Listras, Poesias e Paixões escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 17
Sixteen


Notas iniciais do capítulo

Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é o meus pensamentos. E os meus pensamentos são todos sensações. (Alberto Caeiro)



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A noite de um dos dias mais marcantes da minha vida me abraça com um sono profundo e reconfortante, meu corpo está exausto mas ao mesmo tempo tão relaxado que nunca pensei me sentir assim antes.

Minha mãe percebeu que eu estava risonha demais quando ela chegou, mas não ficou indagando nada, mal ela soube que meia hora antes tive que conduzir Paulo para a porta da frente sem a vovó perceber, nos despedimos como se não fossemos nos ver de novo, na verdade, sempre nos despedíamos assim, como se cada beijo fosse o último, e isso tornava um melhor que o outro.

Depois que ele se foi eu ainda não queria tomar banho porque o cheiro dele ainda estava em cada centímetro do meu corpo, então só troquei de roupa e fui ajudar Carol com o dever de casa quando ela chegou, logo depois que a mamãe.

Antes de dormir tomei um banho demorado mas sem molhar o cabelo e minha memória trouxe de volta as lembranças de horas antes, mas eu tinha que me conformar que só veria Paulo na semana seguinte, isso se ele não viajasse, ainda estávamos esperando o resultado da bolsa da faculdade e não sabíamos o que o destino nos reservava.

***

Um vídeo de um garoto abrindo a porta e caindo de joelhos chorando, com a legenda “quando contei para minha amiga que perdi a virgindade”, essa é a forma que conto pra Gabriel a notícia inesperada na manhã seguinte.

G: QUE?

G: WTF???

G: VC NÃO TA GRÁVIDA NÉ?

N: Gabriel, mesmo se eu tivesse não ia ter como saber, porque o óvulo teria sido fecundado ontem.

G: VC AINDA BRINCA COM ISSO!

G: Eu te avisei Nicole, disse pra usar o spray de pimenta!!

N: hahahahahahah, para de drama, devia comemorar comigo, mais uma tarefa concluída para ter uma vida plena cheia de experiências.

G: Ah pronto, agora vai querer dar pra mais?

N: Me respeita que eu não sou igual essas tuas coleguinhas, e para com esse ciúme, o Paulo me tratou com carinho e cuidado, e isso que importa.

G: Certo, ok então, meus parabéns.

N: kkkkk, obrigada, mas vc tá muito chato hj hein, credo.

G: fatores externos... amanhã te explico.

N: tudo bem, quer conversar sobre alguma coisa?

G: Que tal sobre a nova temporada de Stranger Things?

N: Sim! Terminei de assistir ontem!

A manhã de domingo se desenrola preguiçosamente até chegar à tarde quando Gabriel decide aparecer com chocolate e leite condensado.

— Pronta pra afogar as mágoas? _ diz ele na frente do portão levantando a sacola com os ingredientes.

— Que mágoas? _ pergunto.

— Ah, qual é Nicole, todo mundo tem uma mágoa pra afogar.

— Bem... _ abro o portão pra Gabriel entrar _ a única mágoa que tenho é que não vou poder ver meu preto hoje.

— Ah que triste.

— E quais são as suas?

— Acho melhor a gente fazer isso primeiro. _ diz ele olhando para o chocolate.

***

O barulho da colher passando pela panela de alumínio não tem nenhum efeito em mim, mas minha mãe se contorce toda, por isso ela foi pro quarto e ficamos só eu e Gabriel sentados no chão da cozinha, um ventinho entra pela janela acima de nós enquanto ele me conta um resumo das suas últimas semanas.

— Eu só queria uma chance sabe, mas parece que nem isso ela quis me dar. _ fala ele.

— Acho que ela só queria te usar.

— Também, mas eu fico triste por ela não ter usado mais.

— Você não ajuda também né. _ falo em meio a uma risada. _ Mas de verdade, sabe o que eu acho?

— Não, o quê?

— Que talvez ela tenha tido esperança de que você fizesse ela esquecer o ex.

— É...

— Ela falava muito dele?

— Sempre que tinha oportunidade.

— Pois é, ela ainda não tinha se desligado dele totalmente, pensou que você ocuparia o lugar, mas esse é um erro que muitas pessoas cometem, tentam substituir as outras, mas ninguém ocupa o lugar do outro, porque todos somos únicos, mesmo que você saia da minha vida, seu lugar vai continuar aqui, intacto, vai depender de mim ignorar esse espaço ou não, no caso dela, ela nunca se desprendeu nem da ideia da presença dele, quem dirá dele, ficou tentando procurar soluções em outras pessoas, mas as vezes a resposta tá em você mesmo.

Enfio uma colher de brigadeiro na boca e dou de cara com um Gabriel boquiaberto.

— Que foi? _ pergunto de boca cheia.

— Quando você ficou tão inteligente assim?

Reviro os olhos.

— Inteligente eu sempre fui né amore...

— Ah pronto, só porque pulou de série na infância porque aprendeu a ler com quatro anos.

— Inteligência é uma coisa... sabedoria é outra, que eu não tenho.

— E como você sabe disso então?

— Experiência bebê. _ respondo e dou uma piscadela. _ E uns vídeos de uma psicóloga que vi no instagram.

— Você ainda tem instagram?

— Só porque eu não posto foto não quer dizer que eu não use.

— E teu rosto é tão bonito, de qualquer ângulo uma foto fica ótima.

Gabriel tem um bom olhar pra fotografias, eu sei que o sonho dele é seguir essa carreira mas a mãe dele já traçou um caminho na carreira militar.

— Só porque eu sou bonita não quer dizer que eu tenha looks diversos nem que eu vivo viajando. Instagram é pra quem faz isso.

— Nossa Nicole, não tem um santo dia em que você não joga na minha cara que somos pobres.

— Consciência de classe querido, se todos tivessem o mundo seria um lugar bem melhor.

Gabriel começa a raspar a parte que o brigadeiro queimou, não sei porque ele gosta disso, e assim prosseguimos enquanto a tarde avança ao encontro da noite, uma das melhores coisas da vida é estar com alguém que você não percebe a hora passar, faço um registro mental sobre isso, talvez eu escreva um poema depois.

***

Enquanto as horas da noite vão passando eu sinto um pouco de arrependimento por não ter ido ao clube hoje, provavelmente vou perder minha posição na competição mas isso não parece mais ser tão importante pra mim. Paro um pouco e analiso se isso é uma boa coisa, mas não chego a nenhuma conclusão.

Viro de bruços na cama que estou deitada a mais de meia hora e sinto meus braços doerem devido o tempo que fiquei segurando o celular, os vídeos do canal Diogo Paródias tomam meu tempo e eu nem percebo, apenas fico rindo como uma louca.

Por um descuido chuto minha agenda e ela cai no chão, quando me movo para pegá-la vejo que ela está aberta em uma página, a última escrita, a que eu estava escrevendo logo depois de Gabriel ir embora.

Nessa brincadeira

Eu te permiti entrar na minha vida

Bem devagar

Como tudo que você faz

 

Nessa doidera

Você me permitiu entrar no seu mundo

Com leveza

Como tudo que eu faço

Pego minha caneta de Panda, é assim que a chamo já que tem um pandinha na ponta, a ganhei de Gabriel sem nenhum motivo aparente, mas é porque ele ama pandas e seu sonho é pegar um de verdade no colo algum dia. Desejo estar com ele para ver.

Cativando aos poucos

Agora nos tornamos insubstituíveis

Somos um para o outro

Únicos no mundo

Continuo a escrever, e sorrio ao perceber que o livro do Pequeno Príncipe está gravado na minha memória, já o li tantas vezes.

E eu não faço ideia

Do que, no amanhã, nos espera

Mas já decidimos

Que não vamos adivinhar o destino

 

Enquanto isso

Seguimos nessa brincadeira

E de vez em quando você para e me beija

Bem devagar e com leveza.

Quando termino fico me perguntando por quanto tempo meus poemas terão algum verso destinado à Paulo, ou que me façam lembrar dele. Acabo guardando a agenda e decido procurar um filme pra ver na Netflix, Esquadrão 6, começa com tiro, porrada e bomba, por que não?


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