Eu Acho que Vi Um Gatinho escrita por PepitaPocket


Capítulo 3
Parte III


Notas iniciais do capítulo

Agradecimento, a Fantaseax pela sugestão da música, Cardigan da Taylor Swift que usei alguns versos aqui, espero que gostem do desfecho, eu acabei reescrevendo-o, espero não ter estragado as coisas. Sem mais delongas, boa leitura a todos o/



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Então naquele dia ele fez uma grande descoberta: o tempo passa mais devagar, quando se tem quatro patas, é peludo e não se tem nada decente para fazer, além de perseguir algum rato indefeso, atordoar passarinhos e ficar no sol observando de longe o trio de mulheres, que encontrava-se no jardim, tagarelando sem parar.

Dois dias haviam se passado, e Orochimaru já não tinha mais interesse na conversa delas.

Tsunade tinha muitos defeitos, mas era esperta, e quando isso agia contra ele deixava de ser uma qualidade, Orochimaru refletiu rancoroso.

Enquanto observava o mundo do alto da árvore, na qual ele havia aprendido escalar, depois de muito esforço.

Quem diria que um gênio que sempre aprendeu as coisas com facilidade, teria dificuldade em algo assim?

Por outro lado, ele tivera tempo o suficiente para planejar minuciosamente sua vingança maligna, contra a loira do mal, que teimava em residir em seu coração.

Quando ele pensava nisso, ele quase conseguia rir abertamente.

— É sério, esse gato esquisito me dá calafrios. – Dois zeladores cochichavam entre si, enquanto observavam com certo temor a figura felina de Orochimaru, que não se incomodou com isso, já que todas suas intenções malignas estavam direcionadas para uma única pessoa.

— Está bem, shishou? – Sakura perguntou para sua mestra assim que viu a mulher estremecer, e Shizune notou que os pelinhos do braço da Senju arrepiaram-se por algum motivo.

— Sim. – Tsunade disse olhando na direção para onde Orochimaru havia ido. Já era ruim seu quase, “alguma coisa de íntima que não era amante nem namorado, muito menos marido”, estar transformado em um gato.

Mas, ele ter subido em uma árvore e se recusado a descer de lá, nos dois últimos dias tem sido estranho.

E, toda vez que ele a olhava sua pele pinicava de um jeito desagradável, normalmente ela aquecia como um pãozinho no forno, mas agora era diferente.

— Está preocupada com seu gatinho de estimação? – Shizune quase fez Tsunade se engasgar com a “porcaria” do chá verde, quando ela deu uma ênfase sugestiva a palavra gatinho.

— Não tenha ideias Shizune. – Tsunade disse carrancuda, o que serviu para que sua discipula mais velha arqueasse a sobrancelha quase em triunfo.

— Que ideias eu poderia ter, Tsunade-sama? – A outra questionou em um tom choroso e ofendido, e Sakura que estava apenas de expectadora do diálogo cheio de entrelinhas de suas duas “senseis”. Então, na dúvida a mais jovem do trio resolveu ficar quieta e observar, mas seus olhos verdes e curiosos enervaram ainda mais Tsunade.

— E, você também não me olhe desse jeito... Sakura! – A Senju ralhou com a de cabelos róseos, que espichou o beiço amuada, por estar sendo alvo daqueles orbes castanhos raivosos.

— Are, mas o que foi que eu fiz, shishou? – A outra quis saber, um pouco mais manhosa do que de costume, mas era difícil lidar com o gênio intempestivo da Godaime Hokage.

— Não esquenta, Saky. – Shizune repentinamente surpreendeu com uma risada baixa, antes de dar uma piscadela para Sakura. – Ela está com medo que o gatinho de estimação dela, arranje uma gatinha no cio.

Evidentemente, Sakura não entendeu nada. Mas, Tsunade entendeu o que Shizune queria dizer, algo do tipo: “eu sei o seu segredo, para de ser hipócrita”.

Mas, claro que pessoas turronas não costumam dar o braço a torcer com facilidade, ainda mais sendo a rainha dos seres teimosos.

Mas, o mais estranho é que Tsunade apenas fuzilou Shizune, com o olhar, mas não falou nada.

Apenas se levantou, com o nariz arrebitado, enquanto atirava uma mecha de cabelo por cima dos ombros, um gesto charmoso que ela fazia apenas quando irritada.

— Acho que vou me recolher. – Sakura disse repentinamente.

Ela sabia que Shizune e Tsunade estavam falando de um assunto que não queriam deixa-la a par. Isso acontecia com frequência nos tempos que Tsunade era líder da vila, e despendia um tempo precioso para treiná-la. 

Shizune sempre estava por perto, e Sakura aprendeu que elas tinham uma forma tão íntima de se comunicar, que se entendiam até em meio a total ausência de palavras, ou em inferências elas deixavam subentendidas nas entrelinhas.

E, isso quase sempre acontecia, quando os assuntos eram relacionados a vila. Mas, agora a Tsunade não era mais Kage, então Sakura não tinha como deduzir ao que elas estavam se referindo.

A não ser que ela voltasse a teoria de que sua shishou havia desenvolvido uma relação afetiva profunda com o gatinho, só não queria dar o braço a torcer, e isso causava um arrepio na jovem Haruno que resolveu ficar de fora daqueles detalhes sórdidos da vida intima de sua mestra.

— Aposto que está pensando besteira. – Tsunade disse amuada, vendo as caras e bocas que Sakura fazia.

Aquela pirralha era um livro tão aberto, que era assustadoramente fácil lê-la. — Não, é nada disso. – Sakura disse fazendo caras e bocas ainda com mais dramaticidade. – Só vou me recolher, amanhã retornaremos para a vila.

Sakura disse com uma ponta de tristeza na voz, aqueles dias na companhia de sua segunda mãe, eram sempre agradáveis. E, pelo olhar de Shizune, ela sabia que o sentimento era reciproco, mesmo com as implicâncias implícitas, entre as duas.

Tsunade nada disse, apenas girou nos calcanhares e se afastou.

Depois que aquelas duas dormissem, ela ia cobri-las e lhes dar um beijinho na testa, mas agora não queria mais ser aporrinhada, pela ingenuidade de uma e pelo excesso de esperteza da outra, por isso saiu para fora, para longe do gramado, enquanto escutava Sakura perguntar de um jeito exageradamente choroso para Shizune.

“Foi alguma coisa que eu fiz?”

O que indignou a Senju, já que o culpado de todos os seus males, era aquele gato cretino, que nem era gato para começo de conversa, e havia feito uma greve, em cima da árvore, ignorando-a por completo.

Se ele quisesse, ele podia fazer uma visitinha sorrateira, no meio da madrugada, debaixo do edredom.

Esse pensamento, deixou Tsunade quente, só que de raiva. Primeiro, porque não deveria pensar em algo tão indecente assim, e depois porque ela não poderia ter ele por aqueles dias...

“E, por minha culpa”.

Aborrecida, com aquele repentino pensamento, ela tratou logo de remendar aquele absurdo:

“Isso é tudo sua culpa, seu felpudo, escamoso”.

Ela disse sem conter a indignação, por ter um hibrido de gato, cobra, homem como “alguma coisa de íntima que não era nem amante, nem namorado, muito menos marido”.

Tsunade disse olhando um pouco mais para a árvore, onde ela jurou jurar ter visto os olhos sempre dourados de Orochimaru brilharem, mas a verdade é que ele estava embolado no próprio corpo e até gostou da sensação, quem diria que ser um gatinho fofo tivesse suas vantagens.

Não muito longe, ele sentia o chakra de sua senhora oscilando de um modo engraçado. E, se pudesse Orochimaru soltava uma gargalhada alta, ao invés disso ele no máximo ronronou cheio de satisfação, por seu plano estar dando certo.

...

Uma garoa fina começava a cair, e Tsunade por um breve momentinho ficou preocupada com aquele gato sem vergonha, quer dizer... Aquele hibrido nefasto, e sem coração.

Como prometido, ela passou nos aposentos de suas “filhas”. Sakura dormia como uma pedra, e Shizune lia um livro.

— Boa noite. – A Senju dissera um tantinho constrangida quando aqueles olhos muito escuros, recaíram sobre ela, avaliativos como sempre.

— A senhora tem certeza que não quer conversar? – Shizune insistiu em um sussurro quase inaudível, mas Tsunade estava tão acostumada com o som de sua voz que conseguia escutá-la mesmo assim.

Para disfarçar o quão desconcertada ela estava, a Senju aproximara-se de Sakura que dormia, tranquilamente. A mulher deslizara a mão pelo rosto adormecido da jovem, desejando por um momento ter sua mesma juventude, o que significava ter tempo de fazer as coisas corretamente.

Mas, agora ela não tinha nem juventude, nem tempo. A idade era um fardo que a cada dia tornava-se mais e mais pesado. E, a companhia de Orochimaru, havia se tornado seu último alento, nos últimos tempos. E, isso aterrorizava a Senju, por depender tão intimamente de alguém como ele.

— Tsunade-sama, eu acho... – Cautelosamente, Shizune levara sua mão até a de sua mestra, que não repelira seu toque, mas seus olhos tinham uma aspereza, que era quase como uma barreira defensiva.

— Boa noite Shizune. – Tsunade dissera fechando-se em copas, sua pele muito clara tinha um rastro de vermelhidão.

Shizune a encarara mais um pouco, mas dera um suspiro resignado, era bobagem de sua parte, achar que sua mestra faria confidencias a ela. Quer dizer, por quase duas décadas, Shizune a escutara lamentar o infortúnio que foi perder Dan, ou então praguejar contra o sistema ninja, que em sua violência cíclica devastava vidas e mais vidas.

Mas, ela sabia que havia algo de mais profundo no coração de sua mestra. Algo que ela nunca partilhava com ninguém, e Shizune sempre teve duvidas sobre o que se tratava e do porque ela mantinha aquilo consigo. E a impressão vinha com mais força, toda vez que um único nome era pronunciado.

— Orochimaru.

Shizune repetira mais uma vez, e a reação estava lá, mesmo por trás dos gestos e expressões, muito bem treinados da princesa do clã Senju que não disse nada, e nem foi preciso: o brilho de seus olhos disse tudo. A única diferença é que dessa vez, era impossível não perceber, e a única razão justificável para isto, é que algo aconteceu naqueles últimos tempos, e tinha a ver com aquele estranho gato preto, e a mais estranha figura ainda, de Orochimaru.

A cabana alugada, era pequena, mas aconchegante. Mas, quando Tsunade pusera seus pezinhos ali dentro achou o espaço grande demais e vazio. Muitas pessoas não constituem família por opção e ela de certa forma, foi uma dessas pessoas. Mas, geralmente essas mesmas pessoas colocam no lugar outro laços, outros objetivos, outras razões de viver.

Mas, ali naquele quarto, sem ele, ela percebia que não tinha nada, a não ser aa própria solidão para abraçar. Pois, logo Sakura e Shizune retornariam e ela teria de se contentar com Orochimaru de novo.

Pensando bem, esse nem era o problema. Quer dizer, Orochimaru. E, sem a dificuldade que ela tinha em confiar nele. O medo quase irracional que ela tinha de perde-lo em suas mãos, exatamente como houve com o Dan. Na desconfiança que ela tinha com relação as coisas boas que poderiam acontecer na sua vida, depois de tudo de todos os dessabores pelos quais passou.

E, quando recostou em seu travesseiro, um soluço baixo escapou de seus lábios.

“Me marcou como uma mancha de sangue, eu conheci você, tentei mudar o final”.

Então, os versos de uma velha canção, veio a sua mente. E, ela podia ver os dois sentados na poltrona perto da janela, escutando-as na velha vitrola.

Nos braços um do outro, aproveitando a música e a companhia um do outro, como se não houvesse amanhã.

— Eu estou feliz com o Gai-kun como nunca me senti. – Shizune disse com sinceridade. – Ele me faz rir como nenhum outro e ele aquece meus pés de noite. Me deixa um pouco irritada com suas idiotices, mas quando sorri aquele cretino sabe que me tem na mão. Eu não me preocupo muito com o amanhã, se ele vai encontrar uma moçoila mais interessante que eu, ou se eu vou me cansar e preferir continuar casada com meus livros... Mas, por agora está bom, então porque não aproveitar?

Então, as palavras de Shizune lhe vieram a cabeça, e como se fosse uma peça que faltava no quebra cabeça sentimental de Tsunade, ela estava prestes a encontrar a resposta para as dúvidas que a impediam de se entregar de verdade para Orochimaru.

Porém, ela não queria aquela peça, porque teimava em achar que para aquilo não tinha remédio e que era melhor deixar tudo para trás e seguir como sempre esteve sozinha.

Então seus olhos voltaram para a janela e ela o vira ali sentado, na sua forma de gato a encarando com aqueles olhos felinos.

Ela levantou-se e caminhou até a janela, dando um indicativo de que queria que ele entrasse, mas ele não fez.

Continuou sentado mais um par de minutos, antes de se afastar da janela, mesmo estando chovendo.

Ele queria ir embora, de uma vez por todas.

Mas, acabou caindo na tentação de dar mais uma olhadinha em Tsunade, já que jogar duro naqueles dois últimos dias, e permanecer fora de seu caminho, mas a uma distância visível na forma de gato, não surtiu o efeito esperado.

E, ele não tinha vocação para mendigar nada, ainda mais de alguém que ele achava que as coisas deveriam fluir mais naturalmente.

Eles já estavam velhos.

Cansados.

Surrados.

Não tinham muito tempo para hesitações.

Ele que perseguiu a imortalidade por tanto tempo, percebeu que aquela era uma busca sem sentido.

Não queria uma vida eterna sem ela.

O problema é que apenas isso não bastava para Tsunade, ela parecia esperar algo, e esse algo era justamente o que ele não podia lhe dar: uma outra versão de si mesmo.

Ele era aquele pacote cheio de erros e defeitos, que ela não entendia nem perdoava. Mesmo que não dissesse diretamente, ela acabava revelando isto nos mínimos gestos.

E, isso o fez concluir que o amor deles não foi feito para durar.

Ela chegou abrir a boca para chamar por ele, mas de sua boca não saiu nenhuma palavra.

Ela apenas o viu se afastar, como um felino solitário e insignificante.

E não moveu um dedo para impedi-lo, mesmo que estivesse louquinha para fazê-lo.

“Eu sabia que você iria assombrar todos os meus “e se”. O cheiro de fumaça pairaria por tanto tempo, porque eu sabia tudo quando era jovem, eu sabia que amaldiçoaria por mais tempo”.

De novo, mais alguns versos da canção viera sua mente, e ela se viu movendo em direção a chuva, chegou abrir a boca para chama-lo, mas de sua boca não saiu nenhuma palavra.

Então, ela continuara ali parada, se molhando e sofrendo, por uma escolha inconsciente de seu coração.

Já Orochimaru, nem se incomodou em olhar para trás, não iria continuar cedendo, e correr o risco de sacrificar-se por alguém que não fazia o mesmo por ele.

...

No dia seguinte, por causa da chuva, Sakura e Shizune não puderam retornar para casa.

E, Tsunade nem pode ficar totalmente contente por poder usufruir um pouco mais da companhia de suas meninas, já que seus pensamentos estavam o tempo todo nele.

E, o sentimento foi pior quando Sakura comentara, casualmente:

— Não tenho visto o gatinho. Será que aconteceu alguma coisa? – A Haruno comentou enquanto bebericava seu chá.

— Esqueça o gato, Sakura. – Tsunade respondeu ríspida antes de levantar mal-humorada, e ir para outro canto.

Shizune ficara quieta, mas seus olhos pareciam entender o que estava se passando, mas dessa vez a namorada de Gai não abrira a boca para dizer nada, que causasse algum rompante em sua quase mãe.

Cansada, de assistir aquele teatro de sutilezas a mais jovem das três mulher, deixara ruidosamente a xícara sobre a mesa.

— Detesto quando você fazem isso... – A rosada disse mal-humorada, e ambas mulheres a olharam com certa surpresa pela atitude da mais jovem.

— Ficam falando nas entrelinhas, como se eu não estivesse apta a saber de nada. – Sakura disse pegando um pão, para mastigar, apenas para ter tempo de calcular suas palavras.

— E, você é a pior Shishou. – A garota ficou com vontade de se socar em baixo da mesa, quando Tsunade lhe lançou um olhar duro e assustador.

— Não sei o que se passa, mas a senhora não é assim... – A outra deu de ombros, desejando ser mais eloquente, mas ela aprendeu em sua relação com o Naruto que ela era barulhenta, briguenta, mas não era muito brilhante com os argumentos.

— Ontem eu a vi, na chuva, olhando o horizonte. Sei que estava esperando por ele. – Definitivamente as bochechas da mulher acaloraram, como um braseiro.

— Ele quem garota... – A Senju bem que tentou obter o controle da situação, mas acabou se sentindo boba diante daqueles olhos verdes que lembravam os de Orochimaru, por um motivo que Tsunade não sabia.

Por quatro anos, ela escutara que Sakura era parecida consigo, e até poderia ser no gênio truculento, na tendência dramática, no coração mole, e sobretudo no dedo torto para se apaixonar.

Esse pensamento, quase fez a loira cair na gargalhada.

Mas, nas pequenas coisas ela lembrava Orochimaru. Aliás, não só Sakura, mas muitas coisas a seu redor.

E, aqueles meses na sua companhia tornaram aqueles sintomas ainda pior. Estava sofrendo de uma doença sem cura, e o nome dessa doença era: o amor.

— Aquele que finge ser um gato e não é. – Sakura falou quase em um sussurro, e foi a vez de Shizune se afogar, ainda mais quando recebera um olhar acusatório de Tsunade.

A mais velha das mulheres, queria muito ter conseguido abrir a boca, e ter feito uma pergunta adequada.

Mas, Sakura apenas piscara seu olho e saíra da sala.

— Como foi que ela... – Tsunade perguntou mais para si, do que para Shizune, mas mesmo assim a morena responder.

— Não precisa muita coisa para se perceber o óbvio, não é mesmo Tsunade-sama? – Shizune dissera com um sorriso gentil, antes de sair e deixar Tsunade com seus pensamentos.

Naquele dia chuvoso, tudo parecia ainda mais fora de lugar.

E, ela acabou se agarrando a uma velha blusa de Orochimaru e se sentando na mesma cadeira, onde apenas cinco dias antes, eles experimentaram uma nova versão de “indecência”.

E, a vitrola ali no canto, os discos de vinil espalhados pelo chão. Um livro entreaberto, uma caneca de café, esquecida... Tudo era resquícios, de uma convivência que lhe fizera muito bem naquele meio tempo, e que não tinha porque ser interrompida.

Isso, se ele aceitasse manter as coisas entre eles, apenas por que... Ele não era nenhum gatinho fofo e indefeso, voltara seus olhos para a janela, na esperança de vê-lo, mas ele não estava lá.

Ao menos não longe o bastante.

Ela apenas não tinha visto.

Orochimaru bem que tentou, mas não conseguiu ir longe o bastante.

Encontrara apenas uns moleques maldosos que puxaram seu rabo, uma porção de poças de lamas, e seu lindo pelo estava sendo maculado pelo barro e pelo aguaceiro, e isso já era motivo de o humor do Kusanagi, ir a zero.

E, ele acabou retornando depois de fazer uma enorme volta, sem perceber que ele apenas estava buscando desculpas para voltar.

Ele vira que Tsunade havia deixado a janela do quarto entreaberta, e por mais vontade que ele tivesse, ele não entrou.

Acabou se refugiando na varanda do quarto de Sakura e Shizune.

— Oh, você voltou, miau. – Sakura murmurara assim que viu a pequena figura ali parado, encarando o horizonte, com grandes olhos tristonhos.

— Quer comida? – A jovem ofereceu, se abaixando na altura do Kusanagi, para acariciar suas orelhas.

Ele gostou do toque da jovem, embora preferisse o toque de sua rainha.

— Ou você quer a Tsunade-shishou? – A menina sussurrou baixinho, como se tivesse contando um segredo.

E, vê-la ali agachando-se perto dele, com aquela testa tão graúda e aqueles olhos tão expressivos, só a tornaram ainda mais esquisita.

Mas, isso deixou Orochimaru mais confortável na presença da jovem, pois os esquisitos tem seu modo estranho de se entender.

— Miau. – Ele disse sendo que na verdade, ele estava dizendo um sonoro sim.

E, Sakura sentou-se ao seu lado e ficou o observando.

Era um gato perfeito, com suas quatro patinhas fofinhas, aqueles bigodinhos charmosos e um pelo macinho que o tornava ainda mais tentador.

Mas, tinha algo a mais em sua presença, um chakra muito sutil, que ela só conseguia sentir agora. Certamente, era alguma técnica esquisita de transformação, quem sabe alguma Kekkei Genkai, ou algo bastante elaborado que uma jovem kunoichi de uma família comum como ela, não tinha como entender, mas saber que existia.

Aquela constatação deixou a Haruno mais aliviada, porque de inicio ela estava achando que sua sensei, estava usando o gato como válvula de escape amorosa, sendo que na verdade o gato foi uma consequência justamente por Tsunade querer uma válvula de escape, só que da relação que ela estava vivendo clandestinamente.

No entanto, Orochimaru já não mais queria uma relação assim, e os dois se viram em um impasse.

O mais velho ficou ali observando Sakura. Ele lembrava daquela garota magricela e inútil, que mal conseguia segurar uma kunai na floresta da morte. Tsunade havia feito um trabalho magnífico com aquela garota.

Já ele não tivera muito sucesso com o Uchiha. Quer dizer refinar um talento natural, e ainda com uma alma obscura, não é tão proveitoso quanto ele achara tempos atrás.

Tanto Jiraya, quanto Tsunade, pegaram pupilos fracassados, e não só desenvolveram as habilidades deles, mas também desenvolveram laços que ele desconhecia a natureza, já que ele sempre viu o Uchiha, primeiro como um alvo muito desejado, depois como um incômodo a ser eliminado.

No fim, lhe restara apenas a própria Tsunade.

Que diferente dele importava-se demais com aquela garota. Se importava demais com Shizune. E, o herdeiro desprezível do mais desprezível ainda, Yondaime.

Pensar nessas coisas lhe fez pensar que quem sabe quem deveria acabar com o mistério, deveria ser ele.

Por isso ele se empertigou, de um jeito que deixou Sakura curiosa, pelo que ele estava, por fazer.

— Miau. – Ele disse olhando para a jovem, que deu uma olhada para a porta, antes de se aproximar com cautela do gato.

Já havia irritado suficientemente sua shishou aquela manhã, não queria causar mais nenhum mal estar com ela, mas ela estava curiosa.

— Será que você pode me mostrar como você é? – A jovem pediu quase em um sussurro enquanto o olhava com uma curiosidade quase infantil.

— Miau. – Orochimaru disse frustrado, por não conseguir dizer nada além disso.

— Mimimi. – No máximo que ele conseguia fazer uma risada.

Shizune estava terminando de ler seu livro sobre “o uso terapêutico dos excrementos”, quando Tsunade apareceu por ali, pronta para dar o braço a torcer e admitir em voz alta, o que tanto lhe afligia.

Porém um grito muito agudo, a interrompeu, e ambas nem precisaram muito esforço para reconhecer aquilo.

— SAKURA!

As duas correram até o quarto, e a Sakura estava caída no chão, enquanto Orochimaru estava agachado perto da jovem, absolutamente nu.

Ele havia esquecido desse detalhe, e acabou revertendo o jutsu, na frente dela que deve ter ficado admirada com seus dotes e desmaiou.

— Mimimi. Acho que foi meu charme masculino. – Orochimaru disse inabalável, nem quando Shizune ficou visivelmente chocada, por aquela visão.

— Então era como pensei. – A jovem dissera vermelha como um tomate, não conseguindo deslizar os olhos da nudez de Orochimaru, apenas para comprovar de que ele era biologicamente do sexo masculino.

Tsunade por sua vez queria morrer.

— Maldito, eu disse para ficar longe. – Tsunade se aproximou de Sakura, preocupada com o bem estar da jovem, que logo reagiu ao chakra poderoso de sua mestre, mas a cara pálida de Orochimaru ali atrás, só serviu para assustá-la, e fazê-la desmaiar de novo.

— Mimimi, essa geração de ninjas não é de nada. – Orochimaru dissera casualmente, sem se abalar com o olhar que recebera de Tsunade.

— Sai daqui. – Ela disse exageradamente, e apontando para a rua.

— Está chovendo. – Ele disse olhando para o aguaceiro que estava lá fora. Pelo menos ele não estava molhado, apenas no traseiro, que deveria ser a massa corporal usada como molde do gato. – Saia você se quiser.

O homem falou com impaciência para todo aquele drama.

— Você é terrível. – Tsunade disse transbordando infelicidade, e Orochimaru quis fazer uma piadinha com relação aquilo, mas o comentário dela sobre sua ilustre pessoa, o deixara magoado.

— Não tanto quanto você. – Ele disse de volta, mas Tsunade concentrou-se em Sakura, tentando reanima-la, mas sem sucesso.

— Ajuda-me aqui Shizune, a coloca-la na cama. – Tsunade chamou por Shizune que ainda estava olhando chocada para Orochimaru ali no canto nu.

— E você coloque uma roupa. – Tsunade falou em um tom autoritário, para o homem que apenas por isto, não moveu um músculo para obedecê-la e continuou ali.

E, isso só passou despercebido por Tsunade, porque a loira estava muito preocupada, com a rosada que demorou um pouco mais abrir os olhos, mas enfim o fez, e foi como se um peso desaparecesse dos ombros da mulher.

— Shishou? – Ela murmurou com os lábios trêmulos, antes de olhar para sua querida mestra.

— Tudo bem, querida você teve um desmaio... – Tsunade disse checando os sinais, de Sakura.

Tudo parecia estar se normalizando, até ela ver Orochimaru ali de novo.

Por um momento, Tsunade achou que a namorada de Naruto fosse desmaiar, mas ela ficou firme e forte, só que quase transparente de tão pálida.

— Não foi um sonho. – Sakura gemeu para si mesma, ainda confusa por tudo que estava acontecendo.

— Eu posso explicar. – Tsunade disse com quase desespero.

E, aquilo fez Sakura rir, e Shizune a acompanhou, porque era inusitado ver a poderosa Godaime Hokage, daquele jeito.

— O Orochimaru é... – Ela olhou para ele, que o encarou com seus olhos dourados, já antecipando uma magoa que não teria remédio caso ela dissesse a coisa errada.

— Ele é... – Mas, ao olhar para suas discipulas, ela teve receio do que elas pensariam de sua pessoa, caso ela admitisse que estava dividindo a alcova justamente com aquele ser.

— Ele... – E na dúvida, Tsunade baixou a cabeça e se debulhou em lágrimas para o constrangimento de todos.

— Seu namorado? – Sakura enfim perguntou com uma naturalidade espantosa, enquanto Tsunade a olhara como se ela fosse um ser de outro mundo.

Tsunade balançou a cabeça, porque ela e Orochimaru nunca colocaram a relação deles nesse tipo de termos, nunca houve necessidade até aquele momento.

— Ele é... – Tsunade ficou embaraçada, mas ela levara a mão ao peito como que para buscar e encontrar coragem.

— Ele é o meu amor. – Ela disse para surpresa de todos inclusive de Orochimaru, que mesmo estando impassível, se sentiu o homem mais realizado de todos.

— Eu sei que ele não é a pessoa mais ideal do mundo. – Porém, toda a realização dele foi pelo ralo ao ouvir aquilo.- É esquisito, egoísta, nem um pouco confiável e tem uma tendência assustadora para o que é errado, mas mesmo assim, eu o amo.

Tsunade disse enfim, o que deixou Sakura e Shizune com uma grande gota na cabeça.

— E, não quero que vocês se decepcionem comigo por causa disso.

Ela falou olhando para suas duas discipulas, favoritas. É claro que houveram outras, como Ino, por exemplo. Mas, a conexão, era mais forte com aquelas duas.

— A senhora está feliz, Tsunade-sama? – Shizune perguntou o óbvio, e Tsunade não soube responder.

Quer dizer ela não conseguira ser totalmente feliz, porque sempre no fundo tinha a preocupação de algum conhecido, vê-la com Orochimaru.

Mas, ela não quis entrar em mais detalhes de seus próprios medos. Então, apenas fez um aceno com a cabeça, e aquilo foi revelador.

Porque ela viu que Shizune e Sakura se contentavam com sua felicidade, mesmo que não concordassem com sua escolha, elas queriam o seu bem.

— Então, seja feliz shishou. – Sakura disse estendendo a mão para a loira.

— Não dependa da aprovação de ninguém para isto. – Shizune completou se permitindo abraçar Tsunade que aceitou o gesto, e Sakura fez o mesmo.

Então, Tsunade voltou-se para Orochimaru, cheia de amor para dar, e com os lábios já curvando-se em um biquinho, mas ele não estava mais lá... Havia desaparecido.

...

Foram três dias, para que Shizune e Sakura aceitassem ir embora. Ambas, prometeram guardar o segredo de Tsunade, ao menos por enquanto.

E, depois disso vinte dias se passaram, e ela não teve notícias de Orochimaru. Ela deixava a janela de seu quarto aberta, mas ele não aparecia.

Ouvia falar da boca dos outros hóspedes, e moradores dos arredores, que tinha um gato preto, esquisito, que ficava repetindo mimimi.

Aquilo deixou Tsunade indignada, enquanto ela se remoía de preocupação, ele dava risada, por ai, indiferente a todo sofrimento dela.

Ela tinha que tomar pelo menos dois banhos frios durante o dia.

E dormir no leito, sem ele era tortuoso.

Acabara quebrando a vitrola, depois de cansar-se de ouvir aqueles discos sozinha.

Pois, ela não tinha a companhia dele.

Quando um mês se passou, e Orochimaru não apareceu, Tsunade começou a convencer-se que ele desistiu dela.

Mais algumas semanas, ela decidiu ir embora.

Shizune, havia enviado um convite de casamento, e Tsunade estranhou, a decisão tão repentina, e ela até desconfiava o motivo.

Tanto que voltar para Konoha, e arrancar as orelhas e algo mais de Gai Maito, parecera-lhe uma boa ideia.

Então, depois de quase dois meses, sem aquele maldito, nem nenhuma notícia, ela deu-se por vencida, e iria entregar as chaves.

Voltar para Konoha e depois...

Bem, pessoas no final da vida como ela, não faziam muitos planos além disso.

Faltava apenas um dia para ir embora.

E, Tsunade teimava em deixar a janela aberta, mas naquele dia ela a fechou, como um gesto simbólico de que não iria espera-lo.

Mas, nem precisou.

Quando se voltou para trás, ele estava ali.

Como um lindo e sedoso gato preto, deitado sobre suas cobertas.

Tsunade quase soltou cambalhotas, mas isso não impediu que ela ralhasse com ele.

— Maldito, onde esteve.

Tsunade protestou, controlando-se ao máximo para não lhe bater-lhe, pois maus-tratos aos animais é crime, mesmo que fosse um gato fingido.

Mas, Orochimaru nada respondeu, apenas embolou-se e ali adormeceu.

Fazendo com que Tsunade o encarasse em um misto de aborrecimento e incredulidade.

Pois, aquele era o começo de sua punição, que demoraria longos seis meses, ela retornaria para Konoha, seria madrinha do casamento de Shizune, e teria um gato de estimação que só desapareceria quando ela assumisse de vez seu amor por Orochimaru.


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Notas finais do capítulo

Meu agradecimento, a todos que acompanharam a fic, e sobretudo quem me brindou com seus comentários e mensagens de carinho, muito obrigada o/



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