Tudo estava desmoronando, numa noite dormi empregada e noiva, noutro dia, recebi minha carta de demissão logo quando cheguei a pequena pensão da dona Lis e seu Ernesto. Me disseram que gostavam muito do meu trabalho, mas que eles poderiam administrar a pensão sozinhos, aliás, pra que eles precisavam de alguém formado em administração pra cuidar de um lugar tão pequeno e isolado que mal mente via uma alma penada, dirá um hospede.

Mas tudo bem, poderia encontrar um novo emprego, meu casamento estava próximo e eu e Tadeu conseguiríamos organizar tudo. Balela, o cretino marcou comigo no café que sempre íamos para me dizer que não estava dando certo e que era melhor cada um seguir seu caminho. Deve ter encontrado outro rabo de saia, mas já era de se esperar, namoramos quase 8 anos pra ele me pedir em casamento, dizia que não estava pronto para assumir um compromisso sério, deveria ter dado um pé na bunda nessa época.

Fato é, não poderia continuar naquela cidade atrasada. Liguei para algumas amigas da época da faculdade, felizmente para elas e infelizmente para mim, cada uma tinha sua vida. Suzane estava casada e tinha acabado de ter seu primeiro filho, Alice estava morando fora do país, sobrou Ester. Passei quase 3 dias tentando entrar em contato, quando eu já estava desistindo quando recebi uma ligação, atendi o telefone surpresa, era Ester:

— Alô, recebi uma ligação desse número. Quem é? – Uma só, ela estava sendo otimista.

— Oi, é a Alana, da faculdade – Esperei que ela me reconhecesse, afinal, sempre saiamos.

— Ah, Alana Beltrão? Da turma de Administração?

— Isso! – Respondi um tanto aliviada, poupo-me de ter que relembrar tudo. Interrompendo meu pensamento, ela continuou.

— Quanto tempo, nunca mais nos falarmos desde que voltou pra sua cidade, posso te ajudar em algo? – Não me recordo de tanta cordialidade vindo de alguém a muito tempo, mas já que ela foi direta, resolvi ser também.

— Ah, bom, na verdade sim – Continuei – Eu estou pensando em voltar para capital, e estou a procura de um emprego. Gostaria de saber se você conhece algum lugar que esteja precisando de... – Ri um pouco, pois estava sendo bem direta, mas antes de continuar ela interrompeu novamente.

— Uma administradora? – Rimos e ela continuou – Tem um hotel, que está prestes a inaugurar nas próximas semanas, soube que eles vão abrir seleção, inclusive de gerente. Mas não sei exatamente quando.

— Isso é maravilhoso, e será que eu encontro alguma pensão que eu possa ficar até lá?

— Infelizmente, não conheço nenhuma – Após um súbito silencio, ela continuou – Você poderia ficar aqui em casa por algumas semanas, até você conseguir um lugar pra ficar.

A oferta dela veio em bom momento, mas como poderia ficar na casa de alguém que não vejo a anos. Pensei um pouco, mas naquele momento eu não tinha outra alternativa, aceitei, combinamos os detalhes da minha chegada e em seguida desligamos. Já estava tudo resolvido, arrumei minhas malas e liguei para meus pais, contei o que estava prestes a fazer. Minha mãe, um pouco relutante, concordou em se desfazer das coisas do meu apartamento e entregar as chaves ao proprietário. Um pouco mais tarde daquele mesmo dia, fui até a rodoviária, comprei passagem para o primeiro ônibus que sairia no dia seguinte.

Acordei as 5 horas, peguei minhas malas, coloquei as chaves embaixo do tapete de entrada do apartamento e sai. O primeiro ônibus era as 6:20, fui a primeira a entrar, sentei na poltrona nada confortável, mas felizmente, acabei dormindo.