Listras, Poesias e Paixões escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 11
Ten


Notas iniciais do capítulo

Qualquer um pode olhar para você, mas é muito raro encontrar quem veja o mesmo mundo que o seu. (John Green)



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Antes que o Sol apareça por completo abro os olhos e vejo uma Carol de rosto inchado me encarando, ela abraça uma centopeia de pelúcia.

— Por que você tá dormindo aqui? Cadê a mamãe?

— Ela... ela teve que levar a vovó no hospital.

Levanto meio tonta e levo Carol de volta para o quarto.

— Pro hospital? Por quê?

— A vovó estava doente mas ela já vai voltar, só foi tomar uns remédios.

Coloco Carol na cama e deito ao seu lado, ela se aconchega como uma gata e nós voltamos a dormir lentamente.

***

Mamãe surge uma hora depois com uma cara de destruída, ela não dormiu quase nada durante a madrugada.

— Sua avó vai ser liberada daqui a uma hora, você pode ir lá assinar a papelada?

— Claro. _ respondo. _ A senhora está bem?

— Foi só a labirintite que me atacou porque fiquei em lugares fechados por muito tempo, agora estou com uma dor de cabeça do caramba.

— Tome seu banho e vá tomar café, eu já fiz. Aí a senhora descansa. Depois que eu deixar a Carol na escola eu vou pro hospital.

— Nossa, agora lembrei que você vai perder a aula de hoje.

— Sem problema, era só aula teórica, depois eu pego o assunto com a Milly.

Mamãe senta na cama e suspira, ela está com olheiras e provavelmente com dor nas costas, ela tem um desvio de coluna. Antes que eu comece a pensar demais e ficar deprimida decido agir rápido.

— Então já vou indo mãe, vou ver se a Carol já está pronta pra tomar o café.

Saio do quarto de paredes azuis e começo a assumir o controle, assim como minha mãe eu costumava fazer isso quando sentia que iria desabar, ao invés de pedir ajuda eu começava a trabalhar mais ainda, o único problema é que eu não conseguia permanecer assim por muito tempo, e chegava uma hora em que a queda era inevitável, e por ser adiada costumava ser dez vezes pior.

***

Depois que vovó chegou o cuidado com ela foi redobrado, ela passava a maior parte do dia dentro do quarto o que me preocupava as vezes porque ela gostava de olhar a movimentação da rua, mas não podíamos nos aproveitar da sorte e a semana se passou com um clima pesado em casa, pelo menos tínhamos uma criança pra falar coisas bobas e sinceras de vez em quando.

Gabriel foi em casa numa dessas noites, ficou conversando com a vovó sobre a novela e depois se juntou a mim na frente da casa pra comermos um pudim que eu fiz, isso se aquilo poderia ser chamado de pudim.

— Eu acredito que a culpa foi da panela. _ fala ele.

— Também acho.

— Até que o sabor tá legal. Já pode abrir uma padaria.

— Padaria? Mas isso é pudim e não um pão!

— E onde vende pudim?

— Na confeitaria eu acho...

Comemos mais um pouco de pudim enquanto os carros e motos passam em alta velocidade à nossa frente.

— Nicole.

— Hum?

— Sabe a Giulia?

— A Roxinho?

— Ela já pintou o cabelo todo de preto agora...

— Ah foi?

— E cortou também.

— Legal, o que tem ela?

— Ah, a gente tá conversando bastante ultimamente.

— Vocês estão se encontrando?

— Não, é por mensagem mesmo. Apesar de que ela me deixa no vácuo as vezes.

— Iiii, não gosto desse tipo de gente. Se não dá pra responder logo por que visualiza?

— Ela é meio ocupada, e também tá tentando superar o ex.

— E ela quer usar você pra isso?

— Quem me dera... ela não quer, ainda. _ disse ele me dando uma piscadela.

— E você ainda me chama de safada.

— Porque sou um amigo sincero. E falando em safadeza, tem conversado com o seu novo amigo?

— Sim.

— E...?

— De vez em quando a gente troca uma ideia, é lega conversar com ele.

— Mais que comigo?

— Nada a ver Gabriel, ele é legal, é só isso que estou dizendo.

— Hum. E tem escrito poemas?

— Alguns. E você?

— Alguns também. Não sei porque só escrevo poemas quando tô assim...

— Assim como?

— Assim... conhecendo alguém.

— Você quis dizer gostando de alguém? _ sinto vontade de rir.

— Não estou apaixonado, só estou trocando ideia com uma garota bonita e interessante.

— Então há alguma chance...

— Talvez. Tinha tudo pra ser fácil sabe, mas ela tá complicando tudo.

— Acho que nas questões do coração tudo acaba se complicando.

— Ou não Nicole, quando é pra ser o coração faz tudo ficar fácil.

— Então parece que encontramos uma resposta.

Voltamos a comer meu pudim que mais parecia um creme enquanto mais estrelas iam aparecendo acima de nós. É, as vezes na vida não é pra ser.

***

Enquanto lavo as louças do jantar mamãe fica no telefone por quase meia hora, ela está falando com meu tio, o nome dele é Roberto, ouço ela contar pra ele tudo que aconteceu nos últimos dias e pede que ele venha nos visitar.

Fico me perguntando se as questões do trabalho dele realmente são muito importantes, ele não poderia tentar morar e trabalhar numa cidade mais próxima? Acho incrível como as pessoas conseguem ficar longe de suas mães tanto tempo, é certo que chega uma hora de desapegar mas e quando não tiver pra quem correr ou com quem contar? Qual colo você procura?

***

Meu tio por fim decidiu vir nos visitar na outra semana, ele vai passar alguns dias por aqui, não sei se as filhas dele vem, não vejo elas a anos, são Ane e Márcia.

Depois que tomo um banho e tento relaxar recebo uma ligação de Paulo, conversamos tanto que nem percebo que já é mais de meia noite, uma conversa sobre filmes e métodos contraceptivos, o porquê disso nem eu sei mas nossas conversas variam de assuntos sérios para coisas banais a todo momento.

Só que antes da gente se despedir nossa conversa acaba indo pra um lugar mais íntimo e eu acabo contando pra ele uma situação de meses atrás, o que reflete na minha situação atual.

— Então você é virgem?

— Sim, eu sou.

— Nossa. _ murmura ele do outro lado da linha.

— Como eu disse, a mãe do meu ex quase pega a gente na casa dela, então não rolou nada desde esse episódio.

— Mas por quê? Você não quis?

— Mais ou menos... primeiro que eu não acho meu corpo bonito, e depois disso eu e ele começamos a falhar na nossa comunicação, parecia que a conversa não fluía mais, então acabamos brigando outras vezes e não sentimos que era a hora de tentar isso, e sei lá, acho que eu senti medo e preferi ficar no meu canto.

— Tô ligado, então vocês terminaram por isso?

— A gente terminou de uma forma tão sem graça sabe? Tipo, nós nos vimos a primeira vez na universidade e sentimos algo um pelo outro, e quando a gente estava junto era muito bom mas com o tempo não conseguimos permanecer com aquilo, acho que não tínhamos uma amizade firmada, era só atração, e aí acabou.

— Pow, que fita, mas fiquei surpreso por você ainda não...

— Eu me sinto meio deslocada em relação a isso as vezes mas já aceitei um pouco, e também fico pensando, a sociedade saiu de um estado onde uma mulher virgem era símbolo de honra pra um estado onde a mulher virgem é sinônimo de desprezo ou feiura, será que posso dizer assim? Porque se ela ainda não foi comida por ninguém é porque ela não é boa o bastante ou gostosa o bastante, como se nós fôssemos um prato de comida e não um ser humano com sentimentos e poder de escolha. Sabe, eu não preciso que minha primeira experiência seja incrível mas será que pode ser com alguém que tenha um significado especial pra mim?

O outro lado da linha fica em silêncio.

— Falei demais? _ pergunto.

— Não, _ Paulo ri _ eu gosto de ouvir você falando, quando eu converso com você eu sinto que eu entro numa biblioteca.

— Uma biblioteca?

— Sim.

Eu abro um sorriso mas me contenho.

— Vou aceitar isso como um elogio... mas, ei, eu tenho que dormir.

— Tá ok bebê, boa noite.

— Boa noite.

Desligo o celular e fico encarando o teto. Uma biblioteca? Com livros de todos os tipos? Lembro do meu desejo de adolescente de ter uma biblioteca só pra mim, iria pintar as paredes com listras de todas as cores, como um arco íris. Mas pensando bem, até que eu era parecida com uma biblioteca porque minha cabeça era um turbilhão de pensamentos, e naquela hora senti uma vontade imensa de abraçar Paulo, parecia que meu corpo chamava suas mãos, mas isso teria que esperar até o fim de semana, e talvez eu não conseguisse sustentar meu propósito de amizade, eu não tinha tanto autocontrole assim e pela minha pouca experiência de vida eu sabia que quando a paixão chega ela não pergunta o que você acha certo ou não, ela simplesmente faz.


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