Sanji estava quase feliz hoje. Quase. Ele se sentou no trem a caminho de Hogwarts e esperou que tudo fosse maravilhoso. Mas eles estavam sentados ali, na cabine ao lado da dele. Os três parecendo arrogantes como sempre. E ele não deveria se surpreender.

Sanji sempre sonhou com o dia em que receberia sua carta. Nem sempre eram bons sonhos, entretanto. Ele sabia exatamente o que aconteceria assim que voltasse a se envolver com aquela vida que deixou para trás há tantos anos. Ele encontraria seus irmãos gêmeos na escola.

O loiro havia fugido de casa há alguns anos, embora ele raramente se referisse àquele lugar como sua casa. Foi como fugir de Azkaban, sua família tão putrefata e danosa que ele pensava que eram iguaizinhos a dementadores que se alimentam da felicidade alheia. Depois de escapar da mansão dos Vinsmoke, ele foi encontrado na rua passando fome por um trouxa, que o acolheu, o alimentou e deu-lhe um novo sobrenome. Um que ele usaria com prazer no lugar daquele sobrenome nojento que nunca pertenceu a ele.

E, por muito tempo, ele cogitou não ir a Hogwarts quando chegasse a hora. Ele estava genuinamente feliz exatamente onde estava e não tinha interesse em ver seus irmãos e interagir com eles. E falta de interesse era um óbvio eufemismo para pavor. Se sentia fraco de novo só de pensar em encontrá-los. Frágil, quebradiço, de uma forma que não tinha se sentido em anos vivendo no mundo dos trouxas.

"Aqueles idiotas estão chamando você naquele outro compartimento. Quem são?" Disse o garoto mais estranho que Sanji já conhecera, ele tinha cabelos verdes, calçava coturnos surrados e três brincos de ouro na orelha. E parecia um idiota. Ele tinha acabado de entrar em sua cabine e sentou-se diante dele, encarando estranhamente seu rosto.

“Nunca vi na vida. ” Sanji mentiu descaradamente.

“Mas eles são...bem parecidos com você. E a sobrancelha estranha é igual. ”

Talvez ele devesse ter raspado elas, então. Apagado qualquer coisa que pudesse remeter a seu passado.

“Que coincidência, né? ” Ele se levantou e fechou a porta, sentando novamente e olhando para a janela, rezando para que esse idiota calasse a boca sobre seus irmãos.

"Cara, você não é muito sutil. Mas tudo bem, eu não quero falar sobre esses idiotas mesmo... Eu sou Zoro, aliás."

Sanji ainda não gostava do tom presunçoso do garoto, nem do fato de ele simplesmente irromper em sua cabine e começar a perguntar essas coisas. Mas ele se apresentou de qualquer maneira.

"Sanji". Ele não se incomodou em estender sua mão, já que o outro garoto também não tinha feito. O que o fez se sentir infantil, mas havia algo em Zoro que fazia querer ser mesquinho assim. "Então, Zoro, quem fez esse feitiço estúpido no seu cabelo?"

"Eu que fiz." O garoto disse como se aquilo fosse algo para se orgulhar. Ter grama em vez de cabelos normais. "E não é estúpido, é incrível."

"Ah, claro." Sanji bufou.

"Bem, eu posso te mostrar agora mesmo." O garoto de cabelos verdes levantou-se, pegou sua varinha e sentou-se ao lado de Sanji, encarando seus cabelos loiros, o que o deixou alarmado.

"Espere, ei, você não está prestes a deixar meu cabelo verde, sua alga. Fique com seu musgo para si mesmo."

"Está tudo bem, pare de ser tão dramático."

Sanji se contorceu um pouco no assento, mas Zoro conseguiu pegar uma mecha de seus cabelos dourados. O garoto estava sentado perto dele, perto demais para Sanji se sentir confortável. Zoro então pronunciou algum feitiço e apontou sua varinha para a mecha, e Sanji observou o verde começar a se espalhar pelos fios loiros, dominando sobre sua cor natural até que toda a mecha tivesse a mesma cor do cabelo de Zoro.

"Desfaça." Sanji olhou para a janela tentando vislumbrar-se e pôde ver seu cabelo loiro impecável manchado por uma única mecha de grama verde e estranha. "Agora."

"Não, vamos lá, admita que é legal," Zoro estava sorrindo de forma travessa para ele e Sanji olhou feio para o garoto, tentando transmitir sua raiva através do olho azul visível.

"Ok, ok... eu não consigo desfazer, mas vai desaparecer em um dia ou dois, tsc."

Sanji não ficou tão feliz com essa resposta.

"Você é um idiota." Talvez ele estivesse um pouco, bem pouquinho mesmo, impressionado com a magia do garoto, mas ele certamente não queria essa cor em si mesmo.

Ele deveria ter ignorado esse garoto pelo resto da viagem só por isso, mas ele não pôde deixar de continuar brigando com ele. Sobre o cabelo, sobre quadribol, sobre praticamente tudo.

Eles jogaram snap explosivo e Sanji estava mais empolgado com isso do que ele gostaria de admitir, para sempre acertar a pontuação entre eles, quando ele estava ganhando, Zoro empatava e vice-versa. Era como se eles pudessem jogar por mil vezes e ainda estaria perfeitamente equilibrado, mas sempre ainda um tentando vencer o outro. Sanji gostava disso.

Então Sanji teve que lidar com seu ronco alto e desagradável quando o outro garoto se cansou e decidiu dormir.

"Eu vou te matar enquanto você dorme se acabar sendo meu colega de quarto."

"Hm? Por quê?" Zoro coçou um olho e bocejou alto.

"Você é muito barulhento. E você é um imbecil."

"Imbecil é você. ” Zoro franziu a testa grande para ele. “E aposto que eu poderia dividir um quarto com qualquer tipo de pessoa. Não é grande coisa."

"Confie em mim, já passei muitos anos dividindo um quarto com... pessoas de quem não gostava." Sanji disse e se perguntou se Zoro poderia ler sua expressão e adivinhar, enquanto se lembrava amargamente de seus anos na mansão Vinsmoke, de chorar o mais silenciosamente possível em sua cama e esperando que os monstros nas outras camas não o ouvissem. "Eu não quero passar por isso novamente."

"Você não vai."

"Como você pode ter tanta certeza?"

"Eu apenas tenho." Ele não ofereceu nenhuma explicação, ele simplesmente disse isso e sorriu com confiança, um sorriso que Sanji achou que ficava bem nele. Bem, pelo menos melhor do que sua carranca típica.

E Zoro estava certo. Quando eles chegaram a Hogwarts e a seleção aconteceu, ele não acabou na casa de seus irmãos. Era exatamente como era esperado dele, o único membro da nobre família Vinsmoke a não fazer parte da Sonserina.

Talvez se ele não morasse com Zeff durante todos esses anos, talvez se ele ainda estivesse morando com sua antiga família, imploraria para que o chapéu o colocasse na Sonserina. Imploraria por qualquer migalha da aprovação de seu pai que ele pudesse obter como um idiota. Porque Judge com certeza teria ficado muito furioso com a Grifinória, mas ainda mais chateado com ...

“Então, Lufa-lufa...” Zoro disse o nome da casa como se a própria Helga o tivesse ofendido pessoalmente.

“Pois é…”

“Pelo menos não vou precisar dividir o dormitório com você e suas sobrancelhas enroladas. ”

“E quem disse que eu iria querer dividir qualquer coisa com você, seu idiota? ”

Na verdade, ele queria. Muito. Nunca teve um amigo, muito menos alguém tão parecido com ele. O máximo que chegou próximo disso era o velhote e o restante da equipe do restaurante, mas era diferente. Não tinham a mesma idade que ele, eram adultos. Sanji sempre sentia como se tivesse que provar algo, provar que já era maduro o suficiente, cozinhar o melhor que podia, trabalhar até se estafar, fumar cigarros teimosamente.

Com Zoro era tudo mais fácil. Ele observava com um pouco de inveja o moreno em meio aos demais estudantes da Grifinória

“Ei, ” Zoro o chamou antes que Sanji pudesse ir embora. “Não faz diferença. ”

“Claro que faz. ”

"Nah. Eu ainda posso te dar uma surra no snap explosivo. E podemos jogar um contra o outro na copa de quadribol."

"É, pode ser..." Ele ofereceu um sorriso tímido para o garoto de cabelos verdes e se separou dele.

Talvez ele estivesse realmente exagerando, não poderia ser tão ruim assim. Ele tinha certeza de que seus colegas alunos da Lufa-Lufa eram os mais legais de toda a escola e ficou muito feliz por ficar o mais longe possível de seus irmãos.

E quando ele olhou no espelho antes de dormir, sua mecha verde ainda estava lá, exatamente da mesma cor dos cabelos de Zoro. E talvez ele pedisse ao idiota para fazê-lo novamente quando passasse o efeito. Só mais uma vez.