O segundo ano chegou e eu tomei a decisão de esquecer a atração que eu sentia por Hinata.

Eu queria, e como queria, de todas as formas, ter sido menos burro no passado, mas agora era tarde. Ela era a minha amiga e sentir vontade de ficar com ela era só mais sentimento que me fazia sentir péssimo. Além de me sentir culpado, uma piada, eu sabia que estava longe demais do cara certo para ela. Essa era a realidade.

Eu não tô querendo ser o dramático aqui, só quero trabalhar com fatos. E não dá para negar nenhum deles. A Hinata era uma das garotas mais inteligentes da escola. Era de uma família mega tradicional de Konoha, era amiga de todo mundo e TODO MUNDO gostava dela. Ela era sempre gentil, sensível. Ajudava os alunos mais fracos da turma – estou me incluindo nessa -, ela nunca gritava com alguém, ela sempre sorria. Ela tinha um cheiro... Cara, ela tinha um cheiro bom, sei lá como explicar, mas sempre foi bom. Ela estava sempre limpa, arrumada. Ela ficava toda vermelha em qualquer situação e eu achava aquilo a coisa mais linda. Tudo o que ela era ou fazia era um tesão para mim.

Mas eu ainda continuava sendo eu e isso, infelizmente, só fazia eu me sentir cada vez pior em relação a ela. Por isso eu decidi me afastar por um tempo, voltei a concentrar nos treinos de beisebol e decidi que eu precisava de mais foco nos estudos, para não ter que ficar pedindo ajuda a ela. Também para eu esquecer a angústia que eu sentia nas merdas que eu tinha feito e também dos sentimentos que tinha por Hinata.

Nesse tempo eu não pensava em mais garota alguma, e nem queria, na verdade. Não me atrasava para as aulas e passava parte das tardes concentrado nos treinos. Eu e Hinata tínhamos algumas aulas em comum, e nessa estava literatura. Nosso professor, Asuma, havia passado um trabalho gigantesco sobre um livro de Aldous Huxley. Pelo sorteio, o grupo seria eu, Shikamaru, Sakura, Sai e claro, Hinata.
Nós começamos a nos reunir depois da aula na biblioteca e já no primeiro dia estar mais perto dela era difícil. Hinata já conhecia o livro e sempre estava fazendo anotações, enquanto Shikamaru e Sakura iam montando o trabalho e as tarefas de cada um.

“Eu te ajudo, Naruto-kun.”

Até a voz dela me acalmava. O livro era bem difícil, e ela estava sempre sorrindo para mim, oferecendo ajuda. Nessa eu me rendi. Não evitava mais, nós passávamos um tempão juntos, já que eu e ela teríamos que falar dos personagens principais do livro.

“Eu não entendi muito bem essa Linda, e nem esse John...”

“São mãe e filho. E Bernard vai apresentá-los na sociedade. ”

Ela falava e eu ia anotando. Com umas flechas ligando um nome ao outro. O livro não era fácil, mas Hinata era paciente. Eu me lembro de ter sorrido demais para ela, pois as bochechas dela tinham ficado vermelhas. Nesse dia, especificamente nesse momento, eu estava no céu. Mas como tudo que é bom dura pouco, alguns dias depois na aula de literatura, Asuma nos chamou para apresentar o mais novo aluno. Toneri Otsutsuki.

Quando eu o vi naquele momento eu achei o cara alto demais. Ele mal parecia um adolescente, parecia ter uns cinco a mais que eu. Asuma o apresentou e quando eu me virei para Hinata que estava branca, feito um papel, encarando o cara. Eles se encararam e logo ali eu já devia ter visto o problema chegando. Era claro, os dois se conheciam.

Pelo resto da aula eu fiquei observando Hinata e aquele cara. Eu já não gostava dele ali, sem nem falar com ele, só de ver a reação dela perto dele.
Porém, eu parecia ter sido o único a não gostar dele. Não foi difícil ouvir comentário das meninas pelos corredores sobre o quanto o cara era bonito. Eu sei lá o que o viam nele. Ele era todo esquisito.

Naquele dia, eu aproveitei um momento só com Shikamaru. Ele estava deitado no gramado da escola, olhando para o céu. Esse cara era engraçado. Mas com toda certeza era o mais inteligente da escola.

“Shikamaru.” Eu o chamei. Ele mal olhou para mim. “O que você acha desse Toneri?”

“Como assim?”

“Eu quero saber o que você acha dele, ué. As meninas estão comentando dele. Você não acha ele estranho?”

Shikamaru se virou para mim, parecendo fazer um grande esforço ter que pensar.

“Já saquei. É por causa da Hinata, não é?”

Puta que pariu. Ele era um gênio mesmo.

“O que a Hinata tem a ver com isso?”

E eu era péssimo em fingir.

“Tá, eu vou te dizer pra você me deixar tirar um cochilo.” Ele se sentou, entediado como sempre. “Hinata e ele se conhecem há tempos. Ele veio de uma família importante, assim como a dela. Só que fazia muito tempo que não se viam. Eu não deveria te dizer isso mas...” Ele suspirou. “Parece que ele era meio que... Apaixonado por ela antes.”

Eu fiquei mudo na hora. Uma enxurrada de informações de uma vez. Eu não tinha o que responder. Eles realmente se conheciam. O cara já tinha sido apaixonado por ela. Por que Hinata havia reagido daquele jeito então? Será que ela também era afim dele? E como Shikamaru sabia daquilo tudo?

“Como você sabe-“

“Ino. Ela contou isso para mim e Chouji.”

Depois da minha conversa com Shikamaru, eu decidi observar melhor o novo aluno. Nas primeiras semanas já tinha percebido que ele era um babaca. Vivia se mostrando nas atividades, até na aula de Educação Física. Ele era bom em todas as matérias, tinha estudado em um monte de escola de playboy fora do país.

Durante esse tempo Hinata também tinha dado uma afastada de mim e eu não sabia o porquê. Era comum ver os dois conversando pelos corredores. Vou te contar.... Ver aquilo me deixava puto. Eu sabia que era ciúmes. Eu meio que me vi sendo trocado por ele, ali.

Até que, na aula de literatura, no trabalho sobre o livro difícil que o Asuma havia passado para gente, Hinata não estava junto com nosso grupo. O professor liberou que nós fôssemos para a biblioteca estudar, mas ela não tinha aparecido.

“E a Hinata? Cadê ela? ”

Sakura soltou o ar com força e olhou para mim. Nada de bom vinha daquilo.

“Hinata não está mais no nosso grupo. Ela me avisou hoje no intervalo. ”

“Mas ela era a minha dupla! ”

Shikamaru cruzou os braços.

“Agora Sai será a sua dupla. ”

“Por que ela saiu? ”

Sakura olhou para Shikamaru. Ele voltou a olhar para mim, meio sem graça.

“Hinata irá fazer o trabalho com Toneri. Ela se ofereceu para ser a dupla dele. ”

Que porra era aquela?! Eu olhei para todos na mesa. Já estava bravo.

“Como vocês deixaram ela sair do grupo assim?”

“Naruto, o professor Asuma disse que algum aluno precisava fazer o trabalho com Toneri. Hinata se ofereceu.”

Na minha cabeça algumas coisas se repetiam: Hinata se ofereceu. Hinata queria fazer o trabalho com ele. Hinata queria estar próximo de Toneri. Hinata queria estar distante de mim.

Eu saí da biblioteca, sem saco para ouvir mais uma palavra. No meu peito tudo doía. Tudo. Naquele dia eu fiquei com raiva de tudo: Toneri, Hinata, do meu grupo, mas principalmente de mim.

Hinata podia estar apaixonada por Toneri. Podia estar com ele, fazendo tudo o que fosse menos estudar. O cara com certeza ainda gostava dela. Ele não era um babaca feito eu que tinha demorado para notá-la.

Eu andava com raiva, sem rumo, pelos corredores da escola. Ela podia estar apaixonada por ele!

Eu me sentei tentando me acalmar. Merda. Merda. Merda.

“Você tá bem?”

Eu não respondi, só olhei para cima encarando Ino. Ela estava de braços cruzados, me olhando preocupada.

“Tô.” Menti. “O que você tá fazendo aqui?”

“Recrutando novos alunos para a minha peça!” Sem notar minha real situação, Ino continuou falando animada. “Você não quer participar? Estamos precisando de galãs para atuar!”

“Não Ino, não quero.”

“Vai valer nota para todas as matérias!” Ela não parava de falar e eu só sentia minha cabeça doer. “Todos vão ajudar. Sai vai cuidar do cenário, Sakura do figurino, Shikamaru do roteiro, Hinata das músicas. Tô pensando em colocar Toneri como par romântico-“

Eu levantei, impaciente. Toneri e Hinata na mesma frase.

“Toneri está nisso também? Junto com Hinata?”

Ino levantou uma sobrancelha, sem entender.

“É, todos nós vamos trabalhar juntos. Não é óbvio?”

Uma ideia surgiu na minha cabeça.

“Me põe na peça então, eu topo.”

Eu não iria aceitar a derrota assim, de cara. Eu estava determinado a lutar por Hinata e provar que eu a merecia muito mais que um mauricinho meia-boca.