O nariz de Astolfo dançava em meio às diversas fragrâncias produzidas pelas belas flores que, em meio à um grandiosamente belo jardim, se encontravam. Suas cores eram as das mais diversas, ao ponto de causarem certa confusão confusão nos receptores em seus olhos, isso para que em alguns breves e efêmeros milésimos as coisas voltassem à seus padrões originais, ou pelo menos aquilo que o servo poderia julgar como tal. Talvez isso tudo estivesse entrelaçado com sua idade como Espírito Heroico ou mesmo poderia ter algum envolvimento mágico em relação aos ocorridos na guerra última pelo Santo Graal em que esteve presente.

    Não… não queria pensar em tal evento — esse que constituía uma pequena parte de seu passado — ou melhor, não poderia, pois se o fizesse acabaria por voltar ao estado de melancolia que tanto tentava evitar ao longo de todos esses arrastados anos em que viveu como parte da sociedade humana, como uma pessoa comum, ou ao menos na medida do possível para alguém como o rosado, afinal, viver em um mundo onde magos andavam livremente por aí ainda era algo complicado.

E de repente, bem em meio aquele instante, nenhuma das flores lhe parecia ter uma fragrância agradável em meio ao enorme jardim onde estava sentado. Era incrível como um mero resquício de uma lembrança, algo como apenas um breve e sutil pensamento em meio a tantos outros, mas este em especial lhe veio sem pretensão alguma e de alguma forma conseguia vir a escurecer todo um momento que seria teoricamente perfeito. Era um cavaleiro lendário, um condutor amplamente conhecido, era Rider Negro, um Espírito Heroico extremamente nobre, uma lenda viva e um dos cavaleiros de Carlos Magno; não poderia deixar-se abater com tanto facilidade, seu mestre viria a ficar decepcionado consigo se viesse a descobrir.  Por outro lado… lhe parecia extremamente justo — quase que inevitável, na verdade — que se sentisse de tal forma, havia deixado seu coração voar alto de mais e Sieg, sendo como a lua que vinha a iluminar seu precioso céu, veio a enlouquecer cada um de seus sentimentos e depois de tudo o que passaram durante os efêmeros — porém preciosos — momentos, sentia-se como Ícaro, caindo, desfalecendo-se a caminho da morte por tentar voar alto de mais, e assim alcançar a parte mais bela do céu. Astolfo veio a cair de amor, mas no fundo não estava realmente triste com isso. Não… se possuísse mil vidas gostaria que tal coisa viesse a ocorrer em todas elas… banhando seu coração na insanidade que chamavam de amor por aquele que veio a seguir até seus últimos dias em guerra.

De fato, o fato de ter se apaixonado não lhe era a parte mais dolorida em meio a toda história de batalhas pela qual passaram juntos e também não era o caso de vê-lo de mãos dadas junto da bela e santa dama — apesar de tal lembrança ainda sim lhe causar um pouco de dor e desconforto em meio ao âmago de seu ser —, não, também não também não era exatamente isso… sua maior dor foi ver sua amada lua partir, tudo por culpa do maldito desejo daquele “juiz” que de justo nada tinha — ou talvez, esse pensamento só viesse por conta de seu egoísmo em querer manter Sieg apenas para si —.

Astolfo então se levantou, levando consigo uma pequena flor cujo não parecia lembrar-se do nome, a mesma era possuidora de alguns belos tons sem suas pétalas, misturando as tonalidades entre o carmesim e o vinho, assim como as belas íris de seu amado, ou talvez fosse apenas seus velhos olhos vendo de mais.