You Make It Feel Like Christmas escrita por isa


Capítulo 1
It barely took a breath to realize...


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal :)
Essa é uma historinha que estava engavetada aqui desde o natal passado, no mínimo. Faltava só um final e acho que a data de hoje era o empurrãozinho que eu precisava para conclui-la. Em meio a um contexto tão doído e sombrio como o que estamos vivendo, há causas muito importantes para mim que merecem ser celebradas. Essa é uma delas. Espero que gostem da fic ♥

Ah, e já me antecipando caso apareçam por aqui amigas antigas de outras viagens: que saudades de vocês! Eu sei, eu sei, faz muito tempo. Eu sei também que vocês estão esperando uma Drastoria por aqui. Ou aquela Albus/Izzy que está inconclusa me assombrando há anos. Quem sabe, né? Meu coração está sempre aberto para todos os ships, só falta a inspiração. Um beijo com a esperança de que estejam todas se cuidando bem.


Por fim, mas não menos importante, eu detesto Cursed Child como todo mundo, mas confesso que o Albus sendo otário é um prato cheio para minha escrita. Por isso eu quase sempre uso a historia como plano de fundo. Mas, de novo e sempre: não precisa nem ter lido para conseguir aproveitar a one. ;) e se quiser ler escutando a música que serviu de inspiração, aqui vai: https://www.youtube.com/watch?v=DkXD5949qqQ



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Rose posou seus olhos clínicos em mim, como eu temia.

— Albus, você deveria se lembrar que já conseguiu convencê-lo a fazer coisas muito mais estúpidas do que beijar você.

— O que? – eu gaguejei, concentrando-me no fato de que minhas mãos estavam suadas. Eu odiava quando elas ficavam assim. Eu costumava odiar muitas coisas. Incluindo minha prima naquele instante. – Eu não quero convencer ninguém de nada. – Mas será que ele precisaria ser convencido?, a pergunta me assombrou mentalmente, o que não ajudou em nada o meu estado de nervos. 

— Use todos os pronomes indefinidos que você quiser. – Rose deu de ombros. – Eu não ligo.

— Qual é o seu problema? – eu grunhi, sem nenhuma outra boa coisa para dizer. Por Merlin, vigiar a janela e tentar esconder os sinais corporais que denunciavam o quão desequilibrado eu era já eram tarefas difíceis demais sem Rose me enchendo o saco.  

— Meu problema é que meu melhor amigo não consegue me contar a verdade. E o seu problema, Albus?

Havia tantas respostas para essa pergunta que era impossível selecionar apenas uma. Como por exemplo a) quando eu entrei na puberdade, eu tive problemas sérios com figura paterna e ao invés de recorrer a livros trouxas de psicanalise eu decidi usar um vira tempo e mudar a história, o que quase fez com que toda a realidade tal qual eu conheço deixasse de existir e b) na minha jornada auto destrutiva de herói que precisa imensamente provar que não é a sombra de Harry Potter eu ignorei completamente as necessidades e problemas das pessoas com quem eu mais me importava e c) apesar de tudo isso ter acontecido há 3 anos, as sequelas emocionais estão em mim até hoje e d) eu não tenho a menor ideia de como não deixar que a vergonha consuma a maior parte dos meus dias.

Algo na minha cara deve ter me denunciado porque Rose fez um pequeno ‘oh’ com a boca, antes de dizer:

— Puxa vida, o problema é eu ter saído com Malfoy no quarto ano?

Eu estou certo de que todos os sinais possíveis e ultrajantes de “essa pessoa está prestes a ter um colapso nervoso” se acenderam em mim como uma árvore de natal. Eu não estava nem pensando nisso porque, como sempre, estava muito concentrado em mim, mas agora que ela havia mencionado, havia toda uma nova camada de desconforto em estar apaixonado pelo meu melhor amigo que, [e eu deveria ter me lembrado disso] havia saído com a minha prima que, [lentamente pequenas gotículas de suor começaram a brilhar na minha testa] por acaso também era minha melhor amiga.

A careta foi inevitável.

— Caramba - Rose disse de novo. – Você nem tinha pensado nisso, né?

— Agora é impossível esquecer.

— Você quer algum conselho? – ela provocou.

— Você só pode estar de sacanagem comigo! – a risada de Rose ecoou alta pelo meu quarto.

— Desculpa, é só que a sua cara... – ela meneou a cabeça, contendo o riso. – Olha, Al, você nem deveria se preocupar. Foi tão irrelevante, rápido e errado enquanto romance que eu sequer contaria como um, não fosse pelo fato de que foi assim que nós dois nos tornamos amigos e tudo mais.

— Mas ele era apaixonado por você. – eu balbuciei, lembrando dos nossos quatro primeiros anos em Hogwarts e pensando que todos os recentes sinais não passavam de alucinações pessoais.

— Não, ele era fascinado por mim, e quem poderia culpa-lo, não é mesmo? – Rose piscou e eu fui obrigado a sorrir e girar os olhos ao mesmo tempo. – Mas apaixonado? Isso sempre me pareceu ter mais a ver com você, Albus.

— Ele te disse isso? – perguntei, antes que pudesse me conter.

— Eu não vou revelar minhas conversas privadas com Scorpius, pare de forçar a sorte. – ela cruzou os braços imediatamente.

— Desculpa, por favor, continue sua análise.

— Como eu ia dizendo... – ela relaxou de novo. – Se você chamasse, Scorpius saia correndo. Se você dissesse “tive uma excelente ideia, vamos botar fogo na escola”, ele te ajudaria, mesmo sabendo que isso não era nem de longe uma ideia, que dirá excelente. Você conseguiu convencê-lo a voltar no tempo, sabe muito bem do que eu estou falando.

— Sei. – murmurei, constrangido.

— Não disse todas essas coisas para você começar a se sentir culpado, faça-me um favor, Albus, tire essa cara deprimente do rosto, é Natal.

— Desculpa, sério. Não queria soar dramático. – suspirei, sabendo que eu era um caso perdido.

— Não precisa pedir desculpa, apenas... Sorria, tudo bem? Isso é uma coisa boa. E pare de encarar a janela como um louco, ele vai chegar. – recomendou, dando uma batidinha no meu ombro.

Eu me esforcei para sorrir, mas não consegui seguir a segunda parte do conselho; Rose me deu privacidade e eu continuei com a ponta do nariz quase colada no vidro. No momento que Scorpius surgiu na frente da minha casa, minha barriga se contorceu em agonia.

A maioridade bruxa tinha feito bem a ele, era o que eu vinha constatando diariamente desde setembro, quando voltamos para Hogwarts para o nosso último ano. Ele não parecia nada com o menino franzino que eu havia conhecido no primeiro ano escolar. Quero dizer, ele ainda era magro, mas a altura – adquirida em algum momento das férias passadas – havia lhe conferido certa imponência. Eu tive que começar a olhar para cima para falar com ele. Além disso, a beleza quase andrógina, a la David Bowie (um músico trouxa por quem Lily é apaixonada) parecia ressaltada agora que seu rosto adquiria feições mais adultas.

O que eu quero dizer com isso (além do fato implícito de que eu vinha observando o rosto do meu amigo mais do que parecia razoável ou conveniente) é que ele definitivamente não era mais alvo de piadinhas. Seu nome aparecia em outras rodas de burburinho, geralmente compostas por meninas do quinto ano.

Para ser muito honesto, nós dois havíamos nos livrado do posto de esquisitões, ao menos no imaginário coletivo, muito por conta da nossa aproximação e convivência com Rose, é claro. Mas isso não significava que a gente tenha deixado de ser esquisito de verdade. Desde que eu começara a notar Scorpius de um jeito que não sabia definir, aliás, era como se eu tivesse escalado o ponto mais alto no que concernia a me sentir esquisito. Se fosse um teste, eu receberia um “Excede Expectativas” ou “Ótimo” nessa sensação. Era como fundar e ser o rei absolutista e eterno da cidade da Esquisitice Crônica, onde as condições climáticas variavam de Congelando de Medo de Fazer Algo Errado à Queimando por Dentro Por Não saber O Que Fazer. Não era um ambiente muito agradável, e, ainda assim, eu era sugado para ele toda vez que via Malfoy.

— Oi. – eu disse, depois de descer as escadas aos pinotes para recebê-lo na porta antes que minha mãe pudesse fazer o mesmo.

— Oi. – Scorpius disse, dando uma olhada na decoração promovida por Lily. – É legal chegar aqui e perceber que nem todas as casas precisam ser como mausoléus. – sorriu.

— Ah, é. Acho que meus pais se esforçam. – a resposta tinha o único intuito de fazê-lo rir um pouco, o que realmente aconteceu. – Como você está?

— Bem. – e como isso poderia significar umas quinhentas coisas, inclusive o contrário, decidi ser mais sensível e específico:

— E o seu pai?

— Ah, você sabe. – ele encolheu os ombros. – É sempre difícil dizer. Mas acho que ele está bem, do contrário eu não teria conseguido vir. – assumiu. – Vovó está com ele.

Eu assenti com a cabeça, pensando um pouco sobre isso. Datas comemorativas eram difíceis para os Malfoy desde a morte de Astoria. Ela era como o espírito das datas felizes ou algo assim. Não pela primeira vez, me peguei lamentando a sorte do meu amigo e de Draco. Diferente do meu pai, eu gostava do pai de Scorpius. Se existisse um clube de pessoas que realmente foram estúpidas na adolescência e morrem de vergonha disso, nós dois estaríamos inscritos e trocaríamos acenos de cabeça cumplices na hora de prestar depoimentos para o grupo sobre como nossas ações deram pequenas vantagens indevidas para um bruxo megalomaníaco como Voldemort [100 pontos para a Sonserina!].

Quanto a avó de Scorpius, eu não sabia exatamente o que achava dela – na maior parte das vezes ela só me parecia uma velha muito rica sem nenhum senso de realidade. Mas então, se eu me distraísse o suficiente e depois a olhasse de relance eu poderia ver o vislumbre da marca indelével de tristeza que parecia pertencer a todos os Malfoy.

— Que bom – eu murmurei por fim, sem ter certeza de que esse era o melhor comentário para encerrar o assunto. Vejam, é isso que acontece quando nos envolvemos muito na vida de outras pessoas. Sempre acabamos em terrenos estranhos. Talvez fosse por isso que eu me focasse tanto nos meus próprios problemas. Eu já conhecia todos os meus terrenos baldios.

Scorpius arqueou uma sobrancelha exatamente como o seu pai costumava fazer e eu pensei como diabos alguém algum dia já pode cogitar que ele era filho de Voldemort.

— Duas perguntas sobre mim. – ele constatou. – Se eu não te conhecesse, Potter, eu diria que você está tentando me agradar. – brincou.

Eu estava.

— Haha. – foi a única coisa que eu consegui responder com a garganta seca.

Scorpius me seguiu até o meu quarto, e embora isso já tivesse acontecido milhares de vezes antes, em nenhuma delas eu senti como se estivesse prestes a morrer.

— E se eu tivesse? – perguntei com a coragem de quem está com a pressão sanguínea enlouquecida, sentindo a pulsação do próprio coração na orelha.

— Hm? – ele perguntou, já distraído com os novos hq’s na minha prateleira.

— E se eu tivesse tentando te agradar? – coloquei as mãos nos bolsos. – Funcionaria?

Scorpius se voltou para mim. Eu tentei me acalmar pensando que nossa amizade poderia sobreviver a uma investida romântica abrupta e mal calculada da minha parte. Rose estava certa: ela já tinha sobrevivido a coisas piores.

Eu encostei a porta atrás de mim; apesar de estar morrendo de medo do que quer que viesse, eu sabia que não poderia me desculpar se desviasse os olhos dos dele naquele instante.

— Bom... – Scorpius disse, abrindo um sorriso meio cansado. – Funciona até quando você não tenta, não é?

Eu engoli a seco.

— Eu gostaria de tentar mais vezes.

— Ah é? – dessa vez ele riu com vontade, a ponto de deixar a mostra a covinha na bochecha esquerda. Eu não soube calcular quantas batidas meu coração saltou. Gradualmente, no entanto, seu rosto voltou ao normal e ele pareceu ponderar um segundo, constrangido, antes de dizer de maneira firme: – Você pode começar agora, por exemplo.

Eu fiz que sim com a cabeça, mas continuei parado. Scorpius também não se moveu e eu compreendi que eu precisaria de toda a minha coragem para transpor os sete passos de distancia que nos separavam, o que eventualmente eu fiz, porque ele era o único presente de natal que eu precisava.

E quando nós nos beijamos pela primeira vez, foi como se toda a alegria possível de ser sentida de repente tivesse feito casa no meu peito. Eu não tinha ideia de como o resto da noite seria, mas para mim, finalmente, havia todos os motivos do mundo para se comemorar.


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