Hoje, fazem três anos que minha empresa, a Kurama Construções, entrou para o rank de maiores empresas do ramo do país. Através de um contrato de uma obra de imenso porte, chegamos nesse patamar. Somos uma empresa grande.

Mas eu não consigo me sentir feliz.

Hoje, também fazem três anos que perdi minha esposa. E junto com ela, minha filha que ainda não tinha nascido. 

E eu não consigo deixar de pensar, especialmente hoje, no quanto eu queria estar com ela ao meu lado, comemorando um sucesso que só foi possível graças aos esforços dela. Mas por conta de um caminhão maldito, isso nunca será possível.

Hinata e eu nos conhecemos na escola, no último ano do ensino médio. Nosso melhor amigo e então futuro sócio, Sasuke, estudava na mesma escola, mas em outra sala. Nós dois jogávamos basquete e Hinata era a líder de torcida. Foi assim, estudando na mesma sala e tendo ela como líder de torcida, que acabamos nos apaixonando. Sasuke sempre deu um empurrãozinho para nós dois, seja arrumando maneiras de nos deixar sozinhos ou marcando rolês em trio que ele nunca ia. Sem dúvidas, ninguém torcia tanto por nosso romance quanto ele.

Mais tarde, ele iniciou sua faculdade de engenharia civil, eu comecei a estudar marketing e Hinata, incrivelmente, fez dois cursos ao mesmo tempo: direito e economia. Era uma carga muito pesada, mas aquela pérola conseguiu levar tanta responsabilidade com  uma leveza que só ela tinha. Nesse período, sempre estava atarefada, fazendo várias coisas ao mesmo tempo, mas sempre estampava um sorriso no rosto.

E meu Deus, que sorriso lindo.

Continuamos namorando, mesmo naquela rotina conturbada. Incrivelmente, foi nesse mesmo período que nos casamos. Uma cerimônia simples, pois não tínhamos muito dinheiro, mas repleta de amor. O pai dela e meus pais ficaram preocupados no começo, por conta da nossa juventude, mas logo perceberam que os nossos sentimentos não mudariam. Começamos a namorar com 16 anos, terminamos o ensino médio e entramos na faculdade com 17 e nos casamos com 19. Tudo bem rápido, pois "por que esperar?" - era o que ela sempre dizia.

Era como se ela soubesse.

Aos 22 anos, todos nós já estávamos formados e Hinata e eu já esperávamos um filho. Quando nasceu, Boruto se tornou nosso mimo e maior tesouro. Sasuke e Ino, sua irmã, foram os escolhidos para serem padrinhos de nosso menino, que nasceu loiro e de olhos azuis como eu, mas com a personalidade doce da mãe.

Foi quando Sasuke nos deu a ideia de criar uma construtora, pois nossas especializações juntas eram perfeitas nessa área. E em um trio de pessoas meio loucas, o que não existe é medo de arriscar. Tomamos coragem e abrimos a empresa, com cada um de nós detendo 33% das ações e meu pai, só para fechar a conta, ficou com 1%.

Com muito suor e trabalho duro, nossa construtora começou a despontar. Nosso quadro profissional era excelente, e nos cargos mais altos, nossos nomes começaram a se tornar famosos. Hinata Hyuuga, diretora financeira, Sasuke Uchiha, engenheiro diretor e fiscalizador das obras e eu, Naruto Uzumaki, responsável pelos funcionários e outros assuntos internos: éramos um trio perfeito.

Quando finalmente conseguimos um grande contrato, graças à Hinata, parecia que nossos sonhos finalmente estavam sendo realizados. Era uma licitação milionária que nos faria crescer para muito além dos nosso limites da época. Mais alto do que qualquer meta que tívessemos até o momento.

Mas, na verdade, meu pior pesadelo se concretizou naquela noite.

A reunião havia sido marcada para iniciar as oito da noite. Hinata, que estava grávida de cinco meses de nossa menina, saiu quarenta minutos antes de casa. Nos despedimos, e ela prometeu para Boruto que não demoraria. Ninguém imaginava...

Era uma noite chuvosa, e minha esposa saiu da empresa por volta de dez e meia. Ela dirigia muito bem.

Esperei ansioso pela chegada dela, que devia ser dentro de uns trinta minutos, mas deu duas da manhã e ela não chegava. Nosso menino dormiu ainda às nove horas da noite. Estava preocupado, até que liguei a televisão e no jornal estava estampada a notícia que eu menos esperava e que sem dúvidas, era o meu pior pesadelo.

As câmeras de segurança da rua gravaram tudo. O carro dela seguia pela rodovia na velocidade correta, até que em um cruzamento, um motorista bêbado de um caminhão que vinha na contramão, avançou o sinal e... atingiu em cheio o carro dela, que capotou e explodiu ao fim. O repórter mostrava seriamente o resgate da motorista do veículo. Eu gelei e tremi como nunca quando percebi que reconhecia o carro e que reconhecia a condutora. Não podia ser verdade. Não podia ser a Hinata. Simplesmente não podia.

Mas nem as minhas orações mais desesperadas impediram minha esposa de morrer quatro dias depois, em meus braços, no hospital. Nosso filho de quatro anos, tão pequeno e inocente, não entendia bem o que acontecia, mas sentiu com força no coração a dor de perder a mãe. Até hoje, Boruto sofre com saudades de Hinata e seus carinhos.

Assim como eu.

Hinata era simplesmente magnífica, em todos os sentidos: cabelos negros e brilhantes compridos com franja emolduravam a face alva e delicada. Seus olhos tinham uma tonalidade única, que só vi na família dela: brancos e levemente prateados. Eram duas pérolas brilhantes que fitavam com doçura todos os que se aproximavam dela. Hinata não somente era linda, como também era a mulher mais inteligente que eu já conheci. Creio nunca tê-la visto realmente irritada: ela sempre voltava ao bom humor habitual em no máximo duas horas.

Prometi a mim mesmo que jamais me relacionaria com outra mulher. Eu não sou mais capaz de amar ninguém. Minha vida é meu filho, e vou fazer o melhor que puder para dar a ele a felicidade.

Hoje visitarei, junto com ele, o túmulo da mãe, a mulher mais linda, gentil, inteligente e cuidadosa que já passou por essa terra, a quem tive a honra de ter como esposa. 

Meu lírio, minha pérola, meu anjo, meu amor, Hinata Hyuuga.