Listras, Poesias e Paixões escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 15
Fourteen


Notas iniciais do capítulo

Estar vivo é sentir saudade.
(John Green)



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Acho que estou namorando, e não apenas virtualmente como pensei que aconteceria, porque Paulo sempre dá um jeito de me encontrar, seja depois da aula ou antes de anoitecer, é certo que não posso sair de casa com tanta frequência porque não posso deixar Carol e vovó sozinhas, mas toda essa situação se passava em mais de três semanas.

O conhecimento que tínhamos um do outro era profundo e isso me impressionava devido ao pouco tempo que nos conhecíamos, mas acredito que isso era apenas uma das faces de relações íntimas, elas não se limitam ao tempo.

Paulo me contou que gostava de dançar e era conhecido como Mc PH devido seu nome, ele já tinha escrito algumas letras mas sempre ficavam inacabadas, ele era meio preguiçoso, isso eu já sabia, e como eu amava música em todas as suas nuances, não foi difícil pra mim adicionar rap e músicas com beats à minha playlist.

Paulo já tinha ido em casa outras duas vezes e mamãe ficou nos espionando pela janela já que não entramos, felizmente ela não me deu nem um sermão sobre camisinha ou essas coisas, não que eu precisasse, porque mesmo que eu quisesse ainda sentia certo medo quando pensava no assunto, Paulo não estava nem aí, ele já tinha dito explicitamente que queria me comer, sim, com essas mesmas palavras, eu apenas fiquei encarando seu rosto enquanto ele continuava a dizer que me respeitava e ia esperar minha decisão. Ok. Não é todo dia que se vê isso.

***

— Vida?

A voz de Paulo sai desanimada do outro lado da linha.

— Oi amor. _ respondo.

— Saí da sala agora.

Paulo está em outra cidade à quase três horas de viagem da nossa, ele viajou pela manhã.

— E aí?

Ele foi fazer uma prova pra entrar numa faculdade e talvez conseguir uma bolsa, a prova seria à tarde.

— E eu perdi o ônibus, peguei outro mas cheguei com meia hora de atraso.

— Meu Deus, Paulo...

— Puta que pariu mano. A mulher me olhou dos pés à cabeça quando eu cheguei. Ela cagou pra mim tá ligado? Cagou.

— Calma Paulo, mas você conseguiu fazer a prova?

— Sim, eu fiz.

— E acha que se saiu bem?

— Acho que sim, caiu o que eu estudei.

— Olha só, isso é uma coisa boa.

— Mas mano, eu posso ser desclassificado por esse atraso, ela abriu uma exceção pra mim, nem sei se vai valer.

— Calma, vamos pensar positivo, a não ser que você queira pensar negativo pra evitar decepção futura...

— Nem sei o que pensar.

— Queria estar aí com você.

— Eu também queria. Tenho que desligar agora, meu celular tá sem bateria já. Vou dormir aqui no hotel e amanhã volto pra casa.

— Ah sim, ok. Boa noite, descansa tá?

— Boa noite, te amo.

— Te amo mais.

A ligação acaba e eu fico analisando o que Paulo disse. Amanhã seria a entrevista na faculdade mas segundo ele, suas chances estão perdidas então ele vai retornar pra casa. Tento não perder a esperança, sei o quanto é difícil alcançar um sonho e um curso de Artes é o que ele quer, ele é dançarino e músico, arte é a vida dele. Enquanto arrumo a bagunça do meu quarto antes que escureça totalmente, praguejo o maldito sistema e até o presidente.

***

Já se passa das onze e antes de deitar me analiso no espelho pra ver se minhas abdominais e agachamentos estão surtindo efeito, digamos que sim, não ligo muito pra essa coisa de corpo perfeito mas percebi que pequenas atividades feitas todo dia podem dar um bom resultado.

No momento em que desabo na minha cama o celular toca, é Paulo. Pelo visto o celular já carregou.

— Alô?

— Mano você não sabe o que aconteceu.

Ele está eufórico. Só me chama de “mano” quando está animado demais ou triste demais.

— O que houve?

— O cara me ligou e disse pra eu ir pra entrevista amanhã!

— QUÊ?!

— Sim! Ele me ligou agora mesmo, meu Deus eu vou pirar!

— AVE MARIA! Paulo, meu Deus que legal isso!

Fico dando pisões no meu colchão enquanto começo a gargalhar.

— Tá vendo como o pensamento positivo influencia? _ falo.

— Mas eu não pensei positivo. _ confessa ele.

— Sério? Eu também não, mas não pensei negativo...

— Que fita.

— Ah, deixa pra lá, o que importa é que você conseguiu passar dessa fase, vamos torcer pra você passar amanhã.

— É, aí é mais difícil mas... vida que segue.

— Vai dar tudo certo meu preto.

— Espero que sim...

Enquanto Paulo termina de me contar os detalhes do dia dele eu me aconchego na cama e fecho os olhos, imaginando que ele está aqui ao meu lado e que seus olhos me observam, como ele sempre faz quando estamos juntos. Então sinto uma coisa no peito que não sentia a algum tempo, a saudade.

***

Meu tio veio nos visitar semana passada, veio sozinho com uma mochila nas costas, sinal de que não iria passar tantos dias. Enquanto conversava com vovó e mamãe sobre o que tinha acontecido na ausência dele, muitas coisas por sinal, eu apenas observava, até o momento em que começaram a falar de mim. Ele se ofereceu pra me abrigar na casa dele caso eu precisasse trabalhar mais longe depois que me formasse, não cogitava essa ideia, ficar sem ver minha mãe e vovó por meses não era algo que me agradava, mas agradeci a proposta e disse que ia pensar no assunto.

Enquanto eu saía da sala ouvi mamãe falando pra ele que eu estava namorando e ele deu umas gargalhadas, é típico da minha família achar que tudo se acaba em casamento, então saí de perto antes que começassem a falar do meu vestido de noiva.


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