Listras, Poesias e Paixões escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 5
Four


Notas iniciais do capítulo

Mas descobri que não é verdade essa o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar. (Khaled Hosseini)



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Quando eu tinha quinze anos conheci um site de fanfics através de uma colega de turma do ensino médio, ela tinha o cabelo bem cacheado e trocava de óculos todo mês, amava animes e livros em geral, ela me incentivava a escrever sem perceber, nesse período eu comecei a escrever poesias, as primeiras saíram uma bosta mas com o tempo elas foram melhorando, e eu fui sofrendo mais então foram ficando melhores.

O nome da garota era Natália, ela mudou de cidade quando entramos na faculdade a três anos atrás, as vezes conversávamos por mensagem mas nossa ligação eram os livros e poemas, então quando parei de escrever meio que paramos de nos falar.

Queria encontrá-la de novo, talvez ela me dissesse o que fazer.

***

Hoje o dia pareceu passar mais devagar, chego em casa depois de uma corrida na praça e Carol está brincando com a vovó na cozinha, passo direto para o quarto.

Depois de tomar banho e me enrolar no roupão abro meu notebook e como num impulso digito um endereço eletrônico que me leva à uma página que não visito a algum tempo, e as lembranças que retornam pra mim parecem dizer que aquilo tudo aconteceu ontem e não a meses atrás.

Dizem pra abraçar enquanto é tempo

Pra conversar enquanto há fala

Pra beijar enquanto se pode

Mas eles só sabem falar o que dá tempo de fazer

E não sabem o que fazer depois que o tempo acaba

 

Eles dizem pra valorizar

Pra amar

E aproveitar

 

Isso nós fazemos

Amamos profundamente

Só não sabemos o que fazer

Quando alguém se vai da vida da gente...

 

Lágrimas enchem meus olhos e eu lembro das sensações.

Tinha esquecido disso, como as palavras acabam eternizando nossos sentimentos.

E agora novamente uma outra versão de mim me questiona por que eu parei de escrever... e o rosto dele surge na minha mente.

Que merda.

Preciso falar com alguém.

***

— Você acha isso?

— Acredito que sim. Ainda não tinha me dado conta mas acho que tem algo a ver.

Estou jogada na cama agora com meu vestido tomara que caia enquanto Gabriel fica pensando alto no telefone, eu apenas suspiro.

— Acho que... como ele foi meu primeiro namorado...

— E único.

— Mas teve o Lúcio também.

— Mas ele não assumiu você!

— Ah sim... ele era um cafajeste.

— Canalha.

— Pois bem... eu estava analisando e acho que ele levou muito de mim com ele sabe, porque fazíamos muitas coisas juntas, e isso incluía músicas, filmes e poemas. Ele gostava. E você sabe que o que a gente menos quer depois de um término é pensar na pessoa...

— Então pra eliminar ele dos seus pensamentos, você eliminou tudo que se relacionava a ele.

— Sim.

— E com isso foi sua arte.

— Parece que sim.

— NÃO FOI NÃO!

— Gabriel...

— Eu sei que você pensa que foi Nicole, mas eu sei que não. Isso apenas adormeceu em você. O Márcio foi embora mas ele não pode ter levado uma parte de você. Você já tinha isso antes dele.

— É... pensando por esse lado...

— Mas eu fico feliz que você tenha descoberto isso. Já ajuda bastante.

— Sim... eu sou muito complicada e dificilmente me entendo.

— Já te falei que você precisa ir num psicólogo.

— Não sei com que dinheiro... ainda estou fazendo faculdade esqueceu?

— Como eu poderia esquecer que você ainda está estudando pra me defender nas tretas da vida?

— Vai economizando pra me pagar, isso sim!

— OK... _ ele dá uma gargalhada _ Mas antes trata de encontrar o que foi perdido. Tô aguardando novos poemas.

***

Passo o restante da noite lendo meus poemas antigos e os comentários deixados no site por pessoas que eu não faço ideia de quem sejam, mas que têm um lugar no meu coração. Muitos fazem viagens nos poemas e me mostram coisas que nem eu mesma tinha visto. E com essas lembranças eu me preparo pra dormir com uma sensação boa, talvez novas palavras estejam sendo encaminhadas para mim, gosto de pensar nelas como um presente, e mal posso esperar para recebe-las.

Eles te elevam às alturas

Depois cortam tuas asas

E te olham cair...

 

Eles querem que teus sonhos mudem

Querem te ver nadar em águas rasas

Querem te ver sorrir

 

Me obrigaram a ser o que eu não queria

Indiretamente

Obrigaram

 

Mas um dia vou fazer o que eu quero, espero

Completamente

Realizada.

***

Hoje fiquei com vontade de ir de bike pra faculdade, vai demorar um pouco mais do que de ônibus mas decido sair mais cedo. Enquanto reviro meu quarto à procura da minha agenda de unicórnio, totalmente essencial na minha vida, ouço o barulho de notificação do facebook no meu celular.

Facebook? Mas eu nem uso esse aplicativo, a não ser para ver memes, que me ajudam a superar os sofrimentos com risadas e ironias.

Quando deslizo o dedo na tela vejo que é uma solicitação de amizade. Paulo Oliveira.

Meu coração para por uns segundos enquanto meus olhos se arregalam. Se alguém me olhasse agora pensaria que eu estaria vendo uma nota vermelha em Processos Jurídicos ou que Harry Styles tivesse lançado um novo álbum mas na verdade eu apenas estou vendo um homem negro com cara de malvado mas que na verdade me olhou de um jeito surreal no sábado e sim, eu queria muito que ele me pegasse mas acho que o primeiro passo é aceitar essa solicitação de amizade.

Mas espera aí.... Natália sempre dizia que não devemos ser tão apressadas em responder mensagens ou seja lá o que fosse pra machos... ele vai pensar que eu estava plantada do lado do celular esperando ele me encontrar... JAMÉ. Tenho que esperar até chegar na sala de aula.

Pego a bicicleta a todo vapor e chego na universidade em tempo recorde.

***

Chego na sala um pouco antes da professora, Geane está sentada no cantinho como sempre, ela tem um metro e meio então as vezes parece uma criança numa sala de faculdade, Milly chega atrasada como sempre e ficamos conversando sobre o clima enquanto suspiramos e analisamos o conteúdo de hoje em nossas agendas.

Milly está com o cabelo solto, ela fez mechas em caramelo e está linda com seus cachos volumosos, ela me lembra Natália, só que em uma versão branca, Natália vinha de uma família de afro descendentes, e imediatamente pensar em Natália me faz pensar em Paulo e na solicitação dele no meu facebook. Socorro.

Será que aceito agora? Acho que não vou aguentar mais. Tem que ser.

E num clique lá se vai minha reputação de garota difícil que não esperou nem uma hora pra aceitar a “amizade” de um cara gato.

***

MENSAGENS

— Então... você é você?

— É.. Parece que sim.

— Gostei da sua foto de perfil.

— Obrigada S2

Minha foto não é tão recente, quando cortei meu cabelo em channel tirei milhões de fotos e umas três se salvaram, essa era do meu perfil, com o semblante sério e o cabelo escorregando pelo rosto, eu estava bonita realmente.

Então é isso. Passo a aula toda e o intervalo também trocando mensagens com um quase desconhecido, e nossos assuntos são os mais produtivos e interessantes, idade, onde moramos, quem estuda e quem trabalha, clima, e poesia. Sim, poesia, e isso me surpreende, porque esse cara insiste em acreditar que eu tenho algo a ver com essa maravilha das palavras... e ele não está errado.

***

MENSAGENS

— Nós podemos tentar não conversar todo dia?

— Sim, como vc quiser.

 

Coloco o celular na cama e suspiro, já vão dar onze horas e aqui estou eu falando com um cara sobre nossas comidas preferidas. Eu preciso saber se estou pisando em terra firme, e a última coisa que quero é me apegar a um desconhecido pelo celular, a dependência me assusta.


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