Paulo passou a mão pelos cabelos, garantindo que o topete estava bem alto e arrumado, sorriu de canto e se aproximou do novo vizinho extremamente lindo que havia se mudado terça-feira de manhã. Eles já haviam se conhecido na escola, pois estudavam na mesma sala, mas não se falaram muito durante a semana por serem de panelinhas diferentes, enquanto Paulo era dos zoeiros que ficavam no fundão fazendo bagunça, o novato era dos CDF’s que sentavam na frente e prestavam atenção de verdade na aula.

Como um gato como aquele podia ser um nerd?

Enfim... Aquilo não vinha ao caso.

— Oi. Você é o Daniel, né? — puxou papo com o vizinho, jogando seu charminho barato de bad-boy.

— Sou. E você é o Paulo, certo? — respondeu ele com um sorriso simpático.

— Isso aí. — Paulo enfiou as mãos nos bolsos, meio nervoso. — Como você é novo por aqui ainda não deve saber sobre a dinâmica do bairro nos finais de semana.

— Pois é, ainda não tive tempo de fazer amigos, então... — Daniel concordou.

— Eu posso apresentar a galera mais tarde, é só você ir pra frente da igreja abandonada por volta das seis. É a hora que todo mundo se reúne lá aos sábados e pra nossa brincadeira de esconde-esconde. Aparece, vai ser legal.

Daniel estranhou por um instante que os planos de sábado à noite de alguém por volta dos quinze/dezesseis anos fosse brincar de pique esconde, mas logo concluiu que devia ser um tipo de tradição do bairro da qual ele participava desde criança.

— Claro. Estarei lá. — por fim respondeu, sorrindo.

— Ótimo. — Paulo sorriu animado. — Só fica esperto porque quando alguém te chama pra se esconder junto é convite pra pegação.

— Ah. — Daniel respondeu pensando “tá explicado”.

***

Daniel era o tipo de garoto super certinho e isso incluía pontualidade, então mesmo que não fosse um compromisso propriamente dito, às dezoito em ponto ele já estava em frente à igreja, diferente do restante dos adolescentes do bairro que começaram a chegar por volta das dezoito e quinze.

— Você veio. — disse Paulo com um sorriso ao vê-lo sentado em uma parte ainda inteira da entrada da igreja. — Vem, você tem que conhecer a turma.

Primeiro Paulo apresentou seus amigos que já estavam lá e sua irmã, depois os outros conforme mais gente ia chegando. Logo o lugar se encheu de pessoas o bastante para a brincar, então decidiram começar e quem chegasse depois entraria na segunda rodada.

Assim que um garoto de cabelos cacheados chamado Davi se virou para a parede já bem desbotada da igreja abandonada, Daniel apenas pensou em olhar ao redor para achar um bom lugar onde se esconder, mas não teve tempo já que Paulo foi mais rápido em perguntar.

— Ei, tá a fim se esconder comigo atrás do muro terreno baldio?

— Claro. — respondeu sorrindo antes de lembrar de um detalhe. — Espera. Você disse que aqui quando alguém chama pra esconder junto é um convite pra pegação.

— Pra um cara tão inteligente você é meio ruim de pegar indireta. — Paulo brincou rindo e então confirmou. — Sim, é exatamente isso.

— Ah. AH.

— Ei, tudo bem! Olha... Se você não curte, eu vou entender, não sou daqueles bi chatos que ficam assediando os heteros. Eu tenho interesse em você? Sim. Mas podemos ser só amigos numa boa.

— Não! Não é isso. Eu sou totalmente gay e você é um gato. Tipo, bem gato mesmo. — Daniel falava atropelando as palavras devido ao nervosismo que crescia em seu peito. — Só que eu sou tímido e meio que... Nunca cheguei em ninguém. Eu... Sou bv.

— Ah, entendi. Bom, se quiser me beijar eu vou dar o meu melhor pra garantir que seu primeiro beijo seja legal e nada estranho. — Paulo garantiu sorrindo de lado, então estendeu a mão para o vizinho e completou. — E se não quiser a gente pode só correr e se esconder juntos bem rápido porque acho que o Davi já deve estar terminando de contar.

Daniel riu e pegou a mão de Paulo, que logo o puxou e os dois correram para trás do muro do terreno do baldio.