Ébrio em Sentimentos escrita por Letum, Aniverse


Capítulo 1
E não desejo a sobriedade


Notas iniciais do capítulo

Baseado na música "Sober Up" do AJR, link nas notas finais.
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792653/chapter/1

Olá. Faz um bom tempo que não direciono minha palavra a você. Isso é estranho, pois falar contigo era quase como um impulso que esteve comigo desde o dia de minha criação. Um impulso que me instigava fortemente a contar-lhe tudo aquilo que pensava sobre as coisas e pessoas ao meu redor, mesmo que fosse apenas para lhe dizer que não me sentia exatamente encaixado em meio às diversas personalidades dentro de meu antigo grupo ou para “conversar” sobre futilidades de meu dia a dia. Era quase como se eu estivesse fazendo uma espécie de diário mental, já que nunca recebia uma resposta propriamente dita, apesar de saber que você podia me escutar de alguma forma.

Definitivamente, eu não estou na posição que deveria estar, ou melhor, na que você gostaria e zelava para que eu estivesse. Não estou com aquele a quem eu era destinado ou no lugar onde deveria estar se as coisas tivessem acontecido de outra forma. Apesar de não sentir mais a mesma devoção que tinha anteriormente por você, espero de verdade que seja capaz de sentir minha falta. Apesar disso, me questiono se você é mesmo capaz de ter alguma consideração por alguém, pois isso me lembra de quando eu estava imerso em desespero e ainda esperava uma resposta, implorando por resquícios de sua presença, pelo menos.

Sequer lembrava-me da última vez em que havia visto seu rosto. Apenas me recordo de que eu era uma criatura muito inocente na época, por isso não fui capaz de enxergar outra coisa no mundo além de você, que era minha deusa e mãe. A senhora era a pessoa a quem pertencia toda minha devoção, respeito e resquícios do que poderia ser chamado de amor — aliás, amor é algo que você nunca me ensinou a ter, já que nem sequer parecia querer que eu conhecesse tal sentimento. A última vez em que acreditei em sua falsa salvação, você fez questão de esmagar toda e qualquer esperança que pudesse nascer em mim de ser libertado da minha maldição. Como fui ingênuo em acreditar em ti. Lembrar disso me fez sentir jovem novamente, talvez por serem lembranças que ainda guardam certa inocência minha, coisa que acredito ter perdido a muito tempo.

“Adeus” foi a última palavra que disse para meus antigos companheiros. Aquilo foi o mais próximo que já tive de amigos na época em questão, mesmo que possivelmente eles nunca tivessem escutado esse reles sussurro vindo de meus lábios secos. Eu pensei que manteria algum contato e, na verdade, fiz o possível para fazê-lo, mas parecia que isso só me causaria ainda mais dor. Sinto muito, Elsword, porém eu não poderia aguentar mais tempo a seu lado. Sua aura pura e intensa sempre me machucou desde o momento em que fui infectado e que minha corrupção começou de fato. Eu não poderia mais me sustentar em sua presença, pois você ainda fazia parte de um passado que eu aprecio, por isso não se sinta culpado com minha partida. Eu sorriria para você se pudesse.

Quem de fato veio a me trazer alguma “salvação” foram aqueles que outrora eu mais repudiava: os demônios. Quando me encontrava perdido dentro de minha própria escuridão, aqueles dois albinos me estenderam a mão. Poderia não ser muito, entretanto eles passaram a ser minha família e me resgataram da loucura de meus próprios sentimentos. Ao contrário de você, Ishmael, eles havia me ensinado a aceitar aquilo que eu era e não viam problema em ser de tal forma, afinal o que um projeto de demônio e alguém da realeza demoníaca iriam temer?

E mesmo quando Luciela havia partido, mesmo quando restava apenas nós dois nesse mundo, estávamos bem, pois não estávamos de fato sozinhos e ainda tínhamos a companhia um do outro. Éramos demônios de tipos e formas diferentes, porém ambos descartados, ambos igualmente deixados de lado por aqueles que amávamos. Nós sorríamos enquanto estávamos em lutas e a adrenalina corria solta, porém logo esquecíamos de sorrir para qualquer outra coisa que estivesse ao nosso redor. Parecia irônico. 

Mas Ciel me ajudaria a ficar sóbrio, certo? Não me deixaria embebedar com meus sentimentos, assim como eu faria o mesmo por ele. Crescer e evoluir dessa forma havia me deixado dormente e eu imaginava que ele se sentia de uma forma parecida, já que nos entendíamos tão bem. Eu desejava sentir algo novamente, entretanto já não sabia se era possível. Tenho minhas dúvidas se um dia chegarei a saber do que se tratava. Eu devia estar começando a ficar um pouco ébrio com os resquícios daquilo que senti algum dia.

Todas as crianças grandes estavam bêbadas. Add havia enlouquecido de vez, não era à toa que havia ganhado a alcunha de “Paradoxo Insano”. Já Elesis se perdeu em sua busca por vingança e havia virado uma sanguinária, enquanto Elsword não tinha nada mais para se importar como o “Imortal”. Não nos restava mais ninguém para tentar alcançar agora, estávamos distantes de tudo e de todos, então estava tudo bem se eu segurasse a mão dele, não é?

Ciel parecia vibrar na mesma frequência que eu. Éramos músicas parecidas sendo tocadas de uma forma entrelaçada. Ele me mantinha jovem, alimentava meus resquícios de felicidade e era exatamente a forma que eu gostava de estar. Mesmo quase caindo em insanidade e apatia como eu, aquele demônio sombrio ainda era minha cor favorita. 

Eu sei que não estou onde eu deveria estar e que talvez você quisesse o melhor para mim, mãe, mas minha devoção por você foi minha verdadeira maldição. Isso me sufocava, porém só percebi quando me livrei completamente de você. E apesar de saber que para ti a situação deveria ser o contrário e que essa corrupção seria meu fim, você estava errada.

Eu posso dizer com segurança que não te amo e que nunca te amei de fato — sequer poderia fazê-lo na verdade, pois você nunca me ensinou isso, Ishmael —, você apenas havia me ensinado a como devotar minha vida a algo, mesmo que aquilo nunca me retribuísse. Isso é um adeus definitivo. Espero que um dia sinta minha falta, assim como eu sentia a sua, mãe.

“Você está quieto…” Ciel não costumava usar muito de sua fala e mesmo assim nos entendíamos muito bem, apenas com gestos e ações. Porém eu deveria admitir que amava ouvir sua voz rouca e suave, apesar de sempre possuir um toque de melancolia. Isso era uma das diversas coisas que compartilhávamos.

“Estava lembrando de outros tempos, de quando eu era jovem…” Disse, sem pressa. Fechei os olhos apenas por um instante e segurei sua mão. Ambas eram frias, mas juntos poderíamos tentar criar algum calor humano.

“Você fala como se fosse muito velho. Temos a eternidade para nós ainda. Certo, Senhor do Vazio?” 

 Era quase estranho vê-lo dizer algo com certo ar de graça, mas isso era ao mesmo tempo revigorante.

“É… você tem razão.” Não demorou para que seus lábios fossem cobertos pelos meus.

Ciel sempre seria a única cor pertencente a meu coração e mesmo que estivéssemos contra a deusa e o resto do mundo, nada mais importava enquanto ainda pudéssemos alimentar o amor que sentíamos um pelo outro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Link da Música: https://www.youtube.com/watch?v=DC_TrsY7U3A

Eu sempre tive muita vontade de escrever algo de Elsword ao menos uma vez na vida, e mesmo que não seja algo com Add, posso dizer que estou contente com o resultado. Ain já foi meu favorito e foi com quem eu comecei a jogar, mas admito que combar de Lu/Ciel sempre foi uma diliça e com o Add... é complicado. Acho que minha jogatina com ele não foi das melhores, mas talvez porque eu não cheguei a fazer o Mad Paradox e parei no Master Mind, não dando muita chance pra nenhuma das "linhas evolutivas" na época.

Acho que só comecei a gostar mesmo do Eddinho depois de um tempo, mas não significa que eu deixei de gostar dos outros dois, muito pelo contrário!

Bem, um dia desse talvez eu dê a louca e escreva algo com o Eddinho, mas esse dia não é hoje, infelizmente. Espero que eu escolha um casal mais fácil de achar fanart na próxima, mas acho que, de yaoi, só o selfcest é que rola ?” ignorando um ou outro casal como Elsword/Ain.

Quem ficou responsável pela betagem desse texto foi a @_La__Fleur_, muito obrigado pelo ótimo trabalho, Sue! Já a edição, foi feita pela maravilhosa @DreamerMoon e céus, eu simplesmente adorei o trabalho feito por ela! Eu não estou pedindo, eu exijo que vocês deem amor à essas nenês, as duas merecem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ébrio em Sentimentos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.