Listras, Poesias e Paixões escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 14
Thirteen


Notas iniciais do capítulo

Mas esse coração é tão fácil de ser conquistado,
E você é tão fácil de ser amado,
E nessa vida é difícil continuar apaixonado,
Mas eu me apaixono.
(Geovanna Danforth)



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Antes do próximo sábado chegar meu coração não aguenta de saudade e meu corpo também é claro, e convido Paulo pra gente se ver em algum lugar, ele diz que podemos passear pela cidade.

Enquanto procuro minha camiseta amarela no guarda roupa meu celular toca, e eu logo atendo ao ver que é Gabriel.

— Fala.

— E aí, tudo certo? _ pergunta ele.

— Tudo certo, mas você pergunta sobre o quê exatamente.

— Sobre a sua vida.

— Ah, acho que tá mais ou menos, e com você?

— Eu ainda estou me adaptando a certas situações.

— Situações de que tipo?

— De garotas que mandam nudes.

— Você disse garotas? No plural?

— Na verdade eu só citei um fato que acontece todo dia com pessoas diferentes, mas comigo é só uma garota mesmo.

— E eu posso saber se essa garota tem o cabelo roxo?

— Agora ela disse que vai pintar de outra cor.

— Ai meu Deus, Gabriel, ela é menor de idade!

— Eu também sou, oras!

— Mas você já vai completar 18 anos!

— Quando eu completar eu apago.

— Meu Deus. _ murmuro.

— Qual é Nicole, não vou espalhar e ela não tá nem aí, não temos nada sério.

— Nada mesmo?

— Fui na casa dela um dia desse mas ela estava bem distante.

— Você foi na casa dela?!

— Sim, ela me chamou.

— E ela não tem mãe?

— Tem, mas ela não estava no local do crime.

— Ave Maria.

— Foi até legal.

— Não me diz que você tirou a virgindade da menina...

— Ela não é mais virgem.

Apenas suspiro.

— E não aconteceu nada demais. _ continua ele _ Ela ainda não está pronta pra outras coisas.

— E você quer mais alguma coisa com ela?

— Eu queria que ela me deixasse participar mais do dia, conhecer melhor e tal, mas ela ainda pensa muito no ex.

— Vixi.

— Pois é, e você já decidiu desabrochar pro negão?

— Que isso Gabriel?

— Me diz que não quer...

— Não vou negar que seja uma boa ideia, mas não posso apressar nada.

— Tá certa, como sempre, uma moça sensata, por isso te adoro.

— Ah tá, me ilude que eu gosto.

Enquanto Gabriel continua tagarelando sobre o que fez no dia eu termino de me arrumar, passo um batom roxo em homenagem a Roxinho e sigo pra um lugar qualquer.

***

— Nossa, quando você me disse pra gente se encontrar aqui pensei que ia ser estranho. _ falo enquanto analiso o sol se pôr. Paulo está sentado ao meu lado no banco, estamos debaixo de uma árvore bem grande enquanto observamos as pessoas descerem e subirem dos ônibus.

— É, nesse horário a rodoviária fica mais agradável, de manhã é o caos. _ fala ele.

— Posso imaginar. Você viaja sempre?

— Até que não. Fui visitar meu pai só uma vez depois que ele foi embora, fomos pra um forró juntos.

— Sério? Você gosta de forró?

— Odeio.

— E por que você foi então?

— Porque queria ficar com meu pai. E lá tinha comida também.

— Entendi. _ falo sorrindo.

— E você tá com fome agora?

— Até que não, mas tô com vontade de comer batata frita.

— Eu tô com fome.

— Então vamos procurar alguma coisa pra comer.

Paulo me guia por entre as pessoas e compramos batata frita e coxinha. Depois ele diz que tem outro lugar legal que podemos ir mas precisamos andar mais um pouco. No caminho compro refrigerante até que chegamos num ponto mais morto porque não passa quase ninguém aqui, deve ser porque tem pouca iluminação à noite, mas o sol ainda resiste um pouco até chegarmos.

— Chegamos. _ diz ele.

— E estamos exatamente aonde?

— Na rua, mas agora vamos subir ali. _ Paulo aponta pra uma passarela que parou de ser usada a alguns meses desde que reformaram a avenida principal, essa passarela atravessa a rua de um lado a outro. _ Temos que ir logo porque o Sol já vai sumir.

Rapidamente subimos as escadas e me sinto cansada, afinal comi rápido demais minutos atrás.

— Ui, preciso correr mais. _ falo.

— Cuidado hein, pra não abrir essa sua sainha.

Arqueio as sobrancelhas.

— Então talvez eu deva me vestir como você, com essas roupas largas.

— Ei, ia ficar da hora.

Sorrio e me encosto na mureta pra observar a paisagem que tanto corremos atrás, se eu pudesse seria pintora, e registraria a imagem que estamos vendo, mas infelizmente não nasci com esse dom, e se quisesse tentar algo, teria que me aperfeiçoar por muito tempo.

Paulo se achega a mim e me abraça beijando o topo da minha cabeça, se ele quisesse poderia me pegar no colo e nem ia fazer esforço.

— Fala três qualidades minhas, e três defeitos. E eu digo os seus também. _ fala ele.

— Sério?

— Sério.

— Três qualidades... você é corajoso.

— Sou?

— É. Você é persistente. E é um bom amigo.

— Hum... interessante.

— E os defeitos... você acredita muito no que os outros falam. Acho que se deixa levar por coisas negativas. E os outros não sei, preciso te conhecer mais.

— Certo. Gostei.

— E os meus?

— Bem, qualidades... você é uma boa amiga, você sabe conversar, e você deve ser uma boa advogada um dia.

— Mas eu ainda não sou então não conta.

— Conta pra mim.

— Affs.

— Enfim, defeitos. Acho que as vezes você compra guerras que não são suas, e não deveria fazer isso.

Ficamos em silêncio por um minuto, as conversas sobre a família de Paulo e o futuro dele vem à minha mente, como eu sempre quis me intrometer e ajudar, porque isso é como um instinto meu, mas pra ele, não tinha nada que pudesse ser feito na maioria das vezes.

— E também, _ continua ele _ você ainda não me deu um beijo digno. Esse é um defeito seu.

— Quê? Você fez eu ir pra praia sem roupa de banho e me agarrou lá, aquilo não foi beijo digno?

— Foi, _ Paulo começa a rir _ mas eu preciso de mais beijos dignos.

Solto uma gargalhada e quando recosto a cabeça no ombro de Paulo acabo encontrando os olhos dele e aquela linguagem dos olhos sempre nos estremece, como diria Péricles.

— Tchubiraudaumdaum....

— Você tá cantando a música do Cirilo? _ pergunto.

— Tô. _ responde ele rindo e eu acabo rindo também.

Ele continua me beijando pelo pescoço e depois olhamos a paisagem à nossa frente e eu me pergunto, o que é isso? Será que a biologia é responsável por todo esse alvoroço só pra nos fazer procriar? E essa sensação de paz, por que é tão difícil de encontrar? E quando se encontra, pode ser tão rápido pra se perder...

Afasto meus pensamentos e deixo que Paulo termine o que começou, não tenho tempo pra ficar pensando em que merda vai dar, na verdade eu tenho, mas não agora, agora eu quero as mãos dele em mim de verdade, porque sinto que ele já me tocou a muito tempo e mais profundamente do que qualquer contato físico, mas mesmo que nossa altura seja incompatível, a gente dá um jeito, ele me segura no colo com minhas pernas enroladas na sua cintura e torcemos pra que ninguém nos pegue aqui e faça algum escândalo.

Não escândalo maior do que o que acontece dentro do meu corpo e da minha mente.

***

— Numa passarela Paulo, um lugar a dois metros acima do chão! Não tinha um lugar mais discreto?

A noite já tomou conta da cidade e eu e Paulo voltamos andando por uma rua menos movimentada.

— Eu só queria que você aproveitasse a vista, você que quis pular pra outras partes...

— Como se essa não fosse tua intenção desde o início...

Paulo dá uma gargalhada enquanto eu o encaro, ainda estou recobrando meus sentidos de moça sensata e me dou conta de que foi uma coisa totalmente louca o que fizemos.

— Mas você acha que alguém viu? Já tava escurecendo ó. _ fala ele.

— Mas tem outras ruas né, alguém sempre passa.

— Não viram não bebê, a gente ficou atrás da coluna. _ diz ele dando uma piscadela.

— Espero que não mesmo, iam ver até meu útero.

— E você vem com essa sainha, nada contra, mas assim fica difícil pra mim.

— Ah vai tomar daí... _ falo e dou um tapa na costa de Paulo, nem dói.

Apesar de eu saber que todos somos donos de nossos próprios corpos não é muito aconselhável que as pessoas fiquem se esfregando em lugares públicos, fico torcendo pra que nenhuma criança tenha visto aquilo, seria muito estranho e nojento.

— Quer que eu te leve em casa?

— Não precisa, você vai ter que dar uma volta pra chegar na sua casa depois.

— Não tem problema, ainda tá cedo.

— Ok, _ dou de ombros _ você que sabe.

Paulo pega minha mão e seguimos juntos, a mesma sensação que esteve entre nós minutos atrás surge novamente mas dessa vez, mais contida, e eu o guio até o caminho de casa conversando sobre nosso tempo de escola, descubro que ele dormia na aula de filosofia mas gostava do professor e eu digo que fui trouxa durante um bom tempo na escola, por deixar que outros me explorassem na hora dos trabalhos, mas no ensino médio criei vergonha na cara e selecionei minhas amizades, e aí fui perceber que não tinha tantos amigos.

— Pois é truta, nas horas difíceis que você sabe quem é seu amigo de verdade. _ reflete Paulo.

— Isso é fato. _ falo _ Então, chegamos.

— Essa é sua casa...

— É.

Paulo observa a calçada grande na frente com umas plantas abandonadas no centro, um banquinho todo sujo também, e logo atrás o portão gradeado bem à frente da porta que estava aberta pelo visto. Subimos na calçada e Paulo poderia ver dali o longo corredor que levava até a cozinha.

— Você quer entrar?

— Acho melhor não. Você tá sem batom e sua mãe pode me olhar de cara feia.

Começo a rir.

— Bem, ela pode sim, _ respondo _ mas acho que minha avó ia gostar de você.

— Sua vó é um amor.

— Sim, por isso eu sou esse docinho.

— Um docinho muito gostoso.

Paulo tenta me agarrar mas sou mais rápida e logo chego ao portão, porém, antes de eu abrir o trinco ele me segura e cheira meu pescoço me causando arrepios e eu deixo ele me beijar só mais um pouquinho, afinal, não sabemos o dia de amanhã.

Que horas são mesmo? Será que tem alguém em casa?

— Nicole?

Ouço uma voz parecida com a da... Carol!

Me desprendo de Paulo o mais rápido que posso e acabo encontrando uma Carol de cenho franzido com um urso panda de pelúcia, o seu mais novo xodó, me encarando da porta de casa.

— Oi bebê, o que você tá fazendo aqui? _ pergunto nervosa.

— Nada. O que você tava fazendo?

Olho para Paulo e vejo que ele está se segurando pra não rir.

— Eu estava me despedindo do meu amigo, o Paulo.

— Mas eu não ia entrar? _ diz ele.

— Shh! _ repreendo. _ Carol, a vovó está aonde?

— Ela tá aqui na sala.

— Ah que ótimo! _ abro o trinco da grade e entramos, Carol, como todas as crianças diante de um desconhecido, o encara descaradamente. _ Fala “oi” Carol.

— Oi. _ diz ela.

— Oi. _ responde Paulo.

Sigo para a sala e encontro vovó assistindo televisão, ela não está totalmente recuperada e sinto que ela está meio triste também.

— Oi vó.

Ela percebe a minha presença e sorri pra mim.

— Oi minha filha.

Beijo sua cabeça e deixo que ela veja Paulo.

— Esse é o Paulo, ele veio lhe conhecer.

— Oi meu rapaz. _ diz ela _ Ele é bonito. _ sussurra ela pra mim como se mais ninguém tivesse ouvindo.

Todos rimos menos Carol que analisa tudo do canto da sala.

— A Nicole fala muito da senhora. _ diz Paulo.

— Fala mal ou bem?

— Vovó! _ falo surpresa.

Depois que Paulo diz quantos anos tem e onde trabalha, vovó acredita que ele seja uma boa pessoa mesmo, e ainda diz pra ele não desistir do que quer, não sei porque ela diz isso, parece ter um sexto sentido pra certas coisas porque Paulo fica até meio balançado, a vida dele nunca foi um mar de rosas.

— Vó, o Paulo tem que ir.

— Ah sim, vai com Deus meu filho, e cuidado com a minha neta hein.

— Quê? _ falo mas acabo rindo enquanto nos despedimos.

Na frente de casa Paulo me diz:

— Não falei que iam perceber logo...

— Iam perceber o quê.

— O jeito que a gente se olha.

— Ah é? _ eu sorrio.

— Esse olhar seu aí, de quem quer me pegar.

— Paulo, vai logo vai, antes que a mamãe apareça. _ retruco rindo.

Nos certificamos que Carol não está por perto pra nos despedirmos com dignidade até que eu fico parada na calçada como uma boba vendo meu faraó ir embora.


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