Black Roses escrita por Yumiko


Capítulo 6
Red Eyes




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                                                Três anos depois

 

— Elizabeth!

Sem notar que eu andava mais rápido em direção ao meu quarto justamente para evitá-la, Penny Bolton gritou meu nome, forçando-me a me virar.

— Fui pegar as minhas notas e pensei que você gostaria que eu pegasse as suas também! - exclamou a garota sardenta, estendendo o boletim com tanta empolgação que pensei que fosse me acertar.

— Certo. Obrigada Penny. Boa noite.

Fechei a porta, evitando as indagações da minha competitiva vizinha de dormitório, que com certeza queria ter uma conversa profunda sobre nossas notas finais.

Pobre Penny, alguém deveria avisá-la que se ela estava disputando desempenho escolar comigo, as coisas estavam bem ruins para o lado dela...

Tomei coragem e abri o envelope, com marcas de já ter sido aberto anteriormente. Dei uma olhada rápida e fechei de novo. Nenhuma surpresa.

Erick saberia sobre o desempenho, mexeria os pauzinhos para que eu não reprovasse e me puniria de alguma forma que, após tantos anos, não me afetava mais.

A única coisa que me importava, naquele momento, era que eu seria feliz novamente. Amanhã eu voltaria para a mansão dos Black.

De três anos pra cá, as coisas entre mim e a casa da minha família haviam mudado consideravelmente. O lugar que eu mais odiava no mundo era agora o lugar que eu mais ansiava estar porque esse era o tempo em que meu bem mais precioso havia chegado, e ficado.

Nesses últimos três anos, Peter Bates fizera parte da minha vida como o maestro que guiava as notas de minha alegria. Depois desse tempo, eu não sabia ao certo o que tínhamos, mas era forte e me tomava quase que completamente. Depois de meses, pouco me importava com a aura da mansão dos Black ou com seus outros moradores. Eu só queria me reencontrar, encontrando ele. E eu sabia que estaria lá. Ele estava sempre lá.

Eu estava sorrindo comigo mesma quando a porta se abriu permitindo a passagem de um Edgar cabisbaixo e silencioso.

Meu irmão nunca vinha ao meu quarto e raríssimas vezes nos falávamos. Apesar de estarmos no mesmo internato, nenhum de nós viu isso como uma possibilidade de estreitar laços, mas sim uma constante fuga um do outro. Com ele tão próximo o número de amizades que eu fazia havia se reduzido a zero. Todos estavam ocupados demais, deslumbrados com meu irmão mais velho. Mas de uma coisa eu sabia:

Não era pra dar nenhuma boa notícia.

— Olha, se for pelo boletim já estou ciente. - resmunguei, sem olhá-lo diretamente. - Pra qual internato vamos agora? Eu gostaria apenas que economizasse o sarcasmo dessa vez, tudo bem... Edgar?

Com um movimento abrupto, ele se jogou ao meu lado na cama espaçosa, de bruços , o rosto oculto pelo travesseiro, os punhos cerrados. Seu corpo tremia.

Em toda minha vida, eu nunca vira meu irmão não tendo total controle de si mesmo. E isso me deixou insegura quanto ao seu estado.

— Edgar, está tudo bem? - eu disse, quase como um sussurro.

Silêncio.

— Edgar?

...

— Por favor, fale alguma coisa! - minha voz saiu embargada. O pânico tomando conta de mim. - Me diga o que eu devo fazer. Quer que eu chame a enfermeira? O que aconteceu? Me diga apenas como eu posso te ajudar!

Apesar da voz falhada, ele pareceu ter ouvido minha exigência, porque nesse momento seu rosto virava-se pra mim, me encarando.

Edgar decididamente não estava em seu estado normal.

Seus olhos, do tom de carmim tentador que eu bem conhecia, passaram para o escarlate vívido. Recuei quando as pupilas mergulhadas no que parecia ser um mar de sangue me fitaram. Mais do que nunca eu tive medo daqueles olhos que nada tinham de convidativos.

Eu estava paralisada de medo.

Foi na mesma velocidade que entrara que Edgar saiu do meu quarto, batendo a porta com tanta força que um quadro próximo se espatifou no chão. Levantei-me, ainda assustada, para ir ao corredor em busca de algum sinal de Edgar e... Nada. Duas meninas abriram a porta de seus dormitórios, assustadas com o estrondo, para perguntar se estava tudo bem e menti que havia me desequilibrado na tentativa de arrumar o quarto. Elas voltaram para o interior de seus quartos a fim de ter o sono tranquilo da véspera de férias.

                                                    **

Senti inveja das noites calmas que minhas vizinhas de dormitório tiveram, enquanto eu ficava repassando o horror da cena do dia anterior na minha cabeça. Gastei a noite com inúmeras mensagens e ligações, mas o garoto não me respondia. Não sabia o que fazer e, mesmo naquela situação, não sabia se devia comunicar a alguém. Tinha uma pessoa a quem eu poderia pedir conselho, mas ela ainda estava muito distante.

 Eu já estava dentro do avião privativo quando Edgar chegou, bem depois de mim, com um aspecto talvez pior do que o meu. Logo abaixo de seus olhos as extensas olheiras evidenciavam a noite mal dormida. Porém, para o meu alívio, suas íris haviam voltado para o vermelho familiar e o rosto, apesar de cansado, aparentava tranquilidade.

Ele sentou-se na poltrona à minha frente e pediu que a aeromoça trouxesse um refrigerante. Ela se recuperou do transe que a beleza de Edgar causava à primeira vista e foi buscar o pedido às pressas. Esperei que ele dissesse algo, mas ignorando por completo a minha presença ele fechou os olhos, massageando as têmporas com uma das mãos.

— Isso é tudo? – Perguntei, irritada.

— Isso o que? – Ele devolveu a pergunta, calmamente, sem me olhar.

— Edgar, o que aconteceu ontem à noite? O que aconteceu com você? – Meu tom de voz havia se elevado um pouco, evidenciando minha indignação.

—Eu não sabia se devia chamar alguém, você não respondia minhas mensagens... Eu fiquei completamente perdida, quer dizer, você não estava bem e... Seus olhos... Eles estavam...

— Do que você está falando? – Sua voz tinha assumido o tom um pouco mais grave. – Estou aqui, não estou?

— Está, mas eu estou preocupada! Parece que você não entende o que aconteceu ontem, eu nunca te vi daquele jeito!

— Elizabeth. Basta.

— Edgar, eu só quero te ajudar!

— Elizabeth! – Edgar abrira os olhos. Ele definitivamente estava com raiva.

Virei minha cabeça e calei todas as indignações que tinha guardadas desde ontem, cruzando os braços e me deixando afundar na poltrona. Eu estava furiosa por ele não confiar em mim para dizer a verdade, mas, sejamos honestos, não havia nada de novo nisso.

— Irei ainda hoje ao encontro de Erick. – Ele murmurou, quebrando o silêncio. – Ele vai saber o que fazer.

— Você vai ficar bem? - sussurrei, ainda preocupada.

— Sim. – Ele assentiu – Vai ficar tudo bem.

Passei praticamente todo o voo recuperando a noite mal dormida. Não demorou muito para chegarmos na mansão e, quase que prontamente, vi Edgar pela janela, entrando em sua BMW para seguir viagem.

A preocupação deu lugar à ansiedade do meu encontro de logo mais. A espera agora, tão próxima, era quase dolorosa. Tomei um banho rápido e passeei pelos cabides por quase meia hora, indecisa sobre o que vestir. Tentava acalmar meus cabelos quando ouvi as três batidinhas clássicas na porta. Meu coração reagiu. Eu voei para a porta e a abri.

— Seja bem vinda, srta. Black. – O sorriso divertido de Peter me acalmou quase que completamente. Estávamos juntos, mais uma vez. E isso era a única coisa que importava.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo deve sair na sexta. Já estou com ele praticamente pronto! Pretendo postar um capítulo por semana.



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