I Hate You, Don't Leave Me escrita por Downpour


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

boa leitura ♥



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i hate you, don’t leave me; sasusaku

oneshot

a heart on fire spin off

 

Eu me odiava, não só me odiava como o odiava. Mas talvez essa não fosse a melhor forma de explicar como eu estava me sentindo. Porque não era assim que eu me mostrava para os outros, e muito menos para ele.

A olhos estranhos eu era Sakura Haruno, uma das garotas mais populares do segundo ano, me destacava por ter meus cabelos pintados de rosa e grandes olhos verdes, e por ser amiga de Naruto Uzumaki e Sasuke Uchiha. As pessoas tinham uma crença de que eu era inabalável, que conseguia tudo o que eu queria com facilidade, que eu era confiante e além de tudo, que eu era perfeita.

Era tudo mentira, obviamente. Na verdade eu era um fracasso iminente, mas gostava de pensar que conseguia passar uma ideia contrária para os outros.

Talvez fosse por isso que eu estava sentada sozinha no telhado da casa de Kiba Inuzuka. Eu tinha me proposto a ir para aquela festa, porque eu nunca negava uma comemoração. Só que eu já não sabia mais o que estava comemorando.

Nos últimos meses tudo tinha se tornado uma bagunça, eu sentia que todos os meus problemas tinham virado uma bola de neve e eu sinceramente não tinha vontade alguma de resolvê-los. Eu tinha cansado.

Quase ri com aquele pensamento enquanto fumava um baseado olhando a Lua no alto do céu. Como eu poderia começar a explicar essa bagunça? Acho que pelo começo… mas nem eu tenho certeza de como isso começou. 

Eu e os meninos éramos amigos… desde sempre. Não conseguia lembrar muito bem da minha vida sem as piadas fora de hora de Naruto e das carrancas mal humoradas de Sasuke. Nós tínhamos feito amizade no maternal, e apesar das brigas e desavenças, seguíamos juntos sempre.

Quando meu terapeuta disse que as coisas iriam mudar um pouco quando eu passasse pela fase de parar de achar que meninos eram piolhentos e irritantes, eu honestamente não tinha levado muito a sério. E agora? Eu estava pagando com a língua. Poderia dizer que eu comecei a gostar do Sasuke em um momento aleatório da minha vida e que aquele sentimento persistia até então, mas isso seria mentira. Acontece que a história era um pouquinho mais complexa.

Acho que tudo começou quando os malditos hormônios começaram a afetar a merda do meu cérebro, o que foi uma droga, porque eu sempre fui inteligente. Contudo, ser inteligente a respeito de sentimentos que eu estava descobrindo não era lá a minha praia. Foi nessa época que eu tive a minha primeira paixonite, Gaara Sabaku. Poucas pessoas sabiam sobre isso, o que metade da escola sabia era que Sasuke não era fã do Sabaku e vice versa, mas ninguém nunca soube da história por trás disso (e eu agradecia a todos os deuses do universo por isso). A verdade era que Gaara nunca fora um cara muito caloroso, então era meio óbvio que em algum momento ele iria partir o meu coração, e foi exatamente isso que aconteceu só que de forma bem humilhante. Ninguém nunca tinha me magoado assim antes, ele fora o primeiro. Isso deixou os meninos putos da vida, para eles era inaceitável que alguém fosse tão frio e tão duro com a amiga deles. Eles brigaram, e eu tive de arranjar algum motivo para fingir que estava tudo bem, para que todo mundo esquecesse aquela história e a enterasse.

Bem, em algum momento eu realmente superei Gaara, só que eu não imaginava os problemas que viriam para frente. 

A princípio, aquele fora depois de algumas semanas de um relacionamento meia boca foi o suficiente para que eu simplesmente desistisse dos meus sentimentos sem mais nem menos. Veja bem, eu já tinha uma noção de que o amor não era lá uma coisa muito duradoura afinal, eu tinha levado a minha mãe para assinar os documentos do divórcio. Você poderia dar uma de psicanalista e dizer que todos os meus problemas eram relacionados com o meu pai, ou a falta dele. Pode ser, não iria tirar a sua razão.

Passei a me envolver com as pessoas rapidamente, coisas de apenas uma noite e nada mais. Nunca ficava com a mesma pessoa mais de uma vez, isso era contra as minhas regras e automaticamente iria romper com a minha teoria feita ao longo dos anos de que eu tinha perdido a minha capacidade de nutrir sentimentos românticos.

Não preciso dizer que a minha teoria foi refutada.

Isso aconteceu em uma festa exatamente como essa no ano passado. Eu tinha decidido beber um uísque caro que eu e os meninos tivemos que rachar para conseguir comprar, foi mais ou menos nessa época que eu percebi que cada bebida alcóolica tinha um efeito diferente no meu organismo. E o uísque… bem, esse capetinha conseguia me deixar muito louca.

Naquela noite eu tive a fatídica ideia de retirar a minha camiseta - porque de acordo com o meu eu bêbado, estava muito calor - e ficar com um top rendado e uma saia xadrez prendada enquanto dançava loucamente em cima de uma mesa. Não foi uma decisão lá muito sábia, mas no momento eu estava me divertindo bastante então era o que contava.

O que eu não tinha percebido pois estava ocupada demais dançando, era que Sasuke olhava para o meu corpo surpreso. Provavelmente porque ele nunca tinha reparado no que os hormônios fizeram com o meu corpo e que agora eu tinha curvas? É, talvez. É meio dificil saber o que e passa na cabeça daquele idiota.

Bem, em algum momento eu perdi o equilíbrio e acabei caindo da mesa bem nos braços dele, o que foi uma sorte, eu poderia ter caído no meio de uma pessoa bêbada qualquer e levá-la ao chão. Me lembro de ter dado risada daquilo e ter soltado algum comentário sem noção sobre o como o perfume dele era gostoso. Empurrei o corpo dele para longe de mim e comecei a cambalear pela casa aos tropeços, Sasuke veio atrás de mim e rapidamente prensou o meu corpo na parede. Eu conseguia perceber que ele estava tão louco quanto eu.

E então o resto daquela noite era um borrão insano. Nós não tinhamos feito sexo - o que era um alívio -, mas ele tinha me pegado de um jeito que ninguém antes fizera. Todo o meu pescoço e o colo estavam com marcas de chupões e mordidas, não só o meu pescoço como o dele também.

Naruto nunca soube do que nós fizemos naquela noite. E nós dois estávamos tão alterados que acabamos não falando no assunto.

Dias se passavam e as marcas dele continuavam na minha pele, eu tentava esquecer ao mesmo tempo que insistia em transportar a minha mente de volta para quando nós se beijamos. Sasuke tinha impregnado a minha mente, ele tinha se tornado uma tatuagem na minha memória. Ele simplesmente não ia embora.

Então a minha teoria foi refutada, e para o meu horror, eu estava me apaixonando pelo meu melhor amigo que estava dando o seu melhor para ignorar a minha presença.

Já havia um tempo que eu estava socando esses sentimentos, mas era burrice. Era como ignorar um outdoor neon super brilhante. Por mais que eu fechasse os meus olhos, ainda estava lá.

E para completar a fórmula do desastre, Naruto tinha se apaixonado por mim. Eu conseguia perceber aquilo pela forma em que ele me olhava esperançoso, e aquilo me matava por dentro. Queria pegar aqueles sentimentos, arrancá-los de mim e eu não sei...jogar gasolina e acender um isqueiro. 

Eu evitava falar sobre aqueles sentimentos com a minha terapeuta, mas ela seguia dizendo que eu não podia ignorar o que estava sentindo. Que eu deveria aceitar os meus sentimentos, aceitar a raiva e a resignação.

Só percebi que estava chorando quando as lágrimas começaram a pingar na minha perna nua. Encolhi o meu corpo no telhado, me focando em puxar o fumo para os meus pulmões. Já podia sentir a cannabis fazer um pouco de efeito. Era uma droga que eu estivesse desperdiçando a erva enquanto estava triste, já que a mesma servia para intensificar os meus sentimentos. Parabéns para a burra.

Honestamente, eu esperava que ninguém pudesse me ver lá de baixo, porque a visão era humilhante.

Terminei de fumar o cigarro e apaguei a bituca no telhado. Dei o meu jeito de voltar para dentro da casa, e entrei em um banheiro. O choro tinha borrado o lápis preto que eu tinha passado embaixo dos olhos, e o delineado de gatinho que eu tinha feito com tanto cuidado estava desaparecendo.

― Que se foda. ― resmunguei agressivamente para o meu reflexo ― Que você e os seus sentimentos de merda se fodam!

Me senti dividida entre chorar e rir. Rir porque eu era uma piada, porque estava chapada me autodepreciando em um banheiro sozinha. E chorar porque talvez… talvez se a sorte estivesse ao meu favor eu pudesse retribuir os sentimentos de Naruto, eu poderia experimentar a sensação de ter alguém que gostasse de mim e gostar dessa pessoa de volta.

“O amor não existe. Você sabe disso melhor do que ninguém”, pensei enquanto tornava a secar as lágrimas com as costas da mão.

Joguei água fria no meu rosto, me sentindo mais triste ainda. Não sabia distinguir o que era água da torneira e o que era lágrima, estava muito alterada para tal coisa.

O tempo que eu passei sozinha ali no banheiro, chorando e tentando limpar o meu rosto, pareceu durar uma eternidade infernal. Não pude evitar me sentir triste consigo mesma, se eu tivesse a decência de admitir para mim mesma que estava triste demais para usar a droga, eu não estaria nesse estado deprimente.

Devo dizer que depois que saí do banheiro, a minha noite conseguiu piorar exponencialmente. Porque assim que eu abri a porta para sair do recinto, eu consegui ver de relance, Sasuke levando uma garota pela mão para um quarto.

Acho que aquilo acabou sendo um choque para mim, isso acontecia as vezes quando eu não estava tão chapada. Quando algo meio surpreendedor acontecia, aquilo conseguia cortar a minha brisa. Decidi que eu não iria chorar por causa daquele ingrato, mas também não iria ficar com ninguém naquela noite.

Desci as escadas para ir atrás de água e qualquer outra coisa que cortasse a minha brisa. Quando eu estava bebendo água tranquilamente na cozinha, como se fosse a coisa mais gostosa do mundo, Ino apareceu na minha frente com uma expressão assustada.

― Saky, você sabe onde o Kiba está?

― Deve estar transando com a Hinata. ― disse dando de ombros.

― A Temari está passando muito mal. Estou com medo de ela entrar em coma alcóolico, a gente precisa da ajuda dele agora.

Coloquei o meu corpo em alerta e comecei a procurá-lo pela casa.



Poderia estar me sentindo um lixo por ter interrompido a transa do Kiba e da Hinata, mas isso acabou acontecendo de verdade quando Hinata estava no banheiro do quarto e Naruto estava de frente para mim. Como ele tinha entrado no quarto? Longa história, nem eu me lembrava.

O que me fez sentir como um lixo radioativo foi quando Naruto admitiu saber dos meus sentimentos pelo Sasuke, ele sabia que eu gostava do Uchiha e mesmo assim, mesmo gostando de mim, ele estava me aconselhando a desabafar sobre meus sentimentos, e abrir o jogo com o Sasuke. Eu me senti horrível ao ver a tristeza nos olhos dele, me senti um monstro por saber que eu era quem estava o entristecendo.

Tudo estava dando errado.

Aconselhei ele a levar Hinata para comer, não só porque eu achava que os dois se davam bem juntos. Mas também porque eu queria ficar sozinha. Ainda tinha outro baseado no meu bolso, eu tinha roubado do Sasuke mais cedo, e para a minha sorte (ou não) tinha uma garrafa de vodca pura no chão.

Fechei a porta do quarto, ficando sozinha novamente, e me sentei no chão do quarto. Eu dava longas tragadas no baseado e goles na garrafa enquanto fazia uma careta vez ou outra. Odiava vodca pura, o cheiro, o sabor, tudo. Mas eu também me odiava. Então estava tudo bem. Aquela era a pior coisa que podia fazer consigo mesma. Eu não misturava drogas, mas lá estava eu, fazendo uma merda da qual iria me arrepender no dia seguinte.

Como eu disse antes, a maconha amplificava os meus sentimentos. E combiná-la com álcool aumentava esse efeito em um nível exponencial. Me sentia transbordando em tristeza quando deitei no chão do quarto. Não sei por quanto tempo eu fiquei ali deitada chorando, por Deus, eu nem sabia o porque eu estava chorando. Só sabia que estava muito triste, e que subitamente eu queria um abraço da minha mãe. Queria ir correndo para a sala da minha terapeuta e falar para ela sobre tudo, e sobre nada.

Tudo ao meu redor girava agressivamente, e foi quando o meu estômago começou a girar também que eu comecei a me rastejar em direção ao banheiro. Com muita sorte eu consegui chegar até o vaso sanitário, e então eu vomitei, senti que iria expelir todo o meu corpo ali.

Quando terminei, senti meus olhos apagarem e eu honestamente não me lembro de quanto tempo fiquei assim. Só me lembro de ouvir a Ino socando a porta do quarto.

― SAKURA EU TÔ LOUCA MAS SEI QUE VOCÊ TÁ AÍ! VAMOS EU TENHO QUE BUSCAR A HINATA.

Tentei responder alguma coisa mas não saia nada da minha boca, então eu apenas me levantei meio zonza. Apoiei o meu corpo na parede enquanto dava descarga.

― Já vai Ino. ― disse com a voz terrivelmente fraca.

Tornei a jogar água no meu rosto e tentei o meu melhor para tirar o hálito de vômito da minha boca. Quando eu senti que conseguia andar sem cair de cara no chão, fui abrir a porta para a loira. Ela estava tão alterada que não conseguia perceber que eu estava com a aparência de quem tinha acabado de morrer, e isso me deixou aliviada.

Nós caminhamos pela vizinhança, eu estava me apoiando nela enquanto ela balbuciava sobre milhares de coisas que eu não fazia a mínima ideia do que era.

A situação conseguiu ficar mais estranha quando Ino foi embora com a Hinata, e eu fiquei sozinha com Naruto. Ele estava fedendo a maconha, mas mesmo chapado conseguia ver que eu não estava bem.

― Saky, como você ainda está de pé? ― ele perguntou preocupado ― Você está muito pálida.

― Eu posso me apoiar em você? ― perguntei com dificuldade.

― Eu te levo nas costas. Por Deus, como a Ino não percebeu o seu estado?

Tentei protestar mas ele não me ouviu, então nós dois voltamos para a festa assim. Na verdade eu dormi no ombro dele todo o percurso, o que o deixou ainda mais surpreso. Eu não era a pessoa que dava PT do nada em um rolê, e muito menos a pessoa que dormia do nada. Normalmente eu cuidava de quem estava passando mal, ou ficava dançando na pista.

― O que aconteceu? ― uma voz familiar me acordou, me trazendo de volta para os meus sentidos novamente.

― Eu não sei, ela está com cheiro de álcool e maconha muito forte. O que a gente faz com ela teme?

A outra pessoa pareceu pensar por um momento.

― Eu levo ela para a minha casa. Não acho que a mãe dela vai querer ver ela assim.

― Tem certeza?

― Não. ― balbuciei com a cabeça apoiada no ombro do loiro, meus olhos mal conseguiam abrir e todo o meu corpo parecia ter sido feito de gelatina ― Por favor, não.

Sasuke pareceu respirar fundo.

― Eu achei que ela estava esse tempo todo pegando alguém, e não passando mal. Eu teria cuidado dela!

― Então cuida agora! ― Naruto quase gritou com o moreno. Senti a minha cabeça fritar de tanta dor. ― Anda, pega ela no colo.

O outro estendeu os braços e me pegou como se eu não pesasse nada. A sensação de estar nos braços de Sasuke era humilhante, eu não queria depender dele e também não queria que ele me visse naquele estado.

― Você pode chamar um uber para mim? Eu não consigo pegar o meu celular com ela no colo.

― Tudo bem, só me prometa que vai cuidar dela.

Meus olhos começaram a fechar novamente.

― Eu prometo. ― Sasuke respondeu suavemente.





Eu já tinha tido várias ressacas ao longo da minha vida, mas aquela era de longe a pior. A minha cabeça estava fritando, e cada átomo do meu corpo parecia se contorcer de desgosto como se o meu próprio corpo estivesse me xingando de infeliz por ter feito merda. Acordei com a luz do sol batendo no meu rosto, apesar de toda a dor e tudo o mais, eu estava sentindo um cheiro muito bom. Um suspiro escapou dos meus lábios, aquele cheiro era familiar, eu só não conseguia me lembrar…

Quando eu abri os meus olhos, a dor piorou e o meu cérebro pareceu pifar.

Eu… estava na cama… com Sasuke.

Percebi atordoada, que ele estava com o peito nu, dormindo virado para mim. Já eu estava vestindo uma camiseta do Led Zeppelin que eu tinha certeza que era dele. Ofeguei sem conseguir me controlar, a surpresa foi tanta que eu fui para trás por impulso, e cai no chão. Óbvio.

Parabéns Sakura.

― Ouch. ― choraminguei, sentindo toda a dor no meu corpo piorar. Eu nunca mais iria beber. Nunca mais iria misturar porcaria nenhuma. Na verdade, eu iria fazer uma trouxa e sair de casa, iria fugir daquela cidade e daquele vexame.

― Sakura? ― a voz grave dele me fez voltar a realidade. Apesar dos pesares, a voz rouca dele ao acordar fez uma série de arrepios percorrem o meu corpo ― Bom dia.

Para o meu espanto, Sasuke sorriu na minha direção, como se eu fosse engraçada.

― Tem um copo de água e uma cartela de remédios para ressaca na mesa. Eu estava esperando acordar antes de você, ia fazer aquele shake para ressaca. ― ele disse enquanto franzia a testa.

Recuei com o meu corpo, me arrastando para longe dele. Ainda não estava em condições normais de raciocinar, e a minha cabeça estava tão confusa e dolorida que eu só queria chorar.

― P-Por que eu estou na sua casa? E-E-Eu fiz alguma c-coisa? ― gaguejei, minha garganta estava seca e a cada palavra que eu falava a mesma arranhava.

Sasuke se levantou da cama pacientemente, e se ajoelhou do meu lado. Ele pegou a água e o remédio, estendendo-os na minha direção.

― A gente já conversa, só me deixe cuidar de você primeiro, tudo bem?

Eu não queria que ele me olhasse assim, como se eu precisasse da ajuda dele. Mas eu precisava da ajuda dele, e a culpa por estar naquela situação era unicamente minha.

Aceitei o remédio e água, e assim que esvaziei o copo, pude respirar fundo. Não me importava com o fato de o Uchiha estivesse me olhando atentamente, apenas escondi o meu rosto nas minhas mãos, deslizando meus dedos até as raízes do meu cabelo. Subitamente eu percebi o como estava cansada, sentia que uma manada tinha me atropelado, que tinha sido esfolada viva. Ironicamente eu não tinha dormido mal, o que indicava que todo aquele cansaço era emocional. 

Eu estava carregando um peso emocional que eu sabia que não conseguia bancar. E tinha descontado tudo, toda a minha raiva e frustração, em mim mesma.

Quando achava que iria começar a chorar, senti algo macio se pressionar contra o meu corpo. Arfei surpresa ao ver um cachorrinho de pelagem negra se aninhando ao meu corpo, até mesmo Sasuke parecia estar surpreso ao ver o animal assim.

― Parece que o Susanoo gostou de você. ― ele murmurou enquanto eu acariciava o animal no meu colo.

― Eu não sabia que você tinha um cachorro.

― Eu o adotei junto com Naruto, ele adotou Kurama naquele dia. ― ele disse dando um sorriso genuíno enquanto Susanoo pulava em seu colo animado, lambendo o rosto do dono. Apesar de estar me sentindo como um pedaço de lixo, não pude deixar de sentir o meu coração derreter ao ver aquela cena. Era muito raro que eu visse Sasuke sorrir, e meu Deus, aquela tinha sido a cena mais fofa que eu tinha tido o prazer de ver em dias.

Sasuke percebeu que estava sorrindo em sua direção, porque piscou desconcertada e então sorriu olhando para baixo.





Naquela manhã eu tinha decidido que a camiseta do Led Zeppelin além de ser cheirosa era muito confortável, era um ótimo vestido, então apenas coloquei um shorts por baixo. Segui o Uchiha até a cozinha enquanto me arrastava pela casa enorme, sentia que todo o meu corpo estava em um estado de cansaço absurdo e tudo o que eu queria fazer era dormir. Sasuke brigou comigo, disse que eu deveria comer alguma coisa saudável antes de qualquer coisa e antes que eu ousasse rebater ele soltou algo como “Sakura, você sempre é a pessoa que está cuidando de todos ao seu redor, você cuida até mesmo de desconhecidos. Será que não vê que você precisa se cuidar? Ao menos me deixe cuidar de você e pare de ser teimosa!” Ponto para o Uchiha, porque apenas com aquelas palavras eu fiquei tímida o suficiente para abaixar as minhas bochechas e deixar que o meu rosto fosse tomado por um tom de vermelho, isso porque eu não era do tipo de pessoa que corava com muita facilidade.

De toda forma, Sasuke fez o famoso shake anti-ressaca e como já era quase meio dia, ele começou a preparar um almoço vegetariano porque sabia que eu evitava comer carne e também porque achava que era melhor que eu comesse algo leve.

― Isso é horrível. ― fiz uma careta ao dar meu primeiro gole na bebida que ele tinha preparado, e de acordo com ele a receita era um segredo do chef.

Um sorriso macabro apareceu no rosto de Sasuke, esse sorriso era comum e eu o conhecia muito bem.

― Não é para ser gostoso, é para curar a sua ressaca. ― disse dando uma piscada de olho.

Merda. Ele não deveria sair por aí piscando aquele maldito olho castanho escuro como se isso não causasse efeito nenhum em mim. Inferno.

Desviei o olhar dele e tomei o restante do shake sem reclamar.

― Ainda está se sentindo mal? ― ele indagou.

― Mais ou menos, ― suspirei apoiando a minha cabeça com a mão, ainda sentia uma dor de cabeça leve porém incomoda ― nada tão ruim quanto o que eu estava sentindo ontem.

― Quer falar sobre o que aconteceu ontem?

Sasuke me olhou com expectativa.

Eu odiava aquilo. Odiava o fato de ele estar indo contra as minhas expectativas, odiava o fato de ele estar cuidando de mim. Mas acima de tudo, eu estava amando aquilo. Estava amando a presença e o cuidado dele, só que não queria deixar aquilo transparecer. Não queria que ele percebesse o quanto eu precisava dele, porque eu o odiaria mais ainda quando ele for embora.

― Acontecer mesmo… nada. Eu só fiquei sozinha com os meus pensamentos, um baseado e uma garrafa de vodca. ― respondi com sinceridade, o que por si só já era surpreendente. Não gostava de preocupar as pessoas, mas lá estava ele, me olhando com preocupação.

Sasuke poderia ter falado mil coisas, dentre elas o fato de como e estava sendo uma idiota inconsequente por ter misturado cannabis e vodca, mas ele tinha noção de aquilo seria hipocrisia da parte. Afinal, eu tinha sido a pessoa que o ajudou um dia para que ele não tivesse uma overdose. Quando eu tinha dito a Hinata que todo mundo cuidava de todo mundo era a mais pura verdade. Eu me disponibilizava para ajudar toda pessoa que precisasse de ajuda, e consequentemente eu acabava vendo coisas feias no processo. Era assustador ter em suas mãos uma pessoa em um coma alcoólico por exemplo, mas pior ainda era não ajudar a pessoa que estava nesse tipo de situação;

― Sakura, ontem você me falou uma coisa e… Eu estava pensando… Você tem ido para a terapia com frequência?

Meu coração afundou em agonia, não fazia a mínima ideia do que eu tinha falado para ele. Poderia ter sido literalmente qualquer coisa.

― O que você ouviu? ― falei em voz baixa, como se na verdade nunca tivesse a intenção de perguntar aquilo.

― Que eu podia fazer que nem o seu pai e abandoná-la. ― Sasuke respondeu ainda mais baixo. ― Que todos os homens que você amava iam embora no final.

As batidas do meu coração começaram a acelerar, os meus olhos verdes começaram a marejar automaticamente. Aquele deveria ser um dos meus pensamentos mais profundos que eu não admitia nem para mim, mas que era verdade. Desde que meus pais tinham se divorciado de forma abrupta eu me senti deslocada e comecei a erguer barreiras emocionais. Eu não só fazia o possível para não manter laços românticos com outras pessoas, como também me afastava assim que eu percebia que alguém nutria sentimentos por mim.

Só percebi que Sasuke estava perto de mim quando senti os dedos dele escorregarem pelo meu rosto como uma tentativa de secar minhas lágrimas.O garoto me olhava pacientemente, como se soubesse que haviam milhares de coisas passando pela minha mente ao mesmo tempo, eram mais pensamentos do que eu podia dar conta.

Desde aquela noite que nós dois ficamos bêbados, tudo entre nós parecia funcionar na base dos olhares. Apenas um olhar bastava, aquela era a nossa forma íntima e silenciosa de comunicação. E eu sabia, sabia que ele tinha conseguido ler os meus sentimentos, que ele sabia como eu me sentia por ele.

― Me abrace. ― pedi como uma criança chorosa e mimada.

Embora não fosse exatamente a pessoa mais carinhosa do mundo, Sasuke passou seus braços ao redor da minha cintura e me abraçou. Eu já tinha o abraçado antes, mas não dessa forma, não tão intimamente. Deixei meu rosto apoiado na curva do ombro dele, era como se aquele espaço tivesse sido arquitetado perfeitamente para eu colocar a minha cabeça ali.

Uma sensação de calma percorreu todo o meu corpo, por algum motivo eu me sentia mais leve. Eu não chorei, apenas suspirei contra o tecido da camiseta dele, e então o pensamento me veio a cabeça. Eu não queria que ele fosse embora, não queria perder ele. Não queria perder a amizade dele e de Naruto. Porque eram eles que me mantinham de pé;

― Eu não estou indo a lugar algum Sakura. ― Sasuke disse depois de um certo tempo, como se tivesse lido os meus pensamentos. ―  Você não deveria ter medo.

Apertei um pouco mais o corpo dele contra o meu. O calor do corpo dele era reconfortante.

― Mas em algum momento você vai ir embora. Todo mundo vai-

― Eu só vou ir embora se você me pedir. ― disse suavemente, de uma forma que me deu arrepios. Aquilo parecia ser muito doce e agradável para ser verdade ― Você não pode se prender as pessoas, você precisa depender apenas de si. Só você pode lutar as suas batalhas Sakura, mas mesmo assim, eu vou estar aqui para te ajudar. Tudo bem?

Pisquei, sem conseguir acreditar.

― Por quê? ― foi a única coisa que eu consegui responder naquele momento.

Sasuke envolveu o meu rosto com as suas mãos, ao mesmo tempo em que eu me sentia vulnerável, também consegui me senti acolhida pela primeira vez em tempos. Um sentimento quentinho que eu ainda desconhecia estava começando a queimar no meu peito.

― Você esteve esse tempo todo ocupada demais em levantar suas barreiras, impedindo as pessoas de se aproximarem emocionalmente, para perceber que apesar de lutar contra os seus sentimentos, você nunca conseguiria lutar contra os sentimentos dos outros.

Fiquei boquiaberta. Eu… Ele…

― Sasuke. 

― Sakura. ― disse o meu nome dando um riso soprado, como se estivesse se divertindo com a confusão nos meus olhos. ― Você vai continuar me torturando, esperando que eu continue a dizer coisas melosas?

Para a minha surpresa, eu consegui dar risada daquilo.

― Te torturar parece ser uma ideia propicia.

― Sei. ― um sorriso debochado apareceu no canto do rosto dele.

Eu amava aquele sorriso, pensei ao mesmo tempo em que acabei verbalizando sem querer. Só perceber o que tinha acabado de falar quando o sorriso convencido do Uchiha aumentou.

― Tenho certeza que você ama uma porção de outras coisas, mas precisa admitir para si primeiro.

Mordi os meus lábios nervosa, tentando ao máximo não sorrir para ele.

― Sim, eu amo uma porção de outras coisas. ― admiti sem tirar os olhos dele. Você.

Os dedos dele acariciaram as minhas costas com carinho, Sasuke era muito melhor em demonstrar carinho por gestos do que por palavras. Senti o meu corpo derreter com o seu toque, como se ele pudesse atravessar a barreira que eu tinha construído e destruí-la. Me vi refém daqueles olhos escuros e do sorriso de canto dele. Antes eu não tinha alguma perspectiva de que alguém pudesse me corresponder, mas lá estava ele. Meu melhor amigo, que agora estava disposto a ser algo além disso.

Quando os lábios de Sasuke tocaram os meus, eu apenas fechei os meus olhos e me entreguei a aquele momento. Eu queria me perder naquela sensação, naquele sentimento de acolhimento e… amor.

Percebi naquela manhã nublada que eu não o odiava, não, muito pelo contrário. E ele sabia disso. Contudo, uma coisa era verdade. Eu não queria que ele fosse embora, queria ter ele por perto. Porque eu precisava do abraço e do beijo dele.

Mas acima de tudo, eu precisava de mim. E enquanto ele estivesse do meu lado, eu estava disposta a resgatar os meus pedaços e me reconstruir.

 

E eu quero que você me ame

Mas eu preciso que você confie em mim

Fica comigo, me liberte

(...)

Fui abandonada e estou com medo agora

Não posso lidar com outra queda

Sou frágil, e apenas me deram as costas

Eles me esquecem, não me veem

Quando eles me amam, me deixam

I Hate You, Dont Leave Me, Demi Lovato


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado ♥



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