Minerva McGonagall alisou o tecido grosso do vestido verde musgo que usava com as mãos ossudas logo antes de abrir a porta pesada de madeira de seu quarto na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Do lado de fora, Alastor Moody, o auror mais famoso do universo bruxo, aguardava com um meio sorriso estampado no rosto cheio de cicatrizes, apoiando seu peso na bengala que sempre carregava consigo.

— Boa tarde, Professora Minerva – Cumprimentou aceitando o convite da mulher para entrar em sua residência, mancando enquanto o fazia.

— Boa tarde. Ah, e só Minerva, por favor. Não precisamos de tamanha formalidade – Pediu com um aceno da mão, como se descartasse aquilo.

— Como preferir – Sorriu. Seu olho azul vibrante vasculhava o local, força do hábito.

— Sente-se – Indicou uma mesa simples coberta por uma toalha amarela e com doces em cima, além de xícaras de porcelana e um bule com um chá de ervas perfumadas – Serei breve.

— Obrigado. E mais uma vez agradeço pelo convite, não sou muito requisitado para chás da tarde, foi inusitado.

— Oh, não há de que. Mas deve saber que não foi totalmente espontâneo, o Professor Dumbledore me pediu que conversasse com você.

— Ele requisitou uma conversa, não um lanche amigável – Brincou admirado com as guloseimas.

— Gosto de fazer amizades – Assentiu sorrindo também. Antes de se sentar na cadeira de frente para ele, apanhou o bule, servindo as duas xícaras com o líquido rosado – Espero que goste desse chá. Madame Pomfrey me ajudou a escolher, ela é ótima com plantas.

— Ah, Professora – Começou a falar mas foi cortado com um olhar ferino.

— Minerva – Advertiu-o mais uma vez.

— Minerva. Eu não bebo nada fora de casa. Tampouco como algo.

— Oh não?

— Não.

— Nem mesmo um chá?

— Nem mesmo um chá – Garantiu acenando positivamente a cabeleira loira e rala.

— E porque isso?

— Ossos do oficio – Gargalhou – Já tentaram me envenenar tantas vezes que não confio mais nem na comida da minha própria mãe.

— Acho que é algo sábio a se fazer – Riu junto – Ainda mais, dados os ocorridos com você aqui dentro da escola eu não me surpreendo.

— Quais? – Indagou confuso.

— Ano passado, quando Bartô Crouch Júnior sequestrou você e se fez passar por professor – Lembrou-o do tenebroso incidente.

— Ah, sim. Maldita poção polissuco – Resmungou – Enfim, Dumbledore não pediu que conversasse comigo por problemas no passado, imagino.

— Oh, não – Afastou a ideia com um aceno – Queríamos fazer um convite.

— Hum, convite é? – Estreitou os olhos para ela.

— Sim. Queremos saber se aceita ser professor de Hogwarts! Você de verdade dessa vez, não um homicida disfarçado – Brincou arrancando mais risadas do auror.

— Oh, seria fantástico. Acho que eu teria tanto a ensinar para as crianças! Fiquei muito triste pelas coisas não terem dado certo no outro ano.

— Foi realmente uma pena – Lamentou, mas logo afastando a expressão cabisbaixa e substituindo-a por um sorriso e palmas - Ótimo, ótimo. Fico muito feliz que aceite esse cargo. Ficamos, quero dizer. Todos os professores gostaram muito da ideia e creem que você dará um ótimo professor de defesa contra as artes das trevas.

— Que bom – Sorriu para ela – Quem sabe outro dia possamos beber um chá juntos?

— Isso seria adorável.

Por alguns segundos os dois ficaram perdidos em pensamentos. Repentinamente, Moody teve um sobressalto, assustando Minerva que admirava sua aparência.

— Desculpe a pergunta, mas que horas são?

A Professora consultou o relógio que tiquetaqueava na parede, às costas do homem e lhe informou.

— Pelas barbas de Merlin! Eu devia estar na minha vassoura a essa altura!

Alastor Moody levantou com certa dificuldade, cambaleando enquanto se firmava sobre sua bengala.

— Agradeço a hospitalidade, mas preciso ir. Tenho um compromisso com o Ministro da Magia.

— Deixe que eu o acompanho – Minerva ofereceu educadamente abrindo a porta de madeira.

— Muito obrigado pelo convite e pelo lanche, sinto muito que preciso sair correndo dessa forma, lamento mesmo.

— Oh, não tem problema. Teremos muitas tardes ainda para nos encontrar e conversar.

— Encontros, hum? – Parou alguns segundos analisando o rosto da mulher – Gostaria de sair comigo um dia desses?

— Claro – Gaguejou suavemente sentindo o rosto ser tomado pelo vermelho.

— Então... Nos vemos por ai – Piscou seu olho bom para ela, deixando-a sozinha em seu quarto e correndo da forma que podia pelo corredor.

Minerva fechou a porta em suas costas, sentindo borboletas no estômago como uma adolescente – tinha um encontro!