Os desejos escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
... de um ômega faminto




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A noite era quente. Shino notou que todas passaram a ser, até mesmo aquelas onde Kiba puxava para si todo o cobertor, ou colocava os pés frios em suas costas, ou entre suas pernas. Eram quentes porque tinha-o em seus braços, fosse aconchegado para dormir sobre seu peito, o rosto de pele bronzeada em contraste com sua própria pele. Fosse pelo sexo que consumia-os antes de chegar ao cansaço do corpo e satisfação do mesmo. 

Aquela era quente em todos os sentidos que podia ser. Teve o corpo de Kiba sobre o seu, as pernas dispostas ao lado de sua cintura enquanto o corpo ia e vinha num cavalgar suave. E agora tinha-o deitado sobre seu peito, a brisa fresca da noite de pouco valia ao suor que delimitava a pele de ambos. Kiba ressonava, os dedos sobre os pelos curtos de seu peito, numa brincadeira suave e sem ritmo definido, uma carícia à qual havia se acostumado no pós-sexo. 

—  Estou morrendo de vontade. 

Ouviu-o dizer enquanto sentia os olhos de íris selvagens sobre seu rosto. Baixou o olhar para melhor notá-lo ali. A frase não fora muito distinta da que ouviu assim que chegou no quarto e o encontrou deitado na cama sem nada a cobrir o corpo. O movimento suave dos dedos dele em sua pele permaneceu, também somou a tudo os beijos no pescoço e queixo. O aroma inconfundível minando como forma de seduzi-lo, de dobrá-lo às vontades de Kiba, fossem elas as mais loucas ou mais simples. 

—  Oe, Shino! Não é dessa vontade que estou falando não, é de fome! —  o tom alegre era sempre leve de ser ouvido enquanto Kiba batia sem força contra o peito de Shino. —  Sexo nos deixa famintos! —  Agora usava o plural, a forma fácil de somar peso ao seu pedido e convencer o companheiro a levantar de uma cama quentinha depois do sexo para lhe preparar algo para comer, ou, se Shino estivesse azarado, para rodar por aí até achar o que Kiba tanto desejava ao ponto de salivar e se contorcer sobre seu corpo, a mão livre agora acariciando de modo leve e quase automático a barriga discreta que denunciava o crescimento daquela família. 

—  Ainda tem lamen-

—  Não —  virou-se para melhor encará-lo, tão logo estava sentado na cama, as pernas cruzadas como se aquele fosse agora um templo de meditação. Os olhos atentos sobre o corpo desnudo de Shino, assim como sentia bem os olhos dele sobre si — , eu quero daifuku! —  A cara que ele fazia era a típica cara de cachorrinho sem dono, a mesma que Akamaru fazia para si quando queria ganhar algum petisco fora dos horários de refeição. 

Havia pequenos empecilhos; 1- passava da meia noite, 2- Shino sabia quais os melhores daifuku tinham para venda, e para seu infortúnio, os melhores não ficavam assim tão perto de casa, 3- o carro estava na oficina para reparos após Kiba tentar aprender a dirigir. 

Respirou fundo, conhecia bem as etapas da chantagem emocional que Kiba usaria, e mais que isso, sabia que cederia às vontades dele. Não era surpresa nenhuma, que alpha não tentaria o melhor para seu parceiro destinado? 

—  Pensa que horrível, nosso filhotinho nascer com cara de daifuku de morango?! Ao invés de pequeno e fofo, seria tentador devorar ele. E ficaria assim pra sempre! —  O drama vinha em ondas quase grandes demais para o palco que nada mais era que a cama de casal onde estavam. Kiba chegava até mesmo a colocar a mão virada com o dorso sobre a testa, jogando-se um pouco para trás enquanto dos lábios escapava um pequeno murmúrio. Um arfar suave mas audível, quase intimidante ante à toda a calma de Shino. 

Kiba tinha que conter a cara de extrema satisfação quando Shino deslizou para a beira da cama, apoiando os pés no tapete, tomando coragem para se por de pé, seguindo inteiramente nu para o banheiro, onde não tardou, Kiba ouviu o som da água batendo no corpo de Shino. Tão logo partiu do quarto já estava de volta, agora envolto em toalha a cobrir a nudez momentaneamente enquanto as gotas de água escorriam pelo corpo encontrando o fim derradeiro na barra felpuda do tecido. Peça a peça, Shino vestiu-se. Não teria como negar à Kiba o que ele queria comer, sabia que o parceiro não pregaria os olhos enquanto não tivesse o doce em suas mãos e a satisfação de tê-lo nos lábios. 

—  Algo mais? —  perguntou enquanto inclinava-se para selar os lábios aos de Kiba, um beijo casto que não durou muito ante a luxúria que emanava do aroma do ômega, das mãos que puxavam-o pelos ombros para aprofundar a intimidade do ósculo. 

—  Desse tipo de comida, só. —  O sorriso tomava conta dos lábios, assim como o ar sapeca e o aroma de morangos silvestres que sempre conseguia de Shino o que quisesse. Deitou-se, o corpo espreguiçando-se na cama de lençóis bagunçados. A fome fazendo até mesmo a barriga roncar, como se o bebê em formação ali estivesse desperto. 

Shino afastou-se, apreciando a cena que permaneceria assim até que voltasse para casa com os daifuku que Kiba tanto ansiava por comer. Meneando a cabeça, pensando na melhor estratégia, chegou a conclusão óbvia. Pegou o celular e ligou. 

Esperou pouco mais de quatro toques para ser atendido por uma voz fria e controlada do outro lado. Pouco havia de emoção ali, não dava nem mesmo para saber se estava dormindo, mas Sasuke era sempre assim, tirando o aroma que o entregava, emoções não eram captadas facilmente. Não que Shino pudesse falar sobre isso, era a imagem que ele mesmo passava para muitos que o conheciam, ou achavam conhecer. 

Informou a Sasuke o motivo da ligação tarde da noite, não precisou de detalhes, apenas o motivo central: Kiba estava com desejos. 

Saindo de sua casa o encontrou ali, sentado sobre a moto, encarando-o com um capacete em mãos para ofertar a ele. O loiro tinha um sorriso acalorado no rosto, uma expressão de extrema compreensão e ajuda. Naruto provavelmente fora acordado por Sasuke e informado de sua necessária ajuda. O único motorizado, já que Sasuke não havia aprendido a pilotar, como Naruto tanto insistiu em fazer. 

—  E ele quer comer o quê dessa vez? Taiyaki? —  Naruto riu, a própria voz mais baixa pelo horário avançado da noite que os cobria. A iluminação do poste próximo era quase aconchegante em meio a rua vazia com carros que cobriam calçadas. 

—  Daifuku.

—  Porra!

—  Pois é. 

A distância não era enorme, afinal, o meio de transporte não permitia isso, mas Shino manteve-se o mais longe possível. Era quase desconfortável manter-se agarrado às costas de Naruto, não por nada em especial, tirando que não era seu parceiro, e tinha o cheiro de Sasuke emanando de sua pele que era ridiculamente sempre quente. 

As mãos no segurador atrás de seu corpo, o capacete a postos, e o vento que vinha de encontro aos corpos quando a moto ganhava velocidade na pista. Shino o instruiu bem antes de dar partida, indicava uma vez ou outra sobre qual ruda deveria pegar, qual curva. A primeira barraquinha que ele sabia, fechada. Havia poucas mais a se tentar, e pelo horário, contava apenas com a sorte. 

Silêncio, exceto pelo silvo do vento a lhes açoitar. Mais uma barraquinha fechada. 

—  Melhor seguirmos logo para o restaurante onde trabalho. Quem sabe assim tenhamos sorte. —  Naruto comentou antes de dar partida de novo. Estava de férias, mas não faria mal uma ida ao restaurante, caso não tivesse nenhum pronto, poderia até mesmo arriscar-se na cozinha para preparar os tão desejados daifuku de Kiba. —  Ainda temos alguns minutos antes de fecharem a cozinha. 

—  Tudo bem. 

Shino confiou, afinal, Naruto conhecia melhor dos horários do que ele. Mesmo que não fosse bom em segui-los, claro. 

Não passou mais de dez minutos. A pista livre e a moto numa velocidade razoável, tão logo estavam estacionados frente ao restaurante onde Naruto trabalhava. Naruto seguiu a frente, os capacetes apoiados no guidão da moto enquanto, sorridente, Naruto olhava para Shino, indicando a vitrine de doces que o restaurante sempre deixava exposta para atiçar a vontade dos clientes. Ao canto esquerdo, na segunda prateleira de vidro estava o precursor de tamanha viagem: daifuku de morango. Rosa e vistoso, e em quantidade razoável para atender aos caprichos de um ômega gestante.

Fez o pedido, a carteira já em mãos para pagar enquanto os doces eram embrulhados para viagem. Perdeu-se de Naruto por míseros minutos, o beta havia entrado na cozinha para rever os amigos de trabalho, quase uma semana de férias e Naruto já demonstrava-se saudoso. Voltou com um taiyaki mordido. 

—  Quer? —  A oferta era verdadeira, a recusa fora educada.

—  Não, obrigado. Já podemos ir. 

Naruto meneou a cabeça concordando, seguindo para onde deixara a moto estacionada enquanto num piscar de olhos devorava o doce. O apetite de Naruto o lembrava muito o de Kiba, talvez o fato de terem sido criados juntos, por serem por muito tempo dois moleques travessos que precisavam sempre de comida para repor a energia. Riu imaginando que logo teria uma pequena criaturinha em casa de apetite voraz. 

O caminho fora mais rápido para o retorno. Não mais fazendo paradas e entrando em outras ruas para encontrar estabelecimentos abertos, Shino se viu frente a sua casa despedindo-se de Naruto, e agradecendo a ajuda. Tentou pagar pelo combustível, mas fora negado. Naruto sempre colocava em prioridade ajudar seu “irmão”, mesmo que não fosse de sangue. 

Fechou a porta assim que entrou, os sapatos deixados de lado enquanto calçava a surippa e seguia pelo corredor até o quarto do casal. A luz da cozinha acesa, uma pequena zona sobre a pia, recipientes vazios onde outrora havia lámen. Sorriu seguindo para o quarto, parando encostado no batente, apreciando Kiba vestido com uma de suas camisas, aconchegante e sorridente o esperando com um brilho no olhar. As mãos logo espalmaram no colchão de lençóis agora esticados. 

—  Fiz um lanchinho enquanto esperava a sobremesa. —  O sorriso ocupava boa parte do rosto, forçando até mesmo os olhos a fecharem. 

Shino não precisava de tamanha demonstração de alegria, o vínculo já deixava claro o quanto Kiba estava feliz em poder degustar de algo que tanto almejava. A primeira mordida veio com um som deleitoso, o cheiro de morango ainda mais evidente no quarto. Shino via cada uma de suas regras auto impostas cair por terra a cada dia de convivência com Kiba. Não comer na cama foi uma das coisas que abriu mão ao longo do tempo. Não perder suas camisas também, muito embora agora Kiba morasse com ele, ainda conseguia perder as camisas. Tantas pequenas coisas que mudavam sem que ele de fato se importasse com isso. A vida adequava-se a eles como casal, como parceiros destinados, como família em crescimento. 

Também não recusava mais o que lhe era ofertado de tão bom grado enquanto Kiba lhe entregava o daifuku na boca. 

Valia a pena os esforços na calada da noite, atender os desejos de um ômega faminto.


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