Exilados escrita por L S


Capítulo 9
Habits


Notas iniciais do capítulo

i'm back! eu to tão feliz que vi que tem uma pessoa acompanhando, sério!
oi pessoa, tudo bem? Aproveita o capítulo!



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Amon

Eu não sabia que horas eram. Estava na praia perto de casa, que agora estava fria e deserta. Eu não ia me arriscar entrar e ficar espirrando depois, mas queria pensar fora de um lugar que não me lembrasse de Aura.

Ela me falou que eu tinha minha eternidade, mas não sabia ao menos que eu amava ela. Sério, o que ela tem na cabeça pra namorar o Nickolas? Ele tava na cama de Milena na noite anterior e agora já estava com ela. Olho para o mar, azul escuro e calmo como ela quando dormia. Balanço a cabeça me teleportando para a cidade. A essa hora havia apenas alguns mercados 24 horas aberto, mas eu não ligava pra isso.

Manhattan era iluminada por prédios e carros e não paravam nunca. Por obra do destino, estava na frente do Empire State, ri com a ironia das parcas. O que elas pensavam? “um dia, você poderá subir ao Olimpo, irá se desculpar pelo pecado de nascer e será um deles”? Me afastei, pegando um metrô para o central park. Ali, havia um pequeno bar de aparência antiga, mas  não me importava muito, só queria beber.

—Identidade por favor - mostrei minha CNH - tenha uma boa diversão senhor

—Muito obrigada - entrei me sentei em um banco. Ainda era começo da noite, mas estava consideravelmente cheio para uma quarta. - um whisky por favor

—Não é muito novo pra isso garoto? - revirei os olhos me virando

—Se eu entrei aqui é porque não sou novo certo? - na mesma hora me arrependi de olhar o homem.

Ele não devia ser mais alto que eu, mas era mais forte e mais musculoso. Era bronzeado, o cabelo verde caiam quase nos ombros e os olhos verdes eram selvagens. Talvez ele não ele reconheceria, mas eu reconheceria ele de longe. Poseidon, deus dos mares, estava ao meu lado, em carne e osso.

—Talvez, se sua identidade não for falsa… - ele abriu um sorriso maroto

—Te garanto que não - peguei a garrafa e despejei o conteúdo no copo - o que te traz aqui plena quarta feira?

—Te pergunto o mesmo - o barman deu uma garrafa de rum a ele - o que traz um jovem tão novo à um bar pleno começo da noite?

—Coração partido, e você não me respondeu ainda

—Mulheres - ele bebeu o conteúdo direto da garrafa - Elas te causam um pandemônio se você deixar

—Pandemônio? O que te fizeram cara? - Me servi de mais uma rindo seco - Querem tua pele?

—Quase isso - ele pegou sua garrafa e fez o álcool sair da garrafa fazendo uma bolha. Ele engoliu aquilo sem careta - Imagine que você tem um imóvel caro. Sua ex namorada quer o imóvel, mas você se casou legalmente com outro mulher. É basicamente isto. O que você tá olhando?

—Você.. Bem.. - ok eu não sabia disfarçar - o Rum, eu vi - bebi mais um tanto, agora na boca da garrafa

—Ah, você vê - ele bebeu mais - tudo bem, se acostume; o mundo é louco mesmo

—Percebi. Então… Essa sua ex, ela tá te dando uns nervos?

—Nervos é pouco - riu - a mulher é uma feiticeira, está colocando todos do meu… Como que fala? Não sei… Todo mundo talvez? Contra mim. Ainda tem alguns conhecidos que não se pronunciaram, mas to pra perder tudo se um cara muito importante - ele fez um sinal de dinheiro com a mão - ficar do lado dela, é o fim

—Tá mas como ela vai conseguir tirar?

—Tenho um filho com ela. Quer dizer, o filho não é meu, eu tenho certeza, mas não tenho como provar

—Não tem uma marca de nascença nem nada para provar? Tipo, você fez aquilo com o rum, ele faz também? - acabei minha garrafa numa golada demorada. Pedi outra pro barman já tonto - Você tem que pensar nos detalhes tá ligado?

—Todo mundo tem isso no meu reino garotão

—Você tá falando que sua ex quer teu reino mano? - ele pareceu ficar um pouco mais sóbrio, pediu mais uma garrafa pro homem

—Imóvel, não sou nada pra ter reino

—Eu não to tão bêbado porra - abri a garrafa e me servi - você tem poderes eu vi, você é forte

—Eu não…

—Para disso, me fala quem você é - semicerrei os olhos - Ou eu preciso adivinhar?

—Eu não preciso de mais inimigos ok? - ele deu uma longa golada - Poseidon, prazer - ele estende sua mão, apertei

—Amon, prazer - ri internamente - Poseidon tipo o cara da água hein?

—TIpo isso, mas sou original - ela deu uma piscadela me olhando

—Oh

Houve um silêncio confortável. Continuei bebendo enquanto ouvia “Carta aos Desinteressados” no celular, percebendo que havia algumas chamadas perdidas de Aura e de Métis. Mandei uma mensagem pra Métis falando que chegaria no dia seguinte e que não era pra se preocupar e coloquei o celular no bolso

—Sua namorada?

—Minha mãe. Tá preocupada por eu sair do nada, sem levar o carro

—Se quiser te levo pra casa no meu. Meu patrão, trás um Rum pra esse bom homem!

Estremeci só de pensar o quão bêbado eu ia ficar essa noite

—Aposto que não consegue se equilibrar em uma perna só - ele me olhou incrédulo

—Eu sou um Deus rapaaa - ele se levantou - eu consigo! - e caiu assim que o pé direito saiu do chão - Ok eu me deixei muito bêbado - eu ri alto com isso e ajudei ele a se levantar e sentar-se no banco

—Um deus precisa se deixar ficar bêbado?

—Um pouco, sim claro - ele virou a garrafa na boca - Mas a gente pode deixar mais sensível a bebida humana entende?

—Entendo sim - abri a garrafa de rum rezando já - eu comecei a beber faz um ano, não sou tão forte quanto você

—É sim po, ta bebendo rum já - ele riu - sorri por educação porque por dentro eu tava chorando de desespero

Continuamos a conversar e bebendo. Quando me dei conta, o bar já ia fechar - era umas três ou quatro horas da manhã. Cambaleamos até a rua do parque rindo, eu já tinha uma ideia de onde ir agora, mas o deus era insistente, querendo me levar até em casa

—Tem certeza? 

—Você age como pai mano - ri - sério, tá tudo bem, não quero voltar agora

—Tá tudo... Er... Não quer dar uma volta no meu carro? -olhei pra ele incrédulo. Tudo bem, não consegui enxergar nada mais que um borrão verde girando, mas eu ainda estava consciente

—Nossa quero vamos – ele me pegou no braço e cambaleamos ao que parecia um carro azul sem teto.

—Por que isso não tem teto?

—E você ainda tá bem? - ele riu alto, alguns pássaros saíram voando com o som grave - cara, isso é um conversível

—To ótimo - andei até o carro e sai de cara num estofado - onde saiu isso? Ah, é o carro, uau - me ajeitei no banco, mas quando vi o volante imediatamente pulei pra lá. Poseidon entrou no carona com uma garrafa de vodka na mão

—Eu quero essa porra ai - peguei da mão dele dando um gole. Era pra isso ter mesmo gosto de água? 

—Vamos correr até morrermos ok? - gritei alegre e liguei o carro

—Vamos caralho

Acelerei com tudo gritando e rindo. O deus me olhou como se fosse louco, já que tecnicamente eu era o mortal ali, mas pouco me importava agora. Em segundos, ele também ria como um louco.

Em poucos segundos estávamos passando pelo Olimpo e depois, estávamos dando voltas na Times Square. Meu celular tremia no meu bolso junto aos fones e tive a melhor ideia do mundo

—Conhece Supercombo? 

—Conhece o freio? CUIDADO - desviei em tempo recorde de um poste - Não conheço não

—Então já sei o que tocar - toquei o rádio e fiz tocar Mamonas Assassinas, ri como um louco

Comecei a cantar a plenos pulmões, Poseidon ao se tocar que era Brasília Amarela também começou a cantar, e a cada refrão eu acelerava mais, até não ter como mais. A próxima era um funk antigo, enquanto isso eu atravessava Long Island

—Mano bora Montauk tenho casa lá - olhei pro cara do meu lado. Ele tava rindo, o rosto bronzeado ainda girando um pouco. Assenti levantando as sobrancelhas meio sem entender mas sabia que Montauk era na ponta da ilha.

Chegamos em minutos, só porque queria passar mansão antes. Poseidon não entendeu direito porque eu fui até Sammy Beach e voltei, mas eu queria ver de novo a arena deserta, os lobos dormindo na porta e a casa totalmente apagada, os dois carros estacionados na frente da arena e de longe a única moto dali. Dei meia volta e fui com tudo pra Montauk

—Só avisar onde parar grandão - já não estava tão rápido, ou seja, eu conseguia ver a praia borrada, mesmo que pra mim ela estava borrada e girando, como meu estômago no momento

—Aqui cara - ele apontou pra uma casinha branca, parei na porta dela praticamente. Desliguei o som que tocava Careless Whispers, cover do Seether, e olhei pro céu com a cabeça jogada pra cima

—Isso é incrível

—Ficar bêbado?

—Ter liberdade, sair sem ter medo de ser visto e morto

—Porque um mortal teria esse medo?

—Porque qualquer um não teria esse medo? Quantos inimigos você tem? Quantos querem o que você tem? Quantos não roubam o que você deseja pra ver mal? Quantos te queriam morto? - ele pareceu pensar enquanto bebia uma vodka azul

—Muitos po, mas você sabe que sou importante e fodão

—Eu queria ser importante e fodão, mas sou só meio procurado mesmo

—Por quê?

—Um dia, você vai me ver sóbrio, e vai entender

Ele me olhou, a cabeça pendedo pra frente e pra trás. Dando um sorriso ele saiu do carro

—Cara, meu sogro me quer morto até hoje - sai do carro da mesa forma que entrei: caindo - me proibiu de ver minha mina 'tá ligado? toda vez a gente briga por causa disso, só falta nós dois sair no soco, ai minha mina que separa a gente

—Vocês não se veem então?

—Às escondidas, mas os últimos anos só nos encontramos em reuniões formais, com o pai dela

—Isso é horrível, vocês nem se tocam direito

—Mas ela é minha rainha, então também vai pro meu reino - risada maliciosa, queria não ter entendido - mas agora com aquela puta tentando me derrubar ta foda - ele entrou na casa e eu fui junto, quase caindo na sacada

A casa era pequena e simples: a entrada era a sala, com um sofá preto fofinho, uma tv e uma mesa de centro, do lado direito duas portas e mais no fundo uma cozinha americana com direito a banquinhos na meia-parede.

—Bonito e quente, tá mó frio lá fora

—Frio vírgula, tu não deve ta sentindo nada - ele apontou pra mim e me olhei. Eu tinha certeza que estava de blusa quando sai, mas agora só usava uma camisa vermelha e calças jeans pretas surradas

—Talvez eu não sinta nada mesmo - me joguei no sofá vendo o teto dar um pulo de 360º graus e a luz pendurada ir pra frente e para trás

Ele veio com duas xícaras de café, já de blusa. Peguei uma com as duas mãos tentando não deixar cair. Percebi que ele tinha materializado uma blusa moletom em mim também

—Obrigado mas precisa mesmo ser paizão?

—Ainda te acho um garoto - ele se sentou no chão de frente a mim - não se acha um garoto?

—Na verdade não - tomei mais um pouco do chocolate e fiquei olhando a caneta - tô pra fazer 20 anos já, mesmo que me chamem de neném, sou um homão da porra

Ele acabou seu chocolate e ficou me estudando me deixando com receio; era aquela famosa cena de alguém que te olha e você começa a se perguntar se fez algo errado.

—Você me lembra minha sobrinha

—Eu pareço uma garota? - puxei uma mecha do meu cabelo medindo - meu cabelo ainda tá no peito poxa, isso não é másculo suficiente pra você? - ele riu

—Não, de boa. Só que a cor do cabelo, as sardas, o jeito que você fica vermelho sempre, tipo agora que tá bêbado. Mas ela olho cinza, você tem olho azul

—Certo. Mas ah, acho que não conheço ela - ri sem graça - eu vivo em Long Island desde os 3 anos, nasci no Brasil

—Gostei, minha esposa vive falando em ir lá, tipo, no Brasil

—Eu passo as férias lá geralmente, mas agora que tenho um emprego vai ser difícil ir. Mas falo português e inglês fluentemente.

—Seu pai mora lá?

—Eu… Fui adotado na verdade. Quando nasci, ficamos eu e minha mãe 3 anos no Brasil e viemos pra cá, onde ela morava

—Entendi, mas você não sabe quem são seus pais?

—Não - uma das minhas piores atuações até o momento - só me encontraram sozinho e me levaram pro abrigo, sei lá. Não é como se eu lembrasse de coisas quando era bebê 

—Tem gente que lembra - não fode Poseidon, não fode - Meu sobrinho já roubou o irmão dele com meses de vida - NÃO FODE POSEIDON - e minha sobrinha, que se parece com você, ajudou no parto do irmão 

—Você ainda bêbado? Não tem como isso acontecer - ri fingindo não acreditar - isso só acontece nas histórias de mitologia - revirei os olhos - e nós não estamos nela

—Até onde você sabe não

—Verdade - terminei meu chocolate - obrigada pelo chocolate, tava muito bom

—Eu sou um ótimo cozinheiro mesmo - concordei guardando o comentário de que era só um chocolate quente - Você vai dormir aqui ou ir pra casa? O sol tá nascendo já.

—Eu posso dormir aqui. Não vou trabalhar hoje por causa de um passeio.

—Fica no quarto, eu fico aqui - ele apontou pra primeira porta. Me virei e fui pra lá. Tranquei a porta e cai na cama, apaguei em poucos minutos sentindo o corpo dolorido e pesado.


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Notas finais do capítulo

e então meus amores? o que acharam do capítulo?



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