What it Never Was escrita por Vanilla Sky


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

OI MEU POVO EU VOLTEEEEEEEI
e bom, deve parecer que eu abandonei absolutamente tudo, mas não é o que aconteceu realmente. Estive extremamente ocupada com a faculdade EAD e meu trabalho, então o tempo para escrever se tornou praticamente nulo. Agora pelo menos estou de férias da faculdade, então consigo colocar meus projetos um pouco mais em dia. Na iminência de um trailer novo de WandaVision, estou com vontade de escrever mais sobre esse casal (inclusive retomar com Ensaios e postar dois AU's que estou escrevendo), então fica aqui uma curta história que eu gostaria de ter visto em Guerra Infinita.
Os agradecimentos estão ao final ♥ boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792922/chapter/1

Wanda rapidamente deixou o cômodo, os cabelos ruivos esvoaçantes atrás de si e os olhos verdes obstinados a sair dali o quanto antes. Ela respirava pesadamente, afoita após relembrar a voz serena de Visão repetidamente em sua cabeça. Aquela mesma voz, que lhe trouxera conforto e paz tantas vezes antes, agora imputava a ela uma missão que certamente não conseguiria adimplir. Deveria existir outro jeito de impedir que Thanos obtivesse a joia da mente, sem necessitar destruir a fonte de vida em sua testa. Suspirando pesadamente, ela desceu pelo corredor da Base dos Vingadores, abraçando o próprio corpo trêmulo enquanto lembrava os momentos que passara ali alguns anos atrás.

Visão apoiou-se em uma bancada, descansando as pontas dos dedos sobre o corte rasgando sua barriga. Ainda possuía o calor do rosto insatisfeito de Wanda em suas mãos, as bochechas rosadas e o lábio contraído indicando que ela não aprovava a ideia sugerida por ele. Porém, Visão havia feito as pazes com seu destino; sabia que a morte o esperava, e necessitava confortar Wanda, temendo pela segurança da moça após sua partida. Então, virou-se delicadamente em direção a Steve Rogers, certamente o mais compreensivo da sala, e fez alguma força para tentar falar:

— Capitão, será que eu posso...

O homem rapidamente se aproximou, segurando os braços de Visão, o qual sentia estar prestes a desabar. Seus circuitos internos estavam falhando, causando-lhe mais dor a cada instante. Steve rapidamente ajeitou seu corpo ferido, pondo-o novamente em pé, com um braço ao redor de seus ombros. Os companheiros de equipe assistiram à cena, penalizados, especialmente Bruce Banner, que havia criado o sintozóide juntamente com seu amigo Tony Stark. Ele estava com as mãos atadas enquanto via sua criação praticamente desfalecer em sua frente, sem condições de protegê-lo meramente em sua forma humana.

— Vá, Visão. Evite esforços físicos e... Converse com a Wanda. Tranquilize-a, pois iremos achar uma maneira de salvá-lo.

A maneira que o Capitão América articulou essas palavras fez o sintozóide crer, por um momento, que tudo estava resolvido. Eles em breve partiriam para um lugar onde estariam seguros, retirariam a joia de Visão antes dele perceber, e, após a luta, salvariam o universo, como sempre faziam, retornando juntos ao seu lar. Sem o fantasma do Tratado de Sokovia, e sem qualquer impedimento para ele e Wanda terem uma vida feliz como mereciam.

Todavia, ele sabia que não seria algo tão simples.

— Visão. – O Capitão prosseguiu, já chegando na porta com seu companheiro de equipe apoiado nos braços – Você gostaria que eu acompanhasse você até algum dos cômodos da Base? Ou que chamasse por Wanda?

— Não se preocupe. Eu sei exatamente onde ela está. Avisem quando pudermos partir.

Soltando-se de Steve, ele assentiu para provar que estava tudo bem, e continuou lentamente seu caminho pelo corredor, segurando-se nas paredes, e deixando que estas o guiassem através da Base que conhecia tão bem. Ele não precisava consultar seus sistemas internos para ter noção de onde Wanda estaria, pois sabia de cada cantinho onde ela costumava se esconder quando estava chateada ou sentia-se sozinha.

A cada passo, Visão sentia-se estranhamente abraçado por aquele local, o qual, apesar de não ser seu local de nascimento, era verdadeiramente um lar. Lembrava-se dos treinos com Steve e Sam, as broncas de Natasha, tudo o que tornava uma área imensa em um porto seguro. Especialmente, lembrava-se dos primeiros contatos com Wanda, através de missões e, posteriormente, de pequenas conversas após noites de pesadelos da moça, ou tentativas falhas de melhorar seu humor. Apesar de ter voltado para aquela Base pouco tempo após a prisão dela, o clima certamente era diferente sem sua presença.

As paredes lisas do corredor logo o levaram ao quarto da jovem. Ele notou a porta entreaberta, exatamente como da última vez que o vira, quando ele pegara algumas roupas escondido de Tony e levara para Wanda, escondida em Wakanda à época. Apesar de ter certeza de que ela não estaria ali, olhou brevemente para dentro do cômodo, sem um móvel fora do lugar há cerca de dois anos. Por muitas vezes, ele adentrava o espaço vazio e sentava-se sobre a cama perfeitamente arrumada, analisando cada móvel, com uma esperança latente de que ela apareceria a qualquer momento.

Wanda, contudo, estava em outro cômodo, um pouco adiante. O centro da Base dos Vingadores possuía uma parede de vidro com uma porta de correr, e três degraus de escada levando a uma área coberta por pequenas pedras brancas e cascalhos. Algumas plantas ficavam suspensas no telhado, enquanto outras eram plantadas ao chão, como suculentas e árvores pequenas, exatamente no ponto central daquele compartimento. Era um pequeno jardim de inverno feito no primeiro ano em que os Vingadores se mudaram, com a vista da janela mostrando a imensidão densa da floresta que os cercava.

Aquele local, aquela pequena parte das centenas de hectares que constituíam a Base, era onde Wanda sentia-se completa. O seu pequeno refúgio para noites em que não conseguia dormir, quando cometia algum erro ou usava seus poderes de forma equivocada e sentia-se culpada. Ali aconteceram as primeiras conversas entre os dois, sobre pequenas trivialidades que Visão não estava acostumado, dado seu pouco tempo de vida mundana. Ele não estava errado quando disse ao Capitão que saberia onde encontrá-la.

— Lembra a primeira vez que entrei em seu quarto sem sua permissão? Estive ali agora há pouco e pensei neste momento.

Apesar de o corpo de Wanda estar totalmente virado para a janela em sua frente, absorta com a imagem da floresta, ele conseguira perceber que a sua expressão tornara a se iluminar, como anteriormente em Edimburgo durante aquelas conversas pragmáticas, antes de descobrirem que o mundo estava em chamas e alguma lâmina alienígena perpetrar danos de difícil reparo no sintozóide. Vagarosos passos desceram a escada de madeira, com Visão buscando qualquer apoio para se guiar, seja nos bancos espalhados pelo jardim ou no canteiro onde se encontravam as plantas.

— Você estava terminando de trocar de roupa quando eu a chamei para treinar. E você me deu uma bronca, falando sobre privacidade, que eu deveria bater na porta, pois, por alguns segundos de diferença, eu haveria visto seu sutiã.

Uma risada baixa escapou da boca de Wanda, e ela disse, sem retirar os olhos da mata exuberante:

— Lembro que você ficou me encarando com uma expressão que dizia, “mas o que há de errado em ver uma mulher de sutiã?”, e eu achei a sua inocência extremamente amável.

Neste momento, a respiração do sintozóide estava pesada, e ele fazia um esforço terrível para chegar onde Wanda se encontrava. Parando por um momento, buscando arrumar uma capa insistente na frente do caminho, tornou a dizer:

— Porém, mesmo em sua bronca, você parecia serena. Não estava com o mínimo de raiva na voz, apenas ensinando o que era espaço pessoal.

Finalmente, Visão acomodou-se no banco ao lado dela, sentindo que seu corpo robótico agradecia a trégua. Tirou um instante para observar a pessoa ao seu lado, aquela mulher que vira se desenvolver bem de perto. A blusa preta e a calça jeans eram um visual recorrente do período em que precisavam se misturar, realçando os fios tom cobre de seus cabelos. Os olhos verdes – e que olhos, nos quais ele adorava observar e se perder, como um labirinto – continuavam imersos na vastidão percebível através do vidro da janela. Logo as folhas verdes remanescentes do verão cederiam espaço para folhas amarronzadas do outono, caindo ao chão uma a uma, até o inverno tornar aquela vista numa paisagem completamente branca.

Wanda sempre tivera uma conexão especial com florestas. As noites habituais de pesadelos sempre terminavam com ela sentada perto das janelas, observando as folhas mexerem lentamente sobre as copas das árvores. Em Wakanda, após ser libertada daquela prisão a qual fora submetida, Visão frequentemente a encontrava andando em meio aos troncos de vegetação nativa daquele país, procurando por algo que ele nunca soube dizer exatamente o que era.

Repousando uma mão por cima de seu ombro, Visão sorriu e disse:

— Bom, acho que você não se importa se eu a vir de sutiã agora.

Wanda desmanchou a expressão séria no rosto em uma risada legítima e, ao mesmo tempo, envergonhada.

— Credo, Vizh. – Aquele jeito especial de chamar seu nome aqueceu o sistema interno de Visão; o sotaque dela, já sumido, ainda se fazia presente em alguns trejeitos. – Eu já vi flertes piores que esse.

Ele também sorriu, acariciando as costas da moça. Quando se está com alguém por muito tempo, você passa a notar pequenas manias e gestos, os quais são recorrentes em determinados momentos. Por exemplo, reparou que Wanda segurava firmemente a manga da blusa preta, apertando os dedos ao redor do tecido. Também percebeu os lábios contraídos em uma fina linha quando sua risada sumiu, legitimamente incomodada.

Não era segredo para Visão o quanto Wanda odiava seus poderes. Poderes que, além de trazerem sofrimento para pessoas desconhecidas, trouxeram angústia para ela, na prisão que fora submetida após o episódio conhecido por eles como “Guerra Civil”, uma briga interna que dividiu os Vingadores de uma vez por todas.

Percebendo a ansiedade e o pânico tomando conta de Wanda, ele deslizou a mão delicadamente pela extensão de seus braços, até alcançar a ponta de seus dedos, colocando a palma de sua mão robótica sobre a pele humana dela. Visão pôde sentir o calor emanado do corpo da moça, uma das últimas sensações de aconchego que provavelmente sentiria. Com todo o cuidado, começou a falar:

— Wanda, eu...

Porém, foi abruptamente interrompido pela voz baixa dela, que disse:

— Se você sugerir que eu o mate novamente, eu juro que vou embora.

O semblante de Visão murchou. Eles certamente não tinham muito tempo.

— Eu sei o quanto você detesta os seus poderes, mas você é a única pessoa que pode fazer isso.

Wanda virou parcialmente o corpo para o lado do sintozóide, sentando-se sobre a perna esquerda, enquanto a direita permaneceu esticada com o pé tocando o chão. Sua mão direita, até o momento repousando ao lado do corpo, atravessou a frente de seu tronco até parar sobre o corte na barriga de Visão. Lentamente, ela mexeu os dedos, uma névoa escarlate buscando remendar aquela ferida. Apesar do olhar duro de Wanda permanecer fixo na lesão, esta era grande demais para ser remendada somente com sua magia.

— Wanda, por favor, pare.

Ela negou com a cabeça, segurando mais firmemente a mão de Visão, enquanto o braço oposto seguia levantado, querendo trazer algum alívio, alguma resposta que não fosse a morte certa.

— Meus poderes precisam fazer algo útil, Vizh.

De fato, a magia proveniente de suas mãos deixava-o mais confortável frente os erros que seu circuito apresentava. Sua vista, por muitas vezes turva, voltava aos poucos à normalidade, e ele sentia que poderia andar mais alguns passos sem apoio. As lágrimas no rosto de Wanda, contudo, juntamente com os soluços baixos escapando de sua boca, deixavam Visão extremamente incomodado. Ele gemeu seu nome, sentindo uma pontada leve no machucado, e continuou:

— Você está apenas se machucando.

Novas negações de Wanda faziam com que seu soluço desesperado aumentasse de intensidade. Visão persistiu:

— Não deixe que minha última lembrança seja das suas lágrimas. Quero ter a certeza de que você ficará bem.

A moça subitamente parou, sem conseguir encarar os olhos azuis de Visão. Ele não fazia ideia de como conseguiria confortá-la naquela situação, principalmente porque sabia do histórico de Wanda com perdas. Ela levantou-se e caminhou em direção à janela, que ia do chão até praticamente o teto do jardim, posicionando os dedos da mão sobre o vidro frio. O tempo lá fora era tristonho; nuvens cinza cobriam o céu, e alguns teimosos raios de sol, esgueirando-se entre os poucos espaços livres, iluminavam muito pouco do cômodo.

Após um breve período em silêncio, a respiração pesada de Wanda deu espaço à sua voz baixa, que começou:

— Sabe, Vizh, – ela permanecia sem conseguir encará-lo, mantendo os olhos fixos em um ponto de fuga no meio das árvores – foram dois longos anos desde que me tornei uma fugitiva procurada. Desde que começamos a nos encontrar em segredo.

Ela parou por um momento e riu, levando a mão à boca. “Segredo” era um jeito estúpido de falar, pois Natasha e Sam logo perceberam as fugas dos dois, assim como o fato de a moça sempre evitar as conversas concernentes a este assunto. Não conseguiram esconder por muito tempo que estavam se vendo com cada vez mais frequência. Então, continuou:

— Todas as vezes que você ia embora, levava um pedaço de mim com você. Um pedaço insignificante à princípio, mas que aumentava a cada desencontro. A cada vez que assistia o trem partir, e via seu rosto humano na janela – Wanda caminhou lentamente, as palavras no ar, quando finalmente se aproximou o suficiente para encarar os olhos dele. –, o olhar tão amedrontado que eu poderia jurar que você voltaria correndo.

Visão aproveitou o momento para esticar a mão, convidando-a para se aproximar e encostar a bochecha rosada em sua palma sintética. Através da pele robótica, ele sentiu a quentura emanada do rubor em seu rosto fino, e observou aquelas duas gemas verdes, o brilho característico ausente naquele momento. O choro havia cessado, mas a sensação de tristeza continuava estampada por toda sua face.

— Quando vi, esse vazio tornou-se uma cratera. E esse buraco dentro de mim só era preenchido quando você chegava. Quando eu via seu rosto perdido no meio da estação e corria para te abraçar. – Ela fez uma pausa, acariciando a mão de Visão com seu rosto – O vácuo no meu peito só não era pior porque eu sabia que você ia voltar. Você sempre voltava.

Visão percebeu os olhos de Wanda brilharem com lágrimas, e sua boca se mover repetidamente para cima e para baixo, segurando um soluço há muito tempo preso.

— Dessa vez, você vai embarcar no trem para não voltar. E levar com você esse pedaço meu, deixando esse buraco eternamente aberto.

Wanda afastou-se de Visão e deixou algumas lágrimas correrem por seu rosto. O sintozóide ficou sem reação, absorvendo o que ela acabara de dizer, pensando em todas as vezes que se viram; os passeios tentando se conhecer, as noites de amor e manhãs que sucediam, preguiçosas sob os raios de sol adentrando a janela, e o sorriso confortável dela sendo a primeira visão dele ao levantar da cama. Os momentos com Wanda tornaram-se mais que especiais, e ele não estava pronto para perdê-la.

Mas não havia outro jeito.

Fazendo um esforço descomunal, ele se levantou do banco e andou pelo cascalho branco, cada passo fazendo barulho, até finalmente chegar nela e posicionar as mãos na extensão de seus braços. Visão segurou-a firmemente, buscando encará-la e explicar essa situação tão extrema. Era difícil aceitar seu destino, todavia, ele sabia que morrer estando ao lado dela não seria tão ruim quanto perder a guerra e matar milhões de pessoas.

— Wanda. – Ele manteve a expressão séria, observando seu rosto úmido. – O que te peço é impossível. Mas eu sei que você consegue, é poderosa e forte o suficiente para isso. É o melhor para todos.

Ela encarou o chão, pensando um pouco até dizer:

— Pode me dizer algo bonito?

As palavras dela acertaram Visão desprevenido. Talvez ele realmente estivesse sendo muito bruto em uma situação que necessitava de delicadeza para ser tratada; apenas não queria dar falsas esperanças para a moça que tanto amava.

— Quando tudo isso acabar – ele passou os braços ao redor de seu corpo esguio, puxando-o para perto e encostando os lábios sintéticos em sua testa, sentindo as pequenas mãos de Wanda se entrelaçarem em suas costas. Ela finalmente havia parado de chorar. –, e você não precisar carregar tantas cruzes em seus ombros, nós teremos uma casa. Com um lindo jardim, as plantas que você tanto gosta... Podemos viver em uma parte mais afastada da cidade, se desejar.

Ele sabia que estava mentindo, porém, pela primeira vez, sentiu uma espécie de conforto advindo da moça. Ela parecia estar – e isso poderia ser uma observação corajosa da parte de Visão – feliz. Percebendo que estava indo na direção certa, ele prosseguiu:

— Podemos ter aquele tempo que nós precisávamos, sem pensar em salvar o universo. Você pode dormir e acordar a hora que bem entender, e um dia podemos ter filhos.

Engolindo em seco, ela assentiu. Tinha alguma noção de que tais pensamentos não iriam se concretizar em sua totalidade, mas aquelas palavras traziam conforto para sua mente bagunçada. Ficava feliz de pensar em uma vida posterior, um motivo para sair daquela batalha viva junto com o sintozóide. A voz calma e serena de Visão continuou:

— E eu vou estar sempre com você. Nunca vou deixar que lhe façam qualquer mal novamente. – Ele acariciou o longo cabelo ruivo da moça, e suspirou. – Wanda, desculpe, eu não posso mentir assim para você.

Surpreendida pelas palavras súbitas de seu amado, ela arregalou os olhos.

— Porque está dizendo isso, Vizh?

— Você sabe que eu não sou uma criatura orgânica. Nunca poderíamos ter uma vida desse jeito, é algo que nunca poderia ofertar. E eu não posso sobreviver sem Thanos adimplir seu objetivo principal.

A respiração de Wanda subitamente ficou entrecortada, ao que ela viu todos os pensamentos fruto de sua imaginação desmoronarem diante seus olhos. Ela meramente abraçou o sintozóide com toda a força que seu corpo permitia e mexeu a cabeça de um lado para o outro, ainda em negação, e afundou o rosto nas roupas de Visão, o choro reprimido agora tomando proporções maiores. O sintozóide só conseguia segurá-la, incapaz de dizer mais alguma mentira que lhe trouxesse conforto sem mascarar o final daquela batalha. Ao menos, uma luta a qual somente eles deveriam enfrentar.

Visão não possuía um coração, ao menos, não um que fosse feito de músculos e tecidos. Porém, sabia que, se possuísse, este estaria batendo tão fortemente em seu peito que provavelmente seria audível. Ele sentiu o pequeno corpo de Wanda em seus braços, o mesmo corpo que segurou tantas vezes em momentos diferentes, sentindo o aroma floral exalado de seus cabelos ruivos e ignorando todas as especificações que seus neurônios o encaminhavam a respeito dos erros no sistema interno e falhas repetitivas. Pela primeira vez em anos, tomou a liberdade de desprezar essas informações e concentrar-se apenas e tão somente na moça em sua frente. O abraço estava extremamente desconfortável para ele, porém Visão era incapaz de se mover, deixando Wanda molhar sua blusa com o choro insistente, aproveitando aquele instante para tê-la consigo uma última vez, e memorizar cada detalhe possível de sua amada.

Um acuado Steve Rogers assistia a cena de longe, através da parede de vidro que levava ao jardim de inverno. Era perceptível em sua expressão o quanto estava arrasado de testemunhar uma despedida tão dramática. Aquele casal, jovem e cheio de sonhos, era cruelmente separado por uma guerra, detalhes os quais o lembravam de sua própria vida pretérita. Dentro de si, havia a certeza de que tudo acabaria bem, e ele poderia vê-los com um sorriso no rosto novamente – ao menos, ele iria lutar com todas as suas forças para isso acontecer.

Ao seu lado, Natasha Romanoff estava incerta. A Quinjet estava pronta para eles decolarem rumo a Wakanda, todavia, não gostaria de atrapalhar aquela despedida, em especial após Wanda suplicar por mais tempo. Com o pesar estampado nos olhos, ela tocou o ombro do Capitão América, sinalizando com a cabeça que eles deveriam ir.

— Visão, achei que tinha dito para você tranquilizar a Wanda, não a deixar mais chateada.

 Ao ouvirem a voz de Steve ecoar pelo cômodo, o casal logo se apartou, e Wanda secou as lágrimas remanescentes com a manga da blusa preta a qual usava. Ambos ficaram sem reação, apenas aguardando o próximo comando de Steve. Esse, por sua vez, apenas juntou as mãos e buscou levantar os ânimos:

— Conseguimos contato com Wakanda. Lá teremos a ajuda que Visão precisa.

Wanda esboçou um sorriso esperançoso, e Visão concordou com a cabeça, ainda em silêncio.

— Podemos ir?

Com um gesto, o líder da equipe convidou-os a se juntarem, caminhando em direção a Natasha, aguardando pacientemente na soleira da porta. Não que ela quisesse ir, não que ela tivesse escolha. Wanda esticou o braço e encaixou Visão em sua cintura, o braço longo ao redor de seus pequenos ombros.

— Está confortável?

“Nos seus braços? Sempre.” – era um pensamento o qual somente deveria existir na mente de Visão, todavia, ele esqueceu que ela poderia lê-lo a qualquer momento. Uma risada baixa escapou dos lábios da moça quando viu esse pensamento em sua mente. Com cuidado, ela o puxou um pouco mais para perto, na iminência de abraçá-lo, em silêncio pelo restante do caminho.

Uma última espiada de Wanda em seu quarto marcou sua despedida com a Base dos Vingadores. À medida que o restante do grupo se aproximava da Quinjet, Wanda sentia cada vez mais a urgência de sair correndo para um lugar muito longe, onde ela e Visão pudessem viver sem tantas responsabilidades. Ela fincou os pés no chão e observou a porta entreaberta, pensando qual seria a melhor maneira de escapar. Todavia, ela não pôs o plano em prática, e despediu-se para sempre do único lugar que fora seu lar.

Quando Thanos chegou à Terra e Visão soube que precisava se sacrificar, seus últimos pensamentos foram em Wanda. Nas lembranças de viagens pela Europa, e no seu devaneio de como seria uma vida futura ideal; planos inacabados de comprarem uma casa, se casarem e terem lindos filhos para cuidar. Relembrou cada palavra dita, ainda na Base dos Vingadores, inclusive de ter se recusado a continuar mentindo. Quando a joia em sua testa finalmente trincou, o choro de Wanda em seus ouvidos, ele deixou escorrer a única lágrima de sua curta vida.

Talvez, apenas talvez, se a situação fosse diferente, as palavras proferidas por ele não seriam uma bonita mentira para mascarar um final trágico.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, pessoal, é isso! Essa foi minha primeira oneshot depois de um tempo em hiato. Foram meses difíceis, em que me sentia muito triste por não conseguir escrever na mesma frequência. Como sempre, meu namorado Shini, e meus melhores amigos Areiko e Elisa me deram todo o apoio e amor para eu me sentir confortável em voltar (inclusive, obrigada ao Areiko por não ter brigado comigo, planejo voltar o quanto antes para A Disturbance in the Galaxy!). Agradeço a vocês por serem tão incríveis e não desistirem de mim!! ♥
Terminei de escrever essa história com a minha cachorrinha no colo e uma sensação quentinha no peito. Estou ansiosa para compartilhar o restante dos meus projetos e retomar os anteriores! Vcs terão uma overdose ScarletVision e Reylo -q
Also, sei que essa história foi bem angst, a próxima desse casal será bem fofinha (já está quase pronta), prometo!
Beijos ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "What it Never Was" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.