BOIN - Amor das Profundezas escrita por AJFrancklyn
No apartamento ao lado, a discussão durou um bom tempo. Porque ninguém ouviu? Porque o casal sempre discutia em voz baixa. Porque isso? Bom, eles eram imigrantes. Ops! Eles eram imigrantes ilegais, e por isso evitavam chamar a atenção para si. A família era composta por Déboras, garota de 17 anos que sonhava com uma oportunidade na vida; Diana de 25 anos, mulher trabalhadora e esforçada que tinha uma mente muito boa para negócios; e Antônio, 27 anos, irmão de Déboras. Foi dele toda a ideia de arriscarem a travessia da fronteira e tentaram uma vida nova em outro país.
A chegada da família só foi possível através de um coiote, um guia que conhece os caminhos e faz travessias pela fronteira, e essa foi realizada à duras penas. Do grupo de 25 pessoas, saído do país emergente, apenas 7 conseguiram entrar, três morreram na travessia e 15 foram presas e deportadas.
Naquele momento, Déboras tomava banho.
— Não era bem isso o que eu tinha em mente, Antônio.
— E acha que era o meu pensamento? Também não estou satisfeito. É ter calma. Não vai adiantar se desesperar.
— E o que pretende fazer?
— Vou continuar o que tenho feito: procurar algum trabalho. Uma hora hei de encontrar.
— Só temos dinheiro para mais um mês de aluguel e precisam…
A campainha tocou, interrompendo a conversa mais acalorada. O rapaz olhou pelo olho mágico e em seguida abriu a porta. No apartamento entrou um homem branco, de olhos azuis e um pouco barrigudo. Era o coiote. Essa atividade ele exercia já há algum tempo. Iniciada em um momento de quebradeira total, devendo mundos e fundos, um colega se aproximou e fez a proposta para trabalharem juntos. Nisso estava há anos.
— Ora! Ora! Se não é o verdadeiro grupo de sobreviventes — disse num tom sarcástico.
— Como nos encontrou, Wesley?
Ele riu alto, não se importando com a hora da madrugada.
— Falar pra quê? Mas trabalho com isso há bastante tempo, não consegue deduzir?
Antônio se calou pois, ao menos naquele momento, nada lhe veio à mente.
— E o que quer?
— Olha só. Sua namorada soube fazer a pergunta certa. Mesmo assim é bem fácil de entender.
Geralmente Wesley queria dinheiro extra para bancar os seus luxos e vícios, já que o salário como policial era insuficiente. Mas dessa vez não era só aquilo. Ele olhava para os lados como se procurasse algo.
— Não temos dinheiro se é o que está querendo.
— Olhando esse pardieiro onde moram, nem é difícil de imaginar. E é exatamente isso o que me interessa…
Ele cessou a fala ao ver a jovem garota sair de dentro do banheiro, enrolada em uma toalha. Antônio parou frente à irmã, bloqueando a visão do coiote.
— Uau! Dessa daí eu gostei.
— Melhor rever seu posicionamento.
Diana pegou uma faca de cortar carnes e parou perto do marido. Discretamente Wesley moveu a lateral do paletó exibindo a pistola.
— Acho que não precisamos chegar às vias de fato. Apenas quero um valor extra. Acho que U$15,000.00 pelos três foi muito pouco.
— De quanto estamos falando?
— Quero mais U$15,000.00.
— É muito dinheiro. Não temos como levantar essa quantia. — Foi direta, Diana.
— Cada um com seus problemas, né?! Vocês têm dois meses para resolverem isso. — Ele olhou novamente para a adolescente — Ou resolvo eu.
Saiu pela porta, deixando uma família atônita para trás.
Tudo na vida tem um preço.
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