A voz grave acompanhada de gritos e risadas infantis, além de barulhos de água e latidos adentravam pela porta aberta da cozinha onde Bakugou  estava, despreocupadamente, bebendo uma cerveja encostado no balcão atrás de si, observando pela janela em frente à pia seu marido sentado com os pés dentro d’água brincando de bola com os filhos e o Akita Inu na piscina; no entanto, seus pensamentos vagavam distantes…  Mais especificamente na noite em que conhecera os pais do então melhor amigo, e futuro namorado.

— Boa noite, senhora Kirishima. Obrigado pelo jantar. — Katsuki se curvou educadamente despedindo-se da mulher, seguindo em direção ao carro estacionado no meio fio tendo Eijirou visivelmente ansioso ao seu lado.

O loiro direcionou um sorriso divertido em direção ao ruivo observando-o acenar com um sorriso forçado para à mãe enquanto dava a partida no automóvel, se distanciando gradativamente da residência dos Kirishima. 

A mão ainda trêmula ao ligar o rádio denunciava o nervosismo de Eijirou, e antes que pudesse tirar sarro do estado que o outro se encontrava, Katsuki ouviu um suspiro alto e aliviado ecoar pelo carro junto com a playlist que começara a tocar.

— Caralho, isso foi- — O menor deixou um risinho escapar; aflito. Ele sempre ficava histérico quando nervoso, e Bakugou sentiu mais uma vez as borboletas voando pelo estômago ao apreciar o som. — Apesar da incoveniente situação, você gostou da noite, Katsuki?

— É, até que foi legal sim — trocou de marcha antes de completar —, mas, puta merda, ‘cê disfarça muito mal, Eijirou! — E então gargalhou da falsa encenação ofendida e exagerada que o ruivo fazia.

— Eu fiquei nervoso, ok?! Não sabia que mamãe cozinharia justamente o prato que você mais odeia! — Colocando uma mecha ruiva atrás da orelha, o menor se inclinou levemente na direção do loiro, dando um sorriso envergonhado. — Me desculpe por isso, você não tinha a obrigação de comer, e ainda assim... Obrigado. 

Bakugou deu de ombros sentindo o rosto e as orelhas esquentarem, engolindo em seco ao apertar fortemente o volante entre os dedos, tentando ao máximo não suar muito nas palmas das mãos para não causar uma explosão acidentalmente, porém, toda vez que olhava para o pro-hero ao seu lado, as malditas borboletas voltavam e o loiro não aguentava mais as três palavras que há um tempo vinham surgindo em sua mente, e inutilmente tentava ignorá-las. 

Aproveitando a sinalização vermelha do semáforo onde estavam parados, Katsuki tomou fôlego virando-se para o ruivo e confessando em alto e bom tom:

— Eu te amo, Kirishima Eijirou.

Durante alguns minutos o único som que era ouvido no carro era o da música preferida dos amigos tocando, e, gradativamente, conforme as palavras iam sendo assimiladas por Kirishima, os olhos carmesins arregalaram-se e um ofego surpreso fora a resposta que Bakugou obteve juntamente com as lágrimas que escorriam pelos olhos estatelados do ruivo em sua direção. 

O sentimento era recíproco, e, finalmente, os melhores amigos poderiam tirar aquele opressivo peso dos ombros.

O seu nome sendo chamado diversas vezes despertou Katsuki, trazendo-o de volta para à realidade. Seguindo o som, pôde ver seu marido no batente da porta com um bico fofo nos lábios e o cenho franzido olhando para si aguardando por uma resposta.

— Desculpa, amor, eu estava longe. — Andou em direção ao freezer, pegando duas novas cervejas, entregando uma ao mais alto enquanto o seguia para fora. —  O que você disse?

— Entrei ‘pra ver o porquê de você estar demorando tanto, mas entendi o motivo já que ‘cê ‘tava orbitando Saturno. — Eijirou zombou, chamando as crianças para passar mais protetor solar e beberem um pouco d’água. 

— Tch, engraçadinho! — Bakugou rezingou, ajudando o marido na tarefa e sentou-se na espreguiçadeira abrindo a cerveja, observando as crianças voltarem a correr pelo gramado com o cachorro em seus encalços, aguardando a liberação para entrarem novamente na piscina. — Eu ‘tava lembrando daquele jantar maravilhoso que minha sogra preparou quando fui conhecer os seus pais.

O maior começou a rir ao lembrar-se do desastre que fora a escolha daquele prato por sua mãe. Coitada, a mulher não imaginava que Katsuki odiasse marisco e acabou fazendo tempura com o “bendito” fruto do mar. Na época, o melhor amigo comeu tudo sem fazer desfeita, entretanto, Eijirou ficara super incomodado pela gafe ao não avisar a progenitora que o loiro não comia certos tipos de alimentos.

— Você comeu tudo sem nem fazer cara feia. Foi tão másculo, Suki! — Piscou em direção ao companheiro dando os últimos goles na cerveja. Após, depositou um beijo na testa do marido ao deixar o objeto no chão, perguntando, em seguida, se ele iria acompanhá-los na piscina dessa vez.

Bakugou disse que iria terminar a cerveja primeiro, deitando-se confortavelmente na espreguiçadeira com a garrafa em mãos, dando uma gargalhada rouca ao ver o marido correndo e se jogando feito uma bomba na piscina, gritando “SHINEEE”, sendo acompanhado pelas crianças que imitavam o pai; logo atrás, foi o cachorro completando a algazarra que a família Bakugou Kirishima fazia dentro d’água. 

Balançando a cabeça em negação, Katsuki ostentava um sorriso orgulhoso nos lábios pensando no quanto era um homem feliz e realizado; em como ainda sentia as benditas borboletas no estômago a cada vez que se pegava admirando o sorriso de dentes pontiagudos que o ruivo exibia para si, como naquele exato momento. Aquele sorriso que era capaz de iluminar o seu universo particular, e que com certeza iluminou as noites mais escuras que o loiro já tivera. 

Porque mesmo depois de 20 e tantos anos, não há nenhum dia que Katsuki não esteja afim de Eijirou.