Em Tempos de Guerra escrita por Slinwood


Capítulo 9
Novos Aliados


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, desculpa por não postar ontem, acabei procrastinando e no fim esquecendo, mas taí. Boa leitura!



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—MERDA, MERDA, MERDA, MERDA! - Kazuko berrava ao fugir derrapando pelos corredores estreitos de um dos esconderijos de Orochimaru. Sortuda como era, havia acabado de queimar o laboratório central quando um motim sangrento começou. Não tinha como ser discreta e muito menos passar despercebida; a cada curva a kunoichi batia de frente com prisioneiros enlouquecidos. A essa altura, devia ter metade de todo o esconderijo a perseguindo.

Com o yari na mão esquerda e armadilhas montadas de última hora na outra, Kazuko fazia o que podia sem matar ninguém. O cheiro nauseante de suor e sangue infestava o lugar, e vez ou outra algum deles chegava tão perto que ela precisava nocautear, perfurar e até quebrar alguns membros. Em geral quando Kazuko invadia uma nova base ela fazia questão de soltar os experimentos de Orochimaru, mas sempre teve a chance de primeiro paralisá-los, acalmá-los e depois fugir.

Ninguém precisava dizer que aquela não era uma dessas situações.

Doton! Barreira de três camadas!

No segundo em que lançou o jutsu a kunoichi se arrependeu. Até conseguira bloquear os homens que vinham atrás dela, mas agora só havia um caminho a seguir. Ela arfou por alguns momentos e voltou a correr, mas ainda podia ouvir os gritos sofridos e choros ecoando por todo canto do subterrâneo. Ao ativar seus poderes sensitivos, sentiu pessoas vindo do corredor a esquerda, direita e também à sua frente.

Estava completamente cercada.

Kazuko não tinha opção a não ser apelar, mais apelar de verdade.

A jovem formou alguns selos, se agachou e encostou a mão livre no chão.

  Jutsu de Invocação: Serpentes Teleguiadas!

Da ponta de seus dedos surgiram inúmeras serpentes de um laranja quase fosforescente. Não passavam de dois metros cada, mas eram muito mais perigosas do que pareciam. Conforme elas disparavam pelo chão, Kazuko pôde ouvir berros estrangulados e o som de corpos tombando por todo lado. Assim que julgou ser seguro continuar, se levantou e seguiu caminho.

As serpentes que invocara fizeram um bom trabalho: haviam homens e mulheres completamente imobilizados ou paralisados dos pés a cabeça para onde quer que olhasse. Àquele não era seu jeito favorito de lidar com as coisas, mas ela não teve lá muita escolha. 

Pelo que  lembrava de cabeça, a saída não ficava muito longe.

Quando estava prestes a escapar, Kazuko ouviu um choro de cortar o coração vindo de uma saleta à direita, e ela podia dizer que o dono do som era uma criança. Tentou pressentir alguma ameaça próxima mas agora tudo estava calmo. Com passos hesitantes ela entrou na pequena sala pouco iluminada, feita de rocha escura, fria. A visão que teve foi terrível: um menino de no máximo sete anos estava sentado todo torto, encostado numa das paredes, com as roupas completamente ensopadas de sangue.

Ao se aproximar mais viu qual era o problema: algo ou alguém arrancara sua orelha esquerda e fizera um corte feio no pescoço. O menino de cabelos brancos tinha duas marcas estranhas na testa, o rosto retorcido pela dor agonizante e os olhos verdes agora vermelhos de tanto chorar:

—Shhhhh, calma, estou aqui para ajudar - Kazuko tentou falar enquanto se ajoelhava à sua frente, mas a voz abafada pela máscara o fez se afastar com medo - Ei, calma!

Ele a olhava de canto enquanto gorgolejava ainda mais sangue. Kazuko continou fazendo sons tranquilizadores enquanto tirava de dentro da mochila um pedaço de pano para estancar o sangramento. Ao tentar se aproximar devagar, o menino tirou uma adaga pálida como osso do nada e a apontou na direção de seu rosto:

—Tudo bem, tudo bem. Não vou encostar em você, certo? Aqui, pegue, vai ajudar -  ainda com a arma apontada, pegou rapidamente o tecido da mão de Kazuko e fez um som estrangulado ao pô-lo no ferimento. O silêncio recaiu entre eles até a kunoichi puxar um de seus cantis de água e entregar a criança. Após um longo gole, ele largou o cantil e voltou a apontar a adaga para ela. Kazuko perguntou:

—Pode me dizer seu nome?

Ele apenas a olhou desconfiado por um minuto, mas logo depois disse em voz baixa :

—Kimimaro.

—Olá, Kimimaro. Você quer sair desse lugar horrível? Prometo que-

NÃO! - ele gritou, e nesse instante a arma aumentou tanto de tamanho que chegou a machucar seu pescoço, fazendo um filete de sangue escorrer por debaixo de sua armadura. Largando o yari no chão e levantando as mãos em sinal de rendição, a jovem engoliu em seco e falou:

—Prefere ficar aqui, é isso?

—... mestre Orochimaru irá me salvar. Ele já deve estar chegando - aquilo deixou a kunoichi alerta. Se o Sannin estava mesmo se aproximando, ela tinha de sair dali o quanto antes.

Assim que terminou de falar, Kimimaro se levantou cambaleante, como se um vento forte ameaçasse derrubá-lo. Kazuko não ousou segui-lo, apenas observou-o se afastar pouco a pouco. Foi quando ele alcançou a porta que ela enfim percebeu: a arma invocada era mesmo osso. Àquela criança devia ser do extinto clã Kaguya. Antes de partir, ele se virou e falou:

—Obrigada, mas eu-eu tenho um propósito aqui. Orochimaru-sama irá me salvar.

X

Várias semanas após o motim Kazuko continuava traumatizada. 

O que ela vira naquele dia deixara marcas profundas, e ainda durante o sono ela tinha pesadelos com o choro de Kimimaro e todos aqueles desgraçados. A kunoichi chegou a cogitar voltar até lá e salvar o garoto, mas ela precisava focar em sua missão. A cada dia encontrar e destruir as pesquisas de Orochimaru ficava mais difícil. Era óbvio que o sannin já havia percebido que alguém vinha dando trabalho, por isso achar informações a essa altura parecia quase impossível, mesmo com todas as habilidades e treinamento de Kazuko.

Espionar Danzo também vinha se tornando cada vez mais desafiador. Como a kunoichi estava longe viajando por diversos países e vilas, seus informantes demoravam muito mais tempo para contar informações - isso quando chegavam vivos para falar ou escrever alguma coisa. O pouco que ela descobria era repassado em relatório para a Cobra Sábia, mas os mensageiros da Caverna Ryuchi já avisaram: ela ainda não estava satisfeita.

Kazuko tinha todos esses devaneios enquanto estava sentada dentro de um pequeno bar na Vila da Grama, onde ninguém se importaria com uma viajante igual a ela. Já estava na quarta dose de saquê quando começou a ouvir uma conversa entre dois civis lá para o fundo do salão:

—... e ele acabou com todos eles sozinho! Você tinha que ver! Os caras não tinham nenhuma *hic* chance - um bêbado contava rindo, batendo com o punho na mesa.

—Hehe, e tudo isso por que falaram que os livros dele são uma bosta... isso que é pavio curto, se quer saber - o outro homem de barba grisalha comentou. Isso chamou a atenção de Kazuko.

—Não é a toa que *hic* chamam ele de Sannin lendário... o velhote mandou todo *hic*mundo voando pela casa de chá! - os dois riam sem parar enquanto brindavam.

Mestre Jiraiya!, Kazuko vibrou. Se ele estivesse mesmo por ali isso era tudo que ela precisava. Jiraiya já a conhecia graças a Minato, que os apresentara um tempo atrás, e como ele também estava investigando Orochimaru...

Fazendo um hora para que sua saída não fosse muito suspeita, pediu mais um copo de bebida e logo depois partiu do bar de quinta se cobrindo com a capa escura. Chuviscava na Vila da Grama, mas encontrar o sannin seria bem fácil, ele não era exatamente discreto. Assim que chegou para debaixo de uma loja qualquer, fechou os olhos e ativou suas habilidade sensitivas.

O imenso chakra de Jiraiya estava bem perto, mais se movimentava pelas ruas da vila. Andando depressa, saiu em busca dele. 

Foi quando virou numa esquina que ela o viu, rindo de se acabar. Vestia as mesmas roupas de quando o conhecera e o mesmo cabelo branco e espetado preço num rabo de cavalo. Pelo jeito que andava torto a kunoichi tinha certeza de que estava bêbado. Soltando um longo suspiro ela começou a se aproximar e falou em voz alta:

—Jiraiya-sama? - o homem se virou meio perdido em sua direção, coçando a cabeça e com o rosto vermelho de tanto beber.

—Hm? Sim siiim, e quem é você, em?

Nesse instante Kazuko abaixou a capa da cabeça e retirou a máscara que cobria metade do seu rosto. Um pequeno traço de reconhecimento passou pelos olhos de Jiraiya, que agora apontava para ela feito um idiota:

—Aaan, eu acho que te conheço, em? Você não era aquela menina que pediu autógrafo do meu livro "Icha Icha Paraíso"? - a kunoichi o olhou incrédula e apenas bufou, cheia de impaciência:

Nãomestre, nenhuma mulher iria pedir um autógrafo daquela droga pornográfica. Sou eu, Sasaki Kazuko, lembra?

—Aaaan...

—Amiga de Minato, seu pupilo?

—Hmmm... não - foi só acabar de falar que Jiraiya tombou com tudo no chão. A jovem logo se aproximou e tentou ajudá-lo, mas o homem se revirava e rolava enquanto ria sem parar - Haha, Sasaki Kazuko, é? Que nome idiota. E de qualquer jeito eu já fiquei sabendo que ela morreu, viu?

O comentário a paralisou completamente. Por um segundo ela tinha esquecido desse detalhe.

Urg, maldito saquê. Acho que exagerei, pensou Kazuko.

Venha logo, Jiraiya-sama, precisamos conversar — ela dizia enquanto punha a máscara de volta sobre o rosto e o esperava se levantar.


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