Encontro Casual escrita por Capitain Sephyr


Capítulo 1
Fogo e Ar




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Ainda estava escuro quando o garoto acordou na cama bagunçada de seu pequeno apartamento. Se sentou na cama, passou suas mãos nos cachos azuis bagunçados de seu cabelo, suspirando.

Olhando para seu lado esquerdo, viu a pequena cômoda de madeira ao lado de sua cama, povoada com garrafas de bebidas alcoólicas vazias e cigarros de maconha apagados. Algumas imagens da noite anterior passavam em sua cabeça rapidamente.

 

"But I got a girl who can put on a show

The dollar decides how far you can go"

O garoto ouvia a música ecoando em sua mente, entorpecido por álcool, drogas e desejo, com seus sentidos confusos, ele acende mais um cigarro.

 

Agora a dor de cabeça que o garoto sentia parecia ter um motivo. O cheiro de canábis ainda embebia o ambiente, deixando o garoto enjoado. Ainda sentindo o gosto de bebida em sua garganta, olhou para seu lado direito, vendo o corpo inconsciente de uma garota. Mais uma vez, lembranças lhe invadiam a mente em um piscar de olhos.

 

Suas mãos ligeiras corriam pela carne bronzeada da garota, vezes acariciando, vezes apertando. Alcançavam seu cabelo, puxando com firmeza seus cachos cor de chocolate, sendo recompensado com os doces sons de seu prazer. Admirando o corpo desnudo da garota em seu colo, ele a puxa para um beijo embebido de prazer e desejo, sentindo o gosto de vinho barato em sua boca. Então, ele fita seus olhos. Seus belos olhos, brilhantes esmeraldas.

 

Suspirou. Mesmo com todos os entorpecentes do mundo, nunca seria capaz de esquecer aqueles olhos. Olhou mais uma vez para a garota e, hesitantemente, aproximou sua mão de seus macios cabelos para um breve carinho, mas parou antes de encostar em seus cachos, incerto. Com cuidado, decidiu se levantar da cama. Colocou uma jaqueta e chinelos e foi para fora do quarto, na pequena sacada de seu apartamento.

Imediatamente ao sair do ambiente fechado que antes estava e sentir a gelada brisa da madrugada, se sentiu aliviado do cheiro de álcool e drogas que antes o infectava. Porém, o cheiro de sexo ainda era presente. Encostou na cerca de segurança na beira da sacada, observando o horizonte. A vista não era das melhores, mas também não era das piores. Ao alcançar o bolso de sua jaqueta para pegar um cigarro, encontrou uma folha de papel dobrada. Curioso, decidiu averiguar seu conteúdo, visto que não se lembrava de ter colocado aquilo em seu bolso. Se tratava de uma carta.

 

Ashley,

Eu sei que poderia simplesmente te falar isso por mensagem, mas quis ser um pouco mais brega, por conta do assunto que quero falar.

Eu não sou bom com palavras então vou ser direto, eu acho que tô gostando de você. Eu quero ter algo mais do que só uma transa vez ou outra. Quero te levar pra sair, num encontro de verdade.

Ass: Blue Boy

 

O garoto não se lembrava de ter escrito isso, apesar de estar assinado com seu nome, e conter as palavras que ele desejava tanto dizer. Suspirou.

Era tão simples, o objeto de seu desejo estava dormindo em sua cama. Ele poderia simplesmente deixar a carta na cômoda ao seu lado e sair, e quando voltasse teria uma resposta. Parecia tão simples, mas não era. Nem de longe.

Desde que Blue Boy conseguia se lembrar, ele e Ashley sempre tiveram uma conexão. O que começou como uma simples faísca, com flertes e olhares sugestivos, escalou a uma chama forte, ardente, regada a drogas e múltiplos orgasmos por noite. Mas ele queria mais.

Blue boy nunca foi o tipo de pessoa que se apaixona. Para ele, era muito mais fácil manter uma relação estritamente carnal com alguém. Já havia se relacionado com tantas pessoas que já havia perdido a conta, sem nunca ter vontade de criar laços.

Mas Ashley era diferente.

Ashley não era como as garotas com quem Blue Boy ficava. Ashley era aquela garota popular que as outras garotas imitavam e que os garotos desejavam, mas ninguém nunca foi capaz de verdadeiramente tê-la. Sempre astuta e decidida, Ashley sabia exatamente o que queria e como conseguir, e não media esforços para fazê-lo. Era difícil defini-la, mas podia ser comparada a um tigre. Selvagem e belo, indomável. Um exímio predador, que calculava seus movimentos perfeitamente para capturar sua presa com sucesso.

Mas não era só de cálculo que Ashley vivia. Como o próprio vento, era livre e despreocupada, e sabia muito bem como abalar uma situação. Uma festa não era uma festa sem que Ashley estivesse presente. Assim como o vento, Ashley não se dobrava por ninguém. Blue Boy nunca havia visto Ashley abaixar a cabeça ou o tom de voz em qualquer circunstância, sempre mantendo sua postura. Ashley sabia se impor.

Os dois amantes eram parecidos em muitos quesitos, e talvez por isso se davam tão bem. Entretanto, se Ashley era o vento, Blue Boy era o fogo.

Blue Boy era selvagem, intenso. Alguns o descrevem como a personificação da caos. Fazia o que quisesse e quando quisesse, sem se importar com as consequências de suas ações. Como o fogo, ele apenas queimava. Nunca perguntava o porque, ou pensava duas vezes. Blue Boy apenas era, mesmo se não soubesse exatamente o que. Blue Boy não tinha medo de nada nem de ninguém, o que acabava o causando alguns problemas com a lei eventualmente. Apesar de tudo, ele tinha boas intenções. As vezes.

Ele não sabia quando, nem o porquê, mas sabia que havia se apaixonado por ela, lentamente. Uma chama em seu coração o consumia de dentro para fora toda vez que seus olhos cor de âmbar se encontravam com as vibrantes esmeraldas nos olhos dela. Diferente da chama do desejo que sentiam um pelo outro, que queimava rápida e intensamente, esta chama queimava devagar, com o estalar de seu fogo produzindo um som calmante e agradável, que o aquecia sem causar queimaduras.

Mas ele estava incerto. Ele se questionava se o coração dela era afetado pelo mesmo fogo calmo e brando que ele.

Afinal, seria apenas algo casual, ou algo mais?

Blue Boy suspirou, finalmente acendendo seu cigarro. Era difícil dizer se Ashley correspondia seus sentimentos. Era difícil dizer o que ela sentia. O único sentimento que Blue Boy sempre notava em Ashley era o desejo, um fogo ardente se alastrando rapidamente por todo o corpo, sem se importar em causar queimaduras.

O fato era que, pela primeira vez, Blue Boy estava hesitante. Ele não sabia o que fazer. Se sentia como um adolescente se apaixonado pela primeira vez, e isso o fazia se sentir estúpido. Ele nunca tivera que ponderar sobre seus sentimentos antes, ele apenas fazia a primeira coisa que viesse a mente, sem questionamentos. Já havia se envolvido com múltiplas pessoas diferentes, mas nenhuma delas havia o marcado tão profundamente. Mas Blue Boy sabia muito bem que Ashley não era como todas as outras.

Ficou claro para ele desde a primeira vez que seus olhos encontraram os dela que ela seria única. Blue Boy ainda se lembrava do bar que foi no dia em que se conheceram. Era seu típico bar de rock, onde todo o tipo de pessoa frequentava e todas elas estavam lá unica e exclusivamente para encherem a cara. Uma banda local tocava algum cover que Blue Boy não consegue se lembrar qual era, mas conseguia sentir as batidas agressivas da bateria ressonando com seu batimento cardíaco acelerado por conta das várias substâncias que havia ingerido. Sentia as cordas da guitarra distorcida vibrarem como se fossem as veias de seu corpo sendo tocadas. A voz do cantor era potente e, junto com a violência do mosh pit que começava a se formar, fazia o chão tremer. Assim como todas as noites, Blue Boy estava a procura de algo para calar seus pensamentos e satisfazer suas angústias, Blue Boy buscava algo para se sentir vivo. Mas assim que colocou os olhos em Ashley, ele sentiu que havia achado aquilo que procurava. Então, fez o que sabia fazer de melhor; a satisfez por uma noite, e uma noite apenas.

Ou era o que ele pensava.

Na noite seguinte, lá estava ele novamente, no mesmo bar, a procura daqueles reluzentes olhos verdes. E assim se sucedeu, até ele finalmente decidir pedir o número do telefone de Ashley.

Blue Boy suspirou, liberando fumaça por sua boca. Parte era do cigarro, parte era vapor que se formava por conta da baixa temperatura do ambiente. Ele não podia mais fugir do fato de que havia se apaixonado pela primeira vez em muito tempo. Não era algo novo, mas ele não estava acostumado com isso.

Ao olhar para o horizonte, talvez em busca de alguma resposta para suas dúvidas, Blue Boy avistou o sol resplandecendo, banhando os céus com toda a sua graça. As faixas de luz atravessando as poucas nuvens que se formavam no céu o iluminavam com um brilho caloroso, fazendo contraste com as luzes artificiais frias da cidade.

Esse era o sinal que ele precisava. Ele não iria esperar mais.

Sem pensar muito, jogou seu cigarro fora e pegou seu bilhete em mãos. O bilhete que continha tudo o que ele queria dizer, mas não tinha coragem. Naquele momento, ele havia decidido não ser um covarde e simplesmente falar tudo o que estava entalado em seu peito por tanto tempo.

Ele finalmente iria confessar seus sentimentos por Ashley.

Em seu momento de certeza, Blue Boy retornou ao seu apartamento, confiante. Seria agora, ou nunca.

Ao por seus pés para dentro, sentiu uma grande onda de decepção. Seu quarto ainda estava bagunçado, as garrafas ainda estavam vazias, mas Ashley não estava mais lá.

"Mas é claro", ele pensou. "Como pude me deixar levar?".

Blue Boy se deitou na mesma cama que antes dividia com sua amada, porém agora estava sozinho. A cama parecia muito mais fria do que ele se lembrava. No final, todos aqueles sentimentos, aquela conexão profunda que pensava ter com Ashley durante o sexo casual, não passava disso. Para Ashley, Blue Boy nunca deixaria de ser isso, e apenas isso.

Um encontro casual.


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Notas finais do capítulo

Eu agradeço a todos que leram até aqui.

Essa história já estava pronta há alguns meses, mas eu havia me esquecido completamente que já havia a terminado.
Talvez tenham notado algumas similaridades com a minha outra história, "O Cravo e A Rosa", e isso se deve ao fato de que ambas as histórias fazem parte de uma saga que estou criando. Fiquem atentos, daqui há algum tempo vou postar a próxima parte.

Agradeço por ter lido, e espero que eu tenha conseguido te entreter e te instigar para as próximas histórias que estão por vir.
Se puder, deixe um comentário. Aceito elogios, críticas, e qualquer coisa que seu coração deseje expressar.

Até o próximo universo,
?” Captain Sephyr.



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