BOIN - Amor das Profundezas escrita por AJFrancklyn


Capítulo 43
Mansplaining




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A reunião seria no final da tarde, por volta de 18h. O agendamento feito no dia anterior convocava todos os funcionários. Algo visto raras vezes. Só assim foi possível que alguns, antigos conhecidos de trabalho, se reencontrassem. Além de assuntos de longa data, eles teciam análises, além de confabulações, a respeito do que se tratava aquela reunião, mas estava bem além do que se imaginava.

Mirtis subiu no lugar de destaque, pegou o microfone e o testou:

— Um! Dois! Um! Dois. — Constatado o funcionamento ela iniciou: — Boa tarde, pessoal.

Não houve resposta, o que ela ignorou, e deu prosseguimento. Naquele instante, vice-presidente e presidente, chegaram e sentaram em cadeiras atrás dela.

— Como vocês sabem eu sou a nova gerente de operações e estou aqui para falar de alguns números e a visão da empresa para os próximos anos.

O olhar dos funcionários não passava qualquer credibilidade a ela.

— Sei que vocês têm visto demissões, e mudanças na forma como prestamos serviço. E isso vai mudar ainda mais porque se trata de um processo de transformação da empresa. Logo teremos mais demissões, além de novas formas de atendermos nossos clientes, e a utilização de novos materiais nessas demandas.

E continuou:

— Para tanto, demitiremos, até o final dessa semana, dois terços dos funcionários e, colocaremos em seus postos, estagiários que serão monitorados pelos antigos funcionários que permanecerem. E nós teremos, a partir de agora, um novo fornecedor, a AntiMoke Componentes LTDA.

No meio dos funcionários, um levantou a mão.

— Sim.

— Isso não seria ruim para a empresa? Afinal, com menos funcionários especializados, e ainda tutelando os novatos, somado à substituição dos componentes de uma empresa certificada, testada e aprovada, por outra com peças mais baratas, o aumento no tempo de serviço pode aumentar consideravelmente, além de ser desastroso.

Mirtis se incomodou com o questionamento, mas manteve a compostura.

— Qual é o nome do senhor?

— Idalgo.

— Certo. Senhor, Idalgo. O senhor trabalha em algum ponto estratégico da empresa?

— Não.

— Logicamente não tem conhecimento sobre as análises de risco e cálculos de método, gestão de crise e investimento.

— Não sei nada disso.

— Então?

— Senhora Mirtis, eu sou funcionário de campo. Eu trabalho todos os dias com esses equipamentos de automação bancária. Eu estou ao lado dos gerentes e responsáveis pelas agências. Eu sei a pressão que é, e o caos que se torna, quando uma dessas máquinas para de funcionar. Eu sei que o nosso contrato é grande e que, a empresa, só tem esse. O que me leva a pensar o que poderia acontecer se nós o perdêssemos, digamos, por apostarmos em uma ideia “revolucionária” e que “parecesse” bem-intencionada. Demissão em massa? Processos na justiça? Fechamento da empresa? Prejuízo irreparável aos proprietários?

Quando Idalgo se calou, todos os funcionários o aplaudiram. Mirtis levou um tempo para assimilar as informações:

— Isso que você está fazendo é mansplaining, que é o homem explicar algo óbvio a uma mulher, de forma didática, como se ela não fosse capaz de entender. Não é necessário, eu sei bem o que estou fazendo e entendo o seu ponto de vista. Tanto que tudo isso foi considerado. — Ela Mentiu. Tão mal que nem ela acreditou.

— Acreditem, senhores, tudo o que a senhorita Mirtis falou está alinhado com a visão da cúpula da empresa.

Quem falou isso foi Roberto, o próprio presidente da empresa, e a reunião prosseguiu por mais 40 minutos até todos serem liberados.

Diante dos fatos, Pedro tinha boa ideia do que fazer, só precisava de um pouco mais de coragem.


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