Kisetsu no Utsurikawari escrita por MNunesPe


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa madrugada, pessoal! Chegando mais um capítulo de Changing Seasons pra vocês! Espero que estejam gostando até agora. Devo admitir que esse capítulo foi um pouco mais difícil de escrever, mas não tenho certeza do porquê. Se acharem que ele está meio travado, me avisem que eu tento melhorar no próximo! Sem mais delongas, boa leitura!
—MC



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Atrasado.

Nos 6 anos que trabalhei para a Emerald Publishing, eu nunca cheguei atrasado. Eu mal faltava dias de trabalho, já que ficar doente para mim e para a Haru era algo incomum. Era um funcionário exemplar, daqueles que chegava mais cedo, estava sempre com tudo em dia, até com trabalho adiantado, sempre muito organizado…

Hoje, porém, eu estava uma hora atrasado. Já foi um susto acordar com um homem dormindo abraçado comigo, mas meu coração quase saiu pela boca quando vi o horário. Eu tentei acordá-lo, mas ele parecia uma pedra, imóvel, em seu sono profundo e tranquilo. Kagami Taiga era o nome? Esperava que sim, pois deixei um bilhete me despedindo, pedindo desculpas por não ter ficado e adicionando um valor para pagar o motel. Isso é algo que se faz com uma pessoa que você provavelmente não vai ver mais? Não sei, nunca estive numa situação dessas. 

Admirei um pouco o homem que dormia pacificamente, pensando como ele era bonito demais e aquilo tudo parecia irreal. Mas logo estava correndo porta afora.

Tive que passar em casa correndo para pegar meu terno e aproveitei para ligar para Momoi-san. Haru… Haru ia se atrasar para a creche! Ugh… Por que estava tudo dando errado?! Para minha sorte, Momoi-san tinha levado ela para a creche. Aparentemente Aomine-kun tinha avisado que eu ia passar a noite fora.

Eu não me lembrava de ter avisado que ia embora com um completo estranho. Hm… Aomine-kun com certeza me ligaria mais tarde para saber dos detalhes.

Em casa, quando estava trocando as roupas de ontem por roupas adequadas para trabalhar, notei no espelho marcas arroxeadas pelo meu pescoço, descendo até meu peito. Minha boca e mamilos estavam inchados e avermelhados. Bem que eu tinha notado que quando estava falando no telefone com Momoi-san minha voz parecia um pouco rouca.

Meu Deus, quem é essa pessoa olhando para mim no espelho? Sou eu mesmo? Eu não sou assim, o cara que sai com uma pessoa desconhecida na primeira noite e admira suas marcas de guerra sem pudor. Corei um pouco, talvez porque eu gostasse um pouco dessa pessoa.

Porém aquele não era o momento para pensar naquilo, eu tinha que ir me arrumar para o trabalho!

Depois de uma ducha, vesti o terno rapidamente e saí dali correndo. Café da manhã naquele momento era impensável, eu pegaria algo na cafeteria do escritório. A adrenalina me sustentaria até lá.

Eu mal prestei atenção no trajeto do trem, com meus pensamentos voltados para as lembranças enevoadas da noite passada. Algumas sensações ficaram mais marcadas, como a impressão que a pele dele deixou nos meus dedos, o cheiro do perfume mais amadeirado, talvez um pouco amargo, a dor agradável que vinham com as mordidas…

…E o meu ponto passou.

Ugh, o que eu estou fazendo?! Tive que sair na parada seguinte, mudar de lado e voltar uma estação. Não poderia ficar pensando mais nisso, chega a ser perigoso. Foi o que eu tentei fazer enquanto corria em direção ao escritório.

 

. . .

 

— Olha quem finalmente chegou! — A voz de Momoi-san saiu quase cantada assim que eu cheguei em minha mesa de trabalho —  Acho que nunca te vi chegando atrasado assim, então a noite deve ter sido muito boa..

Preferi não responder, só me concentrei em ligar meu computador para começar o que tinha que fazer. Na minha visão periférica, conseguia ver que Momoi-san sorria descaradamente. 

— Hm… É assim que você trata a pessoa que passou a noite cuidando do que você tem de mais precioso? Estou magoada, Tetsu-kun… — Seu tom de voz melodramático mostrava que ela não estava falando sério, mas conhecendo minha amiga, ela ficaria se eu continuasse a ignorá-la.

— Obrigado por cuidar da Haru ontem… E também por levá-la na creche hoje. Ela deu muito trabalho ontem?

— Você acha que aquele anjinho daria algum trabalho? Por favor, nunca vi uma criança tão comportada na minha vida! Haru-chan é um doce de menina.

Sorri com o comentário. Minha filha era realmente uma criança maravilhosa e ouvir esse tipo de coisa de outras pessoas me enchia de orgulho.

— Mas você sabe que eu quero detalhes sobre ontem, não? Aomine-kun disse que viu você saindo com um ruivo misterioso. Ele só não te impediu porque você pareceu estar bem à vontade com ele… — Ela sorriu.

Ugh… Eu realmente teria que falar sobre isso? Eu já não conseguia parar de pensar nisso, agora teria que externalizar?

— Não tem tantos detalhes assim. Não foi nada de mais. — Retruquei.

— Ah, foi sim! E pode ter pouquíssimos detalhes, eu ainda quero saber de cada um deles! Você vai me contar tudo, eu mereço saber! — Disse enquanto arrastava sua cadeira para perto da minha, trazendo seu laptop consigo.

Para minha infelicidade, a mesa da minha amiga era ao lado da minha, então não era incomum ela acabar sentando comigo para conversar. Nossos chefes não exatamente se importavam, já que eu era um funcionário modelo e Momoi-san era mais do que competente no que fazia.

— Não acho que seja uma boa hora para falar disso. Eu cheguei atrasado, lembra? Tenho que recuperar o tempo perdido. — Tentei apelar para a razão, mas eu sabia que não funcionaria com ela.

— Ninguém nem percebeu que você chegou atrasado! E esse tempo perdido é a pior desculpa da história. Você está com tudo adiantado que eu sei. Provavelmente ia começar o planejamento para o processo trainee que só vai acontecer daqui há três meses, então nem vem. — Ela colocou o laptop em cima da minha mesa, demonstrando que dali não sairia até ter respostas.

Resisti o impulso de revirar os olhos. Não é como se eu não quisesse falar sobre o assunto… Eu só… Ugh, eu só estava com vergonha. Estava me sentindo um adolescente com borboletas no estômago e eu definitivamente não sabia como agir naquele momento. E não é como se eu conseguisse falar sobre as lembranças persistentes de toques, beijos e mordidas que ficavam invadindo a minha cabeça…

Aquilo era tão embaraçoso.

— Certo. O que quer saber? — Minha voz saiu um pouco mais rouca nesse momento e eu rezei para ela não perceber.

— Tudo. Absolutamente tudo, desde o início. — Momoi-san arrastou sua cadeira para mais perto de mim. Eu já não tinha espaço pessoal, mas quem ligava.

— Eu estava no bar e ele derrubou um drink em mim. Começamos a conversar, em algum momento fomos para um canto do bar, a gente se beijou e depois motel. Fim da história. — Tentei fingir que aquilo não era nada de mais, mas meu rosto começou a esquentar. Provavelmente estava vermelho como um pimentão.

— O quê, só isso?! E os detalhes, Tetsu-kun? — Reclamou fazendo bico.

— Eu não lembro de muito. — Menti — Acho que bebi demais.

— Isso é tão injusto! Aposto que você vai falar tudo para o Dai-chan na primeira oportunidade… — Ela não poderia estar mais errada nesse ponto, mas discutir era inútil — Pelo menos me fala um pouco sobre o cara. Como ele era?

Senti minha pele arrepiar ao lembrar de seu olhar avermelhado penetrante a me observar, sua voz rouca chamar meu nome ao pé do meu ouvido, sua mão um pouco áspera deslizar pelo meu corpo… Não, não, eu não consigo falar isso em voz alta.

— Ele era… muito bonito. — Foi tudo o que eu consegui dizer.

Não demorou muito para ela entender que nada mais sairia de mim. Minha amiga suspirou pesado e fechou a cara.

— Ugh, Tetsu-kun… Assim você só está me deixando mais curiosa… — Não era minha intenção deixá-la tão frustrada, mas eu não conseguia falar sobre tudo que eu lembrava — Qual é o nome dele? Vou stalkear no Instagram.

— Kagami Taiga… — Cogitei responder que tinha esquecido, mas eu já tinha irritado demais minha pobre amiga. Alguma coisa eu tinha que compartilhar ou ela não me deixaria em paz.

— Hm… Esse nome não me é estranho… — Dito isso, sacou o celular do bolso e começou a procurá-lo na rede social. 

Ela o achou em questão de segundos. Acho que não existem muitas pessoas com esse nome que sejam "ruivos misteriosos". Tentei não ficar olhando cada foto que ela passava, por mais que quisesse. Não precisava ficar lembrando das cenas de ontem durante o trabalho, mas fiz uma nota mental de olhar o Instagram dele depois.

Enquanto ela estava distraída, aproveitei para checar meu próprio celular que tremia dentro do bolso. Era Aomine-kun me ligando, provavelmente querendo me interrogar também. Preferi ignorar a chamada, já que eu não queria dar mais satisfações naquele momento, mas quase instantaneamente meu celular voltou a vibrar com várias mensagens chegando. 

[09:30] Aomine Daiki: Testu

[09:30] Aomine Daiki: Testu

[09:31] Aomine Daiki: Testu

[09:31] Aomine Daiki: Atende o celular.

[09:31] Aomine Daiki: Eu to no meu intervalo.

[09:31] Aomine Daiki: E já já vai acabar.

[09:32] Aomine Daiki: Vou ligar de novo, é melhor você atender.

Como prometido, ele voltou a ligar. Ugh… nesse quesito, Momoi-san e Aomine-kun eram muito parecidos: eles nunca desistiam de algo. Se eu não atendesse agora, era provável que ele aparecesse mais tarde na minha casa querendo detalhes. Era melhor eu terminar logo com aquilo. Avisei a Momoi-san que iria na cafeteria comer alguma coisa, mas ela estava entretida demais stalkeando o tal Kagami em qualquer rede social possível para perceber minha saída.

Quando notei que estava longe o suficiente, atendi tentando não soar irritado.

— Eu estou trabalhando, sabia?

— Que coincidência, eu também. — Aquele tom sarcástico só me dava vontade de desligar o telefone na cara dele — Agora vamos, pode ir falando.

— Isso não pode esperar? Você e Momoi-san são muito impacientes.

— Claro não pode esperar! Você me abandonou ontem no bar, eu mereço saber o que aconteceu! — Ele reclamou num tom melodramático.

— Tá, tá. Nós dormimos juntos. Só isso. Feliz? — Tentei falar num tom mais baixo, para ninguém do escritório ouvir. Não que alguém fosse se importar, mas eu estava muito envergonhado.

— Eu sabia! Eu fiquei preocupado no início quando você sumiu, sabe? Mas depois vi você se pagando com esse cara no fundo do bar… Ah, o orgulho que eu senti! E aí, ele é bom de cama? — Senti meu rosto esquentar com a pergunta.

— E por quê eu responderia isso?! — Sussurrei irritado.

— Então ele não é?

— Eu não disse isso!

— Então ele é? — Ouvi ele rindo do outro lado da linha e eu gemi de frustração — Calma, Tetsu. Eu só estou querendo saber se você aproveitou a noite.

— …Sim, eu aproveitei a noite.

— Fico feliz com a notícia! Eu sabia que faria bem você sair um pouco de casa. Meu amigo não é mais virgem, tenho que comemorar!

— Você sabe que eu não era virgem há muito tempo. — Retruquei irritado.

— Claro, claro. Pegou o número dele ou vai ser coisa de uma noite?

— Eu dei meu número para ele, mas acho que vai ser algo de uma noite. — Dei os ombros. 

Não acho que ele me ligaria, e eu também não tenho coragem de ligar. Se eu fosse parar para pensar, talvez nem pudesse me dar ao luxo de repetir o que aconteceu na noite passada. Não poderia ser irresponsável, tinha que pensar na Haru.

— Tudo bem, semana que vem podemos ir em outro bar que eu conheço. Aí você, hm, pode interagir com outros caras. — Seu tom era de provocação e a minha vontade era de arremessar meu celular na parede para aquela conversa acabar.

— Eu não gostaria de ir para bar nenhum, muito obrigado.

— Ah, mas você vai sim. — Sua risada soava como a de um vilão de quadrinhos — Enfim, meu intervalo acabou, tenho que ir. Ainda quero saber dos detalhes, então vou ligar mais tarde.

Finalmente nos despedimos e ele desligou. Nem consegui falar que ele conhecia a pessoa. Talvez fosse melhor assim, me recordo que no ensino médio Aomine-kun sempre reclamava do camisa 10 da Seirin, Kagami Taiga. Como eu tinha me esquecido disso? Acho que minha irmã falou dele uma vez ou outra, mas ela nunca foi interessada em basquete. Interessante como o mundo é um lugar pequeno.

Bom, mas não é como se eu fosse vê-lo novamente. Isso foi só uma coincidência estranha que provavelmente não se repetiria.

 

. x .

 

— O seu sorriso idiota está começando a me irritar. — Hyuuga-senpai atirou um apontador na minha cabeça como um adolescente enciumado. Já tinha acumulado uma borracha, um lápis, pontas aleatórias de canetas que ele jogou mim. Ele estava com um péssimo humor, pior que o de costume.

— Eu não estou sorrindo. — Dei de ombros, mas eu sabia que estava mentindo. Não conseguia parar de sorrir desde que acordei.

Eu deveria estar irritado por ter chegado atrasado no trabalho e ter tomado uma bronca não só do diretor, mas do próprio Hyuuga-senpai, que acabou me substituindo no primeiro horário de aula. Mas não sei, a noite ontem foi muito boa. E ainda encontrei aquele bilhete quando eu acordei. Eu não consegui segurar meu sorriso quando lembrei do bilhete (o que provavelmente deixou meu colega ainda mais irritado). Não que tivesse algo profundo escrito, era bem simples. Mas aquilo foi tão… atencioso? 

"Kagami-kun. Tentei te acordar, mas não foi possível. Espero que isso não acabe te prejudicando. Peço desculpas por sair sem me despedir, mas agradeço pela noite de ontem. Me diverti bastante com a sua companhia. - Kuroko Tetsuya"

Fofo. Fofo até demais.

E as lembranças que perambulavam a minha mente não eram nada ruins também. Olhos azuis desfocados, gemidos baixos que me fizeram arrepiar, beijos suaves em meu pescoço, mãos macias que percorreram meu corpo… 

— Ugh, sorriso nojento. — Hyuuga disse revirando os olhos — Eu não aguento mais arremessar coisas em você. Talvez na próxima vez eu jogue um estojo inteiro.

— Kagami-san realmente parece muito feliz hoje! — Furihata se juntou a nós na sala dos professores, evitando sentar perto do nosso senpai. — Aconteceu alguma coisa?

— Ah, Furihata. Bom dia.

— Ele me abandonou no bar ontem e não dormiu em casa. O que você acha que aconteceu? — Ele atirou mais uma borracha em minha direção, mas dessa vez eu consegui desviar.

— Eu não abandonei ninguém! Você estava, hm... entretido e me deixou sozinho. Eu só encontrei alguém para me entreter também, nada de mais. — Retruquei.

— Entretido?! — Hyuuga-senpai agora parecia um pimentão — Para sua informação, eu não fiquei tanto tempo com aquele cara! E eu também não fiquei no canto do bar praticamente comendo outra pessoa, ao contrário de certos indivíduos!

— Claro, claro. Eu não vi que em dois minutos de conversa você estava quase rebolando no colo do cara. — Usei meu tom de provocação. Sei que ele estava mal humorado, mas hoje estava me sentindo confiante o suficiente para causar caos, terror e pânico.

— Ei, ei! Lembrem-se que eu não preciso saber de tantos detalhes! — Furihata agora tapava os ouvidos, corado com as informações que tinha acabado de receber. O pobre coitado era muito puro para esse mundo.

Enquanto Furihata ficava ouvindo as reclamações de Hyuuga-senpai, voltei a procurá-lo em redes sociais. Aparentemente ele tinha uma conta de Facebook, mas ela estava abandonada. Nada era postado há pelo menos uns cinco anos e a conta em si não tinha muito. Além dali, não o achei em outro lugar. Era raro ver alguém que não tinha rede social.

Abri minhas mensagens, esperando ver alguma coisa dele. Claro que não tinha nada, talvez ele nem se lembrasse que eu dei o meu número pra ele. Fiquei pensando se talvez eu devesse mandar alguma coisa… 

— Você pegou o número dele? — Furihata tinha a péssima mania de olhar meu celular quando eu estava distraído — Kuroko… Esse nome não me é estranho… 

— Ah, sim… A irmã dele era da nossa classe no primeiro ano.

— Kuroko Kiyoko! Me lembro dela. Foi muito triste quando ela faleceu. — Ele disse num tom entristecido. Não sabia que ele conhecia ela — Mas… Eu não sabia que ela tinha um irmão.

— Irmão gêmeo, ainda por cima. — Completei, ainda chocado com a coincidência — Mas ele frequentava outra escola.

— Espera, Kuroko Kiyoko…? Não era esse o nome da menina por quem você teve uma queda monstruosa no ensino médio? — Agora era a vez de Hyuuga adotar o tom de provocação.

— Queda monstruosa?! — Senti minha voz quebrar um pouco e meu rosto esquentar — Não é pra tanto, também!

— Bom, isso prova a minha teoria que você não gosta realmente de homem. Você só ficou com ele porque lembrou dela.

Ugh, eu realmente queria apagar aquele sorriso presunçoso dele na base do soco.

— Acho que você está projetando em mim o que você fez ontem, senpai. — Atirei uma das borrachas de volta bem no meio da testa dele — Rejeitando todo mundo do bar e escolhendo um sósia do Kiyoshi-senpai… Que feio.

— Ah, Hyuuga-senpai tem uma queda pelo Kiyoshi-senpai? — Furihata sorriu com a notícia, parecendo animado — Vocês combinam!

Hyuuga começou a borbulhar de raiva, já que eu revelei algo que não era de conhecimento geral, e ficou reclamando coisas que eu não consegui entender. Não que ele tivesse que se preocupar, a pessoa que recebeu a informação era pura demais e sabia guardar segredos. E o melhor: não julgava.

Voltei a encarar meu celular, sem esperanças de receber uma mensagem dele. Talvez eu devesse deixar as coisas como estão? Uma noite foi bom, quem sabe era melhor não mexer em algo que já aconteceu. Sei lá, não manchar a memória.

— Por que não manda uma mensagem pra ele? — Furi começou a ignorar nosso senpai que ainda reclamava a plenos pulmões — Você parece que se divertiu muito, não?

— É… Mas não sei. Não é meio esquisito? — Ponderei.

— Por quê seria? — Ele indagou, confuso.

— Sei lá, vai que ele viu aquilo como sexo casual? Ele não parece do tipo que faria isso, ele até me falou que nunca tinha ido num bar antes, mas vai que…

— Se eu fosse você, mandaria uma mensagem. — Ele admitiu um pouco tímido — Eu não gosto tanto de coisas casuais, e se teve uma conexão, eu voltaria a falar com a pessoa. Chamar para tomar um café, ver um filme… Pode rolar algo a mais, sabe? Um relacionamento duradouro, quem sabe.

Furihata, você pertence a um anime shoujo. Quase deixei essa frase escapar. Quase.

Não que eu não quisesse um romance ou um relacionamento sério. Eu já tive uns, foram bons o suficiente. Só achava que Furihata estava enxergando muito futuro num cara com quem eu passei a noite. Mas acho que a ideia de chamá-lo para um café não era tão ruim. Nossa conversa fluiu a noite toda, foi bem divertido. E o sexo também não foi nada mal, seria bom ter alguém fixo para desestressar. Fugir do Hyuuga-senpai por um tempo era uma possibilidade que me deixava ainda mais inclinado a mandar a mensagem.

— É… Acho que você pode ter um ponto. — Concordei com ele, mas não exatamente com tudo — Bom, vou tentar. Não tenho nada a perder mesmo. O não já está garantido de qualquer jeito, agora vou buscar a humilhação.

Fiquei reunindo coragem o dia todo para falar alguma coisa, pensando no que eu poderia escrever para parecer casual o suficiente. Acho que não sou muito bom com conversas online, já que só consegui enviar uma mensagem decente de noite.

 

. x .

 

— Já é o quinto cara que me deixa porque descobriu que eu tenho filhos. Isso é tão… frustrante!

Não era incomum eu ouvir aquele tipo de coisa. Toda semana eu tinha o encontro de pais e mães solteiros, que era constituído em sua massiva maioria por mulheres, no Café Ruby e sempre ouvia esse tipo de história. Sempre tudo ia bem de início, a paixão suportava qualquer coisa, mas quando o homem se sentia pressionado pela possibilidade das crianças fazerem parte da vida, eles sumiam. Às vezes nem chegava muito longe, era só descobrir que a pessoa tinha filhos que de repente ela virava um pária.

Os pais solteiros (os poucos que às vezes apareciam), também tinham esse problema, mas era mais raro. Alguns já chegaram a me falar que foi até mais fácil chegar em uma mulher por causa das crianças. Eu duvido um pouco, mas a maioria parou de frequentar a reunião. Talvez eles acharam alguém dentro desse grupo?

Suspirei pesadamente. Não gostaria de passar pelo o que essa moça está passando. Por essas e outras, nem procuro por uma possível relação romântica. Se é um caminho que vai me trazer frustração, para que eu ia querer passar por ele?

— Não fique assim, Misa-chan! Ele não te merecia. — Uma das integrantes tentou a encorajar — Você vai achar coisa melhor, com certeza.

A tal Misa-chan continuava a chorar enquanto estava cercada de mulheres do grupo que tentavam a acalmar. Eu até iria, mas não era muito bom nisso. 

— Sheesh… Não é o fim do mundo. — Uma voz conhecida sussurrou perto de mim. 

Riko-san estava revirando os olhos quando a encarei. Ela não tinha muita paciência para aquilo.

— Ela fica chorosa assim, mas também não fala nada quando conhece um cara. É lógico que eles ficariam putos quando descobrissem que a pessoa com que estão saindo mentiu sobre não ter filhos. Quem não ficaria?!

— Tente entender a situação dela, Riko-san. Não é fácil ser rejeitado. — Tentei empatizar. Não que eu discordasse dela, mas também entendia o lado de Misa-chan. Sinceramente, não sei o que faria no lugar dela.

— Ugh, vou olhar as meninas no parquinho. Acho que ganho mais com isso. — Ela saiu em direção a porta dos fundos, que dava para um parquinho de madeira onde várias crianças se divertiam, inclusive minha filha.

Olhei mais uma vez para o grupo de mulheres que estava focada em acalmar a moça chorosa e decidi que era melhor eu acompanhar a Riko-san. Não é como se elas fossem precisar de mim naquele momento.

Quando cheguei do lado de fora, minha amiga estava gritando para um dos meninos pararem de puxar o cabelo de sua filha, Chizuru. Enquanto isso, Haru-chan estava tranquilamente desenhando com um grupo de crianças. Acho que agradeço por ter uma filha tão quieta e calma.

— Esses moleques! — Ela esbravejou quando eles a ignoraram e voltaram a brincar — Aposto que aquele ali é filho da degenerada da Akane! Ela nunca traz ele por isso, fica incomodando os filhos dos outros porque ela não sabe educar.

Tentei não rir da situação, já que a raiva da minha amiga poderia acabar sendo direcionada a mim.

— Por que ainda venho nesse tipo de reunião? É sempre o mesmo tópico. — Ela suspirou, frustrada — No início foi até bom, eu ganhei um apoio quando aquele babaca do meu ex me largou grávida, mas agora… Eu tenho que ouvir toda semana essa mesma ladainha.

— Não diga isso, Riko-san. Pelo menos é um lugar que a Chizu-chan pode se divertir, gastar um pouco mais de energia. — E realmente, como ela gastava energia. A menina estava correndo pelo parquinho todo junto com o menino que puxou seu cabelo. Crianças são tão simples…

— É, verdade… O grupo também não é tão mal, acho que só estou um pouco frustrada porque não posso falar das minhas experiências amorosas neste grupo.

Sorri melancolicamente. Riko era bissexual e suas últimas experiências foram todas com mulheres. Eu entendo que ela não se sente confortável em contar para o grupo, não acho que todas entenderiam a situação e a tratariam de maneira diferente. Eu também não falo nada sobre minha sexualidade, mas eu também não teria nenhuma experiência amorosa para contar.

— Você sempre pode falar pra mim. — Tentei confortá-la com um sorriso sincero. Não sei exatamente como saiu, já que eu nunca fui muito bom em me expressar.

Senti meu celular vibrando com várias mensagens chegando ao mesmo tempo e o pesquei em meu bolso para olhar o que era. Talvez fosse Aomine-kun querendo mais detalhes que não iria receber. 

Meu coração parou de bater quando eu li o nome Kagami Taiga brilhando na tela do celular.

Desbloqueei o celular rapidamente para ver as mensagens que ele tinha me enviado, sentindo meu rosto esquentar por algum motivo. Não, eu não ia ficar lembrando de coisas indevidas agora.

[19:01] Kagami Taiga: Ei, Kuroko.

[19:01] Kagami Taiga: Recebi seu bilhete.

[19:01] Kagami Taiga: Pensei em te mandar uma mensagem mais cedo, mas estava cheio de trabalho para fazer.

[19:01] Kagami Taiga: Cheguei atrasado por algum motivo, sabe? 

[19:01] Kagami Taiga:  >:(

Gemi com aquela mensagem. Eu realmente devo ter deixado ele irritado por não ter conseguido acordá-lo. Não é exatamente culpa minha por ele dormir como uma pedra, mas eu admito que poderia ter tentado mais. Acho que estava com muita vergonha de vê-lo acordado.

Eu deveria responder?

— Quem é? — Riko-san se aproximou tentando ver meu celular, mas eu consegui esconder dela a tempo. — Ah, qual é. Eu te conto absolutamente tudo, me fala.

Ela tinha um ponto. Senti minhas bochechas corarem um pouco antes de falar.

— É um cara que eu conheci ontem… Nós dormimos juntos.

— O quê?! Você?! — Seu expressão tinha um misto de choque e alegria — Não acredito, finalmente! Achei que ia morrer virgem!

— Mas eu não era virgem. — Por que todo mundo pensa isso?!

— Ah, mas você não fazia nada a tanto tempo que praticamente voltou a ser. — Ela riu com o próprio comentário e eu senti minha raiva borbulhando — E a noite foi boa, hum?

— ...Foi. — Respondi entre dentes. Acho que ela e Aomine-kun se dariam muito bem.

— Haha! Não precisa dessa timidez toda. Mas e aí, o que ele está falando?

— Ele reclamou que eu não acordei ele. Não sei o que responder. — Tentei responder de forma mais curta e grossa, mas minha amiga não pareceu se importar.

— Ué, é só pedir desculpas e continuar a conversa. — Constatou como se fosse óbvio.

Bom, era óbvio. Eu só estava com vergonha de fazer isso.

Agora com Riko-san me encorajando, eu teria que responder. Meu coração batia descontrolado no peito enquanto eu digitava a mensagem.

[19:04] Kuroko Tetsuya: Boa noite, Kagami-kun. Peço desculpas se causei algum desconforto. Eu realmente tentei acordá-lo, mas não consegui.

Será que aquilo seria o suficiente? Minha dúvida foi logo sanada, já que não demorou muito para ele me responder.

[19:05] Kagami Taiga: Eu estou brincando.

[19:05] Kagami Taiga: Não precisa se desculpar ;)

[19:06] Kagami Taiga: Só estava tentando quebrar o gelo.

Sorri com a mensagem, aliviado que ele não estava irritado comigo. Pelo canto do olho, conseguia ver que Riko-san me encarava, provavelmente curiosa para saber o que estávamos falando.

[19:06] Kuroko Tetsuya: Ainda assim, não foi educado de minha parte sair sem dar nenhuma explicação. Peço desculpas novamente, eu estava atrasado para o trabalho.

Ele ficou digitando por um momento. Por algum motivo, esperar ele terminar de digitar estava me deixando ansioso.

[19:07] Kagami Taiga: Bom, se você quiser, poderia me pagar um café para compensar.

Parei até de respirar naquele momento.

— O quê? O que ele disse?! — Minha amiga agora tentava ver meu celular a todo custo.

— Acho que ele está me chamando para sair. — Escondi meu rosto em minhas mãos como um adolescente. O que fazer, meu Deus? O que eu posso fazer?!

— Ooh! E você vai fazer o quê? — A pergunta dela ecoou meus pensamentos e sua animação estava me deixando tonto.

— Eu… Eu não sei! — Admiti ainda escondendo meu rosto — Argh, eu não sei se devo ir!

— Como assim? Por que não?

— Tem a Haru, eu não posso deixá-la sozinha. — Essa era minha desculpa para tudo.

— Ah, por favor! Contrata uma babá, Kuroko! — Ela vociferou — E se não achar ninguém, deixa a Haru-chan lá em casa. Chizuru sempre gosta de companhia.

— Mas…

— Mas o quê, homem?! Você não gostou dele, é isso? — Riko-san assumiu sua postura de coach, com as mãos na cintura e um olhar impassível.

— Não, não é isso… — Talvez eu tenha gostado até demais dele.

— Então para de ladainha e aceita logo o convite. Ou você fala, ou eu tomo esse celular de você e falo eu mesma.

Ugh, já vi que não teria escapatória. Digitei uma mensagem rapidamente, aceitando a proposta. Não sei se gostaria de ver aonde isso poderia dar e talvez o arrependimento começasse a bater a qualquer momento. Olhei minha filha brincando alegremente com as outras crianças e fiquei pensando onde eu estava me metendo...

Recebi uma nova mensagem, mas dessa vez não era de Kagami-kun, mas de Aomine-kun.

[19:11] Aomine Daiki: E aí, bonito?

[19:11] Aomine Daiki: To na frente do seu apartamento e trouxe cerveja como oferenda.

[19:11] Aomine Daiki: Volta quando? Quero os detalhes de ontem.

Uuugh. Já vi que não terei paz de espírito nesta semana. 

Lá se vai a minha rotina.


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Notas finais do capítulo

MC novamente por aqui!
Espero que tenham gostado do capítulo! Uma coisa que eu andei esquecendo de comentar é que eu escuto músicas que me dão inspiração para escrever cada capítulo. Se vocês quiserem saber quais músicas para acompanhar a leitura, podem pedir que eu deixo nas notas iniciais de cada capítulo.
Se quer me mandar críticas (construtivas ou não), comentários, dúvidas, erros de português que eu cometi, mensagens inspiradoras, recadinhos amorosos, dicas de beleza, me mandar pro inferno, falar que está com vontade de chorar, de cantar uma bela canção, ou simplesmente falar que gostou ou detestou a história, a minha caixinha de comentários estará sempre a sua disposição. Te aguardo no próximo capítulo!
Com carinho, -MC



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