Em Tempos de Guerra escrita por Slinwood


Capítulo 1
No Coração da Areia


Notas iniciais do capítulo

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Sasaki Kazuko sentia que seu fim estava próximo.

Era como um pressentimento, algo que vibrava em sua alma. Os batimentos estavam acelerados, mas não apenas por estar correndo; suas mãos tremiam, mas não pelo sereno da noite. Estava completamente só, se aproximando do território inimigo, e sem qualquer esperança pela chegada de reforços. Kazuko tinha uma missão rank S em mãos, planejada e feita somente para ela.

Junto de seus superiores, havia bolado um plano que poderia virar de vez a balança da guerra para os Folha. Sendo uma jonin especialista em rastreamento e armadilhas, era a peça ideal para uma missão de resgate, e essa era uma oportunidade que nenhum oficial poderia negar, nem mesmo Danzo; afinal, seria como matar dois coelhos com uma única pedra. O líder das Raízes finalmente se livraria de Kazuko, e ainda ganharia o crédito por colaborar com a vitória.

A grande questão era que ela teria de se assegurar de que nenhum inimigo os seguisse até a base de inteligência, e para isso muito provavelmente ficaria para trás, bem no coração do País do Vento. Como kunoichi a prioridade sempre seria a missão - não sua vida - e Kazuko estava pronta para sacrificá-la se necessário.

Então por que sentia tanto medo?

Talvez por estar completamente só a dois dias, viajando rumo à morte quase certa. O lado egoísta dela desejava desesperadamente estar com uma equipe de campo, discutindo estratégias e ter com quem se importar além de si mesma. É claro que se preocupava com o refém, afinal, era um grande amigo de infância, mas conhecendo-o como conhecia tinha certeza de que estava são e salvo, ele só precisava da distração perfeita para uma fuga, e naquela noite Kazuko seria essa distração. A kunoichi engoliu em seco com o pensamento.

Enquanto tinha todos esses devaneios, percebeu que o local de destino estava a poucos minutos de distância, talvez a dois ou três quilômetros. Era o momento perfeito para parar, diminuir seu fluxo de chakra e cercar a área com armadilhas. Estava em desvantagem por não conhecer tão bem o terreno arenoso e descampado, mas tinha algumas cartas na manga. Com as mãos ainda trêmulas, apanhou dois pergaminhos de contrato da cintura; abriu ambos sobre uma rocha ali perto, mordeu os polegares e formou rapidamente os selos necessários:

Jutsu de Invocação: Técnica das Cobras Gêmeas!

Em segundos, duas cobras da grossura de suas pernas, com olhos brilhantes e inteligentes surgiram a sua frente. Elas não podiam falar a língua humana, mas Kazuko tinha noção de que a compreendiam:

—Muito bem, sabem o que fazer: sem mortes, apenas paralisia.

As duas assentiram e se afastaram com extrema rapidez, mas antes que pudessem se esconder abaixo do solo a shinobi formou mais uma série de selos e disse em voz baixa:

Técnica das Cobras Gêmeas: Jutsu Múltiplo!

Onde antes eram apenas duas agora via-se um verdadeiro mar de escamas negras mergulhando na areia. Em questão de instantes, toda a área num raio de seis quilômetros estaria infestada por suas companheiras. Se sentindo um pouco mais confiante após usar a técnica, Kazuko decidiu verificar uma... última vez... seu equipamento.

Dentro da mochila que carregava haviam algumas barras de proteína, dois cantis de água pela metade, um kit de primeiros socorros e uma muda de roupas idênticas as que usava. Na cintura, alguns rolos de pergaminho, shurikens e kunais com papéis explosivos, e um kit para confecção de armadilhas no bolso de trás. Por fim, verificou os dois bolsos de seu colete verde. Num deles haviam cinco pílulas de comida apenas para emergências, enquanto no outro havia um pergaminho que sempre carregava consigo desde os doze anos. Estampando um sorriso seco, ela o apanhou e examinou, dando especial atenção ao kanji escrito *yari. Era uma arma bastante simples, mas que já salvara a ela e a seus companheiros inúmeras vezes. O pensamento serviu para renovar a coragem da jovem, que cansada de postergar seu destino inspirou profundamente e seguiu seu caminho.

X

Não fora difícil encontrar a localização dos Areia. Pela quantidade de rastros eles realmente acreditavam que ninguém os seguiria até aquele ponto, ou que pelo menos ninguém seria louco o suficiente para o fazer. Tudo indicava que o esconderijo era subterrâneo, mas Kazuko não podia arriscar usar nenhum de seus jutsus doton tão próxima assim do inimigo. Com seus poderes sensitivos, fechou os olhos e visualizou cerca de oitenta shinobis com níveis variados de volume de chakra. Estavam a vários metros de profundidade e em níveis diferentes. Kazuko precisava encontrar a entrada o mais rápido possível, diminuindo o risco de ser detectada. Focando mais uma vez nos rastros deixados para trás, não demorou mais que alguns minutos para que achasse o alçapão. Ao abri-lo, o ar viciado e fétido do subterrâneo a dominou, e dessa forma ela desceu até o fundo do esconderijo.

A escada enferrujada dava em um corredor pouco iluminado que continuava pela direita. Kazuko o seguiu, diminuindo ainda mais seu fluxo de chakra, mas ainda sim preparada para qualquer conflito. Ela se guiava pelos túneis aparentemente desprotegidos usando suas habilidades até o momento em que sentiu dois chakras bem próximos. Se esgueirando com extrema cautela por mais alguns metros, chegou a uma espécie de prisão. Com seu espelho de bolso, a ninja se recostou na parede e tentou observar a lenta movimentação ao lado.

Os chakras que sentira pertenciam a um único guarda e a seu prisioneiro: um estava sentado num banco qualquer, com a cabeça recostada na parede de pedra e completamente adormecido. Mesmo a distância, Kazuko via o quanto o homem babava. O outro estava dormindo próximo as barras da cela, abraçando as pernas e tremendo pelo frio do subterrâneo. Não percebendo nenhuma ameaça imediata, a shinobi seguiu agachada pelo corredor mais próximo. Vez ou outra se deparava com vigias bem mais dispostos a causarem problemas do que o primeiro. Ela logo os eliminava, sem matá-los é claro, apenas nocauteando-os e prosseguindo pelos corredores sem fim.

Após meia hora nesse ritmo, Kazuko sentiu três chakras mais fortes do que o normal, sendo um deles bastante familiar. Estavam à cerca de duzentos metros a noroeste, e com uma kunai preparada na mão esquerda, partiu naquela direção. Tinha todo o cuidado para não acionar nenhuma das armadilhas de segunda categoria que iam aumentando de número a cada curva. Kazuko logo notou como aquela porção do esconderijo era menos iluminada, mais agourenta que as demais, já pressentindo uma batalha se aproximando. Foi então que, bem na entrada do salão, ela os viu.

Duas sombras faziam rondas contínuas pelo local espaçoso e mais alto do que qualquer outro com o qual a shinobi havia se deparado. Um dos guardas era apenas um moleque, não devendo ter mais de dezesseis anos, mas era sem dúvida dono de um chakra sombrio. Kazuko fez uma nota mental para não o subestimar. O outro guarda na verdade era uma kunoichi, muito mais alerta e desperta do que seu parceiro. Por fim, no canto esquerdo do salão, uma cela guardava o objetivo daquela missão e um dos maiores heróis de Konohagakure. O homem estava descalço e sujo após uma semana como refém dos Areia; fingia estar dormindo, mas Kazuko sabia que este já notara sua presença pelo sorriso discreto que estampava no rosto.

Formando um rápido plano de ação, tocou simultaneamente dois selos escondidos em seus antebraços, e dali surgiram duas serpentes. Ambas deslizaram disparadas em direção aos guardas, mas apenas o moleque de cabelos vermelhos caiu com um nítido baque, já paralisado. A kunoichi foi mais rápida, saltando e atirando uma kunai certeira na cabeça da serpente. Antes que pudesse voltar ao chão, Kazuko já montava uma armadilha aérea feita de fios de aço por pouco não decepando alguns dedos da inimiga, que por sua vez não parecia nem um pouco impressionada. Ela se desvencilhou graciosamente por entre os fios, até cair rolando no chão e levantar as mãos para o alto, em claro sinal de rendição:

—Sim sim, tenho certeza de que podemos fazer isso a noite inteira, mas temos uma missão a cumprir, não temos, Sasaki Kazuko? - Levemente confusa com o tom monótono, mas direto da kunoichi, Kazuko perguntou, ainda na defensiva:

—Você já esperava por mim, não é?

—É claro, fui enviada por Danzo.

Pff, como se isso servisse de alívio para alguém.

—Muito fácil falar. Prove. - Kazuko disse enquanto ainda apontava a kunai em direção a outra. Pelo canto do olho podia ver a serpente restante levando as chaves da cela até o refém.

A kunoichi de cabelos púrpura já parecia esperar por aquela reação arredia, logo mostrando o selo amaldiçoado em sua língua.

Perfeito, uma Raíz...

—Fui enviada em missão de infiltração e reconhecimento há um mês. Satisfeita?

—Nem de longe, mas será o bastante por enquanto - Kazuko disse com um gosto amargo na boca, guardando sua kunai no bolso - Como devo chamá-la até o fim dessa missão?

—... Mei.

—Então vamos terminar logo com isso, certo, Mei? - a outra disse em tom irritado enquanto encarava uma das serpentes sangrando no chão a sua frente, para então seguir em direção a prisão de seu velho amigo. Detestava ver uma de suas companheiras ser morta, especialmente se a morte podia ser evitada. A Raíz de cabelos púrpura deixara uma péssima impressão em Kazuko.

O homem loiro agora estava totalmente desperto, mas parecia fraco. Com o molho de chaves entre as mãos trêmulas, mal conseguia encontrar a fechadura de sua cela, mas ainda sim ostentava um sorriso aliviado. Kazuko devolveu o sorriso, tendo o cuidado de não mostrar intimidade demais na frente da outra kunoichi:

—Bom te ver inteiro, Minato. E então, pronto para um passeio?

—He, desde que você não atraia todos os inimigos para cima de nós, claro. - a Raíz tomou as chaves do jovem e abriu as barras da cela com um som alto e metálico. Sem esperar que pedi-se, Kazuko deu uma pílula de comida ao amigo, enquanto a outra kunoichi parecia ansiosa – ou tão ansiosa quanto uma Raíz pode ser - para sair daquele esconderijo. Servindo de apoio para Minato, Kazuko percebeu como os dois davam uma última olhada no guarda ainda caído no chão:

—Fiquem atentos. A paralisia deve durar algumas horas, mas o tempo pode variar de indivíduo para...

—Você chama isso de paralisia?

O trio pulou de susto com a voz fria do guarda de cabelos vermelhos. Nenhum deles conseguia se mover, e era como se todo o esconderijo tivesse prendido a respiração ao mesmo tempo. Kazuko sentia o fluxo de chakra do moleque voltando ao normal enquanto ele se levantava sem pressa. Limpando a poeira de seu uniforme, ele enfim se virou na direção do grupo:

—Deviam ter fugido quando tiveram chance – disse, apanhando um pergaminho da cintura com o kanji Formiga Negra. Kazuko não fazia ideia do que o guarda era capaz, mas sabia bem que um combate naquele momento só os atrasaria.

Técnica de Marionetes!

Em movimentos rápidos, o moleque invocou uma espécie de boneco envolto em um manto negro, composto por seis braços no total, um rosto comprido com três olhos e chifres vermelhos no alto da cabeça. Ele o controlava com extrema facilidade e tinha um sorriso frio estampado no rosto ainda tão jovem:

—E então? Prontos para o show?

 

 


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Notas finais do capítulo

GLOSSÁRIO:

*Yari - "O yari é uma arma barata e eficaz, preferida das milícias camponesas em Índia, China, Coreia e Japão antigos. O bambu é flexível, forte e fácil de encontrar. Até na Guerra do Vietnã viu-se como são práticas nas mãos de pessoas experientes ou simplesmente como parte de armadilhas".



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