Inveja escrita por WinnieCooper


Capítulo 1
Único




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Ela chegou essa tarde. Estava radiante e morena, mais do que o normal. Estava morena, pois tinha passado uma temporada na praia com seus pais. E gostava de contar sobre isso, tinha os olhos brilhantes ao dizer que amou o sol aquecendo sua face enquanto podia ler nas pedras, contou que não teve coragem de entrar no mar, que estava tão frio, contou que lá ventava demais e seu chapéu vivia saindo de sua cabeça. Ela só tinha palavras para as férias perfeitas que tinha tido antes de chegar em casa. Como que minha casa e minha companhia iam competir com “férias perfeitas na praia”?

Fiquei imaginando o sol aquecendo sua pele e senti inveja. Queria ser eu a aquecê-la em meus braços.

Fiquei imaginando o vento soprando seus cabelos desordenando-os mais ainda que o costume. Queria ser eu a tocar seu rosto e seu cabelo bagunçando-os ainda mais.

Esses pensamentos estavam me enlouquecendo e tenho certeza que fiz uma careta quando ela disse que havia lido quatro livros inteiros em sua estadia de uma semana na praia. Ela me encarou com os olhos estreitos e desconfiados. Minha irmã que estava ao lado ouvindo como eu a narração de suas férias incríveis mudou de assunto. Foi quando uma coruja aterrissou na frente dela.

Ela parecia nervosa ao olhar o animal, parecia reconhecê-lo. Não era nenhuma coruja na qual eu me lembrava e comecei a desconfiar. Ela tremeu ao tirar o pergaminho das patas dela, derrubou um pouco de água no chão ao oferecer a coruja e resolveu guardar o papel no bolso para não ler naquele momento. Minha irmã parecia mais curiosa que eu e perguntou de quem era.

— Viktor.

Meu estômago revirou, tenho certeza que fiz uma cara de desgosto, e comecei a tossir engasgado com a água que estava tomando.

Ela me olhou de lado e fiquei imaginando ele:  Krum aquecendo seu corpo com seus braços como o sol da praia, ele bagunçando seus cabelos como o vento da praia. Ele.

E ela havia dito Viktor, não Krum, ou seja, eram íntimos de alguma maneira. Eu tinha certeza que ia começar a fazer besteiras e resolvi ir para o sofá de minha sala e deixar que ela conversasse sozinha na cozinha com minha irmã. Podia ouvir, mesmo em outro cômodo, as risadas e os suspiros que elas trocavam e as cumplicidades que só garotas poderiam ter. Fechei os olhos e fiquei imaginando o diálogo.

— Os beijos dele são quentes e me deixam fervendo.

— A forma como toca em meu rosto me derrete.

— Sei que só ele conhece outra face minha.

Suspirei. Eu queria estar em seu pensamento, e nos seus sonhos como ela estava nos meus, queria estar no brilho de seu olhar. Tenho que fingir, para mim mesmo, e soterrar o sentimento que carrego em meu peito.

Amá-la uma vez, na realidade, era permitido? Somente uma vez? Mas eu vivo de imaginação. Já me conformei. E posso contar uma história inteira feita em meus pensamentos:

Estamos de férias, como agora, ela chegou uns dias antes de Harry, como agora. Passamos o fim de tarde sozinhos, os jardins da Toca são nossos cúmplices. Ela senta ao meu lado debaixo de uma árvore e é claro que está lendo um livro. Grosso e tão mais interessante do que ter conversas comigo, ela começa a rir quando digo que tenho ciúmes deles. Dos livros. Ela toca em meu rosto e me diz que não preciso ter ciúmes nenhum.

Nesse momento o sol está se pondo e seus raios tocam a sua face a aquecendo e deixando um laranja especial e único que só existe quando esse momento acontece. Reparo no vento, que bagunça seus cabelos e me faz tirar uma mecha de seus olhos. Estamos nos encarando longos segundos, corações descompassados, lábios apertados de ansiedade, boca seca. Me lanço em direção aos seus lábios, quando escuto sua voz.

— Rony?

Abro os olhos, ela está parada em minha frente. Ainda morena pela praia que visitou nas férias, ainda com os cabelos bagunçados sem que eu pudesse tirar uma mecha de seus olhos, ainda com a carta dele em suas mãos, ainda com um livro debaixo dos braços.

— Queria andar. – me pediu. – Queria ver o pôr do sol.

Era um convite? Era. Resolvi a acompanhar e magicamente como no sonho sentamos debaixo de uma árvore. E ela começou a ler o grosso livro. Seus olhos brilhantes para aquelas páginas, o sol laranja pelo fim de tarde batendo em seu rosto e a cor de meus sonhos inundando o rosto dela. O vento apareceu na ordem de roteiro e bagunçou seus cabelos e ela levantou o rosto para me encarar. Será que era permitido tocá-la? Amá-la uma vez? É claro que não. Não quero estragar nossa amizade e aparentemente ela já tem quem a toca e quem a aquece. Suspirei. Ela pareceu notar meu desconforto. A inveja estava me enlouquecendo.

— Tenho inveja...

Ela disse, não eu.

— Inveja do que? – perguntei curioso. Desejando que ela falasse que tinha inveja de mim de alguma forma.

— Das histórias... – ela mostrou seu livro ainda sem desgrudar seus olhos dos meus. – Sempre há as histórias perfeitas, os protagonistas perfeitos, o beijo no final, o feliz para sempre. Tenho inveja de não ter isso e viver de imaginação.

Imaginação? Ela vive de imaginação?

Hermione engoliu em seco e desviou seu olhar do meu. Começou a olhar o sol sumindo no horizonte e querendo captar todos os momentos, fechou os olhos. O sol novamente aquecendo sua face, o vento tocando e bagunçando seus cabelos.

— Queria viver além da imaginação. Um cenário perfeito, uma companhia perfeita...

Ela sussurrou ainda de olhos fechados e eu imaginei. Se aquele cenário em que estava agora e se minha companhia eram perfeitos para ela. Queria toca-la e estiquei minhas mãos. Ela sacudiu seu rosto, suspirou e sorriu. Recolhi minha mão e fiquei a admirando.

— Obrigada. – abriu os olhos. Eles estavam brilhantes e felizes. Levantou-se do chão, esticou a mão para que eu levantasse com ela. – Sei que histórias são feitas de momentos, muito mais que felizes para sempre. – ela sorriu e eu senti minhas orelhas pegarem fogo.

Então eu sucumbi a minha louca vontade de toca-la e tirei uma mecha teimosa de seu rosto que o vento havia bagunçado e desejei que meu toque a aquecesse como o sol. Ela ficou me encarando. Bochechas rosadas, lábios comprimidos e mordiscados de ansiedade, olhos brilhantes de expectativa. Foi quando ouvi minha mãe nos chamar para ajudar a colocar a mesa do jantar.

Ela se inclinou até mim e me deu um beijo na bochecha. Meu coração descompassado, meu corpo aquecido com esse ato, seus lábios me tocando como o vento.

— Sei que levarei esse momento para sempre em meus pensamentos. Obrigada.

E antes que eu fizesse qualquer outra coisa, ela saiu correndo para longe de mim. Me deixou para trás completamente empasmado.

Talvez eu viva em sua imaginação como ela vive na minha, talvez o sol, o vento da praia e os livros que ela tanto lê não sejam tão interessantes quando minha companhia num final de tarde. Talvez as cartas e sua experiência com Krum não sejam para sempre. Talvez momentos como aquele estejam em sua imaginação como estiveram na minha. Sei que agora são lembranças, e sei que serão eternas.


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Notas finais do capítulo

Será que existem leitores Romiones que gostam de histórias assim ainda? Comentários me deixam feliz



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