Free Fallin' SasuHina escrita por mayhgomees


Capítulo 2
Capítulo 2 - Don't Look Back Anger


Notas iniciais do capítulo

Gente, antes de tudo queria agradecer pelos favoritos e comentários e dizer que a autora que vos fala ama SasuHina, tá?! Hahaha
Não consegui sossegar até terminar esse capítulo. E aproveitei antes das minhas responsabilidades aumentarem.
Eu quis aproveitar a visibilidade do casal pra trazer um assunto importante e delicado, que precisa ter muito tato pra falar e escrever. Não se deve romantizar situações que te anulam, que te diminuem. E eu achei interessante trazer a pauta do relacionamento abusivo.
Já peço desculpas por qualquer erro. Eu revisei umas três vezes antes de postar, mas posso ter deixado passar algo.

Bem, vou deixar para falar mais no final!

A música do capítulo é Don’t Look Back Anger - Oasis.

Boa leitura!



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“Deslize os olhos para dentro da sua mente
Você não sabe que pode encontrar
Um lugar melhor para estar?”

Don’t Look Back Anger - Oasis

 

Konoha, 2018

Caminhava apressadamente no meio daquele monte de corpos que balançavam ao som de uma música que eu nem prestava mais atenção. Eu estava anestesiada. Eu olhava para frente como se eu pudesse enxergar qualquer coisa, mas eu não via nada. Só a adrenalina e a urgência de sair daquele lugar. Fechei meus olhos. Porque ele fez isso?

Senti meu braço ser puxado, virando meu corpo para trás, e assim que eu abri meus olhos, o rosto desesperado de Sasuke entrou em meu campo de visão. Tudo parecia estar em câmera lenta.

—Hinata, - ele começou a falar, embolado. - não é nada disso que você está pensando.

Eu não tinha nem forças para responder. O som da voz dele parecia um zumbido e nada estava fazendo sentido.

Tentei me desvencilhar dele e vi, pelo canto do olho, nossos amigos se aproximarem.

—Você precisa me ouvir! – ele me puxou para perto, não querendo me deixar sair. Eu senti quando ele me encostou na parede mais próxima e apoiou os braços nela, ao lado do meu rosto, me mantendo presa entre eles. – Não é verdade o que você viu. Você precisa acreditar em mim!

—Sasuke.. – eu tive que fazer um tremendo esforço para falar, tamanha era dor que me engolia. – Por quê? – eu só consegui perguntar. Eu não entendia. Por quê?

—Hime, - ele começou a ficar mais nervoso, mais agitado, mais agressivo. – eu não fiz nada! Acredita em mim.

Eu vi quando Ino se aproximou com um copo de água, tentando me oferecer, mas o Sasuke não a deixou chegar perto. Eu vi quando o Gaara colocou a mão no ombro dele, pedindo para que me desse espaço, mas ele o empurrou com violência.

Sasuke me manteve ali, presa. Sozinha. Sem deixar ninguém se aproximar. Eu estava presa na nossa bolha e pela primeira vez eu me senti sufocada nela.

E, não sei de onde veio essa força, eu o empurrei e sai. Quando cheguei ao lado de fora da boate, me senti ser abraçada pelas minhas amigas. Eu não conseguia nem chorar.

—Você prefere acreditar nelas a acreditar em mim? – ouvi Sasuke gritar. Quando eu levantei o olho, ele estava sendo segurado por Sasori e Gaara, que o mantinham distante.

Eu olhei para as meninas e sussurrei: - Me tirem daqui, por favor. – e vi quando Sakura se afastou e pegou o celular.

—Hinata, merda, - Sasuke gritou. – eu estou falando com você! Eu sou seu namorado!

Então eu não me controlei. Só me dei conta que eu tinha me soltado das meninas quando me vi na frente de Sasuke, gritando com ele.

—Você acha que eu sou idiota?! – eu cuspia as palavras. Eu queria que elas o ferissem como eu estava ferida. Eu o queria sangrando como eu estava. – Eu sei o que eu vi, Sasuke, e não venha me dizer que estou acreditando nos outros.

—Não foi aquilo que você viu! – ouvi-o dizer. – Não era eu.

—Ah, nos poupe das suas mentiras. – as minhas falas eram carregadas de sarcasmo. Ele queria me dar diploma de otária? – Eu acreditei em você, por todo esse tempo. Eu.. – minha voz começou a embolar. – eu me entreguei para você, completamente. E a única coisa que eu quero agora é sinceridade, não que você me coloque como louca. Assuma suas atitudes sem jogar a responsabilidade para outra pessoa. – fiz uma pausa. - Eu não quero mais isso. Para mim já deu. – e comecei a me afastar.

—Você não pode fazer isso! – ouvi-o gritar, completamente alterado. – Você não pode terminar.  Você não vai ser feliz com mais ninguém além de mim, Hinata.

Eu abracei as meninas, com medo de voltar atrás na minha decisão. Eu só queria sumir.

—Hina, - ouvi Sakura dizer. – eu liguei para o Neji e expliquei a situação. Ele está vindo te buscar. – eu assenti.

—Amiga, você quer que a gente vá com você? – Ino perguntou.

—Não, eu.. – respirei fundo. – não quero estragar o restante da noite de vocês. Me desculpem.

—Hinata, por favor. – Tenten me interrompeu. – Não tem do que você se desculpar. Primeiro que você não pode se responsabilizar pelo o que o Sasuke faz. – ela segurou minha mão. Eu sei que Tenten sabia que eu já estava fazendo isso.  – Segundo que somos amigas. Você acha mesmo que eu e as meninas vamos conseguir continuar aqui sabendo que você precisa da gente? – olhei para as outras duas e as vi assentindo.

—Obrigada, meninas, por tudo. – eu as abracei. – Mas vou sozinha com o Neji. Não quero falar sobre isso agora e com certeza papai vai achar estranho vocês irem lá para casa agora.

—Tudo bem, a gente entende. – Ino segurou minha mão. – Qualquer coisa, você entra em contato. Por favor, Hinata, não hesite em falar com a gente.

—Amiga, - Sakura colocou a mão no meu ombro – o Neji chegou.

Elas foram andando abraçadas comigo até o carro. Quando eu ia entrar, ouvi Sasuke gritar:

—Você não pode ir embora com ele! Hinata, a gente não conversou. Você é minha namorada. Eu sei que isso tem dedo daquele cachorro que você chama de amigo. Ele está fazendo isso para separar a gente.

Eu vi quando o meu primo estava tirando o cinto, pronto para descer do carro e fazer o que eu sabia que ele queria há muito tempo: socar a cara do Sasuke.

Mesmo que eu não visse Neji com tanta frequência, - primeiro porque ele era mais velho e tinha as obrigações do trabalho dele, e segundo porque o Sasuke sentia ciúmes - a gente tinha um carinho de irmão e ele sempre cuidou de mim.

Agora eu entendia a implicância que ele tinha com o meu namoro. Todo mundo enxergava o que ia acontecer, menos eu. E, por Deus, como doía ter noção disso.

—Nii-san. – eu segurei o braço dele. – Por favor, não. – e meus olhos encheram de lágrimas. Eu vi quando ele levou a mão até meu rosto, fazendo um leve carinho. – Eu preciso de você aqui. Eu quero ir embora.

—O que ele fez com você, Hina? – ele falou com pesar. Eu só balancei a cabeça, num pedido mudo para que ele não fizesse perguntas. Eu sabia que ele já estava a par do aconteceu, então sua pergunta se referia ao relacionamento como um todo.

 Neji me abraçou e se ajeitou para sair. Eu coloquei o cinto, olhei para a janela e vi minhas amigas me olhando com preocupação. Mais atrás delas estava Sasuke ainda sendo segurado por Gaara e Sasori.

Eu abaixei minha cabeça, tentando controlar as lágrimas. Senti a mão de Neji segurando a minha fortemente, me passando segurança.

Eu o olhei e ele me direcionou um sorriso reconfortante, e eu me senti amparada pela segunda vez aquela noite. A adrenalina tinha passado e, então, eu me permiti chorar.

 

.   .   .

 

Eu cheguei a casa esperando ir direto para o meu quarto, já que era tarde. Mas fui completamente surpreendida quando eu entrei na sala e meu pai estava sentado no sofá, com o abajur ligado.

Ele levantou o olhar e eu vi preocupação e raiva.

—Neji me contou o que aconteceu. – meu pai falou, e ele completou ríspido. – Eu juro que eu vou matar o Sasuke. – e então ele estendeu os baços, num pedido para que eu fosse até ele.

E eu corri. Larguei minha bolsa e outros pertences no chão da sala e corri para o abraço do meu pai. Sentei em seu colo e me senti ser envolvida como uma criança, e era exatamente como eu me sentia. Uma menina desprotegida e machucada.

—Shhh, eu estou aqui com você. – e só então percebi que estava soluçando. Meu pai afagava meus cabelos. – Você não está sozinha, minha filha. Nunca vai estar.

Eu fiquei ali não sei por quanto tempo. E também não sei como eu fui para o meu quarto, mas no dia seguinte eu acordei na minha cama e Hanabi estava deitada comigo, nossas mãos entrelaçadas. O rosto dela estava virado para mim, como se ela tivesse velado meu sono, e os traços demonstravam preocupação.

Fiz um carinho no rosto da minha irmã e eu a ouvi dizer:

—Hina, - sua voz estava um pouco sonolenta. – eu te amo. Você não está sozinha.

E ela me abraçou. Não precisou externar que já sabia o que tinha acontecido, mas o que ela falou foi suficiente para que eu me sentisse um pouco mais aquecida e para que novas lágrimas rolassem pelo meu rosto inchado.

 

—___________________

 

Konoha, 2018

 

Eu estava esgotada, destruída, extremamente machucada e perdida. Eu me sentia vazia.

Isso parecia que nunca ia passar. E por mais que eu dissesse para mim mesma que terminar era o certo a se fazer, eu não tinha tanta certeza.

Sasuke me procurou todos esses dias depois da festa. Fazia uma semana, desde então. Eu não estava indo a faculdade e as meninas tentavam vir aqui em casa todos os dias, mas eu negava. Eu não queria sobrecarregá-las com os meus problemas.

Em um desses dias, o Uchiha apareceu aqui em casa e pediu para falar comigo. Eu conversei com ele. Ou melhor, eu o vi chorar, quase implorando para que eu voltasse, dizendo que ia mudar, que ele me amava e que nunca mais faria isso, e antes que eu tivesse qualquer reação, meu pai o expulsou da nossa casa. Eu sinceramente não sei o que faria caso Hiashi não o tivesse tirado da minha frente. Por um momento eu cogitei reatar o relacionamento, numa tentativa cega de fazer a dor parar. Eu achava que não conseguiria viver sem ele.

Hanabi tem dormido comigo todos os dias. Ela falou que não conseguia ficar sozinha, mas eu sabia que esse não era o motivo. Ela tinha medo que acontecesse algo comigo. E eu a agradecia demais por estar ali.

Era horrível ser engolfada pela escuridão que chegava toda noite, mas ficava um pouco mais fácil suportar com a companhia da minha irmã. E do meu pai, que se fazia mais presente que antes, se é que era possível.

Eu sabia que teria que caminhar com minhas próprias pernas, mas por enquanto eu estava me deixando ser carregada.

—Nee-chan, - ouvi Hanabi murmurar da porta – hoje eu não vou dormir aqui com você.

—Aconteceu algo, Hana? – perguntei, um pouco triste. Não podia esquecer que minha irmã tinha uma vida.

—Na realidade, - ela fez uma pausa e sorriu – aconteceu sim. – e  abriu a porta do quarto, dando espaço para que Ino, Tenten e Sakura entrassem.  

A surpresa deu lugar à felicidade. Elas não desistiam de mim e eu fiquei reconfortada com isso.

—Até quando a senhorita achou que poderia fugir da gente? – Ino veio me abraçar, mas antes parou a minha frente com a mão na cintura, batendo o pé no chão.

—A gente veio trazer as matérias que você perdeu, Hina. – disse Tenten, me abraçando. – Na realidade, era uma desculpa pra vir te ver sem que você expulsasse a gente. – ela riu.

—Eu nunca faria isso. – abaixei o olhar, envergonhada. Não queria que minhas amigas pensassem que eu as estava evitando, apesar de ser exatamente isso que eu fazia. – Eu só não quero carregar vocês com os meus problemas.

—Amiga, - Sakura sentou ao meu lado na cama. – você nunca atrapalha. E sem você, nosso grupo não está completo. – ela me abraçou e eu retribui.

—Obrigada por vocês terem vindo. – eu falei, antes do meu pai aparecer na porta do quarto.

—Hinata.. – ele parou quando viu que eu tinha companhia. – Oi, meninas. – ele as cumprimentou visivelmente feliz. – Que bom que vocês estão aqui. Vou deixar vocês à vontade.

—Ele está mais presente que antes, se é que isso era possível. – eu soltei uma pequena risada. – Que bom ter vocês aqui.

As meninas me envolveram em vários assuntos, numa tentativa de me fazer sair um pouco da angústia. E elas conseguiram, pelo menos por um bom tempo. Só que em alguns momentos a tristeza vinha, e isso não passou despercebido por elas.

—Hina, - Sakura me tirou dos meus pensamentos. – se você quiser conversar, a gente tá aqui para isso. Estamos respeitando seu tempo.

Quando ela terminou de falar, eu olhei para Tenten e Ino e elas concordaram. Respirei fundo e suspirei.

—Eu não sei muito bem como estou me sentindo. – comecei falando. –Está tudo bem confuso, sabe? Eu sinto raiva do Sasuke, sinto raiva da menina que estava com ele, sinto raiva de mim.

—Eu entendo você sentir raiva da menina, – começou Tenten. – mas o responsável por isso é o Sasuke, Hina. Era ele quem te devia respeito.  Uma coisa que eu não entendo – ela fez uma pausa – é você sentir raiva de você.

—Eu também gostaria de entender. – ouvi Ino dizer.

—Eu sinto raiva de mim por permitir isso tudo. Por ainda amá-lo depois de tudo. Por cogitar a mínima possibilidade de voltar com ele. – fiz uma pausa e vi quando o bolo na garganta voltou. Respirei fundo e senti minhas mãos serem acolhidas pelas meninas. - Se me faz mal, porque dói tanto deixar pra trás? Por quê? 

—Hina, - Ino segurou minha mão - eu sei que não temos como saber o que você está sentindo, mas você não está sozinha. Nunca vai estar. Nós amamos você, amiga. 

—Faço das palavras da Ino as minhas. - ouvi Tenten dizer – Isso é um processo, amiga. Sair de um relacionamento assim não é algo fácil.

—Às vezes vêm na minha cabeça alguns momentos, sabe? – fiz uma pausa. – Quando ele reclamava de vocês, quando dizia que ele era meu único amigo. O ciúme excessivo, que eu achava que era normal. Quando ele reclamava das minhas roupas, ou quando não deixava eu tirar foto de biquíni. Ficava reclamando se eu andasse só com essas vestimentas quando íamos à piscina, mas curtia foto de outras meninas assim. Por Deus, é tudo tão confuso. – segurei minha cabeça e abaixei. Eu parecia que ia explodir. – E as vezes parece que eu não vou conseguir viver sem ele.

—Você tinha uma vida antes, não? – Ino perguntou. – Você vai conseguir se recuperar, Hinata, e vai descobrir a pessoa incrível que tem ai dentro.

—Já sei! - gritou Sakura. – Vamos fazer o dia da beleza da Hinata. – ela ficou pensativa - Mas não é um dia de fazer aquelas coisas de cosméticos. - ela fez um sinalzinho balançado a mão, espantando a ideia.

—Como assim, sua maluca? - falou Ino, rindo. - Eu gostei da ideia, mas explica isso aí. Dia da beleza sem beleza? 

—Então, - Sakura começou a dizer - a gente pode fazer isso sempre que percebemos que uma de nós não está legal. - deu uma pausa - E inauguramos com a Hinata. Então, a gente compra as coisas que a Hina mais gosta de comer e dormimos com ela. - ela virou para mim, segurou minha mão e disse - A gente não tem como tirar essa dor aí de dentro, Hina, - apontou para o meu coração - e também não temos como viver isso por você. Mas podemos viver isso com você, e estar aqui para tentar aliviar da forma que conseguimos. 

—Até que essa cabeça não serve só de suporte para essa cabeleira rosa, boboca. - Ino falou e eu vi Sakura dando a língua pra ela. - Eu amei a ideia. 

—Eu ‘tô dentro. - disse Tenten - O que você acha, Hina? Se for invasivo, se você quiser ficar sozinha, a gente vai entender amiga. 

Tudo que eu menos queria era ficar sozinha. Olhei para cada uma das minhas amigas e falei:

—Garotas, - e eu sentinas lágrimas descendo pelo meu rosto - vocês são incríveis! Eu amo vocês. - e eu abracei as três. 

Eu sabia que ninguém poderia passar por aquilo no meu lugar. Era a minha vida, afinal. Mas eu senti a dor ficar um pouco mais suportável. Eu tinha as melhores amigas do mundo. 

 

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Konoha, 2018.

 

Eu fazia terapia há um tempo. Desde antes de começar a fazer psicologia, para ser sincera. Acontece que o curso meche bastante com a gente e, bem, para você cuidar de alguém, precisa cuidar de si mesmo primeiro. Eu sempre digo que esse é o momento que eu consigo entrar em contato comigo.

            Assim que Kurenai apareceu na porta da sala de espera, eu a cumprimentei, e ela me direcionou para dentro.

Eu amava aquele lugar. O divã ficava encostado na parede, e na parte oposta a ele tinha uma pintura de um bosque muito bonito, cortado ao meio por um caminho, e ela era do tamanho da parede. A cadeira de Kurenai ficava de frente para o divã, mas eu quase nunca olhava para ela. Eu sempre me imaginava caminhando por aquele desenho.

            Ela me perguntou como eu tava e, bem, fui sincera. Não era a primeira sessão depois do que aconteceu com o Sasuke, mas era basicamente sobre ele que eu falava em todas as que sucederam ao término do nosso relacionamento.

—Sabe, - eu comecei dizendo, certo momento- eu tenho medo de encontrá-lo novamente.

—Por quê? – Perguntou Kurenai.

—Eu o odeio por tudo que ele me fez passar. – eu sentia o bolo na minha garganta. Isso estava tão constante. – É tão difícil de digerir, sabe? – olhei para Kurenai e ela esperou que eu continuasse. – Uma parte de mim não quer voltar para ele, mas tem outra parte que o ama. Eu não sei qual é mais forte.

—Qual Sasuke você ama? – Kurenai me perguntou depois que fiquei em silêncio.

—Como assim?

—Vou reformular a pergunta. – ela fez uma pausa – Qual Sasuke seria o ideal para você?

—Bem, - parei para pensar. – O Sasuke parceiro. O que me fazia rir, o que me apoiava, o que dizia que me amava. – eu fiquei em silêncio.

—E ele foi o mesmo Sasuke que te machucou?

—Eu.. – olhei para ela, o aperto na garganta ficando cada vez maior. – Sim, foi. – fiz uma pausa para pensar. – Parece que eu amo o que eu criei dele. Eu negava todas as coisas ruins e só valoriza as coisas boas. Eu amo uma projeção.

Um silêncio incômodo se instalou. Não era fácil ouvir nossos sentimentos assim, tão crus.

—E a Hinata? Você a ama? - Kurenai se pronunciou depois de um tempo. 

—Não entendi. – eu realmente fiquei confusa. 

—Você ama a Hinata que você foi com o Sasuke? - Kurenai foi mais direta. E essa pegou em cheio.

Eu não consegui mais controlar o bolo na garganta, e ele se transformou em lágrimas.

—Sinceramente? Não. Eu a culpo por ter se permitido todo esse sofrimento. - comecei, sem conseguir controlar o choro.

—Você não pode se culpar pelas atitudes de outras pessoas. – ouvi Kurenai dizer.

—Mas ela permitiu que tudo isso acontecesse comigo. - eu falei, um pouco exaltada. Eu estava com raiva de mim. – Eu não estaria sofrendo assim se não fosse por ela.

—Você acha que aquela Hinata poderia fazer diferente? 

—Eu faria! - Gritei com Kurenai, mas eu sei que, no fundo, estava gritando comigo. 

—Mas para você ser a Hinata de hoje, você foi aquela. – ela fez um pausa. - Você precisa perdoa-la. Ela não teve culpa. 

—Eu não sei como fazer isso.. – falei sinceramente, enquanto as lágrimas rolavam pela minha face e eu as enxugava. 

—Nós vamos descobrir. - ela fez uma pausa e continuou. - Afinal, ela está aí dentro de você. 

 

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“Tire esse olhar do seu rosto

Porque você jamais vai queimar meu coração”

 

Konoha, 2019.

 

Já tinha se passado mais de um ano que eu e Sasuke terminamos. Nesse meio tempo eu fui retomando as rédeas da minha vida. Ainda era bem difícil, mas a cada dia a dor diminuía mais.

Sasuke e eu não tínhamos contato. Eu evita lugares que eu sabia que ele estaria e também parei de sair com nosso grupo de amigos para não vê-lo. Não achava certo, mas eu ainda mantinha a amizade com Sasori e Gaara.

Eu estava em outra fase da minha vida. Tinha focado nos estudos, mais do que antes, e consegui um estágio. Ainda não me sentia pronta para me relacionar com ninguém, apesar de ter ficado com uns carinhas depois do término.

Romper contato com Sasuke não foi uma atitude infantil, pelo menos para mim. Ele ficou um bom tempo me cercando, dizendo que ia mudar. Mas tinha atitudes  que não correspondiam com o que ele dizia sentir, como dar em cima da Matsuri, por exemplo, ou fazer questão se esfregar na cara das pessoas que ele estava solteiro e feliz. Então eu decidi, pelo bem da minha saúde mental, que Sasuke não teria espaço na minha vida. Foi doloroso dar esse passo,  mas eu sabia que era importante.

E eu não estava sozinha, e nem me sentia assim mais.

Então, quando as meninas me chamaram para sair com elas para uma festa, eu aceitei. Sabia que tinha a grande probabilidade dele estar lá, mas isso não iria me impedir de estar com minhas amigas. E, bem, a gente já estava na festa e eu não vi nenhum sinal do Sasuke.  

—Hinata. – ouvi alguém me chamar. Quando me virei, dei de cara com Naruto. – Que bom ver você! – ele me abraçou e eu retribui. Naruto estudava comigo e Tenten, mas não éramos tão próximos.

—Bom ver você também. – falei sinceramente, sorrindo. – Está sozinho?

—Estou com alguns amigos lá da faculdade, de outro curso. - apontou para um pequeno grupo, do qual eu reconheci apenas duas pessoas: Shikamaru, que cursava alguma das engenharias, e Sai, que era do curso arquitetura. – E você? - apontei as meninas, que estavam conversando.

Naruto puxou assunto comigo e ficamos trocando ideia, até que os amigos dele o chamaram. Ele se despediu e eu voltei para perto do meu grupo. Eu vi quando Ino ia fazer algum comentário, mas parou e olhou para algo atrás de mim. Quando me virei, Sasuke tinha acabado de entrar no local da festa, acompanhado de uns dois meninos que eu não sabia quem eram.

Meu coração acelerou.

—Merda. – murmurei e vi quando as meninas me olharam. – Eu vou ficar bem, não se preocupem.

—Ele está vindo para cá. – Sakura falou. E só deu tempo de sentir a mão de Tenten segurando a minha, então a voz de Sasuke se fez presente.

—Oi, pessoal. – ele falou com todos, cumprimentando os meninos com alguns toques de mão. Sakura, Ino e Tenten estavam com as caras emburradas e eu quis rir. – Oi, Hinata. – eu fui completamente pega de surpresa quando ele me cumprimentou e ainda mais quando ele se aproximou e me deu dois beijinhos na bochecha. Eu fiquei sem reação.

—Hã.. – pigarreei antes de continuar. – Oi, Sasuke. – falei, tentado soar distante.

—Hina, preciso de ajuda lá no banheiro. – Sakura falou, me puxando, e eu me deixei ser levada. Vi quando Tenten e Ino nos seguiram.

—Você tá bem? – Ino perguntou.

—Estou, - fiz uma pausa – só não esperava que ele viesse falar comigo.

—Pena que aqui não vende ‘óleo de peroba’. Ia jogar um balde naquela cara de pau. – ouvi Tenten dizer e dei risada.

—Hina, se você se sentir incomodada com algo, avisa. – Sakura falou.

—Relaxem, meninas. – sorri – Vamos dançar?

E então fomos para a pista. Eu me diverti tanto com elas como nunca antes. Era uma sensação de liberdade indescritível.

Em alguns momentos eu via Sasuke passar perto de onde estávamos, sempre olhando nos meus olhos, num aviso silencioso de que ele estava me vigiando. Algumas vezes, quando eu não via, uma das meninas comentava que ele não parava de nos obsevar e que, se eu quisesse, elas davam um jeito nele. Não aceitei, claro. Não queria confusão. Só falei para a gente ignorar, como eu estava fazendo.

E mesmo com essa liberdade vigiada, eu me sentia bem melhor que antes. Mais confiante, mais feliz, mais livre, mais eu. 

 

.   .   .

 

Combinamos todas de dormir na casa da Sakura. Tínhamos acabado de chegar, inclusive, e estávamos dando risada de alguma história dos contatinhos de Tenten enquanto pegávamos algumas coisas para comer.

Quando chegamos no quarto, eu peguei meu celular para ver se tinha alguma mensagem de papai, Hanabi ou Neji. No entanto, a notificação ali me deixou completamente surpresa. Era de Sasuke.

 

Que bom que não te vi com ninguém. [04:30]

Não sei eu como eu reagiria. [04:30]

 

Oi?! Ele ainda tinha a audácia de me ameaçar?

—O que que aconteceu, Hina? – Ino perguntou.

Eu ia responder, mas achei melhor mostrar o celular para elas.

—Nossa, - Sakura se pronunciou - ele ‘tá participando de alguma competição de babaquice? Porque ele está empenhado em ser campeão. 

—Se eu tivesse que dar uma nota, seria dó. - Tenten falou e todas nós rimos.  - Ele não é doido de encostar em você, Hinata. - ela completou - Quebro ele no soco. 

—Eu ajudo. - Ino tratou logo de dizer. - Até porque o Sasuke é forte, mas não é dois. É só dar um chute naquele lugar e, pronto, imobilizado ele fica. - e um sorriso macabro ganhou lugar no seu rosto. 

—‘Tô doida pra sair no soco com alguém, e adoraria tê-lo como candidato. - Sakura falou. - E ele não teria chance contra a gente por que... - ela fez uma pausa dramática e olhou atentamente para nós, antes de fechar a mão em punho, levar em direção a boca e começar a cantar - “quando damos nossas mãos, nos tornamos poderosas porque juntas somos IN-VEN-CÍ-VEIS.” - e quando fui ver, estávamos acompanhando Sakura com esse hino. 

Rimos. Rimos de um jeito que há muito tempo eu não ria. Elas estavam conseguindo me tirar das minhas angústias. E, sim, nosso grupo de troca de mensagens se chamava “Clube das WINX”.

As minhas amigas tinham poderes e eu podia provar. Era só olhar a Hinata sorridente que estava com elas agora. 

—Não responde não. – Tenten me aconselhou. – A melhor resposta é o vácuo. Até porque não tem condições tentar dar uma resposta a altura, já que Sasuke zerou o nível da escrotisse. E ele quer te desestabilizar, saber se ele tem algum controle sobre você ainda.

—É, - respondi um pouco pensativa. – você tem razão.

—Mocinha, - fui tirada dos meus pensamentos quando ouvi Ino dizer. - não pense que não vimos aquele loiro falando com você, hein. - ela cutucou meu braço, sugestiva. - Quem era? 

—O Naruto? - ri, um pouco envergonhada - Ele estuda psicologia também, comigo e com a Tenten, mas ele não é tão próximo da gente. Ele é mais amigo do Kiba. 

—Eu vi o mole que ele te deu. - Sakura falou.

—Ele ‘tá ‘mó gamado na Hinata. - ouvi Tenten falar, com a boca cheia de comida.

—Meninas! - eu realmente estava envergonhada, mas soltei um risinho - Não é nada disso. Ele é carismático assim com todo mundo. E, gente, por favor, olhem pra mim. - apontei na minha direção - Eu não sou bonita para chamar a atenção dele.

—Hinata Hyuga! - o tom de voz que Tenten usava era medonho - Você não ouse repetir essa frase novamente, você está me entendendo?! - e eu não tive muito que fazer a não ser assentir. 

—Sua percepção está de parabéns. - ouvi Ino dizer, batendo palmas e me encarando - Nota 0.

—É, Hinata, e eu que achava que o branco dos seus olhos era genética, mas é cegueira. - Sakura se pronunciou, totalmente irônica. 

E eu só pude rir. Por Deus, essas meninas eram doidas, por isso eram minhas amigas. 

—E pare de achar menos do que você é, garota. - Ino falou de novo. - Um mulherão desses. Tem espelho em casa não?!

—Vocês não existem. - dei um risada antes de continuar. - Eu só não estou pronta pra ter nada com ninguém. Não acho certo ter um relacionamento para “tapar buracos.” – fiz o sinal de ‘aspas’ com as mãos. 

—E quem falou em relacionamento? - Tenten disse - Só uns beijinhos e acabou. 

—Ten, até parece que você não me conhece. - ri e continuei - Eu sinto que preciso me refazer antes de me relacionar com alguém, mesmo que sejam só uns beijinhos. - enfatizei a última palavra, sorrindo para as meninas. - Nesse momento eu preciso me dar atenção. Cuidar dos meus caquinhos. Me reconstruir. E também repensar no conceito que eu tenho de relacionamento. 

—Tem nosso apoio. - ouvi Sakura dizer. 

—Você sempre terá nosso apoio para tudo, Hina. - Tenten completou. - A única coisa que a gente não apoia é sua destruição. 

Eu sorri. Elas eram únicas. 

Adentramos à noite conversando sobre vários assuntos, rindo bastante, falhando consideravelmente em tentar não fazer barulho,  e só paramos para ver o sol nascer. 

 

—__________________

 

Konoha, 2020.

 

Abri meus olhos. Eu estava ofegante.  Meu corpo doía como se eu realmente tivesse caído. Tentei controlar minha respiração e o turbilhão de pensamentos, e sentimentos, que brigavam por minha atenção. Kurenai com certeza ia adorar saber sobre esse sonho na sessão de hoje.

Eu, por outro lado, não sei se estava pronta para lidar com ele.

Suspirei e decidi levantar. Olhei no relógio e vi que teria tempo de sobra para tomar um bom banho e um desjejum antes da primeira aula. No entanto, não me esqueceria deste sonho.

Eu tenho certeza que vou passar as próximas horas tentando entender que diabos foi isso. Não era possível que eu ainda sonharia com aquela noite depois quase dois anos.

Meu celular começou a tocar me dispersando. Olhei o visor.

—Oi, miga. – falei enquanto caminhava para o banheiro.

—Hinata, que horas você pretende chegar à faculdade? Eu preciso urgentemente conversar com você sobre a minha festa de noivado. Você não esqueceu, né? Hinata, pelo amor, você não pode ter esquecido. – Ino desatou a falar do outro lado da linha. Paciência não era muito meu forte este horário da manhã.

—Ino.. – repirei fundo para continuar – você precisa se acalmar. Ansiedade em excesso não tende a ajudar não, viu? E eu não tenho nem como esquecer, ou recalcar*, sua festa porque você fala dela todo dia. Toda hora.

—Lá vem você com essa conversa de psicóloga. Eu não faço ideia do que é recalcar, mas com certeza eu também não vou te deixar fazer. – ouvi minha amiga bufar e reprimi um risinho – Eu só tenho medo que você não vá...

Senti um aperto no meu coração. Ino, junto com Tenten e Sakura, me ajudou demais, assim como minha família. Eu nunca deixaria de estar com ela, mesmo que isso significasse vê-lo.

—Eu não o queria na festa, mas ele estará lá, Hina. – continuou falando quando não teve resposta minha - Você é mais importante para mim. E, bem, ele é melhor amigo do Gaara. Infelizmente não adiantou de nada ameaçar cortar as bolas do meu noivo. – ouvi- a bufar, claramente numa atitude infantil e a imaginei fazendo um bico. Não contive a risada.

—Ino, eu não perderia isso por nada. Você é mais importante para mim que qualquer desconforto e é o seu noivado. Eu estarei lá, prometo. E também estarei ai na faculdade logo, se você me deixar tomar banho e comer.

Só ouvi a risada gostosa da minha amiga antes de desligar.

 

.   .   .

 

—Ei, Hina! – Tenten me chacoalhou levemente – Você parece estar no mundo da lua. Nem está prestando atenção na aula de Psicanálise e, olha, você é completamente apaixonada por Freud. Que que está acontecendo?

—Ten, - fiz uma pausa antes de continuar – eu estou acontecendo. Eu tive um sonho muito doido essa noite e, bem, tem a festa da Ino. – terminei de falar sentindo meu rosto contorcer numa carranca visivelmente desconfortável. 

Conversar com Tenten era um pouco diferente. A gente sempre tinha conversas profundas. Não que não fosse assim com as outras meninas, pelo contrário, mas era uma peculiaridade de quem fazia psicologia. Ino e Sakura traziam equilíbrio para o grupo, até porque viver de complexidade nem sempre é saudável.

No entanto, Tenten era capaz de captar algumas coisas quando citadas, principalmente pela nossa rotina no curso. Por isso não me assustei quando, ao falar de sonho, ela me puxou para fora da sala, não se importando com o fato de estarmos no meio da aula.

Depois que chegamos num corredor sem saída perto do banheiro, Tenten sentou no chão e eu a acompanhei.

—Bem, - falei quando percebi que ela estava prestando atenção – eu tive um sonho muito doido. Eu sonhei com aquela noite. Eu tinha acabado de ver o Sasuke me traindo e comecei a correr, exatamente como no dia. Só que então eu apareci num campo vazio e eu me lembro da sensação de frio e solidão. – parei um pouco para lembrar o sonho.– Eu estava sozinha, comecei a andar e andar e do nada eu estava na beira de um precipício. Eu avancei, Ten, e eu cai. Eu não consegui parar. E o mais doido foi que o medo foi dando lugar a uma sensação de liberdade. E eu acordei.

Tenten me olhava com aquela cara de quem estava absorvendo todos os pontos importantes do que acabei de falar. Ficou em silêncio até que se pronunciou.

—Hina, quando foi que a Ino te contou que o impronunciável confirmou presença?

—Bem, foi ontem.

—Você não acha que é demais para ser só coincidência o fato de você sonhar com aquela noite logo após ter a confirmação que ele estará na festa? – minha amiga falava algo sério ao mesmo tempo em que sua voz queria me abraçar.

—Tenten, por Deus, eu estou tão confusa. Eu não sonho com ele há tanto tempo. Tanto. Eu tenho medo disso representar uma recaída. Eu tenho medo. – eu comecei a falar e pela primeira vez senti algo muito próximo da angústia ao pensar sobre o sonho. Eu queria chorar.

Tenten se aproximou de mim e envolveu minha mão com as suas. Seus olhos chocolates trasbordavam compaixão e cuidado. Eu não sei o que seria de mim sem minhas amigas.

—Hina, você precisa confiar mais em você. Você amadureceu demais durante esse tempo. Não é mais aquela Hinata. – ela começou a fazer carinhos na minha mão e levantou o olhar – Hoje você tem terapia, né?

—Sim, ainda bem. Só não sei se estou preparada para lidar com o que meu sonho significa, apesar de estar ansiosa.

—Vai te fazer bem falar sobre o que ainda não te é consciente. – ela sorriu docemente, antes de completar – É nessas horas que eu tenho pavor de Freud. Tenho que admitir que aquele velho tinha razão, em algumas coisas. – terminou, enfatizando a última frase.

Não me aguentei de tanto rir.

—Eu vivi para ver Tenten, a fiel seguidora de Jung, falar bem de Freud. – consegui ver minha amiga me mostrar língua antes que eu pudesse abraçá-la – Eu sou tão feliz por ter vocês. Não sei se eu conseguiria superar.

—Você é incrível, Hina. E sempre estaremos aqui uma pelas outras. – ela me abraçou de volta. – Mas eu concordo mais com a interpretação de Jung sobre os sonhos. – ouvi-a dizer, e engatamos em nossas diversas ‘discussões’ sobre psicologia.

Só voltamos para a sala quando deu o horário da segunda aula. O tempo passava correndo e eu estava ansiosa para encontrar com Sakura e Ino no almoço. Depois de tudo, eu passei a dar mais valor a qualquer momento com as meninas, e fazia questão de deixar claro o quanto elas eram importantes para mim.

 

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Konoha, 2020.

 

Eu já estava a um tempo falando sobre algumas situações que eu nem sabia que queria falar. Maldita associação livre*. Kurenai fazia algumas observações quando eu ficava em silêncio, mas como de costume era eu quem mais falava.

—Antes que eu me esqueça, - respirei um pouco antes de continuar. Falar é terapêutico, mas é muita energia interna para administrar. – eu tive um sonho essa noite. – e a contei sobre ele.

—O que você pensa sobre isso? – a vi me olhar atentamente.

—Para ser sincera, eu não faço ideia. – ele realmente me confundiu – Era como se eu voltasse àquela noite. Mas eu fico me perguntando o porquê de sonhar com isso depois de tanto tempo.

— Você tem algo em mente?

— Uma coincidência foi que no dia anterior ao sonho, Ino me disse que Sasuke confirmou presença na festa. – neste momento eu a olhei – Talvez não seja só coincidência.

— E o que te faz pensar isso? – Kurenai perguntou.

— Bem, deve ter uma ligação entre o sonho e o fato de que vou vê-lo. – pensei um pouco antes de continuar. – Eu fico nervosa com essa possibilidade.

—Por quê?

—Eu tenho medo de te uma recaída, de querer voltar. – parei para respirar. – Faz tempo que não o vejo.

—Você não acha que deveria confiar mais em você?

—É que é estranho pensar que eu projetei o meu sonho de ter um namoro em alguém a ponto de negar o que estava acontecendo. Eu amei o Sasuke que eu idealizei.

—Você o amou? – eu vi quando ela me olhou antes de continuar. – No passado?

A minha resposta foi o silêncio. Eu não sabia o que responder.

 -Sabe, Hinata, - Kurenai se endireitou na cadeira e me olhou atentamente. – assim como o silêncio também é uma resposta, há sonhos que são uma tentativa de elaboração.

 

—_____________________________

 

Konoha, 2020.

 

Eu parei na porta da mansão de Gaara. Eu sabia que as meninas já estavam na festa, mas eu estava extremamente nervosa. Sakura e Tenten se ofereceram para irem juntas comigo, já que papai e Hanabi não poderiam vir, mas eu não aceitei. Primeiro que elas já estavam fazendo muito por mim. Segundo que algumas coisas eu precisava encarar sozinha, e essa situação era uma delas.

Quando entrei na sala, olhei em volta apreciando o ambiente decorado para o momento e o tamanho daquele lugar.

Então eu o vi. Parado perto da porta que dava pra varanda, com um copo de bebida na mão, Sasuke me encarava. Quando meus olhos encontraram as orbes negras que eu tanto amei, eu gelei.

 

Eu estava caindo. 

 

— Hinata. – ele me cumprimentou.

— Sasuke. – respondi.

Não trocamos mais nenhuma palavra depois disso. Eu cumprimentei o restante do pessoal que estava com ele, felicitando Gaara pelo noivado e me retirei, procurando pelas meninas.

—Hina! – ouvi a voz de Sakura. Olhei para o lado e a vi junto de Tenten e Ino. Andei apressadamente até minha amigas e fui recebida por um ‘combo-abraço’, ou melhor dizendo, fui esmagada por 3 pares de braços.

Aquele calor humano aqueceu o frio que eu estava sentindo.

—Oi, garotas. – cumprimentei e parei meu olhar sobre a loira. – Você quer matar seu noivo antes do casamento? Você tá incrível, Ino.

—Obrigada, gatinha. Se eu não estivesse comprometida, eu te pegava. – ela complementou, tentando jogar uma cantada. Só tentando mesmo.

—Ai, sua boba. – balancei as mãos, envergonhada. – Está tudo tão incrível. Você merece, amiga.

—Estou tão feliz de estar compartilhando esse momento com vocês. – ela nos abraçou. – E muito feliz por você ter vindo, Hina.

—Não perderia por nada. – falei, sincera.

—Ela estaria aqui com a gente, nem que fossemos buscá-la. – ouvi Tenten dizer

Eu dei risada.

—Não precisaria. – parei de falar quando ouvi um barulho no microfone. Quando olhamos na direção do som, Gaara pedia um minuto da atenção de todos. Olhamos para Ino sorrindo e fomos caminhando até onde se encontrava o noivo.

Fiquei ao lado de Tenten e Sakura enquanto Gaara se declarava para Ino. Demos risada quando a loira não se segurou e pulou no colo dele, quase os derrubando. Choramos quando ela falou sobre seus sentimentos e aplaudimos quando eles se beijaram.

Se uma estava feliz, todas compartilhavam do mesmo sentimento. Então, nós três estávamos tão radiantes quanto a nossa amiga.

—Não seria a mesma coisa se você não estivesse aqui. – ouvi Sakura dizer. – Faltaria um pedaço do nosso grupo.

—E eu me sentiria incompleta em casa. – respondi. – Vocês têm sido incríveis comigo. Não sei como retribuir.

—Retribua sendo feliz, Hina. É só isso que pedimos. – ouvi Tenten dizer.

 

.   .   .

 

Estava observando o céu, incrivelmente bonito nesta noite, depois que Tenten e Sakura foram ao banheiro e eu não quis ir. Um sentimento leve se apossava de mim e eu percebi que estava feliz.

Não senti quando alguém se aproximou de mim.

— Hinata. – ouvi-o dizer. Olhei para o lado a tempo de ver Sasuke parando perto de mim. – Eu queria falar com você.

Fiz um sinal para que continuasse. 

—Eu sinto muito, por tudo. - ele falou - Mas eu queria que você soubesse que eu te amo, que eu te amava. Ninguém vai te amar assim.

Eu processei o que ele tinha acabado de me dizer. Levantei o olhar e respirei fundo, eu sabia o que eu queria. Eu tinha que fazer isso. Por mim.

— Sasuke, – fiz uma pausa – eu não sinto raiva de você. Não mais. Eu realmente vivi para o que a gente tinha, e eu não te culpo por eu ter feito isso. Mas o que você tinha por mim não era amor. Amor não sufoca, não prende, não anula o outro. E, sinceramente, é o oposto desse “amor” – fiz aspas com as mãos – que eu quero.

—Você está com outra pessoa, né?! - ele passou a mão nervosamente pelo cabelo. Eu vi quando ele começou a chorar. Respirei fundo.  - Droga, Hinata, você dizia que me amava. Você não pode me deixar. 

—Eu encontrei alguém sim, Sasuke. - eu o disse. - Não da forma que você está pensando. Mas é alguém por quem eu daria a vida. 

—Eu perdi a mulher mais incrível que eu tive? - o vi segurar minha mão, num pedido mudo e desesperado para que eu ficasse.

 

Tudo que eu senti foi uma dor que me rasgava por dentro e, ironicamente, uma sensação de liberdade.

 

Eu o olhei, sorri fracamente, me desvencilhei do seu aperto. Virei as costas, não antes de dizer: 

—Ela agora tem a mim. - e sai. 

Então eu entendi. Antes do voo, tem a queda-livre. E como num insight*, eu me lembrei do que Kurenai me falou no nosso último encontro.

Cair do precipício não foi meu fim, foi meu começo. Ou melhor, recomeço. Eu finalmente me sentia livre. Eu finalmente poderia ser a Hinata que eu sempre quis. Eu estava pronta pra seguir em frente.

 

—___________________________

 

— Acho que tá bom. - olhei para o computador a minha frente, satisfeita com o resultado.

Li e reli algumas vezes e mandei para as meninas. Elas me apoiaram a escrever sobre o que tinha me acontecido, e até mesmo Ino e Sakura, que não entendiam tanto de psicologia, disseram que seria terapêutico ressignificar* esse momento.

Enquanto eu lia, lembrava-me de todos os acontecimentos, do quanto acreditava que meu relacionamento era incrível, o quanto achava que eu estava extremamente feliz. E o quanto eu negava o que estava acontecendo.

Quando tudo desabou, eu senti raiva da Hinata que eu fui enquanto namorava. Eu, que sempre sonhei em ser dona da minha vida, caminhar com as minhas próprias pernas, depositei em um relacionamento todas as minhas energias, porque namorar também era um sonho. E não foi surpresa me sentir vazia quando tudo se perdeu.

Eu me culpei intensamente por ter me permitido passar por tudo isso. O Sasuke foi um babaca, claro, disso eu não tinha dúvidas, mas eu não sentia raiva dele. Não mais.

Eu demorei bastante a entender no que eu estava envolvida. Às vezes ainda é difícil acreditar que eu fui capaz de suportar tudo.

Mas eu fui.

Um dia, parou de doer. Um dia, eu consegui olhar a minha volta e ver o vazio ser preenchido. Eu pude observar de perto aquele campo, aquele do sonho, e enxergar as sementes que davam lindas árvores, lentamente. E a ver pássaros. E a me ver livre.

Quando eu caí do precipício, eu não queria morrer. Então a minha única alternativa foi aprender a voar.

No início eu tive medo, insegurança, as minhas asas não me davam suporte necessário para que eu tivesse um voo seguro. Mas quando eu olhei para o lado... ah, quando eu olhei para lado, tinha o vento. O vento também voava. E por mais que eu estivesse sozinha, eu não estava. Ele estava comigo. O vento me deu suporte.

E ele foi a minha família, os meus amigos, a terapia. O vento fui eu, Hinata, quando parei de sentir raiva daquela que fui, quando parei de culpá-la, quando fizemos as pazes.

Eu sabia que tinha um longo caminho a percorrer. A gente não apaga nossas vivências, e um relacionamento assim deixa marcas. Mas eu dei o primeiro passo, e o mais importante eu já tinha.

A minha queda-livre me deu o vento, me deu o voo, me deu a liberdade. E dentro de mim eu encontrei o amor da minha vida, eu mesma.

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“Não olhe para trás com rancor!”

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Recalcar: um dos meios de defesa do ego, para Freud. O recalque consiste no ‘esquecimento’, pelo consciente, de algum conteúdo carregado de afeto que não lhe é suportável. Dessa forma, esse conjunto, conteúdo + afeto, é deslocado para o inconsciente.

Freud: Sigmund Freud, considerado o pai da Psicanálise.

Jung: Carl Gustav Jung, considerado criador da Psicologia Analítica, uma das linhas da psicologia.

Associação livre: método adotado por Freud como um das vias de acesso ao inconsciente. Para ele, na livre associação de palavras, momento no qual o paciente vai dizer tudo que lhe vier a cabeça, o inconsciente se presentifica.

Insight: “perspicácia e o discernimento que ocorrem decorrentes de uma visão intuitiva a respeito de coisas que, em geral, estão encobertas ou escondidas.” (referência: https://www.meusdicionarios.com.br/insight)

Ressignificar: dar novo sentido.

Respira, inspira, respira.

Bom, essa última cena eu achei interessante colocar porque representa a Hinata escrevendo sobre a história. Eu vi a oportunidade de trazer para vocês como ela, no caso eu, enxerga o que passou. Eu acho que consegui passar a mensagem que queria nessa fanfic. Por isso eu achei interessante colocar essa música, principalmente pelo título dela. É preciso olhar para traz sem rancor, tentar ressignificar os acontecimentos para conseguir seguir em frente.

É isso, galerinha! Espero que tenham gostado do resultado, fiz de todo meu coração.

Beijos e até a próxima história ♥️



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