Listras, Poesias e Paixões escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 3
Two


Notas iniciais do capítulo

O que percebo agora é que não importa o que a gente leva, mas o que a gente deixa. (Jennifer Niven)



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O domingo amanhece preguiçosamente e fico um tempo na cama antes de levantar e lutar para tomar banho. Essa é a realidade, se eu não for sair pela manhã meu cérebro simplesmente acredita que eu não preciso tomar banho. E não tomaria mesmo se fosse fazer faxina mas domingo é dia de eu fazer o almoço então não é agradável que a cozinheira esteja fedendo.

Quando desço as escadas com meu short com listras pretas e brancas, Carol já está tomando café com leite e todas as demais coisas que a mamãe coloca na mesa, frutas pra todo lado principalmente por causa da vovó, ela tem uma dieta por conta da hipertensão e de um AVC que sofreu a uns anos atrás.

— Bom diaaa. Benção vovó. _ pego a mão dela e a beijo e depois ela faz o mesmo com a minha. Repito o gesto com Carol e mamãe, costume que meu único tio me ensinou, ele mora em outro estado e era mais velho que mamãe, o filho preferido da vovó, todos sabíamos mesmo que ela negasse.

— E então, o que vamos comer hoje? _ pergunta mamãe.

— O que a senhora tem em mente?

— Você sempre faz carne ou frango, mas tô com uma vontade de comer um peixe... e sua avó precisa também.

— Ah mãe, sou um fracasso com peixes.

— Não diga isso minha filha, _ retruca vovó_ você é ótima na cozinha, tem um tempero igual o meu. _ e dá uma piscadela. _ Se quiser eu te ajudo com o peixe.

— Olha só, _ fala mamãe _ parece que a Dona Rosa vai cozinhar hoje...

— Vou só ajudar a Nicole. _ responde ela.

— Tudo bem então. _ respondo_ Compre o peixe.

***

Aquele cheiro insuportável já se instalou na cozinha inteira, mas segundo a vovó é só colocar folhas de canela e água numa panela sem tampa no fogo, e deixar o ar ser purificado. Argh.

Tive um bom progresso com os peixes, mas porque mamãe interviu, se não, só a vovó iria preparar tudo, ela não sabe ensinar direito, não dá pra mudar. Os peixes são pequenos por isso serão fritos, mamãe comprou outro maior mas ela vai fazer outro dia.

Depois do cheiro do peixe, o que predomina é o cheiro da fritura, mas esse é bom e meu estômago já responde o chamado, mas o processo é lento como muitas coisas na vida.

Até que enfim tudo fica pronto e sentamos para almoçar, eu amo esse clima, Carol fica falando sobre as aulas dela que vão começar na escola nova, ela acabou de sair do período II, e eu fico me imaginando no 5º semestre do curso de Direito, que me aguarda amanhã pronto para destruir minha alma e minha saúde mental novamente.

Em dias da semana não almoçamos juntas, minha mãe fica de manhã com a vovó enquanto eu e Carol vamos estudar, à tarde ela vai trabalhar numa escola de ensino médio como professora de Biologia e eu e Carol ficamos com vovó, nos reunimos apenas a noite mas cada uma no seu canto, ultimamente não tenho tido muitos dias de lazer, minhas férias foram rápidas e entediantes.

Enquanto comemos vovó me elogia várias vezes e fica contando suas histórias de culinária e dos improvisos que teve que fazer, como uma vez em que um casal de amigos chegaram do nada em sua casa e já tinha acabado o almoço (nessa época minha mãe morava com meu pai e meu tio ainda não tinha se mudado), então vovó comprou ovo e mortadela e fez um omelete único e nunca visto na face da terra e o casal de amigos pensando até que era uma comida cara... típica pose de pobre que se sente burguês.

Depois que terminamos a louça ficou por conta da mamãe e eu fui para o quarto de Nicole assistir a um filme que tinha prometido ver com ela, sobre uma princesa ruiva que não queria casar. Vovó vai pra sala de paredes alaranjadas e deita numa rede vermelha que ela ama, pra dar o cochilo da tarde.

Vovó tinha consulta aquela semana e mamãe estava procurando uma substituta para poder faltar no trabalho e levá-la, vovó tivera uma vida longa e surpreendente, me encantava quando ela me contava, casou com um homem que dizia amá-la mas que a traiu anos depois de eles terem tido o primeiro filho, ela me disse que mandou ele pra China e depois encontrou meu avô que era metido e jurava que ia levá-la pra cama logo logo, mas ela só ficou com ele depois que se casaram, então ela ficou grávida da minha mãe. A verdade era que meu avô implicava demais com a vovó mas era louco por ela, não cheguei a conhecê-lo pois ele morreu de câncer no fígado quando minha mãe estava grávida de mim, ele era alcoólatra.

Deito com Carol na cama enquanto o filme começa no notebook, tem tv no quarto da mamãe mas ela não quer ir pra lá, então eu acabo adormecendo bem na hora que a princesa ruiva faz o feitiço para a mãe.

***

Hoje foi meu primeiro dia de aula e foi um saco, só tivemos apresentação do plano de ensino e pelo visto nossa avaliação foi mudada, agora vai ser integrada e eu tive uma leve lembrança dos simulados do Ensino Médio.

Agora estou na frente da casa enquanto o Sol se põe, vovó está ao meu lado costurando vestidinhos para as bonecas de Carol, o meu bisavô era alfaiate.

A frente da casa precisa de uns tratos, mamãe tem uma amiga que adora plantas e pensava que esse amor passaria para mamãe, mas não funcionou, o capim brota por onde não tem calçada e as plantas mais bonitas nem aparecem ou estão descuidadas.

Uma gatinha aparece e fica brincando correndo de um lado pro outro, ela sempre vem aqui, é branquinha e tem manchinhas pretas e laranjas, ela tem cara de Natasha, mas não posso adotá-la porque mamãe tem alergia à gatos, eu acho que é fobia. Gabriel tem uma gatinha chamada Maggie, ela é um amor, exceto quando me arranha.

Natasha fica parada por um instante e começa a balançar o rabo de um lado pra outro. Vovó a observa e eu também.

— Está vendo Nicole?                              

— O quê vovó?

— A gatinha está hipnotizando o passarinho.

Quando observo um passarinho está parado em cima da mureta da frente de casa, ele olha para Natasha e fica pulando de um lado para o outro.

— Ela vai comer ele?! _ pergunto horrorizada.

— Vai, se der certo. Gatos fazem isso.

Rapidamente dou um pulo e o passarinho se assusta, fugindo, Natasha fica arrasada e sai andando atrás de outra distração. Que horror.

— Assim que os homens fazem minha filha.

— O quê vovó?

— Eles seduzem as mulheres assim.

Balançando o rabo? Começo a rir. Vovó me surpreende todos os dias.

— Ah vovó... só a senhora mesmo...

— É sim, você precisa saber dessas coisas. Eles sempre vem com palavras bonitas e querem tocar a gente, se algum dia um homem quiser te tocar não deixa minha filha!

Arregalo os olhos e vovó continua.

— Por isso que tem moças novas com os seios caídos, por que elas deixam...

Eu me seguro com todas as forças pra não rir mas não aguento. Dou uma gargalhada e vovó ri comigo, ela sabe que meu senso de humor é hilário.

— Tudo bem vovó. Vou tomar cuidado. _ respondo.

E fico observando ela, já a vi sem roupa e pelo visto ela foi muito tocada, e se tem alguma coisa que ela acredita é em superstição, mas ignoro isso. Se vovó soubesse que quase perdi minha virgindade a uns anos atrás ela teria um AVC. Mas escondo essas lembranças e volto a me concentrar na agulha, também estou costurando as bainhas de uns shorts que mamãe fez de umas calças que ela não queria mais, se sair feio ela que venha fazer porque já furei meu dedo umas duas vezes, não tenho coordenação motora como ela, uma professora que consegue desenhar uma célula humana sem molde, por isso escolhi Direito.


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