Listras, Poesias e Paixões escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 8
Seven


Notas iniciais do capítulo

Tu sabes que não existe no mundo nada tão instável, tão inquieto quanto o meu coração. (Johann Goethe)



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Chego em casa com a sensação de estar flutuando, mesmo que a lembrança da expressão decepcionada de Paulo aparecesse diante de mim, eu não conseguia esquecer o que ele me fez sentir no terraço do clube, o toque e o calor, e o olhar sem dúvida. Nunca haviam me olhado daquele jeito.

Em casa todas estão quietas, dou uma volta silenciosa pela cozinha e como o que encontro pela geladeira, depois subo pro meu quarto e começo a tirar a roupa, preciso muito de um banho. Então, meu telefone toca.

— Alô? _ atendo.

Silêncio.

— Quem está falando?

Silêncio.

— Ah vai se ferrar...

No mesmo instante que meu dedo toca na tela ouço uma voz parecida com a de Paulo.

— Ei!

Quê?!

Ligo de volta.

— Paulo?

— Oi.

— É você mesmo? Aconteceu alguma coisa?

— Sou eu sim. Aconteceu sim, agora tenho um chip só meu então pensei que você iria querer meu número.

— Ah sim, claro. Obrigada.

Paulo e eu trocávamos mensagens pelo facebook quando ele roubava o celular da irmã porque o dele havia quebrado, ou então pelo tablet que era o único bem que ele tinha.

— E você chegou bem em casa?

— Sim, estou bem. E você?

— Eu ainda não cheguei em casa.

— Tá aonde?

— Na rua. A caminho de casa.

— Você não tem medo de andar esse horário na rua?

— Acho mais fácil outra pessoa ter medo de mim. _ disse ele rindo.             

— Nossa, eu não pensei isso de você, sério.

— Eu sei bebê, só não quero que passe alguma blitz por aqui hoje.

Ficamos em silêncio por alguns segundos até que eu lembrei de algo que vinha pensando a semana toda.

— Paulo.

— Sim?

— A gente pode tentar não se falar todo dia?

— Por quê?

— É que... eu meio que, estou me apegando a você.

— E você acha isso ruim?

— Eu não sei dizer, só faz eu me sentir insegura.

— Olha só, eu acho que você deveria parar com isso, com esse medo bobo, quantas coisas você já deve ter perdido por causa disso.

— Não é algo que eu consiga controlar. _ murmurei, me sentando na cama.

— Olha só, eu não quero parar de falar com você, eu gosto disso, mas se você não quer, eu paro aqui mesmo.

Respiro fundo.

— Tudo bem, eu entendo, não quero que você vá embora, eu também gosto de conversar com você.

— Então tudo resolvido.

— É. _ sinto vontade de rir. _ Eu preciso ir tomar banho.

— Quer ajuda?

— Quê?

Ouço a risada de Paulo do outro lado da linha.

— Só quero ser prestativo.

— Não obrigada, sei tomar banho sozinha. _ respondo rindo.

— Ok.

— Boa noite.

— Boa noite. Beijo.

— Beijo.

Desligo o telefone e olho a tela do celular com um desejo enorme de que a última palavra que eu disse se realizasse novamente.

Mas eu havia acabado de estabelecer uma friendzone entre mim e Paulo, então talvez aquilo não fosse acontecer tão cedo, mas meu lado maduro me reafirmou que aquilo era o melhor a se fazer.

Eu precisava me curar primeiro, precisava resolver coisas que nem eu mesma conhecia.

***

Durante a semana que se seguiu eu comecei a escrever versos aleatórios, pela agenda ou no caderno, meio sem destino. Até que voltei ao site que postava poemas e escolhi alguns, senti que eles não podiam ficar ali pra sempre, e Paulo e nossas conversas me faziam sentir viva de certa forma, não sabia explicar. Às vezes eu percebia vovó me olhando com um sorrisinho no rosto, ela ainda não estava 100% bem mas me conhecia como ninguém.

Depois de terminar uma resenha entediante decidi entrar no facebook e comecei a ver umas postagens, do nada a foto de Natália apareceu, ela e umas amigas com bebês numa creche, então lembrei que o curso dela era de pedagogia. Sem pensar duas vezes mandei uma mensagem e logo fui respondida. Conversar com ela me trazia respostas sem perceber, e eu meio que precisava de um norte agora.

***

Antes de dormir fiquei encarando o forro do meu quarto enquanto lembrava do que Natália havia me dito. “Vai lá e arrisca, o pior que pode acontecer é eles te darem uma nota baixa, isso não quer dizer que você não é poetisa.”

Então era isso que eu ia fazer, ia me inscrever no concurso de poesia do clube, mesmo com minhas poesias antigas ainda podia tentar algo, e talvez fazendo isso eu conseguisse voltar a escrever com mais facilidade. Mas ninguém podia saber disso. Não ainda.


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