Listras, Poesias e Paixões escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 12
Eleven


Notas iniciais do capítulo

Que você viva sem pressa. Mas que nunca perca tempo. (Braulio Bessa)



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Saí mais cedo do curso hoje, a professora passou um trabalho de pesquisa bibliográfica então já me preparo pro quanto vou sofrer mentalmente depois. Antes que eu pegue minha bike e tome a direção de casa recebo uma mensagem de Paulo, ele quer eu vá a um lugar.

***

— Não acredito que você fez eu vir pedalando até aqui. _ falo ofegante enquanto chego perto dele com a bike ao meu lado.

Paulo vira para mim com um sorriso no rosto, a paisagem atrás dele é surreal. Estamos na praia, uma pequena praia que tem na estrada que leva ao final da cidade. Não tem tantas pessoas aqui porque é um dia de semana então me sinto mais à vontade, nenhum conhecido pra me caguetar pra minha mãe.

— E aí, gostou?

— Sim, _ falo com um sorriso _ eu gosto daqui.

— Já veio outras vezes?

— Sim, nos feriados e nos aniversários da minha irmãzinha, é como um ritual, ela ama praia.

— Como eu. _ fala Paulo e do nada tira a camisa e pula a mureta de proteção da orla aterrissando na areia fofa um pouco mais abaixo, fico um pouco decepcionada por não poder admirar seu corpo mais tempo, ele é de uma só cor apenas, diferente de mim que sou mais clara nas partes em que não pego tanto sol.

— Ei! _ grito me encostando na mureta. _ E eu?

— Vem! _ fala Paulo sorrindo me chamando com as mãos.

Ok, eu estou com uma bermuda que vai até um pouco abaixo dos joelhos, de listras azuis e brancas, se essa bermuda manchar minha mãe vai saber por onde eu me aventurei. Olho para Paulo novamente, ele me espera lá embaixo, nem é tão alto assim, será que é mais de dois metros?

— Vamos Nicole!

Encosto a bicicleta na mureta e tento me equilibrar em cima dela pra pular, e meu salto desastroso acontece com uma provável queda à espera, mas com os braços firmes do grande faraó me esperando, pelo menos não me quebrei toda, só fico vermelha e quente por conta de toda aquela pele escura ao meu redor.

Nos afastamos e ficamos rindo um da cara do outro, Paulo está feliz hoje e isso me dá uma sensação boa, nos últimos dias ele estava meio longe, talvez fosse por causa da família.

— E então, vamos nadar? _ pergunta ele.

— Você tá louco? Cheirou alguma coisa?

— Não. _ responde rindo.

— Não trouxe roupa pra isso, você poderia ter me dito antes que eu vinha preparada.

— Ah, mas queria fazer surpresa.

— E fez mesmo.

— Você gostou?

— Sim, amei.

O vento está forte aqui, até que o sol deu uma amenizada, e do nada Paulo me olha daquele jeito, sim daquele jeito, e eu sei que estou olhando desse jeito também mas alguém tem que parar.

— E como estão as coisas na sua casa?

Paulo dá de ombros.

— A mesma coisa. _ diz ele e começamos a andar sobre a areia.

— Eu vi uma bebê pretinha e gordinha quando vinha pra cá, lembrei de você.

— Devia ser linda mesmo mas não quero ser pai.

— Por que não?

— Acho que não vou ser um bom pai.

Penso um pouco antes de falar, preciso escolher palavras certas.

— Bem, ninguém é obrigado a ter filhos, mas caso você acabe fazendo descendentes por aí, _ nós sorrimos _ acredito que você pode ser um bom pai sim, é só você deixar o amor da sua filha te moldar.

— Filha?

— Sei lá, eu te vejo como pai de menina.

Paulo sorri.

— Eu acho essas bebês lindas, mas se eu tivesse uma não humilharia ela com palavras.

Paulo não me olha de volta, ele olha o horizonte e eu o analiso.

— Sim, essa é uma boa atitude.

Começo a sentir calor então começo a pensar melhor, já que daqui vou pra casa não preciso trocar de roupa e se eu chegar encharcada apenas falo pra minha mãe que peguei uma chuva ou que estava tomando banho na praia com um ficante. Ótimo.

Tiro minha blusa azul e a coloco dentro da bolsa que joguei num canto dali, ainda bem que meu sutiã é novo e discreto, um preto que mamãe comprou. Quando me dou conta Paulo me observa surpreso, ele evita me olhar mas sei que não consegue, começo a rir.

— E aí, a gente vai tomar banho ou não?

— Agora sim...

Antes que eu grite ou faça escândalo ele já me tirou do chão, afinal ele é bem maior que eu e em meio às minhas gargalhadas nós entramos na água e o efeito refrescante é automático, se pudesse queria ser uma sereia, amo essa sensação de estar na água.

— Agora me deu fome. _ Paulo diz.

— E por aqui não estão vendendo muita coisa eu acho, mas na minha bolsa tem paçoca.

— Paçoca?

— Sim.

— Nossa eu amo paçoca.

— Sério?

— Sério, eu amo tanto que acho que vou te apelidar de paçoca.

Começo a rir até me dar conta do que ele disse e aí já deu merda de novo. Por que as coisas tem que ser assim?

— Paulo...

— Hum?

Eu mergulho meu corpo até o pescoço na água como que para me esconder dele mas aí ele faz o mesmo.

— Não faz isso. _ peço.

— Fazer o quê?

Suspiro e nem percebo que ele se aproxima de mim a cada segundo.

— Esse... cativar. Acho que é essa a palavra.

— Cativar?

— Sim, já leu o Pequeno Príncipe?

— Acho que não.

— Cativar é como se tornar especial pra alguém, como ter um novo significado na vida de uma pessoa. No livro conta a história do príncipe e da raposa e tipo, nós...

— Nós...?

— Antes você era apenas um rapaz que eu conheci mas agora tem um significado especial.

— Hum, acho que posso dizer o mesmo de você.

Ele me encara e eu sinto meus pelos se arrepiarem todos embaixo da água.

— Isso é bom não é? _ pergunta ele.

— Acho que sim.

Paulo estende a mão por baixo da água e toca meu braço, eu estremeço, até que ele alcança minha mão e me puxa pra perto.

— Fica suave vida.

Eu fecho os olhos e deixo que ele me abrace. E eu sinto paz.

***

Eu já perdi a conta de quantas vezes Paulo me beijou ou eu beijei ele. Se alguém passou por aqui e nos viu poderia nos denunciar por atentado ao pudor ou algo assim mas acho que isso não aconteceu por que já nadamos até pra mais longe da praia e não vimos ninguém perto.

Sentamos na areia fofa ofegantes, eu estou tentando sair da vida de sedentária mas ainda não tinha nadado tanto nem me esfregado tanto em um homem, desejo que minha avó nunca soubesse daquilo.

— Nossa, eu preciso voltar a correr. _ diz Paulo.

— Você parou por quê?

— Preguiça. _ diz ele rindo.

— Imagine um segurança desse hein? Eu tento me exercitar sempre que posso, de vez em quando vou de bicicleta pra facul, e quando posso vou à praça do bairro correr ou jogar bola com as meninas de lá.

— Ah legal, eu jogava basquete no tempo da escola.

— Tá explicado o porquê desse seu tamanho.

Paulo sorri e me analisa.

— Quando a gente vai se ver de novo? _ pergunta ele.

— Como assim, quando?

— Não quero te ver só no clube. E eu gosto de conversar pessoalmente com você também.

— Conversar é? _ começo a rir.

— Você é uma safada.

Arquejo.

— O quê? Já não basta o Gabriel com essas doidices, meu pai...

— Eu sei o que eu tô falando...

— Ok, eu preciso ir. _ me levanto rapidamente e pego minha bolsa que ainda está a salvo.

Antes que eu vista minha blusa Paulo me abraça pelas costas e cheira meu pescoço.

— Nem pense em fazer isso que você está pensando...

— E o que eu estou pensando?

— Já viu como eu sou sebenta? _ me viro pra ele _ Esse tempinho no Sol e já tô vermelha, imagine se você me desse um chupão.

Paulo dá uma gargalhada e ela parece ser tão falsa que acabo rindo junto. Visto minha blusa e fico analisando como vamos fazer pra subir a mureta.

— Vamos ter que dar a volta não é?

— Sim, é logo ali. _ diz ele e aponta para uma escada.

— Vamos.

— Chupão... _ murmura ele. _ você sabe que eu quero chupar é outra coisa.

Engulo em seco e tento disfarçar a vermelhidão repentina no meu rosto.

— Tá calor né? _ falo.

— Sim, demais.

Quando pego minha bike coloco a bolsa na cesta e me viro pra me despedir de Paulo, a camisa roxa dele acaba se moldando ao corpo ainda úmido e eu quero ir com ele pra outro lugar, longe de tudo isso aqui.

— Você vai de ônibus? _ pergunto.

— Sim, já vai passar.

— Certo.

Paulo se aproxima de mim e coloca as mãos no meu rosto me dando vários beijos seguidos, pela bochecha, nariz e boca.

— Espero te ver depois.

— Eu também.

Subo na bike antes que eu faça ou diga alguma besteira, sorrio pra ele e sigo pelo caminho por onde vim, com meu coração batendo mais forte liberando emoções e palavras pelas minhas veias.


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