Tum tum escrita por Meizo


Capítulo 1
O bonito fenômeno do primeiro amor




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Seus pais trabalhavam juntos, eram sócios numa empresa de pequeno porte. Portanto, inevitavelmente, em algum momento acabariam por se conhecer. O encontro aconteceu durante uma festa de ano novo da empresa onde os familiares também foram convidados. Tinha sido um ano de um ótimo rendimento e a empresa que havia estreado a meros cinco anos estava indo de vento e poupa. Felizes, os pais arrastaram seus filhos até que ficaram frente a frente para se apresentar.

Sanji era o bom filho prodígio que encantava todos a quem conhecia e Zoro era o garoto de presença marcante que ninguém conseguia esquecer. Os pais, por motivos óbvios, achavam que eles seriam boas influências entre si. Afinal, que pai não gostaria que seu filho genial tivesse outra companhia genial?

Apesar das boas intenções, naquela noite nenhuma das duas crianças de seis anos parecia especialmente animada e não se esforçaram para deixar uma boa impressão no outro. Na realidade era mais fácil achar que tinham se odiado no primeiro olhar, mas mesmo suas caretas insatisfeitas e irritadas não foram capazes de diminuir o brilho festivo da noite.

Ou ao menos até que, durante uma briga onde apenas se empurravam o mais forte que podiam, conseguiram bater na perna da mesa de comes e bebes e derrubaram tudo no chão. Os adultos não ficaram mais tão compassivos depois disso e os pais resolveram voltar mais cedo para casa a fim de evitar mais desastres. Principalmente porque as duas crianças continuavam atracadas como dois gatos ouriçados.

Entretanto, o contato não parou por aí. As mães tomaram para si a missão de fazer os filhos se darem bem e sempre que era oportuno unia os dois em eventos variados. Foram para parques aquáticos, fazendinhas, circos, bingos. Eventualmente ambos acabaram se acostumando a presença um do outro.

Aos 6 anos Sanji e Zoro não se suportavam.

Aos 7 anos começaram a ir juntos em programas feitos pelas mães.

Aos 8 anos continuavam não suportando a presença um do outro, mas ao menos não se mordiam mais.

Aos 9 anos tiveram uma briga feia por causa um boneco de dinossauro. Zoro perdeu um dente. De leite.

Aos 10 anos fizeram um pacto com cuspe de não se baterem mais. Também passaram a defenderem um ao outro quando discutiam com outras crianças, pois passaram a estudar na mesma escola.

Aos 11 anos... Zoro passou a se sentir estranho quando estava perto de Sanji. As mãos suavam quando percebia que era observado por ele, principalmente durante as aulas de educação física ou em apresentação de trabalhos. Seu coração acelerava, subia um calor no rosto e as palavras saiam atrapalhadas. Piorava muito quando Sanji se inclinavam, ocasionalmente, para olhar o quadrinho que ele Zoro estava lendo.

Sua conclusão foi rápida: estava com alergia a Sanji.

Mais tarde, quando relatou esses sintomas para a mãe sem mencionar o nome de Sanji — Não sabia o porquê, mas achou melhor não contar —, ela lhe sorriu com um brilho divertido no olhar.

— Então meu pequeno Zoro encontrou seu primeiro amor? — ela fingiu limpar uma lágrima. — As crianças crescem tão rápido hoje em dia!

— O quê?! Claro que não! Isso é alergia, quero ir no médico. — devolveu irritadíssimo, cruzando os braços.

A mãe riu apertando suas bochechas, mas concordou em levá-lo a clínica. Afinal, precisava aproveitar a boa vontade dele querer voluntariamente se submeter a uma consulta. Não era sempre que isso acontecia.

Sua ida ao alergologista, no entanto, somente serviu para provar o ponto da mãe. O médico ficou até surpreso de existir uma criança tão sem alergia como Zoro. Ele tinha apenas uma alergia muito leve a ácaro, mas fora isso não possuía qualquer reação aos alérgenos mais comuns.

Cada vez mais encucado quanto a seus sintomas, chegou um dado momento que precisou admitir para si mesmo que gostava sim do amigo. Não ficou muito animado depois disso, pois nada mudou entre ele e Sanji além da ansiedade pessoal que sentia quando estavam sozinhos.

O cúmulo de sua desanimação aconteceu certo dia durante uma tarde de leitura de quadrinhos. Estavam os dois deitados no chão de seu quarto com diversas revistinhas jogadas ao redor e um recipiente cheio de frutinhas furtadas da geladeira para poderem degustar.

A princípio Zoro pretendia fazer o possível e o impossível para ocultar seus sentimentos, já que não achava que Sanji sentia o mesmo. Possuía idade o suficiente para entender ao menos aquilo. Porém, nas últimas semanas tinha percebido um estranho comportamento no outro. Era comum eles marcarem algumas tardes de jogos ou leituras durante os meses de aulas, desde que não fosse semana de provas, mas de repente todo final de semana Sanji estava indo visitar Zoro para passarem um tempo juntos. Quando se despediam na escola ele parecia até nervoso de se separarem.

Mais animado do que deveria, Zoro supôs que possuía, sim, uma chance de ser correspondido. A felicidade mal cabia em seu pequeno corpo.

— Sabe, Zoro, preciso confessar algo. — disse Sanji de súbito, interrompendo a leitura do outro.

Zoro o encarou muito sério e Sanji pareceu ficar um pouco inquieto com isso, dobrando e desdobrando a ponta da página que estava fingindo ler antes.

— Eu... quero ser mais do que seu amigo... — sentou-se com as costas muito eretas, as bochechas ganhando um pouco de cor.

Zoro prendeu a respiração com a expectativa. Lá vinha a declaração!

— Diz logo!

— Quero ser seu pai! — disse Sanji num fôlego só.

Os dois se encararam, Zoro piscava confuso. O tempo parecia ter parado para observar esse estranho diálogo.

— Hã?!

— Espera, não é isso. É que eu gosto da sua mãe e...

Sem conseguir acreditar, Zoro ficou de pé. Aquilo era inaceitável!

— Você prefere a minha mãe quando pode ME escolher?! — havia tanta indignação em sua expressão que Sanji ficou assustado. — Minha mãe já tem meu pai, não precisa de você. Mas eu estou livre...

Sanji também ficou de pé, o coração saltando no peito.

— Você gosta de mim, Zoro?

— É claro que sim! — respondeu de repente se sentindo muito corajoso. Suas bochechas quentes, entretanto, denunciavam parte do constrangimento que também sentia.

O rosto de Sanji se tornou ainda mais vermelho do que antes, detalhe esse que Zoro achou, secretamente, muito adorável. Admirava tudo naquele menino loiro de chutes incríveis. Quiçá já estivesse apaixonado no dia que recebeu um chute na canela e caiu de cara do chão, perdendo de forma dramática seu terceiro dente de leite.

Após isso eles ficaram bem mais próximos do que eram antes, satisfazendo e muito o coração de suas mães, que apenas desejavam que as famílias tivessem um bom relacionamento. Porém, elas ficariam um tanto surpresas quando, em plenos 15 anos dos filhos, os flagrassem em posições comprometedoras na mesa da cozinha.

 


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