Mesmo depois de Chat Noir sair, Nathalie permaneceu no mesmo lugar, encarando, incrédula, a janela do quarto de Adrien. Sua mente ainda não conseguia processar a cena que tinha acabado de ver. "Então o anel estava aqui… esse tempo todo ele estava aqui…", pensava. "Ah não! Se o Gabriel descobrir…", ela sentia o coração acelerado. "O que ele vai fazer quando souber?", perguntava-se, "Ele seria capaz de lutar contra o próprio filho pelos miraculous?", ela sentiu um aperto no peito. Já sabia a resposta.
No mesmo segundo, seu celular indicou uma mensagem de Gabriel.

Chegou a hora.

Nathalie sentiu sua tontura aumentar. "Ele está vindo… Não posso deixar que ele pegue as jóias…". Tossindo,  caminhou depressa pelo corredor na direção de seu quarto, sentindo tudo escurecer repentinamente.

*

Não muito longe dali, Ladybug e Chat Noir estavam sentados no topo de um prédio em uma rua pouco movimentada. Marinette falava sobre as razões que ainda a faziam desconfiar que Nathalie e Mayura eram a mesma pessoa, mesmo depois das duas terem aparecido juntas. Lembrou-se da conversa ao telefone estranha que tinha escutado, explicando que talvez Nathalie estivesse ajudando Gabriel há muito mais tempo do que imaginavam. A azulada também falou que Gabriel não tinha deixado o miraculous da borboleta com um novo Hawk Moth, mas com a própria Nathalie.
— Você acha que ela está com as duas jóias? Mas… — O loiro foi interrompido.
— Pensa bem, Adrien, como você mesmo disse, ela é a única pessoa em que seu pai confiava. E aquela conversa estranha ao telefone que eu ouvi provou isso…
— Eu não acho que…
— Por favor, eu sei que é difícil para você pensar nela como uma vilã, eu mesma não consigo. Fiquei evitando pensar nisso por dias, principalmente depois daquele dia em que ela foi akumatizada.
— O problema não é esse, Mari…
— Eu sei, eu sei. O problema foi ela e a Mayura aparecerem juntas… Mas você lembra daquela vez que a Mayura criou um amok tão perfeito de mim que até você se confundiu? — Ele confirmou com a cabeça, um pouco a contragosto.
— Você acha que ela criou um amok de si mesma e akumatizou só para despistar a gente?
— Você não achou estranho a Mayura e a Nathalie terem sumido do nada naquele dia? Por que a Mayura fugiria justo na hora em que a gente foi se transformar? Estávamos vulneráveis, se ela seguisse a gente, estaria com os miraculous nas mãos… — Ela fez uma pausa enquanto observava o semblante pensativo dele — Lembra do dia dos heróis? O Hawk Moth ampliou seus poderes para akumatizar várias pessoas ao mesmo tempo, usando alguém já akumatizado para transformá-lo em Scarlet Moth. E, depois que todo mundo voltou ao normal, ele estava quase sem defesas quando a Mayura surgiu do nada e enviou um sentimonstro para nos distrair enquanto ele fugia. — Adrien continuava escutando atentamente — E, no dia em que fomos até o esconderijo dele e enfrentamos a Nathalie akumatizada em Copy Moth foi a mesma coisa. Ela lutava com a gente enquanto ele fugia. A Nathalie o ajudou esse tempo todo, Adrien, e, agora que ele não está mais em Paris, ela está usando os dois miraculous juntos, por isso os vilões pareciam mais fortes.
— Mas por que ela faria isso? O desejo só pode ser usado por uma pessoa, não é?
— Isso eu não sei… — Eles permaneceram em silêncio por alguns instantes, ambos perdidos em seus pensamentos.
— Tudo bem, eu acredito. — Adrien disse por fim, e os dois se encararam. — Chegou a hora.

*

Alix patinava enquanto ouvia música pelos fones de ouvido. Fechou os olhos por alguns segundos ao sentir o vento frio daquela noite nublada tocar seu rosto e balançar os cabelos rosas. Ao abrir os olhos de novo, observou as pessoas caminhando calmamente pelas ruas. 
Sorriu quando, dos fones de ouvido, conseguiu ouvir a melodia que iniciava sua música favorita, porém, antes que o refrão tocasse, um toque de notificações alto e insistente a assustou.
Patinou até um banco de madeira ali perto e apoiou uma das mãos lá enquanto desligava aquele alarme e conferia o que era. Sabia que não se tratava de uma mensagem comum, pois o barulho não seria tão alarmante quanto aquele. Ao tocar no aviso exibido pela barra de notificações do celular, precisou se apoiar para não cair.

*

Os dois heróis pousaram no telhado da mansão Agreste. Percebendo o olhar preocupado dele, a azulada tocou seu ombro e Adrien reagiu dando-lhe um abraço. Após se afastarem, o loiro sorriu determinado.
— Imbatíveis. — Ele disse e os dois fizeram o cumprimento que sempre faziam ao terminar uma batalha. Porém, antes que entrassem na mansão Agreste, o ioiô de Ladybug indicou uma mensagem de Alix.
— Oi! É que eu acabei de ver uma coisa meio… ah, olha você aí. — Ela falou e logo apareceu um pequeno vídeo de Gabriel Agreste no principal aeroporto da cidade, sem disfarce algum.
— Ok, isso foi…
— Estranho. — Adrien completou. — Vamos até lá ou entramos na casa?
— Por que ele apareceu agora, do nada e sem se preocupar em se esconder?
— Acha que é uma armadilha?
— Talvez…
— Então vamos entrar na casa, ele vai vir pra cá de qualquer jeito… — Chat Noir falou e ela assentiu, estranhando a atitude do pai de Adrien.

*

No carro, Gabriel observava, pelo celular, as câmeras da mansão. "Eles não foram até o aeroporto…", pensou, sentindo o sangue ferver.
Desligou o holograma no aeroporto, que seria uma pequena distração para os heróis enquanto ele, disfarçado, ia para casa pegar os miraculous da borboleta e do pavão.
— Mais rápido! — Ordenou ao motorista enquanto via os heróis em seu escritório, próximo ao quadro de Emilie.
"A Nathalie deve ter mudado a senha", ele pensava, até lembrar da conversa que tivera com ela ao telefone na noite passada e perceber que talvez não devesse contar tanto com Nathalie assim.

*

— Você acha que ela está aí? — Chat Noir falou ao ver Ladybug colocar a antiga senha no quadro. — Da última vez… — Antes que ele terminasse de falar, o elevador que levava ao antigo esconderijo de Hawk Moth se abriu.
— Pelo visto ela ainda não mudou a senha… — A azulada falou enquanto desciam no elevador.
— Aí tem coisa…
— Provavelmente a Mayura está nos esperando no esconderijo. — Ladybug falou.
— Você disse isso da outra vez…
Assim que chegaram ao antigo covil de Hawk Moth, viram que estava exatamente igual à última vez.
— Estou sentindo um déjà-vu… — Disse Chat Noir.
— É claro que ela não se esconderia aqui, com certeza ela tem outro esconderijo! Por qu não pensei nisso antes?
— Bom, então... vamos voltar lá pra cima?
— Eu sei lá, parecia que minha intuição me dizia pra vir… — Ela dizia, rodeando o local com os olhos.
— Quer esperar um pouco? Talvez meu pai apareça…
— Não, melhor irmos lá pra cima e procurá-los. Sabe-se lá que armas tem aqui. — Ladybug falou, apontando para as paredes que pareciam ter um sistema de segurança mais bizarro do que o da mansão. Ele assentiu e os dois entraram no elevador em silêncio.
Novamente, os dois jovens estavam passando direto pelo andar que guardava o corpo adormecido de Emilie, até que Adrien percebeu que tinha algo muito estranho ali.
— Espera! — O loiro parou o elevador antes que ele voltasse ao escritório de Gabriel. — Você viu aquilo?
— O quê?
— Tem outro andar! O elevador é programado para passar direto por ele, a não ser que alguém mexa aqui. — Disse ele, tocando o painel ao seu lado. — Deve ser lá que a Mayura se esconde, deve ser lá onde eles estão!
— Eu não vi nada, mas se você diz… — Ela falou.
O elevador desceu lentamente até que chegasse a um local estranho, repleto de borboletas brancas voando e de plantas esquisitas. Os dois heróis rodearam o local com os olhos, confusos.
Atravessaram uma pequena ponte até chegarem a uma espécie de caixa de vidro na qual, para a surpresa dos dois, estava o corpo adormecido da mãe de Adrien.
O loiro encarava a cena incrédulo, sentindo um misto de emoções tomar conta de se corpo, enquanto Marinette levava as mãos trêmulas à boca, atônita.
— O que… — Ele mal conseguia falar.

*

Gabriel, ainda no carro, encarava aflito e furioso o celular ao perceber que Nathalie realmente não tinha mudado a senha do quadro e que Ladybug e Chat Noir já tinham entrado em seu esconderijo.
"Emilie…", foi a primeira coisa que pensara, mas logo lembrou da garantia de Nathalie há algumas semanas de que ninguém sabia sobre Emilie Agreste. Os heróis estranhamente não tinham reparado que havia um andar extra quando entraram no covil de Hawk Moth na primeira vez. Mas agora a garantia de Nathalie não tinha mais tanto valor.
Ele lembrou que, ao perceber que os heróis poderiam entrar no esconderijo mais vezes depois que ele saíra de Paris, pediu para que Nathalie aumentasse o sistema de segurança do local e mudasse a senha. Mas, como ela tinha falado na época, se mudasse a senha, Ladybug e Chat Noir desconfiariam dela e o plano iria por água abaixo. Gabriel tinha concordado naquele dia e Nathalie pediu que ficasse tranquilo, pois o segredo estava seguro. Mas agora Gabriel se perguntava se realmente deveria estar tão tranquilo. 
Ele sorriu ao notar que, àquela altura, os heróis já deviam estar em seu covil e poderia ativar o sistema de armas contra eles antes que chegasse. Conferiu as câmeras do esconderijo, mas não havia ninguém lá e, ao invés de isso o tranquilizar, o deixou ainda mais furioso.
Procurava Nathalie pelas câmeras quando o carro parou na frente da mansão.

*

— Então… esse tempo todo… — Ladybug ainda não conseguia falar direito ao ver a expressão de Chat Noir observando aquela caixa. — É por isso que ele quer tanto os miraculous… "Trazer a felicidade de volta", foi isso o que ele disse na carta…
Adrien tocava a caixa que guardava o corpo adormecido de sua mãe, sentindo uma lágrima percorrer seu rosto. Ainda não conseguia acreditar no que estava vendo.

*

Nathalie levantou do chão, apoiando-se nas paredes e, ainda um pouco tonta, começou a caminhar até seu quarto. "Preciso pegar as jóias antes do Gabriel…", ela pensava lembrando-se da mensagem que recebera há poucos minutos. 
"Ele não pode… É o filho dele… Chat Noir… Não…", ela caminhava com dificuldade, sentindo tudo ao seu redor girar. Quando estava na porta do quarto, foi atingida por uma forte crise de tosses e a tontura pareceu aumentar. Ajoelhada no chão, ouviu a porta do local se abrir, sentindo um certo alívio ao imaginar que poderia ser Adrien. Porém, quando se virou, viu que era Gabriel Agreste.
— Não… — Ela falou, tentando, em vão, levantar-se para impedi-lo. — Você não pode… O seu filho… — Gabriel a ajudou a levantar.
— Onde estão? — Disse ele, ao conferir as câmeras do esconderijo novamente e perceber que Ladybug e Chat Noir não estavam lá. — Nathalie, onde eles estão?
— O seu filho… ele é…
— O Adrien está aqui? — Ela negou com a cabeça, sentindo-se tonta mais uma vez. — Ah, deve ter saído com a tal namorada. — Ele conferiu as câmeras da casa mais uma vez. "Eles devem estar no andar de Emilie…" — Me diga onde está os miraculous, Nathalie. Você já me ajudou mais do que podia.
— Não… Gabriel… Você não… — Ele percebeu que Nathalie olhava muito para uma certa gaveta do guarda-roupas.
— Descanse, Nathalie, eu já chamei um médico para você. — Disse, abrindo a gaveta, mas, para sua surpresa, a secretária se levantou para impedi-lo.
— Eu não vou deixar… — Ela falava, logo antes de começar a tossir. Gabriel iria responder, mas um toque no celular indicou que os heróis realmente estavam no andar de Emilie. Ele buscou freneticamente as duas jóias, até que as encontrasse. — Não!
— Duusu, Nooroo, unificar!
Hawk Moth, agora também com os poderes de Mayura, sentiu uma nova força crescer dentro de si. — Agora a batalha será mais justa… — Falou, com um sorriso macabro no rosto ao olhar o novo traje. Mas logo voltou a si, olhando para o celular que mostrava os dois heróis em frente à câmara que guardava Emilie.
— Não faça isso…  — Nathalie sussurrava.
Ele começou a correr para o esconderijo, até que ouviu sua secretária dizer, com muito esforço:
— Gabriel… o Adrien… seu filho… é o Chat Noir!