Black Roses escrita por Yumiko


Capítulo 9
The Birdcage




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Alguns lances de escadas e corredores a mais, chegamos, enfim, ao dormitório.

 

Suspirei de alívio. Minhas pernas estavam doloridas por tentarem acompanhar os passos rápidos da desconhecida que me puxava. 

 

Apesar de eu não ter dito qual era o número do meu quarto, foi nele que ela parou e abriu a porta, me jogando lá dentro antes de fechá-la, com brutalidade. Logo em seguida ela sentou- se na cama mais próxima à janela onde, ao seu lado, já estava a pequena criatura de olhos âmbar, com um sorriso travesso.

 

— Larissa, você devia ter ensinado à novata com quem não se deve mexer! Joga a garota no covil dos lobos sem dar uma explicação!

 

— Eu tentei, Demi!- protestou Larissa, indignada. - Mas ela é lerda, se perdeu nos primeiros dois minutos dentro do colégio e quando cheguei não havia mais o que fazer!

 

É... Elas realmente não se importavam que eu estivesse presente.

 

— Realmente... A novata é caso perdido agora.

 

— Elizabeth - informei, já irritada com a forma que estava sendo ignorada.

 

— Ok, então... Elizabeth é caso perdido.

 

— Nós poderíamos cuidar dela. - sugeriu Larissa. - É uma cabeça oca, mas se mantivermos ela na linha vão esquecer o ocorrido. 

 

— Se bem que a coisa foi bem grave.

 

— Olha - interrompi, a raiva apresentando-se em minha voz- Eu não fiz nada, ok? Só esbarrei naquele garoto idiota e quando vi...

 

Nesse momento, ouvimos batidas na porta. Fui até lá para abri-la e lá estava ele: meu irmão.

 

Ele expressava a mesma serenidade de sempre, sendo pequeno corte que sangrava acima de sua sobrancelha a única diferença em seu rosto se visto algumas horas antes.

 

— Agh, Edgar. - grunhi, empurrando-o para a cama desocupada. Peguei rapidamente a caixinha de primeiros socorros da mochila e dela retirei a gaze umedecida com soro fisiológico. - Olha só pra isso! E o garoto!?

 

— Teve o que merecia. - respondeu, fazendo uma careta assim que pressionei a gaze na ferida. - Ugh, Elizabeth! Isso dói!

 

— Não estaria doendo se você não tivesse arranjado confusão.

 

— Correção: - ele murmurou. - Se você não tivesse arranjado confusão.

 

— Pela última vez: eu não fiz nada!

 

Edgar fechou os olhos, franzindo o cenho, com impaciência.

 

— A questão é. - ele começou, após um longo suspiro. - Eu não estarei sempre por perto pra te defender, então sugiro que não procure problemas daqui por diante.

 

Ele pegou a gaze de minha mão e jogou-a no lixo. Depois, olhou em direção as meninas na outra cama, sou rosto se contorcendo em um sorriso perfeito, propositalmente sedutor.

 

— Boa noite. - ele disse gentilmente.

 

E então saiu do quarto.

 

— Garota... - Meu olhar voltou-se para a tal Demi, que estava boquiaberta nesse momento. - Você tem um belo problema nas mãos... Um beelo problema.

— Eu não estou entendendo vocês... O que ela quer dizer? - Perguntei para Larissa.

 

— Vou te explicar Elizabeth. Nem sempre a beleza pode ser vista como algo de fácil definição. Para alguns, ela pode ser encontrada na complexidade do conhecimento adquirido. Já para outros, essa beleza está no desconhecido. Claro que as qualidades estéticos são primordiais nesse tipo de pensamento mas...

 

— Desculpe... O quê?

 

—  Também não entendo. Ignore ela. É uma lunática.

 

Após dizer isso, uma almofada foi jogada contra Demi, mas ela ignorou.

 

— Quero dizer o garoto em quem você esbarrou hoje é idolatrado por aqui. A julgar pela aparência, com o seu namorado-

 

— Irmão - corrigi.

 

— Enfim, não vai ser muito diferente. Você praticamente mexeu com duas divindades do colégio e, portanto, já chegou sendo odiada.

 

— Isso é ridículo! - vociferei.

 

— É sim. E se eu fosse você tomaria cuidado.

 

— Não será necessário.- garanti- a depender de mim, não encontrarei com nenhum dos dois tão cedo.

 

                                                **

 

Ao final da última aula da manhã, Demi e Larissa me guiaram até o refeitório. Não estava com muita fome, então acabei terminando de me servir mais rápido.

 

 

Escolhi uma mesa no canto para me sentar, a fim de evitar os olhares fuzilantes de desconhecidos.

 

Eu ainda não sabia dizer o que havia feito de errado, mas admito que não consegui resistir ao ímpeto de me erguer um pouco para procurar o grande culpado de toda aquela atenção assustadora que estavam me dando.

 

Nada, e era melhor assim.

 

A última coisa que eu desejava era sair de um colégio interno que eu mal havia entrado e Erick chegar a conclusão de que não havia o que fazer comigo. Eu sentia arrepios ao pensar que a cada deslize, direto ou indireto, ele me cerceava mais e mais, sem direito a segundas chances.

 

Estremeci ao lembrar do dia em que sai da mansão Black para o primeiro internato.

 

Meu primeiro sopro de liberdade.

 

Hoje eu sei o quão fictícia ela era, como um pássaro nascido em uma gaiola: se o transferirem para uma prisão maior ele terá mais espaço, mas não será mais livre.

 

Era Erick quem tinha as chaves da minha liberdade.

 

— É. Pelo visto você é naturalmente distraída.

 

Fui interrompida em meu devaneio por uma voz rouca, relativamente familiar.

 

Levantei os olhos e reconheci o garoto absurdamente bonito do dia anterior, um sorriso debochado desenhado em seus lábios, marcados com um corte adquirido na briga, já sentando-se de frente para mim.

 

Admito ter sentido certa falta de ar antes de me manifestar, mas me controlei para que apenas expusesse minha raiva.

 

— Ah, não. - resmunguei - Você não!

 

Levantei-me, já pegando minha bandeja para me sentar em outro lugar, mas ele segurou meu braço, impedindo-me de ir.

 

— Me solta!

 

— Não antes de você ouvir o que eu tenho pra te dizer. - ele murmurou. - Sente-se, ou vai ficar pior.

 

Entendi o que ele quis dizer quando olhei em volta: as pessoas não só encaravam, como cochichavam umas com as outras, vez ou outra me lançando uma cara feia.

 

Me convenci de seu argumento e, por fim, resolvi me sentar novamente.

 

— Pode ser breve? Quero evitar que tenha outro acesso de raiva perto de mim.

 

Ele visivelmente segurou uma risada quando eu disse isso.

 

— Olha, me perdoe. Você me pegou em um dia ruim.

 

— Ok, e o que você quer? - indaguei, impaciente - Que eu marque na minha agenda os melhores dias pra você?

 

— Não. - seu sorriso não parecia ser de uma pessoa arrependida. - Quero que comecemos do zero, já que não tivemos a oportunidade de nos apresentarmos ontem. Meu nome é Henry.

 

— Fico feliz que tenha um nome. - respondi, ironicamente. 

 

— Acredite, quanto mais você cooperar, mais rápido irei embora.

 

Eu suspirei. Por que eu estava aceitando isso?

 

— Elizabeth. - respondi, secamente.

 

— Pois bem, Elizabeth. - ele continuou, olhando por cima de minha cabeça - Seu namorado não parece muito feliz com nossa conversa. Deveria tranquilizá-lo mais tarde.

 

Virei-me para trás e encontrei os olhos rubros de Edgar nos fitando de longe, visivelmente incomodado.

 

—  Ele não é meu namorado. É meu irmão.

 

— Irmão? - pela primeira vez pareci deixá-lo realmente surpreso. Entendi que ele também notara a diferença entre nós e a impossibilidade estética de pertencermos a uma mesma família. 

 

— Sim. - confirmei. - E acho que nós já acabamos.

 

— Está enganada. Antes de ir quero lhe fazer um convite.

 

— Convite? - questionei, franzindo o cenho.

 

— Sim.

 

Ao dizer isso ele se inclinou, chegando mais perto. Logo depois percebi que ele havia feito isso a fim despistar Edgar, impedindo que ele entendesse sobre o que estávamos conversando. Mesmo assim, senti minhas bochechas queimarem quando nossos rostos ficaram um pouco mais próximos.

 

— Irei com alguns amigos na ponte Trift esse sábado. Vamos pular de Bungee Jump. - ele murmurou. - Você poderia ir conosco.

 

Hesitei.

 

Se eu tivesse uma lista das coisas que nunca pensei que faria na vida, com certeza Bungee jump estaria nela.

 

Não havia a menor possibilidade de isso passar impune aos olhos de Edgar e, consequentemente, de Erick.

 

 

— Demi e Larissa também estarão lá. - ele assegurou ao ver minha expressão de desconfiança.

 

Se eu tivesse o mínimo de juízo e consciência da minha realidade, teria negado. Mas a curiosidade de uma experiência completamente nova me fez ignorar, inconscientemente, qualquer consequência desastrosa - que teria, sem sombra de dúvidas - se Edgar ou Erick descobrissem. A verdade era que só uma pessoa vinha na minha cabeça:

 

 

Peter.

 

Imaginei o quanto ele se preocuparia se soubesse que eu estava planejando pular de uma ponte de vários metros de altura. Como ele me pediria, gentilmente, para que eu não o fizesse e como, mesmo se eu pulasse, contra a sua vontade, no fim, ele ficaria aliviado de eu estar bem, e perguntaria o que eu havia achado da experiência e sobre o meu desejo súbito de praticar esportes radicais...

 

Mas Peter não estava ali.

 

— Eu... não sei.

 

— Te trarei de volta sã e salva. Seu irmão nem irá perceber, eu prometo. - Ele garantiu, como se tivesse lido meus pensamentos.

 

Foram então que as palavras saíram da minha boca sem que eu me desse conta. O impulso vencendo qualquer barreira de responsabilidade.

 

— Ok. Eu topo.

 

E lá estava ele: o sorriso indefectível, exibindo os dentes brancos perfeitamente alinhados. Eu nem consegui imaginar o quão idiota minha cara deveria estar.

 

— Ok! Te espero às 8:00.

 

Ele já havia levantado quando hesitou.

 

— Ah, e mais uma coisa.

 

Soltei um suspiro.

 

— O que foi? - perguntei.

 

— Se quiser continuar fingindo que me despreza, sugiro que não ruborize assim quando me aproximo de você. - Ele murmurou em tom sarcástico. - Tenha um bom dia.

 

 

Senti meu rosto corar ainda mais. Abri a boca para protestar, mas ele já estava longe o suficiente para que qualquer coisa que eu dissesse fosse ouvida por outras pessoas. Mas agora havia outra coisa em que precisava focar.

 

Eu tripudiara meu carcereiro. 

 

Se tudo desse certo, teria então minha primeira fuga da gaiola. Tão sutil que ele nem perceberia que perdera as chaves.

 


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Notas finais do capítulo

E aiiiiii? O que acharam de Henry? E das meninas? Vcs acham que o Bungee Jump vai rolar ou nossa protagonista n é nem loca?? Quero saber de vcs!



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