"Estava tudo completamente escuro, eu não enxergava nada. Era como estar cega. A sensação era péssima.”
Derrepente, vi um ponto de luz. Eu mal sabia se estava sentada ou em pé. A luz começou a se aproximar, como se fosse um trem ao fim do túnel.
Eu queria falar, mas não consegui emitir som algum. A luz desapareceu, e apareceu mais forte, em minha frente.
Ela tomou forma de um homem, e então vi seu rosto. Era Filip.
'O que você está fazendo aqui' Eu queria perguntar desesperadamente. Será que eu havia ficado muda?
Eu estava angustiada.
Filip não disse nada, apenas sorriu, afagando meu rosto.
'Onde estamos?' Mexi a boca na esperança que ele entendesse.
-Esta tudo bem Jessica. Venha comigo, vou te tirar daqui. - Ele disse, parecendo me entender.
Eu não sabia onde estávamos então eu tinha de segui-lo.
Filip pegou minha mão, e nesse momento, ouvi um rosnado.
Me virei rapidamente, procurando o som.
Vi Aaron.
'Aaron?' Eu quis perguntar. 'É você?' Eu apenas mexia minha boca, na esperança de que ele me entendesse como Filip.
Aaron não me respondeu. Será que ele não entenderia?

Eu quis ir até ele, mas Filip me prendeu.
Ouvi Aaron rosnar novamente. Será que ele também não conseguia falar?
Aquilo estava ficando pior. Eu queria chegar até Aaron, mas Filip não me deixava.
'Me solta Filip!' Eu queria gritar. Queria correr para o lado de Aaron, mas Filip me mantinha ali. 'Que droga!' Berrava novamente.
Filip não dizia nada, apenas me segurava.
Ouvi um rosnado maior, e quando me virei, não acreditei no que via.
Um enorme Lobo estava no lugar onde eu vira Aaron segundos atrás.
Filip me soltou.

O lobo era do tamanho de um cavalo, e sua cor era de um cinza claro e suave. Ele me encarava, e eu o fiz de volta.
Era como se eu o conhecesse há tempos, como se ele fizesse parte de minha vida, mas era estranho, afinal era um lobo.
Eu me aproximei, hesitante. Fiquei a centímetros dele, quando, derrepente, o vi ao chão, com Filip o atacando.
'Não!' Eu gritava exasperada, mas ninguém me ouvia.
Eles lutavam, e eu não entendia. Porque Filip atacava o lobo?
Ele tentava se soltar, mas Filip o deixava sem saída. Aquilo era covardia, não era justo.
O lobo me olhou novamente, e seu olhar era de súplica. O que eu mais queria era ajudá-lo, mas me sentia presa, não tinha forças para me mover.
Derrepente eu estava chorando, e as lágrimas embaçaram minha visão, e eu não enxergavam mais nada"

Demorei a entender que estava sonhando. Estava sentada, completamente ofegante, e ainda chorava como no sonho.
Era tão real... Mas eu não entendia.
Porque Aaron estava lá, e derrepente, um lobo enorme tomara seu lugar? Porque Filip o atacara?

Eu tomava banho na água quente do chuveiro. O calor sempre me acalmava. Tentava tirar o sonho da cabeça, mas sabia que ficaria o dia todo pensando no assunto.
Me arrumei rapidamente, olhando o relógio. Aaron chegaria logo.
Desci a escada, e como sempre, Sasha já tinha saído.
Aaron buzinou.
Abri a porta, exasperada, mas não sabia por quê. Eu precisava ver Aaron.
Ele estava encostado em sua Land Rover, vestindo jeans e uma camisa xadrez, com seu sorriso radiante.
O abracei fortemente, ofegando.
-Bom dia amor. - Ele murmurou em meu ouvido.
-Eu estava com saudades. - Respondi.
Respirei em seu pescoço, sentindo seu cheiro doce e delicioso. Aquilo fez minha garganta arder ferozmente.
 “Tenho que lembrar de caçar." Pensei.
Eu o faria assim que tivesse a oportunidade.
Seria uma manhã torturante, mas minha cabeça ainda estava cheia por causa do sonho, então, tive esperanças de que isso manteria minha mente ocupada demais para pensar em sede.

-Eu também. - Aaron disse, e senti que ele sorria. Ele apertou minha cintura por um breve segundo, e depois me soltou devagar.
Ele sorriu para mim, abrindo a porta do carro.
Rapidamente Aaron estava ao meu lado.

-Estive pensando numa coisa. - Ele disse, quando já estávamos no caminho.
-O quê?- perguntei curiosa.
-Amanhã é sábado. Não precisamos acordar cedo, ou ir para a escola. Pensei em te levar a um lugar. A não ser que tenha outro compromisso...
-Não, não tenho compromisso. - respondi, rápido demais.
Eu caçaria naquela tarde, para ficar com Aaron todo o sábado.
Aaron sorriu, radiante com minha resposta.
-Para onde vamos? - Perguntei.
Surpresa. - Aaron respondeu ainda sorrindo.

Já no colégio, reparei que, de uns dias pra cá, Megan havia sumido.
-O que aconteceu com a Megan? - Perguntei a Liz no corredor, em direção a minha aula de Física. Eu não estava com pressa para ir, já que Filip estaria lá. - Olha não que me interesse por ela, mas é estranho, não acha?
-É. Realmente estranho. Eu também não ligo muito pra ela, mas deve ter acontecido alguma coisa muito grave pra ela não vir ao colégio, e perder a oportunidade de te infernizar. - Liz respondeu rindo.


Assim que entrei na sala, Filip não estava lá.
Estranho.
Ele também não perdia uma oportunidade de me infernizar.
Confesso que fiquei um pouco aliviada por não ter Filip nos calcanhares por um dia. Mas é muito estranho.
Megan sumida. Filip sumido.

Eu voltava para casa sozinha, já que Aaron disse que tinha umas coisas pra resolver.
Sasha não estava em casa, e ficaria fora o fim de semana todo.
 “Coisas do trabalho. Vai mesmo ficar bem sozinha?" Ela disse, antes de eu empurra - lá pela porta dizendo:
 “Claro tia, por favor, não se preocupe.”
Eu estava completamente sozinha. Sem Sasha, sem Aaron e principalmente sem Filip.
Eu usava meu pijama e bolinhas preferido, enquanto procurava morangos na geladeira. Claro, eu não era muito fã de comida, preferia mil vezes o sangue. Mas eu amava morangos. Tinham um gosto único.
Fechei a porta da geladeira, e para meu espanto, não estava sozinha.
-Santo Deus! - Exclamei com a mão no peito. Filip estava encostado na bancada da cozinha.
-Sentiu minha falta? - Ele perguntou, observando meu pijama.
Eu não disse nada.
-Claro que sentiu. - Ele respondeu a própria pergunta, se aproximando e fechando a porta da geladeira.

-O que você está fazendo aqui? - Murmurei, enquanto colocava o pote de morangos na mesa. O coração voltando ao normal.
-Vim te fazer uma companhia. O que mais? - Filip respondeu presunçoso.
Revirei os olhos.
-Seu pai mandou lembranças. - Ele disse, se sentando na cadeira próxima.
-Vocês tem se falado recentemente? - Perguntei curiosa. - Qual é o plano de vocês afinal? É você, ficar aqui, até minha paciência estourar, e eu voltar para Volterra?
Filip riu.
-Não sei qual é o plano do seu pai Jessica. Apenas estou seguindo ordens. Mas ele poderia parar de ser tão velho, e me mandar um e-mail ou um telefonema, ao invés de uma carta. - ele disse, bufando. Ah, ele te mandou isso. - Filip me passou uma carta. - Ele espera que você responda.
Também bufei quando ele disse isso. A carta estava endereçada assim: “Pra: Meu bebê.”
Revirei os olhos.
Eu mandaria um e-mail para Jane em resposta.