando a preferida dele também está quebrando uma preciosa regra dele. – Tony disse e acariciou o meu rosto.

Eu perdi o ar, perdi a fala.

— Sabe Tony, Você é tão...

— Lá vem você de novo... – Ele revirou os olhos.

— Amado. – Suspirei a palavra.

Ele abriu aquele sorriso imenso para mim.

— E você também é Ziva David. Muito amada.

Bem que hoje poderia ser sexta-feira e que tivéssemos um final de semana completo pela frente....

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— Eu não acredito que eles já destrocaram! – Jenny resmungou.

— Para o seu bem, Jen, é muito bom que isso tenha acontecido. – Gibbs chegou de surpresa em meu lab. E eu tomei um susto daqueles.

— Nem pude me divertir com os dois tentando pisar em ovos perto de você, Jethro. – Ela continuou como se o alerta de Gibbs não tivesse existido,

— Nem eu... eles ficaram desaparecidos por quase meio dia, ontem. E quando chegaram hoje de manhã, juntos, estavam felizes. E cada um no seu corpo... decepcionante. E eles nem desconfiaram que eu fiz algo. – Murmurei tão infeliz quanto Jenny. Também queria ter tido uma diversão de alguns dias às custas deles.

— Por que o deles foi mais rápido, Abbs? – Jenny me perguntou, ignorando os olhares mortais que Gibbs lançava para ela.

— Por que os dois são menos complicados que vocês? – Apontei para o casal 20 na minha frente.

— Abbs... – Gibbs me advertiu.

Jenny fez uma careta.

— Acho que tínhamos mais bagagem que eles, essa é a verdade. – Ela tentou se convencer.

— Ou talvez, Tony e Ziva não sejam assim, tão teimosos... – Falei sem pensar e recebi uma encarada dupla. – Mas a teimosia de vocês é uma coisa boa! Olha onde estão hoje!

Jenny conteve uma risada. Gibbs ainda me olhava.

— Mas vocês são o meu casal favorito. Podem apostar nisso! – Sorri inocentemente.

— Por falar em casal favorito.... – Ouvimos a voz de Tony ao longe.

Gibbs e Jenny olharam para ele, para ter certeza de que era o Tony.

— Diga Tony. – Jenny o pediu para continuar.

— Onde está o McApaixonado?

Eu quase dei um treco.

Gibbs olhou para mim, e logo em seguida, vimos Ziva arrastar McGee para dentro do meu laboratório e fechar a porta.

— Vamos colocar o pato em dia! – Ziva soltou.

Papo, Ziva!

A israelense respirou fundo.

— Desembucha, McGee o que você falou comigo outro dia! – Ela empurrou Tim para o meio da roda.

— Sobre o que, Ziva? – Ele tentou desconversar, saindo de lado, mas Tony o cercou.

— Você e Abby! – Ela foi curta e grossa.

McGee ficou vermelho, eu busquei proteção atrás de Jenny.

— Você e Tony estão juntos! – Foi a defesa sensacional do meu namorado!

Gibbs quase deu um treco e Jenny gargalhou alto.

— Estamos todos quebrando a regra #12. – McGee continuou como se isso fosse acalmar o Raposa Prateada.

Gibbs estava calado. Foi Jenny quem disse:

— Quem falou que essa regra ainda existe, McGee?

— Mas... – Nós quatro ficamos com cara de tacho olhando para a Diretora.

— Me disseram que eu fui a causa dela... mas creio que já faz tempo que o motivo deixou de existir, não é mesmo? – Jenny olhou sugestivamente para Gibbs.

— Então... espera. Eu e o Tim estamos nos escondendo há seis anos...

— Não! Eu e o Tony pisamos em ovos desde que voltamos da Europa para... – Ziva me interrompeu completamente nervosa.

— Não é minha culpa se vocês foram lentos em descobrir isso. – A ruiva deu de ombros.

Era inacreditável!

— Isso quer dizer que.... – Eu, McGee, Tony e Ziva olhamos para Gibbs.

— Façam o que quiserem! – Ele falou exasperado e saiu do meu laboratório.

— Gibbs acabou de mandar uma das regras dele para o espaço? – Tony perguntou boquiaberto.

— Peguem leve com ele nos próximos dias, vocês conhecem o Jethro, ele não se dá bem com mudanças. – Jenny nos pediu e saiu atrás do maridão.

— Então... vocês dois... – Eu comecei.

— E vocês dois. – Tony e Ziva responderam juntos.

Começamos a rir, deveria ter algo na água do NCIS, não é possível, três casais dentro de uma única equipe, isso quando tinha uma regra que impedia esse tipo de relacionamento!

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Cinco anos depois. – Noite de Natal.

— Acho que vamos precisar de uma casa maior... – Ouvi Jenny murmurar da cozinha.

— Para que, Jen? Todo mundo está aqui.

— Sim, e olhe o pouco de espaço que sobrou.

Tive que rir dos nossos anfitriões. Tudo bem, não era culpa deles se, em cinco anos, a equipe tinha aumentado assim.

Melhor eu me explicar. Depois que a fatídica regra 12 foi abolida, eu e Tony nos casamos, exatamente um ano depois. Passados Seis meses foi a vez de Tim e Abby e mais um tempinho depois, Jimmy e Breena.

Até aí nada de novo, continuamos os mesmos. As novidades vieram depois.

Jimmy e Breena começaram. Depois de tentarem adotar, acabaram sendo presenteados com a chegada de Victoria. E no dia que ela nasceu, eu descobri que estava grávida.

Nove meses depois, chegava Tali. – Não vou nem contar a cena que foi o parto. Calma, a cena não foi minha, foi de Tony. Ele gritou mais do que eu, só porque eu apertei – um pouco – demais a mão dele e quando foi a vez de cortar o cordão umbilical da nossa filha, ele desmaiou. Resultado: três dedos quebrados e dez pontos na testa. Tipicamente Tony.

E, some-se mais um ano, e teremos a chegada dos gêmeos de McAbby. John Lucca e Any Morgan. Sim, dois de uma vez.

Agora, junte todas essas crianças – a mais velha tem três anos agora, mais os pais. Some os dois anfitriões, Ducky, Jack Gibbs, Cynthia e, claro, Jasper e Alice.

Dezessete pessoas circulando entre a sala de estar e a cozinha. Jenny tem razão em querer uma casa maior.

Depois do jantar, para distrair as crianças até a hora de abrir os presentes, Tony veio um filme.

— Qual vai ser o desenho de hoje, Tio Tony? – Alice veio pulando na direção do tio preferido, com seu vestido verde e seus longos cabelos ruivos acompanhando o movimento.

— Não é um desenho, Lili, é um filme, uma comédia e eu preciso que a senhorita me fale uma coisa.

— O que é? – Ela estava toda concentrada na conversa.

— Se um dos atores se parece ou não com o seu pai.

A ruiva abriu um enorme sorriso e se sentou no chão, aos pés do avô.

— Isso, tio Tony, é impossível, ninguém é bonito igual ao meu pai! – Ela disse convicta. O que arrancou risadas de todos e, claro, resultou em um orgulhoso Gibbs, pegando sua filhota no colo e dando um beijo na bochecha dela.

— Tudo bem, o momento “eu sou a garotinha do papai” já acabou, Tony, por favor, coloque o filme. – Jenny, a mamãe enciumada, disse.

Tony deu o play e um filme chamado “Sexta-Feira Muito Louca” começou a passar. Até Jasper que já não ligava muito para isso, se sentou para ver.

E em uma determinada parte, depois que mãe e filha trocam de corpos e batem uma na outra para destrocar, eu belisquei Tony.

— Você me disse que tinha inventado aquela história de dar uma trombada! – Sibilei em seu ouvido.

— Eu não me lembro disso! – Tony passou o braço atrás dos meus ombros e me deu um beijo.   

— Mas eu me lembro.

— Xiii Ziva... não espalhe o nosso segredo! – Sussurrou no meu ouvido.

— Eu ainda acho que aqueles três dias foi uma espécie de delírio. Um delírio nosso.

Tony me sorriu e simplesmente disse:

— Se fosse um delírio, minha amada ninja, Tali não estaria aqui e nosso pequeno bebê não estaria crescendo agora na sua barriga.

Me conformei com a sua resposta e voltei a prestar atenção no filme, certa de cada uma das loucuras que passamos naqueles três dias, daria um filme muito melhor do que o que estávamos vendo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. E sim, ainda teve McAbby no final! Porque eu não resisti.

Muito obrigada a quem leu!! De coração!

Até a próxima.



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