Listras, Poesias e Paixões escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 13
Twelve


Notas iniciais do capítulo

Posso escrever e escrever e escrever agora: a mais feliz sensação do mundo. (Virginia Woolf)



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As palavras vem até mim como cachoeiras. Acho que essa é uma boa forma de descrever o que está acontecendo comigo.

Todos os dias escrevo alguns versos, um ou dois se salvam, os outros eu deixo na agenda, não consigo jogar fora tão rápido, geralmente em outro momento volto pra vê-los e quem sabe refazê-los.

Paulo acaba sendo a inspiração de maioria dos poemas, ou ele ou o que me faz sentir, é certo que estou num período do mês em que meus hormônios estão balanceados, isso é algo bom, me sinto mais produtiva e cheia de energia, mas lembro do início de meu antigo namoro, eu me sentia quase assim, nas nuvens. É incrível como mulheres podem ser conquistadas com um pouco de atenção.

***

Você traz sorriso aos meus lábios

Obrigada por isso

Obrigada pelos comentários

Mesmo os mais hilários

 

Você transforma meu dia

Um nublado em arco íris

Nuvens negras em sol

Vento forte em abraço

Uma risada com estardalhaço

 

Você traz

Você transforma

Amo sorrisos

Amo risadas a toda hora

Obrigada por isso

Obrigada por esse agora.

 

Termino de escrever o poema enquanto analiso as pessoas que passam pelo ônibus, estou a caminho da faculdade e acordei me sentindo preguiçosamente feliz, não sei por que tenho o costume de logo pensar em como as coisas terminarão, eu nunca me conformava com esse papo de “felizes para sempre” quando era criança, e hoje em dia minha mente acaba me levando por esse caminho, eu sempre sou levada a pensar se terei um final suportável com qualquer pessoa que eu me relacione. Parece que todos que chegam a mim estão destinados a partir.

Por isso termino o poema com a palavra “agora”, porque sou consciente das inconstâncias. Antes que eu me deprima, fecho meu bloco de notas e me atento à minha parada.

***

Ainda tenho mais uma fase de competição no clube se quiser chegar às finais, já estou bem atrasada então tenho que tentar entrar nas repescagens.

Estou indecisa entre dois poemas então sento embaixo da rede de vovó no quarto e leio pra ela. Ela ouve com calma e quando termino ela me olha sorrindo.

— São palavras bonitas. Bem escrito. _ diz ela.

— Qual a senhora acha mais bonito?

— Ah, os dois são.

— Mas tem que escolher só um...

— Bem, depende pra quem você vai ler.

Fico pensativa.

Pra quem eu estou lendo realmente? Será que é apenas para os jurados?

Quando o sábado chega já tenho o poema certo em mãos.

***

A luz sobre o palco continua a mesma. Hoje estou de preto então meus lábios pintados de vermelho devem estar chamando atenção.

Eu e mais algumas pessoas estamos tentando entrar na próxima temporada, parece que o número de inscrições aumentou, a maioria de adolescentes pelo visto. Ignoro minhas mãos trêmulas e começo:

— Quando eu te conheci, eu estava sem voz. Tinha gastado minhas energias em prol de alguém que pouco se importava. E você chegou, como de um jeito de quem não quer nada. Me olhou e analisou, como um leitor que lê uma página. E ao final do dia, eu estava dando uma gargalhada. Olha só... Você trouxe de volta a minha voz, e nem precisou fazer nada.

Termino o pequeno poema e percebo que a plateia esperava mais.

Mas eu tinha escrito só aquilo. Simples e subjetivo. Se me aprovassem ok, se não, fazer o quê né.

***

Enquanto eu e Gabriel bebemos drinks estranhos outros participantes se apresentam.

— Eu não sei o que aconteceu com meu coração, ele tá tão bobo, digo pra ele parar, mas ele insiste em permanecer iludido.

Uma garota recita um poema de alto nível de paixão adolescente.

— Eu não sei o que tá acontecendo com meu corpo, ele tá tão solto, digo pra ele parar, mas ele insiste em permanecer livre. _ continua ela enquanto eu olho Paulo de soslaio. _ Eu não sei o que vai acontecer com a minha mente, ela tá tão confusa, digo pra ela ficar calma, mas ela insiste em se desesperar.

A expressão de Paulo diz pra mim que ele não queria estar trabalhando hoje e meu corpo concorda, queria saber qual foi o momento que meus hormônios começaram a dominar meus sentimentos.

— Se desespera porque sabe, que ela pode não conseguir controlar o resto de mim. Se desespera porque sabe, que basta você sorrir, pra tudo dentro de mim explodir.

Sinto uma agonia geral, e uma certa raiva por Paulo não poder escapulir só um pouquinho de onde está.

— Falo pra ela ficar calma, mas ela se apavora, porque até ela mesma, fará meus pés correrem pra ti...

A garota finalmente termina sua apresentação e eu e Gabriel ficamos atentos, agora será o momento de divulgação dos nomes aprovados, e sem tanto suspense Caio fala os nomes como se fosse um listão de vestibular, entre eles está o meu, Gabriel sorri pra mim e depois que eu o correspondo meus olhos encontram Paulo um pouco mais longe de nós, ele sorri pra mim e sinto meu coração ir na boca e voltar, estou com muita saudade dele.

***

Ainda me sinto nas nuvens enquanto voltamos pra casa de moto, na saída do clube enquanto outros participantes me parabenizavam e eu fazia o mesmo, Paulo tocou minha mão meio que escondido e me cheirou sem que ninguém percebesse.

— Eu disse que você ia conseguir. _ murmurou ele.

Sorri em resposta e apertei sua mão.

Agora, quando olho para as luzes na pista que a moto desliza, sinto frio por fora e um calor por dentro, engraçado como nossos sentimentos também influenciam nosso corpo, por isso muitas pessoas perdem a fome quando estão lidando com o término, mas Paulo é sol, e o calor dele aquece até a ponta dos meus dedos, fecho os olhos e tento gravar essa sensação, no fim são sempre as lembranças que me restam.


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