911 - Qual a sua emergência? escrita por gabimts13


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! Essa foi a primeira história que escrevi e apesar do desafio fiquei feliz com o resultado. Depois de tanto ler fanfic achei que o POSOward foi a oportunidade perfeita para me aventurar na escrita, afinal Edward Cullen merece todas as homenagens possíveis!

Obrigada Ana Luísa @asatwilight no twitter, que betou essa história e fez a capa. Você foi um anjo, brigada mesmo!

Vocês me encontram no twitter como @gabimts13.
Espero que aproveitem a leitura!



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EPOV

O trabalho de um despachante de emergências é, a princípio, atender o telefone. Na prática, isso quer dizer: se comunicar bem e manter a calma. Sinceramente falando, eu não sei se são qualidades que você desenvolve à medida que trabalha ou se você já as tem e só coloca em uso na sua profissão.

Por já estar há oito anos trabalhando nessa área, eu já tinha minha rotina estabelecida e não me afetava tanto com as ligações recebidas. Acontece que, apesar de saber que, inevitavelmente, todo dia eu vou receber ligações, eu nunca sei qual tipo de emergência eu vou me deparar até atender a chamada.

Eu não sei o que me abalou tanto naquela ligação, se o tom de voz assustado do garotinho, se foi a incerteza da gravidade do acidente ou se foi sua coragem e perspicácia ao ligar ou se foi tudo junto. A verdade é que aquele momento mudou minha vida.   

Ser despachante não era exatamente meu trabalho dos sonhos enquanto eu crescia. Desde que eu consigo lembrar meu sonho era ser médico. Menino cai jogando bola, quebra o braço, vai para a emergência, coloca um gesso, algumas semanas depois o braço está curado. Era mágica aos meus olhos e aquilo me fascinou. Em casa, éramos só eu e minha mãe, meu pai, Edward Sr., havia falecido quando eu ainda era criança, e mesmo sendo novo eu sentia a responsabilidade de cuidar dela e protegê-la. A admiração pela medicina e a vocação para ajudar os outros me fez pensar que a carreira de médico era ideal para mim. E assim, toda minha vida escolar foi voltada para cumprir esse objetivo.

Mas a vida acontece e, na maioria das vezes, ela não se importa com seus planos. Minha mãe, Esme, adoeceu no começo do meu último ano escolar. Ela teve um tipo de câncer raro no estômago e após algumas sessões de quimioterapia e radioterapia, um novo tumor surgiu. Os médicos deram-na um ano de vida. Foi quando nós soubemos de um tratamento experimental – e caro. Felizmente, Esme respondeu bem ao tratamento e ao final dele não só teve uma melhora significativa como se recuperou totalmente.

No entanto, o preço do tratamento era de $8.000,00 a cada duas semanas e, apesar de nunca ter faltado nada em casa e de ter uma vida confortável, também não era o tipo de dinheiro que tínhamos sobrando. O que nos levou a gastar não só meu fundo da faculdade como também me fez precisar arrumar um emprego estável e pedir empréstimos ao banco.

Eu era bom aluno e havia recebido uma oferta de bolsa na Universidade de Washington, mas mesmo com bolsa, não seria viável bancar a faculdade e as outras despesas, além da necessidade de prestar assistência para minha mãe. Mesmo assim, eu não tinha desistido do meu sonho, apenas adiado.

Aquela terça-feira começou sem novidades, minha rotina nunca tinha surpresas apesar da natureza, de certa forma, imprevisível do meu trabalho. Eu cheguei no centro de atendimento de emergências pela manhã, tomei um café, sentei em frente ao computador e coloquei meus fones. Hora do show.

A média de ligações para o 911 em uma cidade como Seattle é de 900.000 por ano. Considerando que a emergência funciona os 365 dias do ano, isso são quase 2.500 ligações por dia. Apesar dos números altos e da tensão envolvida em cada situação, era gratificante saber que meu trabalho muitas vezes ajudava a preservar e até salvar a vida de muitas pessoas, de forma que eu não me sentia tão distante da minha profissão ideal.

A manhã foi relativamente tranquila, muitas ocorrências, mas nenhuma exatamente grave. Foi pelo começo da tarde que aconteceu, o telefone tocou e eu prontamente atendi.

— 911, qual sua emergência? – Eu perguntei pelo que parecia a centésima vez só naquele dia.

— Hum...

— Alô? – Falei esperando não ser um trote. Infelizmente era o tipo de situação que acontecia com frequência.

— Hum... a mamãe caiu da escada. - Respondeu a voz insegura de uma criança.

Histórias sobre pessoas pedindo ajuda por códigos, e crianças ligando para ajudar os pais são relativamente comuns, mas nunca tinha acontecido comigo... Até agora.

— Onde está a sua mamãe? – A ligação era de celular e, por isso, era mais difícil localizar o endereço de onde vinha a chamada.

— Hum... ela... ela ... em Washington. – Respondeu o garotinho de maneira incerta. Bom que sabemos o estado, mas não me ajuda.

— Onde exatamente? – eu perguntei tentando conseguir uma resposta mais específica.

sabe onde fica Washington? – ele falou e foi aí que eu percebi que eu não só estava falando com uma criança, mas essa criança era extremamente nova.

— Sei. – Respondi calmo.

— Mamãe? – o garotinho falou mais afastado do telefone e soando assustado.

— Quem mais está aí além da... – Comecei a perguntar, se ele ligou, as chances eram de que não havia mais ninguém com eles, mas valia a tentativa.

— Ela não acordada.  – Ele me interrompeu com a voz quebrada e eu tinha quase certeza que ele estava chorando. Merda.

— O que aconteceu? – Perguntei tentando entender melhor a situação.

— Ela tava descendo a escada, e depois ela tava no chão... 

— Escuta - Eu falei, mas aí lembrei que não sabia seu nome - Qual seu nome?

— Noah – ele respondeu ainda com a voz triste.

— Quantos anos você tem, Noah?

— Ela desmaô. – o garotinho falou com a voz assustada.

— Quantos anos você tem? – perguntei de novo.

— Quatro.

— Quatro?

— É.

— Ok. Quatro anos. – Novo demais. - Tudo bem, Noah, meu nome é Edward. Você pode ver uma coisa para mim, amigão? Eu preciso saber como a sua mamãe está. – Coração de pedra, Edward!

— Ok.

— Você disse que ela caiu da escada, você consegue ver se ela está respirando? – Perguntei.

— Hum... como que eu sei? – Ele perguntou curioso.

— Deixa eu ver – pensei em voz alta – Você consegue ver se a barriga dela está subindo e descendo?

— Consigo, subindo e descendo – ele confirmou.

— Tudo bem, amigão. Fica comigo no telefone, ok? A mamãe está sangrando? - Eu precisava de alguma informação sobre sua condição médica.

— Hum – ele ficou em silêncio por alguns segundos – Tem um dodói na cabeça. E o pé dela engraçado. – Ele falou e mais uma vez o tom curioso apareceu. Por mais estranho que pareça, até fiquei aliviado da dor e confusão terem saído da sua voz para dar lugar à curiosidade infantil.

— Engraçado como? – Por favor não tenha um osso aparecendo.

— Maior do que o normal. – Então uma torção ou uma fratura não exposta. Dos males o menor.

Nós ainda não tínhamos a localização da casa, por isso era importante que ele continuasse falando. Pensando em perguntas que ele saberia responder e querendo distrair o garoto, eu perguntei:

— Qual a cor da sua casa? – Uma pergunta fácil. Uma criança de quatro anos saberia.

— Branca. – Ele respondeu rapidamente.

— Qual a cor da porta da sua casa?

— Acho que azul. Eu vou olhar se é azul, ok? Eu volto já.

— Não desliga, não desliga! – eu falei rápido antes que ele largasse o celular ou tentasse desligar a chamada.

— Tá, eu vou lá fora ver se é azul, ok?

— Ok, vai, mas você pode levar o celular com você. – Que estranha é a cabeça de uma criança.

Alguns minutos passaram e apesar da equipe ter localizado a casa, ainda faltavam alguns minutos para chegar ao local. Na minha experiência, eu sabia que era melhor manter ele falando e a ideia dele sozinho, assustado e com mãe desmaiada apertou meu coração.

— A sua mamãe acordou? – Perguntei depois que ele voltou da sua verificação da cor da porta. Era azul.

— Não...

— Noah, você tem irmãos? – Alguém de preferência maior de 18 anos que possa te ajudar.

— Não... Só eu e a mamãe. Não tem ninguém aqui para cuidar dela. – A tristeza e a preocupação eram notáveis nessa última frase. Já era, Edward, coração de manteiga!

 - Tudo bem. Você está fazendo um excelente trabalho, sabia? Sua mamãe vai ficar muito orgulhosa de você – falei numa tentativa de animá-lo um pouco.

— Eu segurando a mão dela.

— Você está segurando a mão dela? Bom garoto.

Instantes depois eu fui informado que a ambulância estava na rua da casa dele.

— Noah, você está escutando as sirenes?

— Hum... eu acho que tem um cara mau chegando – Ele falou e por um segundo eu não entendi por que ele achou que era um cara mau, mas pensando bem sirenes são associadas tanto à polícia quanto a ambulâncias, e ele só tem quatro anos. Não posso julgar sua lógica.

— Não, não. Os caras bons estão chegando. Eles vão ajudar sua mamãe. – Eu expliquei tranquilizando-o.

— Oh – ele falou com o tom confuso. E eu dei um leve sorriso do quão rápido ele aceitou aquela informação. - Eles chegaram, mas tão em outra casa! - Ele disse e agora soava indignado.

— Grite para eles – Eu instruí - vá para fora de casa e grite “Ei, eu tô aqui!” - E então o ouvi gritar:

— Eu tô aqui, eu tô aqui! Minha mamãe está com dodói, ela desmaô!

— Oi, você ligou para o 911? - Ouvi o socorrista perguntar.

Sem saber se Noah ainda me ouvia eu falei: - Me deixe falar com ele. – E, sem motivo aparente, talvez achando que fosse uma informação relevante, naquele mesmo instante, Noah falou para o socorrista: - Eu tenho quatro anos. – A declaração foi seguida de 3 segundos de silêncio das partes envolvidas até que Noah voltou a falar comigo.

— Eles entraram em casa.

— Eles entraram? Eles foram para perto da sua mãe? – perguntei querendo a confirmação.

— Sim.

— Ótimo, eu vou deixar você com eles, ok? Você fez um ótimo trabalho, campeão! Você é muito esperto, viu? Tchau.

Eu encerrei aquela ligação aliviado. Levantei pra tomar um café ainda com a cabeça naquele garotinho de apenas quatro anos que já era esperto o suficiente pra tomar uma atitude tão séria que ajudou sua mãe, mas que se fosse uma situação mais grave poderia ter salvado a vida dela.

— Emmett, eu acabei de receber uma ligação de um garotinho de 4 anos que viu a mãe cair da escada. Eu já tinha ouvido sobre isso, mas nunca tinha acontecido antes. – Comentei assim que entrei no refeitório da central e o vi também tomando um café. Emmett era meu colega de profissão que, depois de tanto tempo trabalhando juntos, eu considerava um irmão.

— Mesmo, cara? Avisa ao supervisor, ele sempre gosta dessas histórias e vai querer fazer uma homenagem. – Emmett sugeriu. – É boa publicidade para o departamento também.

— É, tem razão. E eu adoraria conhecer o garoto. Ele foi uma figura no telefone, mas muito inteligente. Me surpreendeu mesmo.

A notícia se espalhou rápido e, como Emmett havia previsto, o supervisor quis fazer uma homenagem ao garoto. Foi difícil me concentrar o resto do dia, pois apesar das outras ligações recebidas, nenhuma ficou na minha cabeça tanto quanto a de Noah.

A Medalha da Coragem era a forma do departamento de emergências de homenagear pessoas que, apesar de estar em circunstâncias difíceis, conseguiam realizar uma ligação e, assim, prestar o socorro necessário. Então, na sexta-feira, Noah receberia, com todo merecimento do mundo, sua Medalha da Coragem. Eu mal podia esperar para conhecê-lo pessoalmente e parabenizar sua mãe por tê-lo criado tão bem.

O resto da semana passou voando e num piscar de olhos era o dia da cerimônia. Chegando no hotel onde seria realizado a entrega da Medalha, eu procurei ansioso o garoto que tanto me impressionou pelo telefone. Entrei no salão de eventos e logo dei de cara com Emmett.

— E aí, cara? Conheceu o Noah? – perguntei enquanto o cumprimentava.

— Sim, e Edward ele é uma coisinha esperta.  – Emmett virou em direção ao púlpito em frente a um palco no fundo do salão e apontou para um garoto pequeno de cabelos curtos e loiros. – É ele.

Noah estava cercado de dois socorristas e quando cheguei perto ouvi um deles falar para Noah:

— Esse é o Edward, ele que falou com você pelo telefone.

Me pegando de surpresa, Noah virou sorrindo e me abraçou. Bem, abraçou minha perna, que era onde ele alcançava. Me ajoelhei até ficar do seu tamanho e o abracei de volta.

 – Oi, Noah, tudo bem com você? – perguntei ainda abraçado. – Eu sou o Edward. – Ele se afastou um pouco e disse: - Oi Eduald, bigado por me ajudar com a mamãe. 

Eu juro que meu coração partiu e se curou em duas batidas ao ouvi-lo falar meu nome desse jeito. Eu normalmente não sou fã de que errem meu nome ou me deem apelidos, mas esse deslize era mais que bem-vindo.

 - Eu só fiz metade do trabalho, campeão, você fez a outra quando ligou para a emergência. Você foi muito corajoso! – Seus olhinhos castanhos brilharam e ele abriu um sorriso enorme e eu senti um orgulho maior ainda.

Pedi licença e fui me informar com os organizadores do evento sobre como ia acontecer meu discurso e a entrega da Medalha. Quando voltei para o lugar que Noah estava, se encontrava ao seu lado a mulher mais bonita que eu tinha visto na vida. Longos cabelos castanhos, estatura aparentemente pequena, pele clara e pé esquerdo imobilizado. Quando ela se virou para mim, vi seu rosto delicado com um curativo na testa e ela se apoiava em um par de muletas. Ela sorria para mim. Espera, ela estava sorrindo para mim? E então notei que ela estava curvada na direção de Noah e que ele tinha as mãos em concha no ouvido dela e dizia alguma coisa.

Ela endireitou a postura e com Noah ao seu lado veio caminhado, com ajuda das muletas, na minha direção. Quando estava na minha frente, disse ainda com o sorriso no rosto: - Então você é o Edward que atendeu a ligação do meu garotinho?

— Sou eu, e você é a mamãe desmaiada? – Falei sem pensar muito e internamente me encolhi de vergonha. Por que diabos eu falei isso? Mas, ela me surpreendeu com sua resposta simpática:

— Sim, mas eu também respondo por Bella. – Ela me estendeu a mão.  

Eu não estava preparado para a sensação que senti quando sua mão se encaixou na minha. Sua pele era quente e imediatamente me fez pensar em lar. O que está acontecendo aqui? Olhei em seus olhos e fui atingido com o mais doce e caloroso tom de castanho, um pouco mais escuro que o do seu filho, um chocolate que me abraçou e fez me fez querer me afogar e conhecer mais da sua dona. Foco, Edward! Ela é a mãe do garotinho!

— Prazer em conhecê-la, Bella, e que bom saber que você está bem, na medida do possível – acrescentei indicando com a cabeça seu pé imobilizado. Pronto, não pareço tão idiota agora— Você tem um filho maravilhoso. Ele foi incrível, segurou uma conversa inteira numa situação de estresse porque você precisava de ajuda. Eu conheço adultos que não saberiam lidar tão bem com o mesmo tipo de situação.

— Ele é meu pequeno herói – Bella falou enquanto sorria carinhosamente para Noah que permaneceu quieto durante toda a conversa. 

— Como ele sabia para quem ligar? – A pergunta havia me perturbado desde a terça-feira - Você que falou sobre o 911?

— Sim, na verdade o meu pai me ensinou quando eu tinha a idade do Noah e, como somos só nós dois, eu achei que era uma informação útil. – Bella respondeu dando de ombros.

— Bem, certamente foi uma informação bem utilizada.

— Você não imagina o quanto eu fiquei chocada que ele de fato lembrou. Mas você foi incrível, não foi meu amor? – Bella se dirigiu ao filho passando a mão nos cabelos dele.

— É – falou Noah - Eu sabia que são dois números 1 e um 9. Às vezes eu confundo, mas naquele dia eu acertei!

— Você fez mesmo um ótimo trabalho, Campeão! – Falei para ele e ao virar a cabeça na direção de Bella vi que ela estava olhando para mim.

— Sabe, Edward, eu sou muito grata a todo mundo que ajudou naquele dia, mas queria te agradecer também por ter sido paciente com ele e falado de um jeito que ele entendesse.

— Não por isso, Bella. É realmente meu trabalho. – Respondi – E ele é mesmo um garotinho inteligente.

Depois disso, o evento aconteceu tranquilamente. Contei minha versão da história e o quanto Noah agiu de forma eficiente e até madura, considerando a situação. Noah recebeu sua Medalha da Coragem orgulhoso e, mais cedo do que eu gostaria, ele e sua mãe partiram.

O caminho todo de volta para casa foi preenchido com imagens de Bella e Noah. Ela feliz e orgulhosa do filho, ele animado com sua Medalha.

— Como foi a cerimônia, filho? – Esme me perguntou assim que cheguei.

Eu sei que não é comum um cara de 26 anos ainda morar com a mãe, mas considerando o histórico médico dela e nossa situação financeira, essa era a melhor solução por enquanto. Eu sempre tive um relacionamento ótimo com a minha mãe e geralmente compartilho praticamente tudo da minha vida com ela, então ela tinha ouvido bastante sobre Noah e estava tão animada quando eu para a entrega da Medalha.

— Foi bem legal, mãe! – respondi empolgado indo em direção à cozinha – Conheci Noah e a mãe dele.

— E como eles são? – ela perguntou enquanto puxava a cadeira pra se sentar e fazia um gesto para a mesa de jantar para eu me sentar também.

— Eles são ótimos. Noah é um garotinho bem legal e esperto. Ele é o que você chamaria de fofo, mãe. Me abraçou e tudo.

— E a mãe, como ela chama?

— Bella, ela é... – eu senti meu rosto ficar quente e não soube a descrever porque em algumas poucas palavras trocadas, Bella me deixou encantado. Mas eu não vou admitir isso agora, desculpa Dona Esme.

— Jovem e bonita? – Esme perguntou com um sorriso de canto de boca de quem sabe algum segredo.

— Sim, mas isso não vem ao caso. Aliás, por que você acha isso? – perguntei desconfiado.

—Você ficou todo vermelho, abriu um sorriso bobo...

Revirei os olhos tentando fazer pouco caso do comentário dela - Bella é muito simpática e o que você chamaria de adorável.

— Nossa, deve ser mesmo. Faz tempo que eu não te via ficar assim falando de alguém – Esme comentou de novo com o sorrisinho.

— Bem, foi bom conhecer os dois. - Melhor desviar o foco dessa conversa— Sabe que eles me lembraram da gente, mãe? – Comentei.

— Mesmo? Por quê?

— Eu não sei a história por trás exatamente, mas a família deles são só os dois. Mãe e filho contra o mundo – falei sorrindo e dei uma piscadinha para ela.

— Talvez a gente pudesse fazer uma visita aos dois ou você poderia se oferecer para ajudá-la enquanto ela está meio debilitada. – Esme sugeriu.

— Você acha que é uma boa ideia?

— Eu tenho certeza, se ela e eu temos mesmo algo em comum, então ela vai apreciar a ajuda e a companhia. – Esme falou num tom reflexivo e até nostálgico - Sabe, Edward, enquanto você era criança e até mesmo adolescente eu tentava não demonstrar o quanto as vezes eu me sentia solitária.

— E por que você está falando isso agora? – perguntei apertando os olhos em sua direção.

— Intuição – ela deu de ombros – E esperança de que se você usar essa informação talvez mais de uma pessoa de beneficie.

Uma semana depois do evento de entrega da Medalha, a imagem de Bella não saia da minha cabeça. E esperando que a lei da atração existisse, torci para que não demorasse muito até que a visse de novo. Quem diria que meu desejo seria atendido no sábado à tarde no meio do supermercado.

Macarrão, molho de tomate, peito de frango. Olhei para o meu carrinho quase cheio, mas que ainda faltava frutas e verduras. Andava meio distraído até que ali, entre a montanha de batatas de um lado e a de maçãs do outro estava a dupla que não tinha saído da minha cabeça nas últimas duas semanas e que eu queria tanto reencontrar. Mas Bella e Noah não estavam sozinhos. Segurando o carrinho deles, estava um homem com os seus cinquenta e poucos anos, cabelos curtos castanhos, mas com alguns grisalhos já aparentes, e um bigode cheio. Na distância em que eu os observava, não saberia dizer com certeza, mas julgando pela semelhança da cor do cabelo e tom de pele entre o homem e Bella deduzi que ele era o pai dela.

Senti uma urgência em falar com eles, mas não sabia exatamente se seria apropriado me aproximar ou como eu o faria. Será que eles lembravam de mim? Decidi que já tinha sido de bom tamanho tê-los visto e longe e quando comecei a virar meu carrinho, desistindo de pegar as frutas e cruzar com eles pelo caminho, ouvi meu nome sendo chamado e o barulho de passos apressados na minha direção.

— Eduald!!! – Noah gritou e logo depois colidiu em mim abraçando minha coxa. Me inclinei abraçando suas costas e depois me abaixei colocando um joelho no chão para ficar da sua altura.

— Opa, campeão, que surpresa! – falei animado sentindo meu sorriso se abrir quando vi o dele. Quase ao mesmo tempo, ouvi uma voz adulta chegando perto de onde estávamos.

— Noah, não corre assim! – O homem que estava acompanho os dois falou enquanto se aproximava. Bella vinha logo atrás, mas num ritmo mais lento pois vinha se apoiando nas muletas. Quando chegou, olhou diretamente para o filho e falou com a voz firme, mas cheia de preocupação.

— Meu filho, você não pode sair de perto da mamãe e do vovô assim do nada, a gente fica preocupado.

— Desculpa, mamãe. – Falou o garotinho já não tão eufórico – Eu vi o Eduald e ele tava indo embora e eu queria falar com ele e...

 - Tudo bem – Bella o interrompeu – mas da próxima vez você tem que avisar antes de sair de perto de mim, ou chamar o vovô para ir com você.

— Ok, mamãe. – Noah falou.

— Oi, Edward, - Bella falou olhando para mim pela primeira vez desde que tinha chegado perto – que bom te ver aqui, apesar desse mini susto.

Ficando novamente de pé, respondi com um sorriso que se abriu automaticamente ao ver a morena - Olá, Bella, é bom te ver também. Eu tinha visto vocês, mas não queria atrapalhar – Nessa hora senti a mão pequena de Noah segurar a minha, como se fosse um costume fazer aquilo, como se não fosse só a segunda vez que nos víamos pessoalmente.

— Besteira, não seria incômodo nenhum. Aliás, é mais uma oportunidade para te agradecer. – Ela disse. E olhando pra baixo, vendo que Noah segurava minha mão, acrescentou – E parece que alguém ficou bem feliz de te encontrar.

 - Bella, não precisa agradecer, eu só estava fazendo meu trabalho e eu tive ajuda. – Indiquei com a cabeça o garotinho ao meu lado.

— Ahn ahn – o pai de Bella limpou a garganta para chamar nossa atenção. Por alguns instantes eu tinha mesmo esquecido que ele estava ali. – Eu sou Charlie Swan, pai da Bella e avô desse garotão aqui.

— Prazer conhecê-lo, Sr. Swan, meu nome é Edward Cullen. – Falei e, soltando a mão de Noah, estendi a mão para cumprimentá-lo. Por mais estranho que parecesse, não queria causar uma má impressão no homem que certamente tinha um grande papel na vida de Bella e seu filho.

Um lampejo de reconhecimento apareceu nos olhos do Sr. Swan enquanto ele segurou e balançou minha mão num aperto firme e rápido. – Então você é o famoso Edward, do telefone. Ouvi muito falar de você nessas últimas semanas. – Falou com uma expressão de quem sabia algum segredo divertido. Será que ele e Esme eram amigos?

— Eu que falei!! – Disse Noah, agora do lado de sua mãe. – Eu disse do telefone e da medalha!

 - Você mereceu, amigão. – Falei, passando a mão nos seus cabelos. 

 - Eduald, você não quer ir na minha casa pra gente brincar de carrinho? E eu mostro meus bonecos e faço um desenho para você?! – Noah falou empolgado surpreendendo os três adultos ali presentes. Eu certamente não esperava aquela oferta.

— Noah, bebê, o Edward tem outros compromissos. – Bella respondeu para mim, imagino que para me salvar de uma possível reação negativa que poderia magoar seu filho. Mal sabia ela que eu realmente queria passar mais tempo com eles. 

— Obrigado por me chamar, Noah, - falei tentando não o magoar, aqueles olhinhos castanhos esperançosos iam acabar comigo. – mas eu realmente não posso hoje. Tenho que terminar minhas compras e depois deixá-las em casa. Quem sabe outro dia? – Acrescentei logo, mas depois olhei para Bella e percebi que talvez não devesse ter dito aquilo. Não sabia se ela concordava com aquele convite.

— Quem sabe outro dia, então. – Bella falou com um sorriso tímido e percebi que talvez a curiosidade que eu sentia em relação a ela fosse recíproca.

— Aqui, - Bella falou procurando algo na bolsa e depois me entregando o que eu descobri ser um cartão de visitas – esse é meu número. Me liga para gente combinar alguma coisa, Noah vai adorar te ver de novo e eu também.

Eu ouvi isso mesmo?

— Obrigado, Bella – falei tentando disfarçar meu entusiasmo – A gente se vê depois então. -Virando para Noah dei meu melhor sorriso - Tchau, campeão, fiquei muito feliz de te encontrar aqui.

—Tchau, Eduald. – Ele acenou.

— Sr. Swan – dei um comprimento final acenando com a cabeça.

Segui fazendo minhas compras me sentindo estupidamente esperançoso.

Nos dias seguintes eu vivi um dilema sobre quando deveria ligar pra Bella, na verdade sobre se eu deveria ligar para ela. Eu queria mesmo vê-la novamente, mas sempre existia a possibilidade dela ter passado seu número só por educação. Mas ela disse que ia adorar me ver de novo e ela não parecia ter mentido quando falou isso. Talvez eu devesse seguir o conselho de Esme e oferecer alguma ajuda ou companhia. Bella estava debilitada e bem, todo mundo precisa de um amigo de vem em quando. Eu poderia oferecer isso para ela. Nem você acredita nisso, Edward.

Na quinta-feira, resolvi tentar minha chance. Eu ia ligar e verificar se ela e Noah estavam bem. Se desse coragem, eu faria outro convite. Cheguei em casa depois do trabalho decidido, mas enquanto andava de um lado para o outro no meu quarto, segurando o telefone no ouvido e escutando as chamadas, não pude evitar o nervosismo.

— Alô? – Ouvi a voz de Bella do outro lado da linha.

— Oi, Bella, é o Edward – falei um pouco ansioso – Espero que não tenha problema eu ter ligado...

— Não, tudo bem, como vai? – Talvez eu tenha imaginado, mas talvez eu tenha escutado entusiasmo em sua voz.

— Eu vou bem, e você?

— Tudo bem também, posso te ajudar com alguma coisa?

— Hum... não exatamente, na verdade sim - Parabéns, Edward, nota 2 para esse desenvolvimento. – Eu queria checar se está tudo bem com você e com Noah e como você tinha falado que a gente podia combinar alguma coisa, bem, foi por isso também que eu liguei. Eu queria saber se você quer fazer algo nesse fim de semana.

5 segundos de silêncio. Ela vai desligar na minha cara.

— O Noah também, lógico. – Acrescentei rapidamente antes que ela pensasse que eu não estava incluindo-o. Eu realmente não tinha intenção de excluí-lo do convite, só estava nervoso. – Afinal ele que deu a ideia.

— Claro, Edward, no geral estamos bem sim, obrigada por perguntar. Mas eu realmente não estou em muitas condições de sair. No dia que a gente se encontrou no supermercado eu tinha meu pai ajudando e...

— Eu entendo, Bella – Interrompi sua justificativa sem querer que ela se sentisse mal por rejeitar meu convite – Não precisa se justificar, eu...

— Não, Edward, eu ia sugerir que você viesse aqui em casa. – Ela me interrompeu dessa vez.

— Ah, pode ser então, eu vou adorar – Será que ela ouviu o alívio na minha voz?

— Esse sábado é um bom dia para você então?

— Sim, sábado. Ótimo dia, o sábado. – Cala a boca agora.

— Fica combinado então – Ela falou ainda com o traço da risada que deu da minha estupidez, eu imagino. – Vou te passar meu endereço.

Fui até a escrivaninha em frente a minha cama e encontrando um pedaço de papel e uma caneta, anotei seu endereço.

— Tá anotado. A gente se vê no sábado então.

— Certo, até mais. E, Edward?

— Sim?

— Que bom que você ligou.

Vocês conseguem ver meu sorriso daí?

De alguma forma, o sábado à tarde demorou a chegar e ao mesmo tempo chegou rápido demais. Eu me encontrava agora parado em frente à casa de Bella esperando-a atender a campainha.  Menos de um minuto depois Bella abriu a porta e mais uma vez fui atingido por sua beleza.

— Oi Edward – Bella falou com o sorriso que me ganhou na primeira vez que a vi – Tudo bem? – Ela me pegou de surpresa e me cumprimentou com um beijo na bochecha.

— Tudo - falei ainda perto do seu rosto – e com você?

— Também, estou animada que você veio. Vem, entra. Eu vou chamar o Noah. Ele não sabe que você vinha, eu queria fazer uma surpresa.

Bella fechou a porta e começou a se dirigir para dentro de casa. Dava para notar logo de cara que era uma casa aconchegante, à minha esquerda se encontrava a sala de estar com um sofá marrom, um carpete em frente ao sofá com alguns brinquedos e uma televisão ligada em algum canal de desenho. A direita ficava a cozinha, uma mesa de jantar de quatro lugares e logo atrás estavam a pia, o fogão e os armários. Estranhamente a cozinha parecia mais moderna que o resto da casa, quase profissional. Entre a sala de estar e a cozinha estavam as escadas, que eu imaginei que dava acesso aos quartos, e era para lá que Bella estava indo.

Enquanto Bella andava, percebi que seu passo ainda era inseguro e o incômodo na hora de se movimentar era nítido. Senti um leve aperto no peito com essa constatação e mais uma vez a questão que me atormentava desde a ligação que me informou da sua queda veio à tona: por que eu me importo tanto? E outra pergunta tão importante quanto surgiu enquanto eu me dava conta de onde e com quem eu estava: por que eles me receberam com tanta facilidade em suas vidas?

— Noah! – Bella chamou alto quando chegou ao pé das escadas. Malditas escadas. – Tem alguém aqui para te ver.

Descendo a escada mais rápido que meu coração gostaria, Noah parou por dois segundos no último degrau quando me viu perto da porta, só para continuar sua corrida no maior estilo The Flash na minha direção. Sem pensar muito e vendo que ele corria com os bracinhos abertos, tirei-o do chão e num abraço, rodopiei com ele nos meus braços. Ele gargalhou e ainda com os braços ao redor do meu pescoço. Me deu um beijo na bochecha. A demonstração inocente de carinho me pegou de surpresa de novo e de um jeito inexplicável aqueceu meu coração.

— Oi, campeão! Que bom te ver de novo! Tudo bem com você? – Perguntei afastando meu rosto do dele e olhando-o nos olhos.

— Tudo! – Ele disse ainda com vestígios da risada. – Você veio me ver? Pra gente brincar de carrinho e super-herói? – A animação dele era quase palpável. Ainda não querendo responder nada relacionado a Noah sem que Bella permitisse, olhei pra ela e murmurei – Tudo bem dizer sim? – Bella sorriu levemente e confirmou com um movimento de cabeça.

— Sim, Noah. Eu vim para brincar com você. – Respondi o colocando no chão, só para vê-lo ir correndo de volta de onde tinha vindo. Perto da escada ele virou em nossa direção e disse sério – Não vai embola, Eduald. Eu volto já já.

— Eu não vou embora – eu o tranquilizei e ele subiu as escadas.

Bella me conduziu para sala e se sentando no sofá indicou com a cabeça que eu me sentasse também.

— Ele é bem carinhoso, não? – perguntei já sentado e aproveitando que Noah ainda não tinha voltado do quarto onde foi buscar seus brinquedos. – Eu sei que muitas crianças abraçam e beijam porque os pais mandam, mas ele parece genuinamente feliz ao demonstrar afeto.

— Ele é sim, - Bella respondeu com um sorriso tímido. – você pode me culpar por isso, ele só reproduz o que me vê fazendo com ele. Eu tenho que amar por dois aqui. – E nessa hora seu olhar se tornou distante, melancólico, me fazendo lembrar do comentário de Esme sobre solidão. Partiu meu coração imaginar alguém como Bella se sentindo sozinha. - Mas se você não se sentir à vontade eu falo com ele e peço para ele parar. – Apesar de sentir sinceridade nas palavras dela, também senti um tom triste nessa última declaração, até mesmo decepcionado que eu talvez pedisse para seu filho mudar um comportamento tão puro.

— Não, não – me apressei a dizer. – Não precisa pedir para ele parar, foi só uma observação. Das poucas vezes que encontrei Noah, seus abraços foram a melhor parte do meu dia. – e o sorriso de Bella voltou, acompanhado de um brilho extra nos olhos. Nessas ocasiões, seu sorriso também foi a melhor parte do meu dia, eu quase acrescentei.

— Quer algo para beber? – Ela ofereceu.   

— Só uma água, obrigado. – Respondi e ela se levantou do sofá com a ajuda das muletas e foi até a cozinha e me trouxe uma garrafa. Eu me arrependi na hora de ter pedido quando vi o esforço que ela fez.

— Aqui – ela falou me entregando a água.

Nessa hora, Noah voltou para sala segurando uma caixa que tinha dois bonecos (um do homem de ferro e um do homem aranha), lápis de cor e carrinhos de corrida dentro.

— Pronto, Eduald, agora a gente pode brincar. – Falou Noah num tom que deixava claro que seus brinquedos eram assunto sério.

— Só o Edward? – perguntou Bella – Eu não vou brincar com vocês não?

— Você pode fazer cookies, mamãe. Aqueles com pedacinhos de chocolate – Bella revirou os olhos e balançou a cabeça para o atrevimento do filho, mas depois com um sorriso foi para a cozinha. Eu sei, eu também não resistiria.

E entre desenhos e bonecos e conversas engraçadas a tarde passou cheia de risadas. Olhando pela janela vi que o céu tinha escurecido e com um suspiro percebi que era a hora de ir embora. Fazia tempo que eu não me divertia tanto de um jeito tão simples e me deixou triste não saber quando aconteceria de novo, se aconteceria de novo.

Estávamos os três no sofá assistindo ao vídeo de um youtuber que eu nunca tinha ouvido falar quando eu resolvi começar a me despedir.

— Por que você não fica para o jantar? – Bella me perguntou quase como se soubesse que eu não queria ir embora, talvez ela soubesse mesmo. Não é como se eu estivesse tentando disfarçar.

— Tem certeza, Bella? Eu não quero incomodar mais do que já incomodei. – Assim que eu acabei de falar, Noah perguntou:

— Eduald, cê quer assistir PJ Masks? – PJ o quê?

Olhei confuso pra Bella e rindo ela respondeu – Viu que não vai ser incômodo? Fica e assiste essa obra de arte enquanto eu preparo o jantar.

Hum, é um filme? – perguntei voltando minha atenção para Noah e esperando não o decepcionar. O que não funcionou porque ele me olhou como se dissesse “como assim você não conhece PJ Marx?”

— É um desenho, Eduald. Eu sou o Menino Gato, a mamãe vai ser o Corujita e você pode ser o Lagartixo. – Ele falou tão sério que eu senti até honrado de ser o tal do Lagartixo.

Um desenho comunista com toques de A Revolução dos Bichos? Mas quando em Roma...

 — Tudo bem, Noah, vamos ver isso aí. Como é a história? Eles moram em uma fazenda e querem tomar os meios de produção? – respondi fazendo piada. E aí eu lembrei que ele só tem quatro anos.

— Quê? Eduald, não. Cê é muito bobo, não tem nada disso. – Noah riu mesmo sem entender.

— Deixa pra lá, campeão, deixa pra lá.  

Depois do desenho, comemos um mac and cheese dos deuses no jantar e deliciosos cookies de sobremesa. Na minha humilde opinião Bella poderia cozinhar profissionalmente. Bella ia negando minha ajuda quando me ofereci para lavar os pratos, mas eu insisti dizendo que era o mínimo que podia fazer. Notei, então, que sua pia estava meio entupida.

— Hum, Bella, acho que sua pia está com problema – Comentei.

— É, tem um tempinho e eu ia ver alguém pra arrumar, mas aí o acidente aconteceu e bem... – Bella explicou e eu tive um momento de clareza.

— Eu posso consertar para você – ofereci

— Imagina, Edward, não precisa – Bella falou e pela primeira vez desde que a conheci vi suas bochechas corarem.

— Eu faço questão, eu já concertei uma vez a pia da minha casa, não dá muito trabalho. – tentei convencer.

— Bem, se você realmente não se importar...

— Não me importo, eu fico até feliz de ajudar.

— Então, fica combinado... Sábado é um bom dia? – Ela perguntou num tom divertido lembrando da conversa no telefone. Eu não consegui segurar minha risada.

— Sim, sábado é um bom dia.

Dessa vez me despedi feliz, sabendo que tinha uma data para voltar.

Durante a semana, um outro caso é a grande notícia da central de emergências. Uma mulher ligou para relatar uma agressão e disfarçou a denúncia fingindo que pedia uma pizza. Por mais que eu estivesse acostumado com as diferentes situações que surgiam no meu trabalho, alguns casos impactavam mais que outros, o de Noah e Bella sendo a prova disso. Mas apesar de toda a tensão envolvida na minha rotina, eu estava decididamente mais leve e não era o único que tinha percebido.

— Cara, tem alguma coisa diferente em você – Emmett comentou na sexta-feira no fim do expediente.

— Diferente? – perguntei levantando as sobrancelhas.

—É, já tem algumas semanas que eu noto você mais felizinho e eu tenho uma teoria sobre isso. – Ele falou dando uma piscadinha.

— Lá vem... Por que você acha que eu estou diferente? – revirei os olhos.

— No começo eu achava que você só estava orgulhoso por ter dado tudo certo na ligação com o garotinho, mas depois da cerimônia você não parou de falar sobre ele e a mãe. E Edward, eu vi a mãe. Ela é exatamente o tipo de mulher que você se interessaria. - Emmett explicou sério.

— Talvez essa sua teoria faça sentido... – tentei ser evasivo, mas Emmett não estava comprando essa história.

— Talvez? Edward, não mente para mim.

Quem eu queria enganar?

— Emmett, talvez eu já esteja um pouco apaixonado – admiti - A gente se encontrou por acaso no supermercado uma vez, trocamos telefones e combinamos de nos ver.

— Vocês estão se vendo então? Como encontros?

— Não exatamente, eu fui na casa deles uma vez, mas acho que Bella pensou que eu tivesse ido lá só pelo Noah. – Pensando bem eu realmente não havia deixado claro minhas intenções. Inferno, nem eu sabia exatamente minhas intenções. – Mas eu fui lá por ela também. Eu sei que soa estranho, mas eu sinto forte a possibilidade de existir algo maior entre nós. O que não faz sentido porque a gente só se viu poucas vezes. Você acha loucura da minha parte?

— Eu acho que você está perdendo tempo, por que não a convida logo para um encontro? Ela parece estar interessada também. – Emmett ponderou.

— Eu não sei, uma coisa é sentir o que eu sinto, mas, em termos práticos, nós não nos conhecemos tão bem, e se eu estiver lendo errado os sinais? E se for cedo demais até para isso?

— Edward, meu garoto, é para isso que servem os encontros.

— Bem, nisso você tem razão. – falei passando a mão no cabelo numa tentativa de aliviar o estresse.

— Sabe, cara, você é um dos melhores aqui na central, eu nunca vi ninguém manter a calma como você. Eu acho que é a primeira vez que eu te vi tão ansioso e cheio de dúvidas e olha que já passamos por muitas coisas juntos.

— Acredite, é diferente até para mim. – falei indo em direção à saída. – Talvez seja o momento do Edward pessoal pedir ajuda ao Edward profissional.

— Eu tenho certeza que você vai dar um jeito, confie no seu potencial! – Emmett falou rindo enquanto eu deixava o prédio.

Era sábado à tarde e pela segunda vez desde que a conheci, eu me encontrava parado na porta de Bella. Com a caixa de ferramentas na mão, eu toquei a campainha e esperei. Bella abriu a porta sorrindo, ela sempre sorria para mim, e ao fundo escutei o barulho do que parecia ser algum desenho na televisão.

— Oi, Edward! Obrigada por vir! – Ela me falou animada e mais uma vez eu sou surpreendido por sua simpatia e pelo beijo na bochecha.

— Imagina, eu me ofereci, não é incômodo nenhum. – E mesmo se fosse, eu negaria.

— Entra, o Noah está na sala, ele vai amar te ver. Desde o dia que você jantou aqui ele não para de falar em você. – Ela disse e eu não consigo evitar a alegria no coração ao ouvir aquilo – Aliás, desde antes. Não me pergunte o porquê, mas carinho de criança a gente não questiona. Eles são sinceros com tudo e, sem saber, acabam sendo bons julgadores de caráter.

Nessa hora eu soube que, mesmo que eu não tenha percebido antes, Bella tinha me analisado em todas as vezes que nos encontramos. Antes que eu pudesse processar essa nova informação, Bella chamou Noah e do seu lugar sentado no sofá ele vira a cabeça pra responder a mãe.

— Oi mamã... Eduald!! – e como eu suspeitava que faria, ele veio correndo me abraçar.

— Noah! Tudo bem, amigão? – perguntei.

— Siiim, você veio brincar comigo hoje de novo? Eu perguntei à mamãe e ela disse que você vinha, mas não disse quando. – Ele falou com as sobrancelhas franzidas.

— A gente pode brincar depois, mas primeiro eu vou ajudar a mamãe com uma coisa. – Respondi sem querer decepcioná-lo.

—Ok, eu espero. – falou e logo depois voltou para o sofá para continuar seu desenho.

O tempo que passei para concertar a pia acabou sendo mais curto do que eu pensava e eu ainda não queria ir embora. Por mais que estivesse decidido a chamar Bella para sair só comigo, ainda estava trabalhando em como faria o convite. Antes que eu pudesse decidir o que fazer, enquanto guardava as ferramentas, Bella voltou para a cozinha e ofereceu um café e muffins.

— Aceito sim, obrigado. – Depois de ter provado os cookies eu tenho certeza que seria burrice rejeitar outro doce feito por Bella.

Enquanto Bella servia o café e os muffins e nos acomodávamos à mesa do jantar, Noah apareceu segurando seus carrinhos.

— Eduald, acabou? – Ele perguntou ficando do meu lado e fazendo os carrinhos andarem sobre a mesa. – Vamo brincar agora?

— Deixa ele terminar de comer, meu amor – Bella falou olhando pra Noah que começou a fazer um biquinho – Aliás, vem lanchar também.

— Ok. – Noah respondeu e se sentando na cadeira ao meu lado começou a comer também.

Depois de ter brincado com Noah por um tempinho, ele resolveu que queria ver desenho e Bella e eu começamos a conversar.

— Como foi que você foi parar como despachante? – Ela perguntou.

— Meu sonho mesmo era ser médico, mas algumas complicações no meio do caminho fizeram eu adiar esse sonho.

— Mas é algo que você ainda quer?

— Sim, mas as vezes eu acho que o tempo já passou. Que agora eu estou muito velho para recomeçar. – falei olhando pela janela, esse não era um assunto fácil para mim.

—Velho? Edward, eu aposto que você não tem nem 30 anos. – Ela falou com certa indignação. – E mesmo se tivesse, ainda seria novo! Sempre vale a pena lutar pelos nossos sonhos, eu digo por experiência própria.

— Mesmo? Pensando bem eu nunca perguntei com o que você trabalhava.

 - Eu sou confeiteira, meu negócio é pequeno e eu trabalho aqui de casa mesmo. Pelo menos por enquanto... As pessoas fazem os pedidos pela internet ou telefone e podem vir buscar aqui ou pedir para ser entregue por delivery. – Bella falou num tom orgulhoso. – O acidente me fez suspender as atividades um pouquinho, mas agora já estou voltando.

Eu ri e Bella me olhou com as sobrancelhas erguidas. Antes que a minha risada fosse mal interpretada, expliquei.

— Desculpe, é que quando eu vim da outra vez, você me ofereceu cookies e a primeira coisa que eu pensei foi que você poderia fazer isso profissionalmente, estavam uma delícia.

— Ah – Bella corou – Obrigada, mas é por isso que eu te digo para não desistir. Eu amava cozinhar, doces principalmente, e levava mais como hobby. Mas algumas coisas aconteceram e eu tive que me adaptar. Foi meu pai que me incentivou a investir profissionalmente nisso, e o apoio dele fez toda diferença. Eu sei que a gente não se conhece tão bem assim, mas você pode contar com meu apoio para seguir seu sonho.

 - Obrigado, Bella, acho que era exatamente o que eu precisava ouvir.

Bella deu de ombros e eu desviei minha atenção para Noah, enquanto o observava brincar, me perguntei o que havia acontecido com o pai dele.

— Hum, Bella – decidi perguntar – eu não quero ser invasivo, mas quando você disse que algumas coisas aconteceram e você teve que se adaptar, isso tem a ver com o pai do Noah?

Bella respirou fundo. – Sim. Eu era casada e decidi deixar o trabalho de lado enquanto Noah era novinho. Quando Riley faleceu, Noah tinha dois anos e apesar de receber sua pensão, a situação ficou apertada e eu tive que voltar a trabalhar. E aí o que era hobby virou profissão.

— Eu sinto muito pelo seu marido, Bella.

— Obrigada. No começo foi bem difícil, mas Noah precisava de mim e eu dele e agora estamos bem, na medida do possível. Noah era bebê ainda e não lembra dele. Eu sei que ele sente falta de uma figura paterna, mas a gente tem se virado bem.

Depois dessa conversa mais densa, o resto da noite se passou como o sábado anterior, num clima totalmente alegre. Comecei a me despedir de Bella e sentindo que agora a entendia melhor e reunindo coragem decidi convidá-la para um encontro. Vamos lá, Edward. Você consegue. Nós estávamos a caminho da porta quando eu parei e me virei para olhar para ela.

— Bella, - eu comecei e ela olhou para mim com expectativa – você gostaria de sair para jantar comigo?

— Eu ia adorar, Edward. – Bella respondeu com meu sorriso. Eu gosto de pensar que ele é exclusivo para mim.

Me sentindo corajoso, resolvi confessar o que vinha sentindo nos últimos dias. Nas últimas semanas, se eu for honesto.

— Você vai achar esquisito se eu te disser que apesar da forma que a gente se conheceu, eu não posso deixar de pensar que talvez fosse para ser assim. – Comentei pensativo.

— O quê? Você acha que Deus ou alguma força maior queria que eu caísse daquela escada naquele dia só para gente se conhecer? – ela perguntou com um ar divertido.

— Não que tenha sido uma coisa boa você sofrer um acidente, mas – eu tropecei nas palavras tentando explicar - Não sei, foi horrível você ter se machucado, mas acho que saiu uma coisa boa dessa situação... Pelo menos para mim.

Os olhos castanhos de Bella aqueceram enquanto me olhavam e ela estendeu sua mão na direção da minha. Sem hesitar, entrelacei nossos dedos.

— Eu entendo exatamente o que você está falando.

Noah veio da sala quando viu Bella e eu perto da porta. Quando ele chegou perto, coloquei um joelho no chão para ficar da sua altura.

já vai Eduald? – Ele perguntou brincando com a gola da minha camisa.

— Já, campeão. Mas eu me diverti muito com você.

vai voltar? – ele me olhou esperançoso. Eu olhei esperançoso para Bella.

— Ele vai, meu amor – Bella respondeu num tom de promessa – Ele vai voltar muitas outras vezes aqui.

Noah me deu um abraço e quando eu me levantei Bella me deu um beijo na bochecha e me disse um “Até logo” com um olhar cúmplice. Ela abriu a porta e eu saí da casa deixando um pouquinho de mim com eles.

Quando virei para dar um último aceno e vi Bella apoiada na porta com Noah abraçando sua perna, os dois me olhando ir embora, agradeci ao destino, ou ao acaso ou à intervenção divina por ter atendido a ligação de um garotinho assustado. Eu ainda tinha muito a descobrir sobre Bella e Noah, mas se dependesse de mim aquilo era só o começo.

Quando já estava perto do meu carro, escutei os passos de Bella vindo na minha direção, e quando virei me deparei com ela há um passo de mim me olhando com um sorriso traiçoeiro.

— Ei, Edward?

— Sim?

— Sábado é um bom dia?

FIM


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