Caution escrita por isa


Capítulo 1
I’m throwin’ caution, what’s it gonna be?


Notas iniciais do capítulo

Eu tinha escrito os três primeiros parágrafos dessa fanfic há um tempo atrás e agora ela está aqui, recém-saída do forno.



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Bom, aquilo era a cara dela, ninguém poderia negar. Tonks simplesmente não ligava muito para avisos de segurança. Se alguém perguntasse à Andromeda ou Ted, eles forneceriam uma lista infindável de quantas vezes disseram coisas como “cuidado!”, “olhe para a frente”, “você vai se machucar desse jeito” desde que ela começara a andar (de fato, eles também acrescentariam que havia sido nessa data exata que pararam de dormir).

Os amigos íntimos a descreveriam como impetuosa ou destemida, uma maneira muito gentil de dizer que o seu senso de confiança beirava quase sempre à insensatez. Em síntese, Tonks se colocava em risco. E era isso que, em grande parte, a tornava uma auror promissora, apesar de ser muito...

Nova. Ela pensou e sorriu, porque doía. Essa era uma outra informação relevante: Tonks sempre sorria. Ela sorria quando estava feliz, mas ela sorria principalmente quando estava ferida. Era um subterfugio fácil, desenvolvido ainda na primeira infância. Ela havia descoberto muito cedo que quando Andromeda gritava “vá devagar” e ela continuava correndo e eventualmente caia, se sorrisse ao invés de chorar, como se sempre tivesse contado com isso, a mãe não ficava tão preocupada e, consequentemente o nível da bronca era drasticamente reduzido. 

Fora um aprendizado vital, muito apropriado para uma pessoa que não gostava de perder muito tempo com o que a lembrava que ela tinha limites como todo mundo. Mas não estava sendo o suficiente agora. Em sua defesa, ela vinha sorrindo como louca e estava sempre na torcida para que a fórmula desse certo, especialmente depois que o cabelo (sempre rosa chiclete), escurecera de uma vez por todas para aquele tom de castanho comum.

Era até um pouquinho irônico que de repente todo mundo estivesse prestando tanta atenção nela, conferindo se estava doente, se havia algo em particular a preocupando, se estava tudo bem. Como as circunstancias eram obscuras para todos, e como, mesmo nos bruxos, o sangue anglo saxão jamais permitiria outra conduta, ninguém insistia no assunto quando ela placidamente desviava o tema ou era monossilábica.

Ainda assim, toda vez que alguém lhe lançava um olhar languido de preocupação ou curiosidade, Tonks sentia que estava muito próxima de estuporar um. Principalmente quando esse um era Remo Lupin com seus culpados olhos de cão.

— Nymphadora...

— Eu estou bem, porra!

— Vai passar. – ele sussurrou, enfiando as mãos nos bolsos.

— É, bom, Merlin nos proteja de você estar alguma vez errado nessa sua vida miserável não é mesmo, Remo?

— Nós dois... – ele tentou continuar, mesmo abalado.

— Eu já sei. – ela sibilou de maneira ameaçadora. Ela odiava que ele a visse como uma espécie de fardo pesado demais para suportar. – Corta esse papo, por favor. E pare de agir como se não tivesse me visto nua! – gritou com raiva, fazendo com que ele perdesse toda a cor do rosto. – Eu não sou a porra de uma aluna sua, eu não sou a porra do seu bicho de estimação, eu não preciso que você fale comigo como se estivesse me alfabetizando, Remo, porque isso piora tudo!

— Eu não estou te tratando como se você fosse uma aluna minha, Nymphadora, embora você esteja agindo como uma. Esse é todo o problema. – Havia algo de febril nos olhos dele, algo que o fez se aproximar dela no ímpeto de que ela entendesse e concordasse com ele que, em quaisquer circunstancias, mas, especialmente naquela, um relacionamento amoroso entre os dois era insano.

— Ah, é? – ela gargalhou, avançando ainda mais em direção a ele, o que o desestabilizou. Lupin começou a passar a mão pelo rosto e pelas mechas do cabelo fino e castanho claro que ela tanto gostava. – Então porque você não me deixa em paz, Remo?

— Porque eu me preocupo com você, porra. – ele respondeu da maneira mais polida que conseguia, mas utilizando o vocabulário que ela preferia. Isso a fez congelar. Era a primeira vez que o via xingando. - Treze anos são muita coisa, Nymphadora. Eu sou um lobisomem, por Deus, quantas vezes eu vou ter que...

Mas ele nunca teve a chance de concluir do modo como queria porque ela avançou sobre ele outra vez e o beijou daquele jeito de quem tinha muitas saudades e frustrações e ele correspondeu, porque, sete infernos, era tudo o que ele tinha também. Tonks se aproveitou do fato de que ele não a repelira e como a criatura ágil que era, se desvencilhou rápido do suéter puído e não parou até que ele tivesse desnudo da cintura para cima. Ela amava todas as muitas marcas e cicatrizes que ele tinha. Ela o amava.

— Eu não ligo. Eu não vou a lugar algum, Remo. – ela murmurou antes de tirar a própria camisa. Se Lupin ainda alimentava alguma expectativa de autocontrole, ele a viu ir ao chão junto com a camisa de banda bruxa alternativa dela. – E você... Não ouse. – Ameaçou encostando a varinha em riste na curva do maxilar dele.

Remo Lupin suspirou, indefeso. Seriam necessárias outras sete versões do homem que ele era para que, por fim, tivesse a fibra para se negar a delicadeza de passar uma mão pelo cabelo que se tornava multicolorido bem diante de seus olhos. Seriam necessárias outras sete para que seu coração não reagisse ao fato de ela, sempre tão parecida com uma força incontrolável da natureza, ter fechado os olhos como um passarinho diante do seu toque.

E outras versões, infinitas versões, para ele não se debruçar sobre a sua boca outra vez. E mais uma. E mais tantas, até os dois estarem finalmente despidos e ele estar dentro dela, de novo naquele misto de alegria e culpa excruciantes.

Com o rosto afundado no pescoço de Tonks, Remo pensou que estava perdido.

E porque a vida era cruel, arbitrária e irônica, enquanto segurava a nuca dele, Tonks pensou o oposto: que finalmente havia se encontrado.

De jeitos distintos, caóticos, complexos, o único ponto em que concordavam – ainda que nenhum deles jamais verbalizasse – é que ali, nos braços um do outro, os dois estavam a salvo.


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