Em Tempos de Guerra escrita por Slinwood


Capítulo 7
Conhecendo o Inimigo - Parte I




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O último lugar onde Mei queria estar era a enfermaria.

Mais cedo na clareira alguns ninjas liderados por Shizune notaram o estado dos recém-chegados. Não houve sequer discussão: ambos foram separados e enviados direto para alas médicas. Sem permissão de escreverem ou sequer discutirem detalhes do resgate, tudo o que faziam era ficarem deitados enquanto se submetiam a exames intermináveis. No fim do dia a Raíz estava coberta por suturas, hematomas coloridos e bandagens enroladas por todo o corpo; ainda sim, não podia deixar de sentir que perdera um tempo precioso. Tinha o dever de encontrar respostas, e sabia que não conseguiria nada por ali.

Desde que pisara na Ala Leste da enfermaria, Mei vinha observando a movimentação e a troca de turnos, caçando brechas e talvez uma chance de escapar sem ser percebida. Assim que a oportunidade surgiu, se esgueirou pelas costas dos enfermeiros e saiu a procura de Minato. Pelo que ouvia ao longo dos corredores o shinobi estava na Ala Norte, não muito longe dali. Após desviar de inúmeros mensageiros e ninjas apressados, finalmente chegou onde queria, encontrando Minato cochilando num canto qualquer. Ao se aproximar dele pôde notar que não era a única enfaixada dos pés à cabeça; Minato conseguia estar ainda pior:

—Precisamos conversar – disse a kunoichi de braços cruzados, postura inabalável e voz sempre fria. O shinobi abriu os olhos beeem devagar, precisando de um minuto para se sentar e entender que não estava sonhando:

—Olá para você também, Mei-san. Têm de ser agora? - respondeu enquanto bocejava.

—Levando em conta que eu nem deveria estar aqui, sim, agora. Não está cansado desse lugar? Não quer entender o que está acontecendo? - para a surpresa de Mei, Minato logo assumiu uma expressão séria e tom de voz conspiratório:

—Ouvi alguns guardas comentando que o comandante ainda está lendo o relatório da Kazuko-san... que não quer nenhuma notícia verdadeira ou falsa se espalhando. Tudo o que podemos fazer é esperar, não acha?

Antes que Mei pudesse retrucar,  as duas ninjas médicas responsáveis por ela surgiram do nada, parecendo bastante aliviadas:

Ah, aí está você! Pensamos que tinha fugido de novo... - o shinobi ao seu lado não pode deixar de sufocar uma risadinha.

Você, nem um pio – sussurrou a Raíz.

—... , mas é até bem conveniente que estejam juntos, isso facilita para nós - completou a doutora que estava a direita.

—Sim, o comandante acaba de solicitar a presença dos dois na sala de reuniões. Até trouxemos suas roupas, Mei-san, só por precaução. É melhor se trocarem antes de encontrá-lo, mas não demorem – assim que a de óculos terminou de falar deixou tudo embalado nas mãos de Mei.

—Não me diga que- – começou Minato.

—Isso mesmo, Namikaze-san, por isso se apressem – assim que as duas se afastaram, a kunoichi o encarou, levantando uma sobrancelha:

—O que foi isso? Perdi alguma coisa?

—Ah, desculpe. Shikaku-senpai tem alguns... problemas com a bebida, em especial quando não entende nem consegue resolver algo sozinho - disse ele já se levantando para vestir o próprio uniforme.

—Hm, tudo indica que o relatório da Sasaki-san está dando mais trabalho do que o esperado... certo, então nos vemos na sala de reuniões – Minato apenas concordou com a cabeça, e ambos se separaram.

Poucos minutos depois, Mei o encontrou com as costas apoiadas numa parede, mãos nos bolsos e a mente bem longe dali. A Raíz precisou chamá-lo quatro ou cinco vezes antes que ele notasse sua presença. Com o punho já levantado na direção da porta, ela perguntou:

—Pronto? - o ninja soltou um longo suspiro e assentiu com a cabeça. 

—Pronto.

Duas batidas foram o suficiente. Uma ANBU usando máscara com traços de garça recebeu-os em silêncio e guiou-os até onde Shikaku refletia sozinho para depois voltar a montar guarda. O lugar estava um caos: haviam rolos de pergaminho tanto na grande mesa circular quanto no chão; inúmeras velas queimavam espalhadas pelo cômodo; pincel e tinta nanquim estavam à beira de caírem em cima dos documentos, e meia garrafa de saquê jazia esquecida aos pés do comandante. Sem levantar o olhar, ele apenas murmurou numa voz cansada e rouca:

—Ah, enfim chegaram. Sentem-se, sentem-se - Mei e Minato puxaram suas cadeiras e esperaram; a tensão era quase palpável.

Algo não está certo... o que a Sasaki-san pode ter escrito de tão importante? Será que ela mentiu sobre alguma coisa? - Mei se perguntava.

—Muito bem. Os chamei até aqui por três motivos, mas vamos começar do início. Preciso conferir suas versões sobre a missão - nesse momento ele fez uma pausa dramática e olhou diretamente para a Raíz - No seu caso, missões.

Mei se manteve impassiva e respondeu quase imediatamente:

—Desculpe, senhor, mas não posso falar sobre uma delas - Shikaku continuou encarando-a sem entender - Devo me reportar apenas a Danzo-sama.

A simples menção no líder da ANBU foi o suficiente para que ele afundasse em sua cadeira e coçasse a cabeça:

—... quando acho que nada pode piorar... certo certo, eu entendo. E sobre a missão de resgate, o que vocês tem a dizer?

—Ann, isso talvez demore um pouco, senhor - comentou Minato.

—Já estamos aqui, não estamos? Sou todo ouvidos. Aliás, alguém quer saquê? Por que eu com certeza quero - disse o comandante já se servindo e derramando boa parte pelo chão.

X

Semanas se passaram desde a partida/fuga/traição de Kazuko.

Ela teve pouco tempo, mas no fim conseguiu bolar um plano bom o suficiente para relatar seu "desaparecimento" à base. Não havia chance alguma dela contar a verdade e correr o risco de alguém diferente de Shikaku - o único superior em quem confiava - ler seu relatório. A missão secreta terminaria em fracasso antes mesmo de começar.

Por isso ela contou uma história, digamos... alternativa. A parte do chamado da Cobra Branca Sábia foi mantida, mas a negociação pelo antídoto fora completamente alterada. Nela, Hakuja Sennin pediria desde o começo pela vida de Kazuko como sacrifício, além de eterna servidão no pós-vida.

Outro ponto importante para que todos engolissem a mentira era não permitir que Macao falasse demais quando deixasse Minato e Mei num lugar seguro. Invocações da Caverna Ryuchi como ele não tinham filtro e diziam o que bem entendiam. A kunoichi precisou negociar bastante para que ele aceitasse se omitir e apenas jogasse a culpa nela caso alguém perguntasse detalhes da missão ou de seu paradeiro.

Como Kazuko ainda não havia recebido nenhuma visita indesejada da ANBU ou qualquer outro Folha ela sabia que tudo fluíra como planejado.

Mas isso não mudava o fato de que, a partir do momento em que o acordo na Caverna foi selado, ela se tornara uma nukenin.

Desde àquela madrugada semanas atrás a kunoichi já vinha planejando seus primeiros passos para o sucesso da missão. Mas antes ela precisou de um bom esconderijo e de um ninja médico decente para suas costelas fraturadas. No fim das contas Kazuko foi parar no submundo, bem próximo da fronteira com o País do Som. Seu abrigo era numa casa de chá controlada pela máfia, e apesar do que pareceu de início, àquele era o local perfeito para sua recuperação. Ela nem precisou montar armadilhas ou coisa do tipo, ninguém se atrevia a mexer com os líderes da área.

O mundo das pessoas comuns não era tão diferente do mundo ninja.

Kazuko aprendeu rápido que informações eram a melhor moeda de troca por ali. Em menos de duas semanas ela conseguira detalhes sobre as localizações de três esconderijos de Orochimaru. Como não recebia quase nenhuma notícia sobre Danzo para relatar à Cobra Sábia, a jovem kunoichi resolveu focar em eliminar as pesquisas do Sannin lendário primeiro.

Em sua terceira semana longe de casa, Kazuko estava quase cem por cento curada. Tirando algumas dores, hematomas pelo tórax e problemas para dormir ela estava pronta para pôr seus planos em ação. A nova base tinha mapas pregados nas paredes, materiais para armadilhas espalhados e todo tipo de suprimento empilhado pelos cantos. Numa noite, enquanto lia a carta de um de seus informantes, a kunoichi se deu conta de que não poderia mais agir com o rosto à mostra.

Estava tecnicamente morta, mas sua pequena fama como A Pacifista dos Folha poderia atrapalhar bastante. Ela não queria correr nenhum risco desnecessário. Se lembrando dos tempos em que serviu a ANBU, decidiu sair e comprar algo que cobrisse seu rosto e também servisse como proteção.

Com as ruas ainda movimentadas por comércios ilegais e crianças órfãs correndo como loucas, demorou um tempo até que encontrasse uma máscara de que gostasse. Esta parecia mais simples do que a que costumava usar, mas daria para o gasto. Chegando ao abrigo decidiu que poria tudo nos trilhos ainda naquela madrugada. Vestiu um novo uniforme com armadura leve, recolheu tudo o que precisaria por alguns meses numa mochila, e foi direto para a frente do espelho. Sem hesitar, puxou uma kunai e cortou o cabelo castanho-escuro na altura dos ombros. 

Em seguida, apanhou sua bandana da Folha. Com as mãos agora trêmulas riscou o símbolo, reconhecendo de vez quem ela precisava se tornar. Após amarrar a bandana ao redor do pescoço, só faltava a máscara. Assim que a vestiu seu estômago revirou; era como estar na pele de outra pessoa. Com um último relance para o espelho, ela se afastou, desligou as luzes e partiu em direção ao seu primeiro alvo:

A Base Secreta do País do Som.

 

 


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