Apenas mais um clichê escrita por ritmo rAGATHAnga


Capítulo 1
Capítulo 1




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Ramona enrolava suas mechas em seu indicador, balbuciando qualquer coisa já que ninguém iria ouvir, devido ao volume alto do som.
Será possível que todo mundo estava tão indiferente com o fato de sua mãe ter acabado de morrer? Parecia ser só mais uma quarta feira comum e não um dia após um velório.
Ela olhou para o lado, lá estava sua irmã, perfeita como sempre. Nenhum sinal aparente de luto ou sofrimento, pelo contrário, ela parecia radiante como de costume.
Ela passava um gloss cereja em seus lábios, seu cabelo estava perfeitamente partido ao meio e suas bochechas coradas denotavam saúde. Apesar dela ser sua irmã gêmea, a única coisa que Ramona e Amanda tinham em comum era a data de aniversário.
O pai das duas estava no banco da frente do carro, dirigindo a caminho da escola. Seria o último dia de aula delas antes de se mudarem para outra cidade.
A morte da mãe de Ramona fez com que a vida dela tomasse um destino inesperado, já que seu pai trabalhava em um navio e passava boa parte do tempo fora de casa, ele não podia deixar as filhas sozinhas e elas tiveram que ir morar com a tia, em São Paulo.
O carro parou e Amanda guardou seu gloss na mochila e desceu, se despedindo do pai, que logo acelerou o carro de novo e aí, sim, Ramona desceu também.
Amanda não gostava de ser vista com a irmã na escola porque achava que isso seria "suicídio social", já que ela era bonita, desejada, popular e Ramona era.. a Ramona.

— Ei, Ramona!

Ramona se virou e recebeu um abraço caloroso.

— Eu sinto muito, amiga.
— Eu também, Sarah — Ramona segurou as lágrimas e se aconchegou no abraço da amiga, a ficha de que ela nunca mais veria sua mãe ainda estava caindo.

Elas ficaram assim por alguns segundos na porta da escola antes de serem interrompidas pelo sinal.
As duas entraram e foram a caminho da sala de aula, conversando sobre outras coisas aleatórias para que Ramona pudesse se distrair de seus pensamentos.
Chegando na sala, diante de sua mesa, havia uma caricatura de Ramona com os dizeres "Monstro".

— Ei — Sarah puxou a folha da amiga e a amassou — Ignora isso.

Todos os dias Ramona era ridicularizada na escola, e por mais cruel que possa parecer, ela já havia se acostumado com aquilo.
O fato dela ser um pouco acima do peso e não se arrumar muito, usando seu óculos redondo e seus suéteres listrados, fazia com que ela se destacasse de maneira negativa, atraindo todos esses comentários maldosos.
Ramona suspirou, o que ela mais queria era mudar o conceito que as pessoas tinham sobre ela, ela era mais que uma nerd estúpida que não tinha vaidade.
A conversa com Sarah seguiu normalmente até chegarem na mudança de Ramona.

— Então você vai se mudar? Não acredito, Ramoninha — lamuriou . Era assim que ela chamava a Ramona, por mais tosco que Ramona pudesse achar — Pra onde você vai?
— Ah, é aqui em São Paulo ainda, vou mudar só de cidade mesmo, felizmente não vou sair do estado, assim, ainda posso te ver de vez em quando.
— É, menos mal, por mais que vá sentir sua falta de qualquer forma. E aonde é que você vai morar?
— No Brooklin.
— Brooklyn? Você vai se mudar pro Brooklyn, Ramona? — Intrometeu-se Mila, uma garota que sentava atrás de Ramona e Sarah na sala.
— Hã.. sim?
— Nadine, a Ramona vai pro Brooklyn, você acredita? — virou-se pra amiga que estava ao seu lado, que até então estava usando fones de ouvido.
— Mentira! Sério, Ramona?
— É gente, qual o problema de eu me mudar pro Brooklin?
— Gente, a Ramona vai pra Nova York — berrou Duda.
— Nova York? — Sarah e Ramona se olharam confusas.

As garotas estavam pensando que Melinda na verdade estava se referindo ao Brooklyn, que é uma cidade de Nova York, quando na verdade ela estava indo pro Brooklin, que é só um bairro da zona sudoeste de São Paulo.
O fato é que, logo depois disso, todos na sala ficaram eufóricos, perguntando informações pra Ramona sobre a sua mudança, mesmo que muita gente não tenha acreditado e achasse que ela estava falando aquilo pra chamar atenção, um professor entrou e deu veracidade para as suas palavras.

— Ramona Yamabuchi?
— Sou eu — Ramona levantou a mão.
— Você precisa ir até a coordenação pegar o seu histórico para levar para a escola nova. Seu pai veio dar detalhes sobre a sua mudança, Brooklin, hãn? Está chique.

O professor saiu da sala, fazendo com que os burburinhos aumentassem ainda mais e que todo um escarcéu fosse feito pra cima de Ramona.
Claro, Ramona podia dizer que eles estavam enganados e que ela não iria pra Nova York, mas toda a atenção voltada pra ela era algo novo e gostoso de experimentar, que ela iria aproveitar enquanto pudesse.
Esse assunto fez com que as garotas mais populares da sala conversassem com ela e Sarah, e logo o assunto foi mudando e elas conversaram durante todas as aulas.
Ramona nunca havia trocado mais de duas palavras com elas e conhecê-las era algo que ela estava adorando, assim como as garotas pareciam estar adorando conhecê-la também.
Durante o intervalo, Ramona sentou junto com elas de novo e elas a apresentaram para os meninos mais velhos da escola, os repetentes que todas as garotas davam em cima por serem mais velhos e assim, mais inalcançáveis. Ramona se sentiu uma baronesa recebendo atenção de alguém tão "importante" assim, por mais idiota que toda essa reputação possa parecer.
No fim da escola, Ramona ainda foi convidada para a festa de uma das garotas, já que ela faria aniversário na próxima semana e foi pra casa radiante. Ainda deixou sua amiga, Sarah, com muitos amigos novos, já que elas duas só falavam uma com a outra na escola, e com a mudança de Ramona, Sarah possivelmente iria ficar sozinha.

— Uau, posso saber o motivo de tanta felicidade? — perguntou o senhor Yamabuchi, olhando o sorriso de Ramona pelo retrovisor.
— Meu dia hoje na escola foi ótimo, pai — exclamou quase que pulando de alegria. Seu pai não disse mais nada já que ele perguntava as coisas apenas para socializar, sem realmente se importar, de fato.
— O que deu nas pessoas da escola que resolveram falar com você hoje? — perguntou Amanda sem tirar os olhos do seu espelho de mão, passando seu inseparável gloss.
— Também não sei — mentiu — Mas foi muito bom de qualquer forma.

Amanda fez um muxoxo, um dos poucos prazeres que ela tinha na vida era colocar Ramona pra baixo por sempre ter sido alguém "melhor" que ela. Ramona ter motivos para comemorar era algo inaceitável.
O carro logo estacionou na casa das duas, que foram recebidas pela Sra. Nena.

— Tia Nena — gritou Ramona pulando nos braços macios da tia, a tinha aquela pele de pessoa mais velha que Ramona adorava.
— Oi meu docinho — Nena deu um beijo na testa de Ramona — e o meu abraço, Amanda?
— Oi, tia — Amanda abraçou as duas quase que contra sua vontade, se tinha uma coisa que ela detestava era qualquer contato físico com qualquer pessoa, era a personificação da antipatia, mas, de qualquer forma, ela se sentia agradecida já que sua tia iria acolher ela de braços abertos em sua casa.
— Vamos entrar, eu fiz um lanche bem gostoso pra vocês comerem antes da gente ir.
— Fez?
— Tá, eu comprei, chata.

Ramona sorriu, ela sabia que Nena era uma preguiçosa nata.
As garotas entraram em casa e comeram o sanduíche de salame que Nena havia trazido, e, em seguida, subiram para seus quartos para terminar de arrumar as malas.
Antes de fazer qualquer coisa, Ramona sentou-se em sua cama e começou a pensar em tudo o que aconteceu aquele dia na escola.
Sempre destinada a ser uma perdedora zoada por todos os outros alunos, ela se viu conversando com todos e sendo finalmente respeitava pelas outras pessoas, ela nunca havia se sentido tão acolhida antes e ela sentiu que estava na hora de dar um novo rumo a sua vida, e essa mudança seria a oportunidade perfeita pra isso, ela estava decidida a se tornar a garota mais popular e desejada da sua nova escola.
Ramona já havia arrumado todas as suas roupas, havia sobrado apenas os seus pôsteres em seu quarto, que ela queria apreciar mais um pouco antes de ir embora.

— Ah, Do Contra, calma que eu já vou te colocar numa parede nova jajá, só vou te deixar nessa sacola por alguns minutos.

Ela acariciou as bochechas do rosto de Do Contra, estampado no pôster em sua parede, ainda se despedindo antes de colocá-lo numa sacola.
Do Contra era baterista da banda "6 de julho", uma banda desconhecida por todos, mas que Ramona era fã número um desde que achou aleatoriamente no YouTube.
Era um grupo de garotos fazendo algo amador, gravando vídeos no que parecia ser uma garagem e postando na internet.
A banda era formada por quatro garotos, Nimbus, o vocalista, era um rapaz de cabelos até a altura dos ombros, olhar cansado e porte musculoso. Nimbus era alto e tinha traços agressivos e apesar do seu visual intimidador, cantava de maneira doce e suave.
Jeremias, o vulgo príncipe negro feito a pincel, era o guitarrista, tinha o cabelo raspado nas laterais e na parte de cima um dread que se estendia até a sua cintura. Seus lábios carnudos pareciam ter sido delicadamente desenhados e sua tatuagem no pescoço lhe davam um ar maduro e sexy.
Quim era o baixista, era um cara baixo e rechonchudo, com as bochechas vultosas e os cabelos volumosos e levemente ondulados. Quim usava roupas pretas e agressivas mas que não conseguiram tirar seu aspecto fofo e a vontade de morder suas bochechas rosadas a quem o visse.
E claro, Do Contra, o seu amado Do Contra.
Do Contra, como já citado, era o baterista da banda e o homem mais bonito do mundo, segundo Ramona.
Do Contra era bem magro, branco como mármore mas com os lábios bem rosados, o que causava um contraste charmoso. Seu cabelo era uma espécie de mullet com um topete e suas sobrancelhas eram grossas demais para seu rosto. Ele também tinha uma pequena covinha no queixo que fazia Ramona suspirar toda a vez que a via. Um anjo aos seus olhos.

— Você ainda gosta desses idiotas? — Amanda interrompeu as fantasias da irmã, entrando em seu quarto.
— Com prazer, Amanda, olha como o Do Contra é perfeito — Ramona saiu de perto do pôster para que Amanda pudesse vê-lo por completo.
— Se você for na paulista, você acha uns quinze desses.
— Claro que não, dúvido que exista ser angelical o bastante quanto o Do Contra.
— Claro.. você nunca foi em bar de cerveja artesanal né? É três desse por metro quadrado.
— Amanda, por que você não vai arrumar suas coisas e me deixa quieta? Que saco, só sabe me infernizar.
— Se você não fosse tão sonsa, eu não infernizava, fica aí babando por moleque aleatório, parece fanática pelo Justin Bieber em 2014. Se esse cara cuspir na sua cara, você vai gostar dele também?
— Amanda, sai daqui.
— Tô saindo, mas as minhas coisas já estão arrumadas e a tia Nena já tá apressando, então anda logo.

Ramona suspirou, pegou seus pôsteres e saiu do quarto, ela estava tentando se manter otimista, considerando aquilo com uma oportunidade de começar de novo e fazer diferente, mas claro, sua mãe ainda havia morrido e isso ainda era um peso a ser carregado daqui pra frente.
Por mais que Amanda fosse insuportável do jeito que era, Ramona concordava que ela era uma garota boba por ter o rosto de vários caras aleatórios estampadas em seu quarto, caras que ela sonhava um dia conhecer e possivelmente namorar, principalmente o Do Contra, o seu Do Contra.
Mesmo sabendo que aquilo nunca iria acontecer, Ramona se sentia acolhida com eles e suas músicas, ela era uma garota solitária e um bando de garotos bonitos cantando pra ela, era algo que fazia com que ela se sentisse menos só, por mais idiota que isso fosse e ela tivesse ciência disso.

"Meu Deus, eu tenho 13 anos" — pensou, saindo do quarto abraçada com seus pôsteres e arrastando sua mala azul.

Sua tia estava a esperando na sala, assim como Amanda e seu pai, que ainda parecia indiferente com tudo o que estava acontecendo, parecia que ficar longe das filhas não era algo que o deixava magoado, por assim dizer.
Ele ajudou-as a levar as malas para o carro e eles entraram em seguida, rumo a nova cidade, onde Ramona iria dar início a sua nova história.


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