Black Roses escrita por Yumiko


Capítulo 4
Nature boy




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— Olá. Acho que ainda não fomos apresentados. Sou Peter Bates— disse com uma voz musical, próximo o suficiente para que desviar os olhos fosse grosseiro de minha parte. - Você é?

— Elizabeth... Black - Falei secamente, de forma não proposital. Não estava conseguindo formular frases, não tendo que olhá-lo diretamente.

— Muito bem, Elizabeth. - disse, estendendo a mão. - Se importa se eu der uma olhada? Parece que bateu forte...

Dizendo isso, ele estendeu a mão para que eu pudesse me apoiar e ficar de pé.

Por alguns instantes, fiquei me perguntando quão idiota meu semblante estava para ele achar que eu tinha sofrido algum abalo psíquico e querer me examinar, contudo, assenti com a cabeça e depositei minha mão sobre a dele.

Ele me puxou gentilmente, certificando- se de que eu conseguia me manter de pé.

— Carvalhos são árvores traiçoeiras. - ele alegou, como se tivesse lido meus pensamentos. - Só quero me certificar de que não tenha ficado nenhuma farpa, para que não te machuquem.

Fiquei feliz quando não ficamos mais cara a cara, assim ele não veria o quanto meu rosto queimava enquanto ele afastava as mechas de meus cabelos suavemente, eventualmente retirando os pedacinhos de madeira e jogando-os no chão.

— Jardim magnífico. - Tentei cortar o silêncio.

— Gentileza sua. - Ele disse, retirando a última farpa e virando-se para mim.- Sempre quis fazer alguma coisa aqui, perto desse carvalho, mas acho que nunca imaginei algo bom o suficiente pra alterar...

— Eu posso ajudar! - As palavras saíram da minha boca antes que eu me desse conta.

— E eu agradeceria muito.- Um sorriso encantador preencheu seus lábios, mostrando os dentes perfeitamente brancos.

O silêncio se instalou entre nós, mas ele não parecia desconfortável, como a maioria das pessoas se sentem quando não sabem com o que preencher o vazio. Para mim também era assim, mas não com ele. Não naquele momento.

Ele apenas me olhava nos olhos de forma gentil, com paciência. Parecia apenas querer me dar o tempo que eu precisasse para responder. E por mim, estava tudo bem se continuássemos assim, nos conhecendo sem palavras.

Mas isso não dependia apenas de mim. 

— Preciso ir. - Falei, apressadamente, ao notar que havia perdido completamente a noção do tempo e de onde estava.

Virei- me e fui em direção ao casarão, quando a encantadora voz do garoto me faz parar.

— Elizabeth.

— S- sim?

— Te vejo amanhã?

Assenti com a cabeça e saí a passos largos.

 Já de costas, sorri com a ideia de encontra-lo no dia seguinte.

Peter... Era esse o nome do garoto que havia me desconcertado completamente. Seria algo em seus modos? Na sua gentileza? Beleza? Na forma como me tratava sem a formalidade dos outros empregados, mas como um menina comum, da mesma idade ou, pelo menos, próxima?

Eu não sabia, mas era certo: ele havia despertado algo em mim. Era algo forte, vívido, capaz até mesmo de abalar a armadura interior da qual eu dispunha ao voltar para a casa dos Black.

Ele não era só um garoto comum que eu acabara de conhecer. Havia algo muito mais profundo que isso.

— Senhorita Black, o senhor Black a espera no escritório.

A fina voz da empregada me retirou do transe, fazendo com que eu processasse a mensagem aos poucos.

"Ah, Edgar quer me ver", retomei mentalmente, dando um suspiro longo.

Edgar querer me ver não era nunca, de maneira alguma, algo positivo uma vez que, sempre que possível, preferíamos nos evitar. Por vezes durante as férias, ficávamos dias sem nos ver. A casa era grande, o que possibilitava esse tipo de conveniência.

Ao entrar no escritório me deparei com Edgar atrás da escrivaninha, massageando as têmporas, como ele sempre fazia quando estava irritado.

— Mandou me chamar? - Sentei- me na cadeira à sua frente, cruzando os braços.

— Erick me mandou um email. - murmurou, após um longo suspiro. - É sobre o que ele irá fazer depois do seu desempenho escolar horroroso...

— O que aconteceu?

— O pior...

Um frio subiu pela minha espinha.

— Edgar, me fala. - Minha voz estava engasgada. Tentei manter o controle, mas a verdade é que estava começando a entrar em pânico e isso era o tipo de coisa que não daria para disfarçar. - O que é?!

— O pior... Pra nós.

— O QUE É, EDGAR?!

Explodi. Eu já não estava em meu juízo perfeito. Minha cabeça girava, pensando em todas as possibilidades de minha situação piorar, de eu voltar...

Não... Não isso. Não de novo. Não... Nunca!

— Elizabeth, minha querida irmã. - Quanto mais impactada ficava com meus pensamentos, mais Edgar usava do sarcasmo. - Pense um pouco. Qual é a única coisa pode envolver nós dois e ser ruim pra ambos os lados?

No turbilhão de sentimentos, tentei me controlar e lembrar de algo.

A verdade é que, na maioria quase absoluta dos casos, o que era bom pra mim era ruim pra ele, e vice versa. Não gostávamos das mesmas coisas e, especialmente Edgar, tinha um enorme prazer em me ver encrencada.

Mas havia uma coisa... Uma coisa que poderia prejudicar os dois igualmente.

— Nós ficarmos juntos? - Respondi. Entendi que havia acertado quando ele fechou os olhos e respirou fundo. - Edgar, não pode ser... Converse com ele, deve ter algum outro jeito.

— Não tem. Já estamos matriculados e Erick não vai ceder. No final do mês começamos as aulas no novo internato.

— ISSO É CULPA SUA! - vociferei, me levantando de sobressalto. - Não tinha nada que dedurar minhas notas pra ele!

— Minha culpa?! - Ele soltou uma gargalhada cínica. - Claro! Porque eu adoraria ser a babá de uma menina inconsequente e desequilibrada! Não imagina o quanto estou satisfeito, Elizabeth!

— Quando estivermos lá, por favor, finja que eu não existo! - Resmunguei.

— Ótimo!

— Ótimo! - Gritei, fechando a porta com força. Mas nem Erick, nem Edgar conseguiram mudar meu foco por mais do que alguns minutos.

Ao sair do escritório, minha mente foi ocupada por completo pelo que eu vivera aquela tarde, dando espaço só para a expectativa da tarde seguinte.

 

 


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Notas finais do capítulo

O que vcs estão achando, o que acham q está bom, o que precisa melhorar, enfim, sintam-se livres para comentar, vai ser um prazer falar c vcs!



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