Loving the enemy escrita por Trice


Capítulo 9
OITO – And I'm sorry that I couldn't get to you!


Notas iniciais do capítulo

Olha quem apareceu depois de dois meses! Mas, depois de receber a primeira recomendação não pude deixar de atualizar e apareci com um capítulo maiorzinho para compensar a demora! hahaha Não desistam de mim!

Obrigada todo mundo que está lendo, acompanhando! ♡
Obrigada à Mavis e Sofia que favoritaram! ♡
E MUITO OBRIGADA à Sofia que fez a primeira recomendação da fic! Você não faz ideia de como me deixou feliz e isso me deu mais ânimo para escrever essa fic, obrigada mesmo! ♡♡♡♡

Esse capítulo é cheio de novidades e espero que gostem! Nos vemos nas notas finais!



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"Say something, I'm giving up on you

And I'm sorry that I couldn't get to you

And anywhere, I would've followed you" 

(Say Something –  Christina Aguilera)

R O S E

JARDINS DO PALÁCIO DE HOGWARTS – 3 MESES E 8 DIAS

Rose Weasley olhou de soslaio para Ethan Wood. 

Na luz do sol, em um final de tarde, ele parecia bonito demais, atraente de um jeito que Rose não conseguia evitar olhá-lo mais demoradamente uma vez ou outra. 

Os cabelos castanhos ficavam mais claros e os olhos avelã transpareciam mais vida, intensidade. Apesar de seus traços ainda lembrarem Rose do garotinho que fora seu melhor amigo na infância, era impossível deixar de pensar quanto tempo passara e como ele mudara – não somente fisicamente. 

Ethan contou sobre seu treinamento como piloto, as sensações que experimentava ao voar e como conseguia esquecer qualquer coisa quando estava nos céus. Os olhos dele se iluminaram quando falou sobre a aviação. Rose sentiu uma pontada de inveja, pensando que deveria ser mesmo maravilhoso amar tanto algo que o sentimento transparecia em seu olhar. Ela nunca saira do Reino, muito menos entrara em um avião. Quando ele falou sobre aquilo, Rose inevitavelmente olhou para o céu, imaginando. 

Sonhando acordada em poder, algum dia, aventurar-se para além de Hogwarts. Evidente que ali sempre seria o seu lar e ela não desejava ir embora definitivamente, apenas conhecer lugares, paisagens, cores e sensações novas, aquele sentimento a levava a entender os eventuais motivos de Ethan ter saído de Hogwarts. O que, na verdade, não compreendia era o porquê dele ter voltado ao Reino, mas ter apenas decidido se manter afastado, como nunca tivesse existido uma amizade entre eles (e Albus) e, anos após, voltar, parecendo até disposto a ficar. 

No geral, eles mantinham uma conversa agradável, porém artificial. Riam e discutiam assuntos triviais, ignorando falarem sobre suas infâncias. Depois de um tempo, Rose começou a se sentir um pouco agitada, como se precisasse saber o porquê que ele fora embora do Palácio tão repentinamente e sem qualquer um mínimo contato posterior. Sabia que não deveria se sentir magoada por algo que acontecera há tanto tempo. Entretanto, sentia Ethan do mesmo modo, aparentando querer dizer algo e, ao mesmo tempo, apegando-se a assuntos corriqueiros até criar coragem para dizer o que quer que o estivesse afligindo. 

Rose já estava cansada de toda aquela enrolação e perdera as contas das inúmeras voltas que deram nos jardins reais. Ela até já havia memorizado a localização exata das tulipas amarelas. 

— Ethan — ela chamou, decidida a perguntar de uma vez o que lhe interessava.

— Quer jogar croquet? — cortou ele, fazendo com que Rose franzisse a testa, confusa com o convite. 

— Como? — perguntou mesmo tendo ouvido com total clareza. — Agora

Ele deu de ombros.

— Você tem algo para fazer? 

— Sempre tenho, mas não algo que eu queira fazer.

— Então? Croquet?

Rose não respondeu de primeira por alguns motivos. 

Primeiro, estava surpresa, não esperava um convite aleatório para uma partida de croquet, bem no instante em que seus pensamentos voavam para os motivos de Ethan ter deixado o Palácio. 

Segundo, ela era péssima em croquet

Terceiro, ela era muito competitiva e de tanto perder para James no croquet, resolvera aposentar seu taco para sempre. Só que Ethan não era nem metade irritante como James Potter, além de que, ele era terrível em Quadribol desde a infância e poderia ser igualmente ruim no croquet

— Claro. Por que não? — foi a vez de Rose de dar de ombros. 

Assim que ela concordou, começaram a andar em direção ao campo de croquet, o qual não ficava muito longe dos jardins. Quando chegaram, cada um escolheu um taco e se posicionaram.

— Primeiro você, Vossa Alteza — ele fez uma reverência e Rose devolveu com uma careta, mas decidiu por começar. 

E ela era pior do que se lembrava. Um verdadeiro desastre.

Levantou o taco, mirou do melhor modo possível — na sua concepção, e nem ao menos acertou a bola. Ethan soltou um riso abafado e Rose sentiu as bochechas corarem. Talvez ele fosse tão irritante quanto James. 

— Podemos fingir que essa primeira tentativa nunca existiu. 

— Eu só estou fora de forma — resmungou Rose. 

— Possivelmente — disse ele ainda com a voz carregada de humor pela risada. 

Ethan parou ao seu lado e Rose estreitou os olhos na direção dele. Depois, ela trocou a pegada no taco. Testou algumas vezes o movimento. Respirou profundamente enquanto mirava, além do lugar que a bola deveria acertar, a bola em si.

E errou. Mas acertou a bola, o que já era menos humilhante, ainda que só tenha corrido pouquíssimo espaço.

— Sua vez — Rose disse com firmeza, fingindo que não fora terrivelmente ruim.

Ethan assentiu, posicionou-se e sem testar o movimento uma única vez, levantou o taco, acertando em cheio a bola, a qual percorreu o caminho perfeito. Rose bufou. E aquilo se repetiu várias vezes. Tantas que Rose estava a ponto de esquecer que já era uma mulher madura, jogar o taco no chão e abandonar aquela partida e nunca — dessa vez de verdade — mais voltar a jogar croquet

— Você é péssima — Ethan falou no meio de uma risada, na última rodada, quando Rose não chegou nem perto do objetivo. 

Ela revirou os olhos e deixou o taco pender ao lado do corpo. 

— E você não deveria… sei lá, me deixar ganhar? Fingir que sou ótima e tecer tantos elogios que eu provavelmente ficaria enjoada com a puxação de saco? 

Wood riu e se arrumou para sua última jogada. 

— Não, é meio satisfatório ganhar de você, considerando que você ganhou de mim por anos no Quadribol — e o taco acertou a bola, que fez o caminho preciso até levar Ethan à vitória. Rose bufou alto. Oficialmente, ela detestava croquet. — E também, você fica bonita demais concentrada. 

Ele estava flertando com Rose? 

Parecia, só que ele era Ethan Wood, seu melhor amigo de infância, um pouco dramático e que, pelo que Rose lembrava, já ficara uma semana sem tomar banho, enganando a todos e depois se glorificando por ter fugido da higiene. Pelo menos essa fase parecia ter passado, mas ele ainda era Ethan Wood. 

Antes que Rose pudesse pensar em algo para responder, ele se aproximou, colocando-se atrás dela. 

— O croquet não tem somente uma posição, dependerá do local da bola. Você também coloca muita força na tacada, às vezes é preciso somente um toque. 

Enquanto explicava, Ethan desceu as mãos para a cintura dela, empurrando-a um pouco e Rose, ainda que inconscientemente, prendeu a respiração. Tratava-se do truque mais tolo possível para uma aproximação, ela sabia; mesmo assim não conseguiu evitar de sentir uma ansiedade na boca do estômago. 

Ethan deixou uma das mãos na sua cintura, levou a outra ao seu braço, posicionando o taco do jeito que supostamente era o correto. Ele contornou-a com os braços, em um abraço e movimentou o taco em direção a bola. Rose deixou que ele guiasse. Ela até olhava para o campo e a bola, mas sua atenção estava completamente no toque dele e no perfume suave. 

— Assim — ele disse ao pé da sua orelha e a bola correu perfeitamente. 

Ethan demorou para se afastar e, durante aqueles segundos, para o desespero de Rose, olhos cinzentos intensos apareceram na sua mente. Ela quase bufou, desacreditando que Scorpius Malfoy tivera a audácia de atrapalhar aquele momento, aparecendo sorrateiramente nos seus pensamentos e obrigando-a a se afastar com celeridade de Ethan. 

Apenas considerou que aconteceu por tê-lo beijado na noite passada e não por Scorpius estar, de alguma forma, ocupando espaços que não deveria na sua vida. Poderia gostar (muito) de o beijar e, depois do último encontro, percebera que ele não era somente um grandíssimo mentecapto. Mas só. 

Precisava ser só isso. Seria uma loucura e estupidez completa ser mais do que isso. 

Ela se virou para Ethan, afastando-se. 

— Eu… acho que entendi — foi o que conseguiu pensar em dizer. Terrível, Rose tinha consciência. — Mas preciso ir.

Wood assentiu e se distanciou um pouco mais. 

Eles voltaram para o Palácio mantendo uma conversa neutra. Rose decidiu que deixaria para outra oportunidade as perguntas que rondavam sua mente sobre a saída da Corte e da sua volta. 

Quando se viu sozinha, ela deixou com que sua mente, finalmente, pudesse se perder em pensamentos. Para duas coisas, de forma específica, aquele encontro servira: 

a) entender que Ethan Wood definitivamente não era mais seu amigo de infância e que ele possuía interesse nela – Rose poderia não ter uma vasta experiência com romance e homens; porém, já lera livros o suficiente para entender a tensão que Ethan criara naquela tarde. 

Fora proposital e Rose não era tola em achar o contrário. Ele sabia que Rose precisava se casar. Será que estava interessado nela? Ou no Trono? Seria imprudente, até para ela, apenas ignorar aqueles pensamentos; e

b) reconhecer que talvez devesse parar de beijar Scorpius Malfoy por aí. A ideia de desenvolver sentimentos por ele a deixava assustada. No começo, parecia algo inofensivo, até que aqueles olhos cinzentos dele aparecerem no meio de um encontro seu com outro. 

Ela guardou todos aqueles pensamentos, prometendo a si mesma que seria mais prudente ou, melhor: menos imprudente. 

ESTÚDIO FOTOGRÁFICO – 4 MESES E MEIO DEPOIS

Rose não precisou se esforçar para afastar Scorpius. 

Ela havia se preparado para ser firme e negar veementemente qualquer tipo de aproximação dele. Mas tudo fora inútil, considerando que Scorpius parecia tentar evitá-la com um afinco nunca visto. Rose o encontrou raras vezes e, na maioria delas, acompanhado de um dos seus primos. Nunca sozinhos. Chegou até a ir na sua varanda apenas para poder observar por um tempo a dele, só que Scorpius nunca apareceu. 

Deveria estar feliz, não? 

Era exatamente o que chegara à conclusão: que precisava se afastar do Malfoy ou aquilo poderia transformar-se num grande desastre. Na realidade, todo aquele silêncio somente a fazia pensar mais ainda em Scorpius. Mesmo quando nada fazia, ele conseguia preencher os pensamentos de Rose. Ela estava, sem dúvidas, confusa com as atitudes do Malfoy — quer dizer, a falta delas. 

Ele parecia querer, muito mais do que Rose, aqueles encontros com beijos furtivos e, de repente, fugia de momentos que pudessem deixá-los sozinhos.

 O que havia mudado?, perguntava-se constantemente. Rose o viu conversando, certo dia, com Molly. Eles pareciam à vontade, sentados um do lado do outro em uma das salas da biblioteca real. Embora não tenha conseguido ouvi-los, imaginou inúmeras possibilidades de assuntos e todos eles, sem exceção, deixavam-na com um gosto amargo na boca. 

Rose sentia uma raiva crescente dentro de si. 

Ele a beijava e depois, somente, fingia que nada acontecera? Apenas a ignorava e, pior, aproximava-se da sua família enquanto isso. Sua vontade era ir até Scorpius e dizer o que estava engasgado, deixando-a sufocada. Só que Rose prometera a si mesma que tentaria ser menos imprudente e impulsiva. No mais, do que lhe adiantaria dizer ao Malfoy o quão estava irritada? E depois disso, o que faria? Não poderia ficar com ele e certamente não poderia proibi-lo de ficar com quem quer que fosse. 

Ela sabia que grande parte da sua irritação também devia-se ao fato de que, mesmo mantendo a distância, Rose não conseguia expulsar Scorpius dos seus pensamentos. Quando menos esperava já estava ele de uma forma tão nítida na sua mente. Era só se distrair um instante. 

Diferentemente de Scorpius, Ethan Wood tornou-se uma presença frequente na sua vida real — porém não nos seus pensamentos. 

No último um mês e meio, eles conseguiram construir certa amizade, apesar de Rose ter resistido aos avanços dele. Ela queria deixar que Ethan se aproximasse e, por outro lado, a ideia lhe parecia estranha, como se não se encaixasse na sua vida. Sentia-se tola toda vez que pensava aquilo, principalmente porque a possibilidade de Scorpius Malfoy se aproximar não a deixava angustiada.

Em que mundo Scorpius Malfoy parecia melhor que Ethan Wood? 

Outra coisa que a incomodava era que Ethan ainda não falara nada sobre sua saída da Corte e, quando falavam sobre sua atual estadia, era sempre de forma superficial. Evidentemente ele não gostava daquele assunto, o que só deixava Rose ainda mais curiosa. Somente curiosa, porquanto sua mágoa — referente a Ethan nunca ter lhe procurado depois de ter se mudado da Corte — passara ao decorrer dos encontros e da amizade que vinham nutrindo. 

Um fato sobre Rose: ela não era rancorosa. 

Não por muito tempo, pelo menos. Geralmente, Rose explodia, expulsando tudo o que sentia e depois conseguia seguir sua vida — o que tornava difícil a missão de segurar o que sentia por Scorpius. Mas, o grande problema de ignorar sentimentos era que, uma hora ou outra, eles te sufocam ao ponto de empurrarem até a superfície e explodirem em caos. 

Rose esperava realmente que isso não acontecesse. 

Para piorar sua situação, além dos sentimentos estranhos que tinha que lidar quanto ao Malfoy e ao Wood, seu aniversário de vinte e um anos se aproximava e com ele a abertura do seu prazo para que contraísse matrimônio e encontrasse uma solução para não o fazê-lo ou perder o Trono. Ela sentia a garganta seca ao pensar naquilo. Com a chegada do seu aniversário, mais do que nunca, seu destino parecia traçado — e os dilemas amorosos tornavam-se ínfimos demais diante do momento que se aproximava. 

Até o momento conseguira manter a esperança de que encontrariam uma resposta; contudo, os meses passaram e a pesquisa nos livros e documentos históricos do Palácio não os levaram à nada. 

A investigação no que tangia ao incêndio que destruiu uma parte dos documentos fora arquivada pelo Conselho, pelo menos constatou-se que não poderia ter sido Fred quem fora o autor, porquanto os horários referente à sua saída e o começo do fogo não coincidiam. Nem por um segundo Rose considerou que seu primo realmente pudesse ter algo a ver com aquilo, não de propósito; mas, de qualquer jeito, era um alívio. Tudo indicava que fora acidental e, assim, a investigação fora arquivada, por enquanto. 

Mesmo assim, a relação de James e Fred não voltara completamente ao normal. Eles estavam se falando, porém, para se começar um novo incêndio era necessária somente uma pequena faísca — metaforicamente dessa vez, claro. Fred achava que James possuía uma confiança frágil nele; James achava que não precisava pedir desculpas, considerando que só estava sendo racional e teria desconfiado dos seus próprios pais ou de seus irmãos, se fosse o caso. 

E Rose achava os dois estúpidos. Eles eram melhores amigos e família; já estava na hora de se entenderem.

Além disso, Rose gastava a paciência que possuía para drama com sentimentos com os seus próprios, que já estavam lhe rendendo um belo esforço emocional, assim, não restava muito para os alheios. Ela só desejava que eles fizessem as pazes devidamente e parassem de enlouquecer todo mundo. 

A questão era que Rose, e toda a sua família, estavam andando ao redor do abismo do desespero, tentando buscar alternativas para chegarem ao outro lado e, até o momento, fracassando. 

O fotógrafo, que era Albus, estalou os dedos a fim de chamar sua atenção. 

Rose deveria ter se distraído mais uma vez, absorta em pensamentos que deveriam ser fortemente desconsiderados naquele momento. 

Ela se encontrava em um estúdio fotográfico, nervosa por estar sendo fotografada e ainda mais sabendo que aquela imagem correria o Reino de Hogwarts inteiro e que, em algumas semanas, todos saberiam exatamente quem ela era, não somente a Corte. 

De alguma forma, o objetivo da sua mãe de manter sua identidade sigilosa até a inevitabilidade dera certo e, no fundo, Rose sentia-se esperançosa com aquilo, como se pudesse ter a chance de conhecer o Reino antes de ser reconhecida como a princesa. Uma ilusão, apenas, já que nunca lhe fora permitido sair da Corte. 

Não que ela não tivesse tentado fugir dos seus guardas algumas vezes, porque tentou, mas nunca conseguira chegar ao Reino; e Rose esforçava-se em não se sentir uma prisioneira, principalmente por entender que seus pais possuíam seus motivos para querer protegê-la e, que, apesar da Guerra parecer algo distante para ela, para seus pais e seus tios, ainda consistia em algo vivo, que permeava os pensamentos deles. 

Assim, ela entendia, porém a parte selvagem dentro de si não a deixava aceitar, dizia-lhe que se seus pais a consideravam capaz de subir ao Trono, deveriam deixá-la viver. E Rose reputava que não desejava muito. Ansiava apenas conhecer um pouco mais do mundo, ter a liberdade de sair das extensões de terras do Palácio e se aventurar, mesmo que com algumas restrições, pelas ruas de Hogwarts e Hogsmeade. 

O que a deixava mais irritada era o fato de permitirem que o povo pensasse que Molly era a princesa. 

Sua prima andava pela Corte e pelo restante de Hogwarts sem grandes regras e se portava tão bem; era bonita, educada e gentil e, de repente, as pessoas começaram a falar. O jornal de Hogwarts a apontou como possivelmente a princesa e Hermione ficara satisfeita com aquilo, além disso, como Molly era um exemplo perfeito de modos principescos, fora decidido que não iriam negar nada. 

E Rose sabia que deveria se sentir grata por Molly praticamente se colocar na mira ao ser apontada como a princesa de Hogwarts e futura Rainha; contudo, Rose apenas conseguia sentir um gosto amargo na boca e uma inveja que a corroía, porque Molly podia andar por aí, sem que ninguém a prendesse, a sufocasse ou reprimisse. Haviam regras, é claro, mas Molly já se portava perfeitamente e tais diretrizes pareciam sem sentido para ela. 

Inveja era um terrível sentimento, em especial por ser direcionado a alguém da sua família. Porém, tudo acabaria em breve. Dali a algumas semanas, as pessoas saberiam, de verdade, quem era a princesa. Lily contou que existiam até apostas pelo Reino, de qual das ruivas da família era a princesa e, claro, a imagem de Molly ganhava em todas. 

E quando todos descobrissem que não era Molly a princesa, não seria decepcionante?

Rose sentia o ar preso nos seus pulmões ao pensar naquilo. 

Seu povo criara afeição à imagem da sua prima, viram Rose pouquíssimas vezes e ela nem estava nas apostas, porquanto sequer se lembravam dela; as pessoas não sentiam nada por ela. Rose teria que conquistá-los, mas como faria isso? Sabia que teria muita ajuda para crescer como monarca, só que um medo persistente e quase sólido começara a se formar. 

Tantos medos. 

Medo de ser odiada. 

Medo de não conseguir achar uma solução para não precisar de casar.

Medo de precisar se casar. 

Medo de não conseguir se casar. 

Medo de se casar, subir ao Trono e detestar cada segundo. 

Medo de ser uma péssima Rainha. 

— Rose — Albus suspirou, ele já havia chamado sua atenção algumas vezes, no entanto  ele não parecia irritado, apenas preocupado e cansado. — Qual é o problema? — indagou baixinho e com gentileza, chegando perto o suficiente para que ninguém que estava no estúdio os ouvissem. 

Quando Rose foi informada que o dia das fotos estava chegando, insistiu para que fosse Albus que a fotografasse. Seu primo adorava fotografia – quase tanto quanto Quadribol – e vivia com a câmera pendurada no pescoço. E ele era bom naquilo, além de ser o melhor amigo de Rose, ou seja, ninguém conseguiria fazê-la sentir mais confortável que Albus. 

Um desconhecido somente a deixaria mais travada naquele momento. Albus era alguém que Rose amava e confiava, as chances dela conseguir sorrir mais naturalmente para a foto eram bem maiores com ele. 

— É uma pergunta muito ampla, você sabe. Eu poderia responder de tantas formas que só sairíamos daqui amanhã. 

Albus sorriu, acostumado com o modo que Rose encontrava de fugir de perguntas que a deixavam vulnerável. Ele não insistiria para que ela falasse, porquanto sabia que Rose detestava esse tipo de pressão. 

— Mas, mesmo que dure um dia, se você quiser falar, eu estou aqui — Rose agradeceu mentalmente por Albus não ter forçado e, no mais, por lembrá-la que seu melhor amigo estava ali, caso precisasse. Ele continuou, contando: — As fotos estão ficando ótimas — e se inclinou para que Rose pudesse ver as imagens. — Ninguém vai reparar que seu sorriso é forçado, quer dizer, talvez só quem realmente conhece você. 

As fotos estavam boas mesmo. Rose não era acostumada com a câmera, mas não dava para negar que era fotogênica e Albus tinha razão, se olhasse rapidamente nem ela conseguiria reparar no seu sorriso nada mais que uma farsa, o que a fazia se sentir uma farsa. 

Rose reprimiu um suspiro, pensando que deveria se esforçar mais. 

Ela seria apresentada para o seu povo. Aquela foto ficaria registrada na história de Hogwarts. Rose podia fazer mais, tentar buscar alguma essência de felicidade naquilo, afinal, ela não era infeliz. Existiam momentos de infelicidade, contudo, se fosse considerar tudo o que era e o que vivia e sentia, Rose nunca poderia afirmar não ser feliz. 

— Podemos parar por aqui, se você quiser — disse Albus, os olhos gentis perscrutando o rosto da prima. 

— Não — Rose negou com celeridade e emendou: — Vamos tentar mais algumas. 

Albus parecia prestes a perguntar algo, no entanto, ele apenas a encarou por alguns segundos e assentiu, conhecendo o olhar determinado de Rose. 

O Potter se posicionou, preparando a câmera enquanto Rose deu tudo de si para bloquear aqueles pensamentos que pareciam arrastá-la para a escuridão de medo em sua mente. 

Ela se lembrou do que amava em Hogwarts. Dos momentos felizes que viveu ali. Do que a vida de princesa tinha lhe proporcionado e o que a vida de rainha poderia significar. As chances que teria de ajudar Hogwarts, de transformar vidas e, quando afastava os receios da vida de monarca, Rose via-se sendo genuinamente feliz. 

Então, ela sorriu. 

E o sorriso ultrapassou seus lábios. 

Dava para ver a veracidade daquele sorriso brilhou seus olhos verdes. 

S C O R P I U S

LAGO NEGRO DO PALÁCIO DE HOGWARTS – 5 MESES DEPOIS

Scorpius olhou para a calmaria que era o Lago Negro e sentiu, mesmo que por poucos instantes, a familiaridade e a sensação de pertencimento que estar perto da água provocava em si. 

Inclinou-se para conseguir mergulhar os dedos na água gelada e desejou que não estivesse tão frio, pois a sua maior vontade, naquele momento, era poder dar um mergulho. Deixar a água esconder seu corpo e aproveitar o sentimento ilusório de que não existiam problemas o esperando em terra firme. Todavia, mesmo com a roupa térmica que usava, o inferno de Hogwarts começara na última segunda-feira, trazendo uma corrente de frio dolorosa. 

O clima não o impediu de se aventurar no Lago Negro com Albus, James e Fred; eles consideraram que se nenhum deles caíssem na água, o frio não atrapalharia. A questão era que Fred e Albus, os quais estavam no outro barco de remo duplo, um scull, estavam indo tão mal que ele estava surpreso deles ainda não terem se despencado no Lago. Scorpius até colocara salva-vidas neles, apenas por garantia. 

— Fred — chamou Scorpius mais uma vez, tentando fazer o outro lembrar das suas instruções. Para a sorte de todos, Scorpius era paciente e vinha se mostrando um excelente professor, mas Fred era péssimo em esportes, não importava quem estivesse ensinando. — Mantenha o remo próximo do scull quando o puxar para trás ou vocês podem acabar girando o barco junto sem querer.

— Porra, Fred — resmungou Albus, segurando o remo com força e o apontando para o primo. — Eu nunca mais, nunca mais subo em um barco com você! Como é possível você ser pior nisso até do que no quadribol? Na próxima vez, eu vou com o Scorpius.

— Não é para tanto também — disse Fred, defendendo-se. — Nós já estamos no meio do Lago Negro e não viramos o barco nenhuma vez. 

— Por sorte — soltou Scorpius. 

E era verdade, considerando o modo como Fred remava e desequilibrava o scull

— Porque eu estou fazendo toda a merda do trabalho duro! — reclamou Albus. 

James riu, divertindo-se com a desgraça do irmão e de Fred, e remou com facilidade, afastando-os um pouco mais dos outros dois. 

— Caiam logo no Lago, por favor — pediu o Potter mais velho, enquanto descansava o remo e olhava por cima do ombro para eles, esperando que tentassem sair do lugar. 

— Remo para frente — instruiu Scorpius e mostrou com o próprio corpo como fazer. — Rotacione o tronco assim — e se posicionou daquele modo — Desça o remo, apenas a ponta. Tentem deixar o cabo o mais vertical possível, vai dar mais força e vocês conseguirão ir mais longe. Não saiam do banco ou se inclinem demais ou vocês vão cair! — avisou quando Fred se inclinou muito para frente e Albus soltou um berro de medo quando o pequeno barco balançou intensamente. 

— Você quer me matar, seu babaca???? — vociferou Albus. 

No susto do scull quase virar, Fred deixou cair um dos remos, enquanto Albus os largou e se segurou com força nas bordas, tentando inutilmente equilibrar-se. James começou a rir alto e Albus, percebendo que Fred não conseguiria mais reaver um dos remos, pegou o seu e bateu no primo, empurrando-o e quase o fazendo cair no Lago.

James ria tanto que parecia estar tendo um mini ataque cardíaco.

 — Seu filho da mãe! — xingou Fred, conseguindo segurar o remo de Albus e o puxando para si. 

— Isso! — gritou James, levantando-se no scull. — Acerte nas pernas!

James! — repreendeu Scorpius quando o próprio barco deles começou a oscilar quando o Potter levantou. 

Aparentemente, James não se importava nada com o fato do scull estar quase virando e, fazendo seu papel de perfeito agente do caos, pegou o seu próprio remo e acertou Scorpius no ombro, gritando: — Guerra de remos!

— Puta que pariu — gemeu Scorpius, mas não teve tempo para protestar porque James já o estava acertando de novo. 

Scorpius poderia ter pensando com responsabilidade e ter tentado parar a baderna que aquele passeio nos sculls havia virado, no entanto, a veia competitiva que possuía começou a pulsar e ele ergueu o próprio remo, lutando com James, o qual continuava rindo enquanto procurava se equilibrar em pé no barco oscilante. 

— Acho que vou vomitar! — anunciou Albus no meio das risadas.

James se curvou de tanto rir e, aproveitando a oportunidade, Scorpius o acertou bem no quadril, um segundo depois, o Potter caía no Lago Negro. 

A princípio, Scorpius riu, ainda tentando se equilibrar, mas continuou com os olhos fixos onde James havia caído – Albus e Fred, também tinham parado de brigar, apesar do primeiro estar com uma expressão péssima de quem estava passando mal – e já estava pronto para se jogar, caso James precisasse, porém o Potter mais velho emergiu das águas, rindo. 

Os cabelos negros molhados, as bochechas coradas pela frio e os olhos de um castanho-esverdeado brilhando de divertimento. 

— Caralho — gemeu no meio de uma risada. — Está mais frio do que eu esperava. 

— Você consegue subir ou quer ajuda? — indagou Scorpius, sentando-se no scull para que ele pudesse parar de balançar tanto e encontrar algum equilíbrio. 

— Se esse barco não parar de mexer, vou vomitar — declarou Albus e imitou Scorpius ao se sentar. 

Não — Fred falou. — Se você vomitar aqui, eu juro que te acerto na cabeça dessa vez! 

— Eu não consigo controlar o meu estômago! E a culpa é sua que não consegue remar direito! 

— Vou precisar de ajuda — respondeu James, que tinha nadado até chegar perto de Scorpius. 

O Malfoy, ignorando a briga dos outros dois, buscou se inclinar para ajudar James sem fazer com que o scull ficasse novamente tão instável, em especial porque com o Potter fora do barco, o peso ficava em desequilíbrio. E, ao estender a mão para James, percebeu que havia alguma coisa errada, afinal o Potter sorria demais e agarrou seu pulso com uma força desnecessária. Demorou apenas um instante para notar, mas já era tarde demais. 

Scorpius foi puxado de encontro às águas gélidas do Lago Negro. 

O primeiro contato era sempre o pior, no entanto, como fora pego de surpresa, a sensação que a diferença de temperatura, do seu corpo com a água, não fora tão ruim como esperava. A roupa térmica ajudava no sentimento de estar congelando, ainda assim Scorpius sabia que não demoraria para começar a tremer de frio. 

A verdade era que Scorpius adorou sentir a água ao seu redor, não importava o quão frio estivesse. Por isso que, quando surgiu na superfície novamente, sorriu, pouco se importando com James espirrando água com as mãos na sua direção. 

Ele riu, embora seu corpo começasse a tremer. 

— Será que vamos morrer de hipotermia? — indagou James, como se estivesse falando de algo trivial, porém o Malfoy percebeu que o amigo também tremia um pouco. 

— Provavelmente, se não sairmos logo da água e voltarmos para o Palácio — afirmou Scorpius e James assentiu. 

Então, eles ouviram Fred proferindo xingamentos, tantos que não conseguiam entender direito e, ao se virarem para olhar os outros dois, viram Albus inclinado, vomitando no scull

James soltou uma gargalhada alta e Scorpius não conseguiu se conter ao ver a expressão de desespero de Fred. 

— Nós saímos do Palácio para remar e eu disse "é uma péssima ideia entrar no Lago Negro nesse frio e sem saber remar!" e o que o James disse? "para de ser medroso! O que pode dar errado?" E agora eu tenho a porra da resposta: tudo pode dar errado! Estou na merda do meio do Lago Negro com o idiota do Albus vomitando quase em cima de mim e falta isso aqui — ele fez um gesto com os dedos — para que eu também vomite! 

Scorpius não sabia se James já estava chorando de tanto rir ou se era apenas a água escorrendo por seu rosto. Ele também se sentia ficar sem ar pelas risadas, quase esquecendo o fato da roupa térmica não estar dando conta do frio das águas do Lago Negro ao seu redor.

Albus parou de vomitar para olhar o primo. 

— Eu voto em colocar a culpa no James — disse, lançando um olhar para o irmão.

— Ei! — reclamou James, mas não saiu em tom de repreensão, porque ele ainda não tinha parado de rir. 

— A culpa é do James — concordou Scorpius.

— Verdade — confirmou Fred. 

— O quê? Você quem quis remar! — defendeu-se, falando para Scorpius.

— Sozinho — lembrou o Malfoy — e porque eu sei remar.  Você insistiu para todo mundo vir e eu ainda disse que ensinaria vocês outro dia, principalmente um que não estivesse tão frio.  

E cada palavra era verdade, tanto que Albus e Fred concordaram com um aceno de cabeça. Entretanto, no fundo, Scorpius não quis negar mais uma oportunidade de James e Fred se divertirem juntos, ainda mais ao considerar que fora apenas naquela última semana que os dois pareciam ter voltado à amizade como antes. 

James soltou um resmungo e tremeu um pouco de frio.

— O que é a vida sem um pouco de emoção? — indagou ele e Albus voltou a vomitar. 

— Ah, que ótima emoção! Era tudo que eu queria ficar preso num barco minúsculo com o Albus vomitando — ironizou Fred. 

Scorpius tentou não rir, mas era impossível. 

— Vamos fazer assim — começou ele enquanto nadava em direção ao seu scull. — Já que todos concordamos que a culpa é do James, ele volta com o Albus e seu vômito e você, Fred, passa para meu scull. Posso remar por nós dois. 

— Não, não, não — tentou James. 

— Você sabe que o Albus não tem condições de remar vomitando e o Fred — ele olhou para o Weasley — não tem condições de remar de qualquer jeito. Você consegue remar sozinho, James — argumentou Scorpius. 

James poderia ser teimoso e orgulhoso, mas era inteligente e acabou admitindo que era o melhor a se fazer, o que o levou a sair da água e trocar de scull com Fred e começar a remar em direção à margem do Lago Negro, a qual ficava mais próxima do Palácio. 

Scorpius fez o mesmo, pedindo para que Fred apenas ficasse sentado e remou sozinho, empenhando mais força que o normal, considerando que não tinha ajuda. 

— Temos companhia — avisou James. — E elas estão rindo tanto que aposto que viram tudo. 

O Malfoy, que tinha estado concentrado nas primeiras remadas, tentando ignorar o frio, finalmente levantou os olhos para a margem com atenção, avistando Molly, Roxanne, Lucy, Lily, Dominique e… Rose. 

Sentiu o coração que possuía dentro do peito se revirar. 

Estava sendo costumeiro aquele tipo de reação do seu corpo toda vez que Rose Weasley aparecia, o sangue de Scorpius começava a correr mais rápido nas veias e ele sentia certa agonia no peito. Mesmo de longe, Scorpius a via rir e quase podia ouvir sua gargalhada, o som firme e gostoso capaz de aquecer qualquer ambiente, além de conseguir reparar nas bochechas rosadas, provável que pelo frio, e nos cabelos ruivos soltos, espalhados pelo casaco pesado azul-marinho que ela usava. 

Dois meses haviam se passado desde a conversa na cozinha, que acabou em um beijo no seu quarto. 

Dois meses que Scorpius pensava em puxá-la para algum canto do Palácio e apenas beijá-la.

Dois meses que Scorpius tentava destruir qualquer sentimento por Rose que estivesse crescendo dentro de si. 

Dois meses que Scorpius descobriu que Rose fora em um encontro com Ethan Wood. 

Dois meses que Scorpius decidiu que ela merecia uma chance real de ser feliz, de conhecer alguém capaz de dar a Rose o que ela precisava, o que o Malfoy não podia. 

Dois meses que Scorpius evitava Rose. E Lyra também, fugindo o máximo possível de conversas sobre os planos do seu avô, inventando desculpas que ele sabia que não estavam mais fazendo sentido. 

Quando Rose saiu do seus aposentos, há dois meses, Scorpius reconheceu que sentia algo por ela – mesmo que não conseguisse se decidir se era apenas uma atração física mais intensa ou o começo de algum sentimento – e chegou a conclusão que a sua melhor opção era tentar demonstrar para Lyra e o Zabini que estava, de fato, esforçando-se para se aproximar de Rose e, nesse percurso de tempo, também tentar ajudar Rose de alguma forma. E, tais intenções, necessitavam que Scorpius continuasse perto de Rose. 

Todavia, no dia seguinte, Albus lhe contou sobre Ethan Wood. O amigo de infância de Rose. O Potter teceu elogios ao Wood e parecia também ter certa amizade com ele. Scorpius sentiu uma pontada de ciúme, tanto por Rose, como por Albus, mas ignorou aquele sentimento, principalmente por ter conseguido entender que Ethan Wood era uma chance para Rose, caso eles não conseguissem descobrir como livrá-la da obrigação de um casamento. Todos gostavam de Ethan Wood, aparentemente. Até Rose. 

Assim, Scorpius pensou e pensou, considerando as possibilidades. 

Sendo franco, desde o começo, quando Albus falou sobre Ethan, o Malfoy já sabia o que deveria ser feito e somente tentou ilusoriamente postergar sua decisão; porém, quando ele viu, com seus próprios olhos, Rose com o Wood, em um dos jantares do Palácio, não teve mais como evitar. Ela sorria, parecendo confortável com Ethan, o qual aparentava estar ainda mais feliz, ouvindo-a e rindo das coisas que a Weasley falava. 

Afastar-se era o, obviamente, melhor para Rose. Se ele continuasse próximo dela, havia a possibilidade de Rose não se envolver com Ethan, que era, de fato, uma chance para ela. Além do mais, Scorpius sentia que já havia feito muito ao aceitar entrar em Hogwarts apenas para ajudar no plano de Lucius Malfoy; ele não conseguia ignorar a culpa que o invadia todos os dias, chegando a reprimi-lo nos momentos de felicidade, porque sabia que os instantes felizes que vivia com a família Weasley-Potter chegariam ao fim. 

Uma hora ou outra ele precisaria voltar e isso o apavorava mais que qualquer outra coisa. Voltar para sua vida antiga estava sendo o pior dos seus pesadelos. 

Às vezes, Scorpius fechava os olhos e pensava em como seria sua vida se pudesse ficar em Hogwarts. Imaginava trabalhando com qualquer coisa que envolvesse as águas do Reino. Marinha. Professor de remo. Exatamente qualquer coisa, ele aceitaria. Não moraria no Palácio, evidente, e ficaria satisfeito com qualquer pequeno apartamento pelo Reino. Conseguia se ver mantendo uma longa amizade com os irmãos Potter e com Fred. 

Tentava não pensar em Rose na sua vida, nesses momentos imaginários, principalmente pela hipótese ser a mais impossível de todas, na sua concepção. Entretanto, quando se sentia mais desesperado, precisando que sua mente o alienasse um pouco da realidade, deixava que seus pensamentos imaginassem sua vida com ela, caso Rose não fosse a Princesa de Hogwarts e ele não fosse Scorpius Malfoy. 

Tais pensamentos duravam pouco tempo, porquanto tratava logo de expulsá-los, sabendo que o impossível não se transformaria em possível, não importava o quanto desejasse. 

Evitar Rose não era difícil, porque ela possuía compromissos demais e Scorpius quase sempre sabia onde poderia encontrá-la, no mais, o Malfoy mantinha-se bem ocupado na companhia de Albus, James e Fred e, algumas vezes, com os outros primos, em especial Molly. A prima mais velha de Rose, aproximou-se de Scorpius lentamente e ele não negava que gostava da presença dela, mas era só. Eles se davam bem e o Malfoy tentava restringir o máximo possível o relacionamento deles à amizade, apesar de Molly, nas últimas semanas, ter se tornado mais direta quanto às suas intenções. 

Se ela não fosse Molly Weasley, a prima de Rose, Scorpius provavelmente já a teria beijado, talvez em uma tentativa meio egoísta de seguir com a própria vida, contudo ela era da família dos seus melhores amigos; e não desejava piorar ainda mais sua situação que era terrível o bastante. 

Assim, conseguia ficar longe. Não era difícil, certo; mas era doloroso. 

Ele sentia falta do jeito descontraído e impulsivo da Princesa – mesmo que Rose tentasse agir de uma forma contida em público –, assim como do corpo dela, macio e quente contra o seu; os beijos, que ela retribuía sempre com vontade, entregando-se. Sentia a ausência até das discussões, do modo como Rose ficava corada de raiva e a testa enrugava levemente. Da maneira como ela o fazia se sentir miserável por ser boa demais para Scorpius e, ao mesmo tempo, instigava-o a querer mudar seu, aparentemente, traçado destino. 

Os quatro chegaram à margem e, enquanto James, Fred e Scorpius, atracaram os sculls, Albus saiu correndo para vomitar em uma vegetação ao lado. 

Lily, Roxy e Dominique correram para ele, provavelmente preocupadas. Por outro lado, Molly, Lucy e Rose estavam ainda rindo e pareciam longe de perder de vista a graça. Elas se aproximaram e Scorpius olhou primeiro para Rose, registrando o rosto bonito e sentindo o coração pulsar forte no peito. 

Um tremor percorreu seu corpo por causa do frio quando elas pararam à sua frente.

— Meu Deus! — Rose tinha parado de rir ao perceber que Scorpius estava congelando. — Você já está ficando azul! — e virou-se para James, afirmando: — E sua boca está roxa! 

Bom, Scorpius não duvidava. Ele se sentia azul de frio. 

— Pelo que parece é isso que acontece quando se sai para remar com o James no frio — resmungou. 

— A culpa não foi minha — tentou James.

— A culpa foi só sua — afirmou Fred.

O Potter depositou um soco de leve no ombro de Fred e, em seguida, deu uma bela visão do seu dedo do meio para ele. 

— Vem, vamos entrar antes que vocês congelem — Molly cortou e puxou o braço do Malfoy em direção ao Palácio. 

Scorpius deixou que ela o levasse, caminhando um pouco mais na frente, enquanto ouvia suavemente a voz de Rose conversando com seus primos e sentia aquela comum agonia no peito, que o lembrava que, não obstante estivesse fisicamente perto dela, não poderia alcançá-la. 

A L I CE L O N G B O T T O M

APOSENTOS REAIS DE ROSE WEASLEY – ALGUMAS HORAS DEPOIS DO LAGO NEGRO

Alice Longbottom chegou ao Palácio no final daquela tarde e, assim que deixou suas coisas no quarto que fora separado para ela, pediu para encontrar com Rose. 

Ela e a princesa possuíam o tipo de amizade rara, sólida e sem julgamentos e, mesmo que ficassem anos sem ser ver – como era o caso, porque Alice passara uma longa temporada na França, estudando Artes Visuais –, toda a vez que se encontravam percebiam que nada havia mudado entre as duas, o que sempre deixava o coração de Alice aquecido. 

A Longbottom duvidava que existisse no mundo alguém mais parecida com ela do que Rose. A personalidade das duas era impulsiva e aventureira, ambas amavam a liberdade e, normalmente, tinham opiniões firmes sobre vários assuntos e eram teimosas ao ponto de serem irritantes. E, quando se juntavam, os guardas de Rose já sabiam que precisariam trabalhar em dobro. 

Ela era a filha de um dos melhores amigos dos Monarcas – além de outros membros da família, como Harry Potter e Ginny Weasley, Neville Longbottom, e cresceu junto com os primos Weasley-Potter, o que a fazia se sentir de volta ao seu lar toda vez que chegava em Hogwarts. Ela conhecia todos ali e decorara cada pedaço do Palácio, sem contar que amava passar algumas tardes em Hogsmeade. 

Alice era um pouco mais velha do que Rose, possuía cabelos negros em um corte pixie, olhos intensos e intimidadores quando ficava irritada, além de uma tremenda facilidade de fazer as pessoas gostarem dela. 

Todos gostavam dela, menos (talvez) James Sirius Potter.

Há dois anos, quando Alice decidira ir embora, a fim de seguir seu sonho de carreira como artista plástica, ela deixou mais do que desejava em Hogwarts. 

Na época, ela e James viviam um relacionamento amoroso meio conturbado, cheio de voltas e voltas, mas que sempre acabava do mesmo modo no final, ou seja, com Alice na cama dele. Os dois eram determinados nos seus próprios saberes e, quando colocavam algo na cabeça, tornava-se quase impossível de tirá-la. E, então eles brigavam. E muito, por coisas triviais e pelos seus sentimentos (ou a dificuldade de Alice de admiti-los). 

Ela ainda se lembrava do olhar de James no dia em fora embora, e último que se falaram, a mistura de irritação com mágoa tão clara no castanho-esverdeado. 

Ao contar para James que se mudaria por um tempo para a França, deixou evidente que aquilo se tratava de um término. Pensou estar fazendo a coisa certa. Seus sentimentos pelo Potter eram nublados, confusos e a deixavam constantemente perdida e Alice achou que uma temporada longe a ajudaria a se entender. E, de fato, ela conseguiu compreender a si mesma e o que descobriu a deixou não mais perdida, mas desesperada, porquanto ficara evidente o que sentia por James e ela tinha quase certeza que o havia perdido.

Alice o magoou, ela sabia. Agora que voltara à Hogwarts, sentia-se ansiosa para vê-lo e, ao mesmo tempo, com medo das possíveis reações dele. James era orgulhoso e, no mais, Alice não havia nem sequer decidido se o abordaria e apenas falaria o que sentia ou se esperaria para poder analisar como o Potter estava, afinal, dois anos haviam se passado. Ele poderia até estar envolvido com outra pessoa, o que Alice não duvidava; James sempre fora um sucesso com o jeito confiante e inteligente, aquele sorriso bonito demais, os cabelos desgrenhados e os olhos castanhos com pontinhos verdes. 

Retirando Alice dos seus devaneios, Rose entrou no quarto como um furacão, soltando um gritinho de felicidade e jogando-se contra a Longbottom para um abraço apertado e demorado. 

— Você está aqui! Você está aqui! — falou Rose, rindo e pulando enquanto ainda não havia largado Alice. 

— Eu estou aqui! Eu estou aqui! — riu, devolveu toda a empolgação de Rose na mesma medida. 

A ruiva segurou Alice pelos ombros, afastando-se um pouco para olhá-la melhor. 

— Ainda não acredito que você finalmente está aqui — ela disse em um tom mais sério e Alice conseguiu perceber toda a sinceridade de Rose e como sentira a falta da sua melhor amiga. 

— Eu precisava voltar. Fiquei sabendo que você tá ferrada — lançou um sorriso ladino para Rose. 

— Ferrada? Ferrada é pouco — resmungou Rose e, enfim, soltou a morena. — Mas como você está? Como foi a viagem até aqui? Você já viu o James?

— Vamos falar de mim depois — fugiu Alice. — Então quando você diz "ferrada é pouco" isso quer dizer que vocês não conseguiram encontrar nenhuma brecha na lei? — indagou ao passo que a Weasley a puxava para que se sentassem na enorme cama da Princesa. — E que você ainda não está apaixonada por Ethan?

O rosto de Rose se contorceu em uma expressão de dor.

Apesar de Alice ter estado os dois últimos anos longe, as duas mantinham uma à outra atualizadas sobre suas vidas, assim a Longbottom sabia, mesmo que superficialmente, sobre o problema de Rose com o Parlamento e sobre Ethan Wood. 

— Não e não — ela deu de ombros. — Ainda estamos procurando algo, qualquer coisa que possa ajudar e Ethan é… Legal. Ótimo, sério. Mas nós nunca… Nada, sabe. 

— Nunca se beijaram?

Rose negou. 

— Não, mas acho que deveria, não deveria? Quer dizer, se eu o beijar pode ser que sinta algo. 

Alice assentiu de leve. 

— É — ela observou o rosto da amiga, conhecendo Rose melhor que qualquer outra pessoa. — Mas você não parece muito animada. 

Rose suspirou e deixou o tronco cair na cama, olhando o teto. 

— Preciso contar algo para você — ela disse, parecendo meio nervosa. — Eu queria ter falado com você antes, mas fiquei com medo de alguém ver nossas mensagens — explicou Rose.

— Você sabe que pode me contar qualquer coisa — lembrou Alice, o que era uma verdade. 

A Princesa virou o rosto para a amiga e elas trocaram um tipo de olhar que significava que aquela conversa morreria naquele cômodo. 

— Então — Rose começou — meio que eu beijei outra pessoa

Alice não esperava por essa. 

— Como assim meio? E que outra pessoa?

— Meio não — corrigiu a ruiva — Eu beijei mesmo. 

— Quem? — insistiu Alice. 

— Lembra que eu falei que Scorpius Malfoy veio passar uma temporada em Hogwarts? 

Alice, definitivamente, não esperava por essa. 

— Ah. Meu. Deus — ela encarava Rose, não conseguindo evitar a surpresa. — Você… você beijou Scorpius Malfoy

Ela cresceu em Hogwarts e, à vista disso, sabia muito bem o que o sobrenome Malfoy significava. 

Rose só sorriu de leve, o que fora suficiente como resposta. 

— Como, infernos, isso aconteceu?

E a Princesa lhe contou tudo, desde o primeiro dia, em que se encontraram na feira e Scorpius fingiu ser somente Hyperion; depois, das brigas e dos outros beijos, das conversas, do que notara observando-a quando ninguém parecia estar prestando atenção e, por fim, do modo como ele parecia estar evitando-a e que Ethan se aproximou enquanto Scorpius se afastava, além de que Molly, e Lyra Parkinson, aparentemente estavam interessadas no Malfoy. Rose confessou que pensava muito nele, às vezes até nos momentos em que se encontrava com Ethan. 

Assim que Rose terminou, a mente de Alice se agitava de medo pela amiga, porque, apesar da ruiva não reparar o óbvio, ela notava. 

— Rose — chamou com calma. — Você está apaixonada por Scorpius Malfoy

Alice era uma pessoa direta e Rose também, então achou melhor apenas ir ao ponto, sem enrolação. 

— Quê? Não — ela soltou um riso abafado e forçado. — É só uma atração idiota. 

— Certeza? 

— Sim, eu não estou apaixonada por ele. 

Elas se encararam, nenhuma das duas querendo quebrar o contato visual. 

— Eu não posso estar — soltou Rose. 

E Alice sentiu o desespero em cada sílaba proferida pela amiga. 






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Notas finais do capítulo

E aí gente, será que alguém vai ser #TeamEthanWood??? Sei que teve gente que já ficou preocupado com a aparição dele antes e, bom vc tinha razão em se preocupar hahahaha

E chegando o começo do prazo para Rose se casar, ainda tem muita coisa para rolar e muito surto dela (e de todos os Potter-Weasley e do Scorpius) hahaha

A ALICE APARECEU! Vocês não sabem como estava querendo colocar ela LOGO na fanfic, porque amo ela com o James Sirius sim e espero, de verdade, que vcs gostem tanto quanto eu hahahaha

Me contem o que estão achando nos comentários! Vi que tem vários leitores novos e, gente, apareçam, eu sou legal (sério hahahah) ♡♡♡



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