Você vai me destruir escrita por Anny Andrade


Capítulo 1
Capítulo Único




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Nós estamos fazendo aquela competição idiota de quem pisca antes. É fim de semana, a maioria das pessoas estão planejando uma maneira de escapar, minha irmã saiu de fininho pelos fundos, escutei a porta do carro batendo. E nós dois no meio da sala nos encarando como se fosse algo fácil. 

Sei que sou bastante competitivo, que gosto de ganhar jogos, como por exemplo xadrez. Mas quando o jogo em questão está de certa forma envolvido com ela, eu sei que sempre serei o perdedor. 

Sua pele tão branca quanto a minha, tão enfeitada de sardas e os olhos escuros de quem consegue roubar todas as almas que se permitam se apaixonar. Quando seus lábios tingidos de vermelhos sorriem sinto a estranha necessidade de piscar. Consigo controlar a primeira perda de sentidos, permaneço apenas lhe encarando. Mas quando seu sorriso se despede com sua língua passeando sobre o batom vermelho sei que estou perdido. 

― Perdeu! – Sua risada continua sendo aquela que me faz arrepiar. A melhor risada do mundo. 

Quando arremessa seu corpo sobre o meu acabamos chocando uma boca contra a outra, isso tornou-se tão comum. O jeito como ela ignora meus sentimentos e transforma os beijos em algo normal, comum, o toque de nossos lábios no escuro da sala vazia, no corredor logo ao amanhecer, na sala de aula empoeirada, atrás de uma árvore, selinhos que não significam absolutamente nada, mas que na verdade significam tudo. Sempre que sua boca chega até a minha eu sei que é minha desgraça. 

Mas deitada sobre mim é ainda pior. Sinto meu coração batendo tão forte, poderíamos sentir o encaixe perfeito de nossas batidas. Mas teu peito no meu só bate, não combina, ele arregaça toda a esperança que vou alimentando mesmo sem querer.

―Lily... – Suspiro seu nome enquanto minhas mãos seguram sua cintura. 

Sinto instantaneamente seu corpo perder o foco da brincadeira, percebo o quanto o coração para. Ela se empurra para longe de mim. Senta-se novamente mantendo uma grande distância de segurança. Ela sabe. Sabe que eu  a quero. E disfarça. 

Volto para o meu lugar ignorando seu cabelo caído sobre o rosto, ignoro os lábios que estavam a pouco tempo brincando com os meus. Ignoro sua cara de quem vai me destruir. Como em todas as vezes anteriores.

―Me desculpa.- sua voz é doce, sincera. 

Mexo em meus cabelos, respiro fundo, arrasto meus joelhos até encostarem em meu peito. Me permito olhar para ela, dou de ombros. Porque quando é que eu não desculpo Lily Potter? Eu sempre perdoou ela. É parte de mim perdoa-la.

―Você sabe que eu te amo. – Ela fala como se fosse as melhores desculpas. Como se todas as vezes eu não fosse pego de surpresa, alimentasse meu peito e depois percebesse que são apenas as palavras que ela diz para todos em sua volta.

Resmungo algo que nem mesmo meu cérebro parece compreender e também digo as três palavras. 

―Também te amo.- As minhas palavras carregadas de um sentimento antigo, um sentimento totalmente platônico e ainda assim esperançoso. 

Ela percebe. Lily sempre foi boa em entender meus sinais. Mas apenas disfarça.  

Seu corpo lentamente vai se aproximando do meu, parando ao meu lado. Deitando a cabeça em meus ombros, talvez decepcionada com o fato de não poder retribuir completamente meus sentimentos. Porque uma parte dela sempre vai me amar. Amar meus beijos e selinhos, os desenhos que faço dela, a devoção que cultivo. Eu juro me libertar todos os dias. Olho no espelho e digo que já é a hora certa de esquecer tudo que me prende a ela. Deixar de sofrer por algo que nem mesmo chega a ser mais do que momentos isolados de carência e dependência. 

Ficamos sentados em silêncio.

Somos acostumados a isso, a ficar lado a lado. Mudos. Como se falar fosse muito difícil, como se falar arruinasse o que somos. Mas a questão é exatamente essa. 

Porque eu sei que ela não ama ninguém, não do jeito que eu entendo o que é amar, do jeito que eu aprendi sobre amor. E ela ama tudo. Ama todos. Que aproveitar a vida, as bocas e almas, os corpos e todas as possibilidades que o destino oferece.

Só que também sei que ela não me deixa ir além. Enquanto vive a vida na sua plenitude precisa ter a certeza de que estarei ali para resgata-la, para dar socos, para escutar histórias, limpar lágrimas e por fim deixa-la deitar em meus ombros, colo, peito. Fico preso em sua órbita. 

Carrego em mim o constante medo de perguntar o que a gente é.  Além de melhores amigos, primos, família, âncora. Tenho medo de confirmar que não sou nada além dessas coisas. Ela abala a minha fé.  

Mas estamos tão perto de seguir. Logo estaremos tomando rumos diferentes, longe de Hogwarts. Nos encontraremos em festas familiares, em eventos específicos. Essas são nossas últimas férias assim, lado a lado. 

Respiro fundo. 

―Hugo eu realmente sinto muito. Me desculpa, de verdade.

Ela sabe que tínhamos combinado. Nada de provocações. Nada de beijos. Nada de confundir as coisas. Porque confundir as coisas faziam mais mal para meu ser do que para ela.

Sei que minhas palavras vão ser doídas de dizer e de ouvir, mas que escolha tenho? Senão tentar seguir?

―Então Lily... Vê se me deixar ir. – Seguro uma de suas mãos. – Eu continuo aqui. Você vai me destruir.

Ela aperta minha mão de volta. Sabe que eu sempre vou estar ali. Vou sempre ser o Hugo Weasley que conhece ela mais do que qualquer outra pessoa. Mas ela precisa saber que se continuar com os jogos, com as brincadeiras, com as idas e vindas, de fato ela vai me destruir. 

Então quando ela se levanta e vai para a cozinha onde nossos pais conversam e riem de lembranças. Sei que talvez dessa vez eu consiga, talvez ela realmente me deixe ir. 

Sinto as lágrimas em minhas faces. O coração rachando em pedaços que jamais poderão ser reconstruídos. E a certeza que não importa o que faça ela vai me destruir e eu vou ter que viver com essa parte destruída enquanto construo novas partes que se permitam viver outras histórias. 


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Notas finais do capítulo

Até a próxima.
Beijos.



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