Com amor, Edward escrita por Oh Carol


Capítulo 1
Com amor, Edward


Notas iniciais do capítulo

One-shot fofinha com BÔNUS para quem comentar! Lá embaixo a gente se fala, boa leitura.



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Com amor, Edward

— Acho que está na hora… — Bella sussurrava em meu colo. Sussurrávamos.

— Será? Não me parece.

— Ela fez uma coisa que eu não digo o que foi, senão você vai passar a prestar mais atenção e roubar minhas táticas.

— Eu? Jamais faria algo tão vil e mesquinho.

— Debochado… É agora. Três… Dois… Um…

Renesmee, de repente, virou-se na cama ficando de frente para nós, antes de abrir os olhos por um segundo e fechar. Da boca de sua mãe saiu um animado "Isso!", enquanto eu resmungava um aborrecido "Droga".

— A lição de matemática hoje é sua, querido. — Cheia de atrevimento na voz, Bella falou e levantou-se do meu colo na cadeira de balanço para ir até a cama de Nessie. Deixou-me ali com um beijo e um sorriso de contentamento.

Parecia até complô de mãe e filha. Aquela delicada ligação era de outro mundo, eu nem tinha chances. Perder era detestável, mas para elas eu perderia quantas vezes fosse.

Nas primeiras horas da manhã, assistir nossa filha dormir era mandatório, uma de muitas intimidades que dividíamos no aconchego da nossa própria casa na mata. Até que, há algumas semanas, resolvemos começar a apostar quem acertaria o momento do despertar de Renesmee.

Bella vinha ganhando todas ultimamente. Havia somente uma regra: ela usaria seu escudo, escondendo os pensamentos e sonhos da filha para que tivéssemos chances iguais.

Dizia que seu dever aqui era me ensinar a jogar limpo, ter um pouco mais de trabalho, complicar um tanto mais as coisas. Seus desafios mentais me levavam à beira da loucura, mas também à uma diversão como nunca antes tive.

Era perfeito.

— Qual a graça? — Ela reparou, sentada esperando a criança abrir os olhos de novo, carinhosamente alisando os ombrinhos dela sobre a colcha.

— Estou pensando que além de todas as formas que você me salvou nessa vida, ainda tem a audácia de me salvar do tédio eterno. Tanta sorte num homem só devia ser pecado.

— Não sei de onde veio isso, mas agradeço. Bom saber que sou seu amuleto de diversão.

— Pra mim você é todos os tipos de amuleto que existem.

A essa altura, Nessie já abrira os olhos para completar seu ritual: um bocejo preguiçoso, uma sonora espreguiçada, uma coçadinha nos olhos. Era a visão mais pura, preciosa e absurdamente terna que eu já tive. Tornava-me a cada dia mais apaixonado por ela.

— Bom dia, meu amor. — Bella lhe falou com delicadeza, ajeitando seus cabelos. — Hora de levantar, temos um dia cheio pela frente.

Nessie sentou-se na cama, dando-lhe um abraço, e logo ficou ereta, já parecendo estranhamente alerta — o que provou ser verdade assim que perguntou:

— Mamãe, eu posso virar vegana?

Bella lançou-me um olhar, e nós rimos da súbita empolgação da pequena.

— Bom dia pra você também. — falei, indo até elas para sentar. Também ganhei um abraço.

— Bom dia, papai. E então? Posso?

— Como assim, vegana? — Minha esposa perguntou.

— É que eu preferia não ter mais que caçar animaizinhos, mãe… Eles sofrem tanto. Então eu fiquei sabendo que existem humanos que só comem plantas e vivem muito bem. Gostaria de experimentar.

— Posso saber o motivo disso tudo, tão de repente? — Indaguei.

Logo em seguida, ela se aprumou para colocar uma mão no meu rosto e outra no de Bella, mostrando-nos um livro achado na biblioteca de Carlisle ontem, enquanto Bella e eu tínhamos saído.

Entre textos e problematizações sobre a indústria alimentícia, havia diversos bichos maltratados em gaiolas e fazendas, situações repulsivas. Imagens que, definitivamente, não eram próprias aos olhos infantis.

Mesmo esses, vindos de uma família que sobrevivia sugando animais pela boca. A ironia toda da situação não me passou batido.

Eu a fitei, preocupado com os pensamentos tristes e dolorosos que ela tinha agora.

— Nessie, esse livro não é pra criança, estava na prateleira dos adultos. Por que escolheu logo ele?

— Estava bem na mesa, e tinha uma vaquinha fofa na capa. Perdão. — Ela baixou a cabeça, decepcionada consigo mesma. Delicadamente, peguei seu queixo trazendo-a de volta.

— Filha. Tudo bem, está perdoada. Mas tenha cuidado da próxima vez. Não queremos que veja nada que te magoe.

— Está bem, eu prometo…

— Vamos conversando e agindo, Ness. — Bella falou com desenvoltura no tom maternal já muito praticado. — Vem.

Nós demos espaço para ela se levantar, e enquanto Bella a levava ao banheiro para seus minutos humanos, como elas chamavam, eu voltei a questionar suas motivações.

— Olha, Nessie, eu não vejo problemas em você não consumir mais animais. Quem dera eu também pudesse. Mas eu sei que você não gosta tanto de comida humana assim…

— Mas por eles eu como!

Eu ri de sua empolgação do outro lado da porta, a descarga correndo. Quem diria que teríamos uma pequena ativista dos direitos animais na família Cullen?

— Está bem, porém precisaremos pesquisar mais sobre isso. Não sei se seu corpo é capaz de abdicar completamente de sangue.

— Seu pai tem razão. — ouvi Bella ligando o chuveiro. — Vamos falar com Carlisle, ligar pro Nahuel, e pesquisar antes de ser definitivo, se é o que você quer mesmo. Mas hoje você pode tentar comer um café da manhã vegano.

— Isso! Tô morrendo de fome.

— O que seria um café da manhã vegano? — Indaguei, intrigado e cruzando os braços.

— Hmm. Sem carnes, ovo, leite ou mel. — enumerou ela debaixo do chuveiro.

— Bella sabe alguma receita?

— Saber eu sei, mas já combinei com Esme e suas irmãs de ir caçar daqui a pouco. Elas só estão me esperando.

Ouvi pezinhos saltitando no box molhado.

— Eba, o papai vai cozinhar pra mim! — Nessie alongou aquela última sílaba tônica como se a ideia de que eu lhe fizesse uma comida fosse a maior das maravilhas da Terra.

— Eu… É sério?

— Quero hambúrguer vegano! Com queijo vegano e picles. E batatinha frita com catchup.

— Por que não estou surpreso? — Era exatamente o mesmo tipo de lanche que Bella comia na única lanchonete de Forks quando nos conhecemos.

— Não, você não vai trapacear e comprar na lanchonete. — minha esposa falou, parecendo me ler. O quanto ela me conhecia, às vezes, me amedrontava.

— Ao menos tenho permissão para ir até o mercado comprar ingredientes? Ou terei que plantar batatas no quintal e esperar crescer?

— Muito engraçado.

O chuveiro foi desligado, agora ouvia o farfalhar da toalha e roupas sendo postas. Nossa filha não precisava de qualquer ajuda há tempos, mas Bella continuava fazendo. Ela já havia perdido tantas etapas do crescimento de Nessie, que agora agarrava-se aos pequenos rituais maternos enquanto podia.

— Então vamos primeiro ao mercado, Nessie. Faça uma lista.

— Antes de ir, veja na despensa da mansão se Alice já não comprou. — Bella argumentou.

— Tem razão. — assenti, agradecido pelo dom da minha irmã. Idas ao mercado eram uma das atividades cotidianas mais maçantes já inventadas.

Ela abriu a porta do banheiro, o cheiro de sabonete infantil que antes apenas escapava por um filete agora preenchia todo o casebre. Nessie saiu decidida, já me puxando para a porta de casa. Eu me deixei ser levado.

Tal como a mãe dela, essa criança me tinha na palma de sua pequenina mão. Não havia mais salvação, eu era um homem irrevogavelmente rendido.

Fomos caminhando em passos lentos e humanos, aproveitando a manhã na floresta, nos divertindo com as borboletas azuis que ela adorava brincar. Atrás de nós, Bella vinha trazendo a mochila de Nessie.

— Hoje você tem aulas de Ciências, Matemática e Literatura. Seu pai vai ministrá-las enquanto eu saio pra caçar, ok?

— Ok. — assentiu, pouco antes de arquejar com um puxão na minha mão. — Papai, podemos falar de Shakespeare de novo?

— Claro.

— Toma aqui. — Bella entregou à Nessie a mochila, e ambos paramos quando nossos narizes e ouvidos captaram as mulheres da família se aproximando. — Elas estão vindo, marcamos nessa árvore. Lá pelas seis da tarde já devo estar em casa.

— Boa caçada, amor. — eu deixei um beijo na boca que me mataria de saudades por dez horas. — Divirta-se.

— Obrigada. Tchau, filha. — ela abaixou-se para beijar o topo da cabeça de Nessie. — Até mais!

.

.

— Se você não contar, ela nunca vai saber se eu trapacear e comprar na lanchonete.

— Ah papai, que feio! — Ela repreendeu enquanto se tremelicava de risadas da minha cara, sentada sobre a bancada da imensa cozinha da mansão. — Tia Alice vai saber. Ela sempre sabe.

Ninguém poderia dizer que eu não estava tentando; havia até colocado o avental preto de Bella sobre meu jeans e camiseta.

Nessie não queria um hambúrguer vegano qualquer, industrializado, mas sim um feito do zero. Estava excepcionalmente voluntariosa hoje. Precisei de concentração extra para não me perder nos muitos temperos, ingredientes e processos, até atingir a consistência.

Demorei, mas não desisti. O fracasso, noção tão rara para mim, seria humilhante frente a uma comida simples como essa.

Ela me ajudou a cortar as batatas, todas do mesmo tamanho, enquanto eu xingava mentalmente cada uma delas. Alice, embora tivesse previsto o café da manhã inusitado, também não quis facilitar a minha vida. Batatas congeladas ficaram de fora da compra.

Pouco depois, a casa já cheirava àquele espesso odor enojante de fritura. Jasper e Emmett, obviamente, desceram para ver o circo. Eu, o palhaço com medo de uma panela de óleo quente. Não era culpa minha que vampiros fossem altamente inflamáveis.

— Renesmee, vá para perto da porta. — eu ordenei.

— Da cozinha?

— Não, de entrada.

— Papai! É só uma fritura. — ela riu. — Quero ver você fazendo.

— Se a panela explodir, vai te machucar. — nervosamente, posicionei meu corpo para protegê-la da bomba atômica caseira. A cada pequeno estouro das batatas eu dava um salto. A criança não parava de rir. — Anda, Renesmee!

Mais de cem anos perambulando por essa Terra não haviam me preparado para isso.

O que um pai não fazia para agradar a filha?

Quarenta e dois minutos depois, enfim, eu consegui colocar um prato à sua frente com um suspiro de alívio. Seus olhos cintilavam de felicidade, o sorriso imenso.

— Ficou perfeito, pai, está lindo e cheiroso, sem nenhum animalzinho aqui. Muito obrigada!

— De nada, amorzinho.

— Bonito mesmo, parece com os da TV de culinária que Bella assiste. — Emmett comentou. — Pena que seu pai quase tacou fogo na cozinha de Esme. O teto está chamuscado?

— Imagina quando ela descobrir que ele queimou a frigideira francesa? — Jasper riu, sendo unido pelo ogro do meu outro irmão. Eu deixei um rosnado leve vibrar no meu peito.

— Está bem, vocês dois, acabou o show. Fora. — Sequer precisei me repetir, eles já tinham visto no meu olhar. Saíram rindo, mostrando-me os dedos do meio em seus pensamentos, e correram para pular no riacho atrás da casa.

Mudando de humor quase instantaneamente, virei-me para Nessie na bancada, agora sentada na cadeira, as perninhas balançando. Ela já abocanhava seu sanduíche, sem que eu conseguisse entender como algo que tinha gosto de papel e areia pudesse lhe trazer tanta alegria.

— Depois de comer, vamos escovar os dentes para começar as aulas, está bem? — Avisei, ao que ela assentiu. Sentei-me no banco de frente para esperar.

Mais uma vez, eu me via dragado a assistir àquela criatura tão especial, tão nossa, que me enchia de orgulho, fascínio e uma infinidade de questionamentos.

Renesmee continuava crescendo mais rápido do que gostaríamos.

Se eu olhasse bem de perto, absorto e sem interrupções, quase seria capaz de enxergar seu pequeno corpo se expandindo. Mudando, transformando-se, crescendo em direção a uma adolescência que cada vez mais me maravilhava, tanto quanto me amedontrava.

Pouco sabíamos ainda sobre o futuro de Renesmee.

Quais desafios nos esperavam? Quais boas novidades, e quais obstáculos tínhamos pela frente quando Nessie estivesse madura o bastante para entender todo esse mundo extraordinário ao qual ela pertencia?

Por hora, entocaria essas questões no fundo escuro da minha mente, guardaria para serem revistas apenas quando era chegada a hora. Em quatro anos ou quatro meses, o que fosse.

Minutos depois de devorar o café da manhã, eu a vi limpando a boca.

— Estava uma delícia! — Ela disse em sua voz meiga, o que foi comprovado por seus pensamentos genuínos, incluindo um que me fez rir ao ouvir "Posso comer hambúrguer e batatinha no almoço e no jantar de novo?"

— Não. — falei em voz alta. — Não sei quase nada sobre dietas veganas, mas sei que fritura o tempo todo faz mal. No almoço, eu faço uma salada. À noite, sua mãe prepara uma sopa de legumes.

— Saco. — ela soltou, mas logo se pegou e colocou uma mão sobre a boca, os olhos largos. — Ops. Desculpa, papai.

Eu ri de leve. Nessie sabia que eu não permitia xingamentos vindo dela — o que era uma tarefa bem difícil convivendo com meus irmãos insanos e minha esposa cujo vocabulário ainda era jovem demais.

— Tudo bem. Vamos. Temos muito trabalho por hoje.

Nosso dia passou entre cadernos, canetas, réguas e livros. Sua educação seguia sendo especial como ela. Mesmo aparentando ter nove anos de idade, o estudo já avançava até matérias de alunos de quatorze.

Na Matemática, entretanto, ela surpreendentemente ainda se embaralhava. Mesmo eu tendo um diploma universitário no tema, a genética meia-humana de Bella aqui tinha falado mais alto.

Foi no terceiro exercício que ela começou a se frustrar, e pediu para passarmos à lição de Literatura. Já havíamos chegado em Shakespeare.

— Quer estudar Romeu e Julieta de novo? — Perguntei, vendo que ela tirava o livro da mochila, a versão censurada para menores que eu lhe dei.

Não me culpem. O casal podia ser adolescente, mas comportavam-se como adultos em muitos aspectos.

— Sim. Não terminamos ontem. — recordou. — Paramos nas análises metafóricas dos sonetos…

O autor era sua obsessão da vez.

Passara o dia ontem lendo sua biografia na internet, até interrogou Carlisle quando ele mencionou que havia presenciado uma das primeiras encenações de Hamlet na Inglaterra do século 18.

Logo depois, Bella e eu fomos intimados a ler trechos de Romeu e Julieta na sala. Fomos seus atores, e ela nossa diretora. A plateia, Esme e Rosalie, as únicas boas almas que tiveram coragem de submeter-se à nossa não tão hábil veia artística.

— O amor deles é tão bonito. — suspirou, quebrando o silêncio algum tempo depois. — Por que o Will tinha que fazer logo uma tragédia com eles?

— O Will? — Eu ri da intimidade com que ela chamou Shakespeare. — É o estilo do texto, amorzinho. Não lembra que falamos sobre isso noutro dia? Foi influenciado pelos gregos…

— Eu sei. Mas ainda assim. É triste. Queria ver o final feliz de Romeu e Julieta.

— Bom. Acho que sua mãe e eu fomos um pouco como eles. Mas apesar da nossa história ter começado complicada, tivemos nosso final feliz. Você é parte dele.

Minha argumentação pareceu satisfazê-la, e ela sorriu.

— É verdade.

Um pouco depois, reparei que a canção "Cabeça, ombro, joelho e pé" começou a se repetir em sua mente, e meus olhos logo a inspecionaram.

Bella havia lhe ensinado o truque outro dia, uma forma de me manter fora de sua cabeça. Mesmo criança, gostaríamos que tivesse sua privacidade. Entretanto, como seu foco ainda era um pouco instável, as palavras quarto e Romeu pulavam como pipoca entre a musiquinha infantil irritante.

— Renesmee Carlie. Quer me dizer alguma coisa?

Respondeu sacudindo a cabeça em negação, mas pelo rubor do seu rosto, eu sabia que era questão de tempo até a verdade aparecer. E ela veio rapidamente, quando pensou a frase completa num flash de segundo:

"Por que Romeu saiu escondido do quarto dela depois do casamento?"

Antes eu não tivesse ouvido nada.

— Ah. — respirei, desconcertado pela tarefa de buscar palavras. Foi um dos trechos que eu havia retirado da cópia de seu livro. Como explicar sem precisar mentir? — Bem… Eles estavam fazendo uma festa especial. Para celebrar o casamento.

— Uma festa só de dois? — Ela riu.

— Sim. Chama-se lua de mel. Sua mãe e eu fizemos nossa festa de dois no Brasil, lembra que contamos essa história? Pouco antes de você nascer.

— Uhum… Mas pra que serve uma lua de mel, papai?

Meu gélido coração poderia ter parado caso batesse. Minha filha não cansava de me surpreender nenhum segundo do dia. O que mais me esperava?

Em verdadeiro pânico, vasculhei sua mente por qualquer resquício de pensamentos impróprios escondidos. Não achei nenhum, somente a ciência de que havia um assunto intrigante que os adultos ao seu redor falavam em códigos. A curiosidade crescia a cada dia.

— Ahm… — minha resposta demorou tanto, que um bocejo gigantesco saiu de sua boca, seus ombros caindo um pouco. Salvo pelo gongo. — O que houve, querida, está tudo bem?

— Sim. Mas podemos parar por hoje? Estou meio cansada…

Ideias de amantes shakespearianos sumiram de sua cabecinha, então, para dar lugar à imagem de uma cama aconchegante. Dessa vez, espantei-me para valer.

Ela não era de sentir sono no meio do dia, eram apenas duas da tarde após o almoço. Provavelmente, seria reação à falta de sangue, eu reparava um pouco a falta de cor em seu rosto. Mesmos sintomas de anemia. A conclusão me inundou com certa tristeza.

Podíamos tentar ser pessoas repletas das mais boas intenções possíveis, porém nossa natureza sempre falava mais alto. Fazer mal a outros seres vivos estava em nosso DNA.

Essa culpa eu carregava como uma cruz em minhas costas, desde sempre e para sempre. Minha filha teria que aprender a lidar com isso.

— Podemos parar, sim. Amanhã continuamos. Você foi muito bem hoje, não desanime, Álgebra é mesmo complicado. Quer dormir um pouco até sua mãe chegar?

Ela assentiu a cabeça, já guardando suas coisas.

— Obrigada pelas aulas, papai. — Veio me dar um abraço apertado e partiu.

Enquanto ela subia para meu antigo quarto, em poucos minutos lavei toda a louça e deixei a casa arrumada como Esme e Carlisle gostavam. Com tempo livre de sobra e sem ninguém em casa para me entreter, fui até a biblioteca.

Na estante da grande coleção de discos, meus dedos encontraram um raro de jazz, meu preferido de Miles Davis.

Deitei-me no sofá, deixando os acordes de seu trompete triste me levarem para 1959. A visão por trás das minhas retinas era tão diferente. Jamais cessaria de me espantar o que o destino havia me reservado, tantos anos depois.

Meu celular vibrou no bolso, chamando minha atenção. Era meu amor me mandando uma foto sua em uma pequena queda d'água enfumaçada entre grandes rochas, um feixe de sol atravessando a imagem e reluzindo em sua pele.

Assemalhava-se ao Paraíso. Tudo era luz.

[Bella Cullen]
Essa água cristalina estava escondida quase na fronteira do Canadá. Olha como o sol reflete nela? E a água é tão quente, chega a sair fumaça!

A Natureza é perfeita. Só consigo pensar em nós dois aproveitando um mergulho aqui.

Senti um enorme sorriso brotar no meu rosto.

Para quem já esteve tão perto do fim da própria existência por três vezes, cada raiar do sol era uma nova oportunidade de ser feliz. Era assim minha nova vida. Nossa nova vida.

A quase-guerra com os Volturi, dois meses atrás, havia marcado nosso clã para sempre. Dinâmicas haviam sido mudadas entre nós, em nós. Seres que foram fadados pelo destino a jamais mudar, agora estavam diferentes.

Hoje, tudo era motivo de celebrar, de abraçar, de reunir. Vivíamos mais felizes do que nunca, acreditar era até difícil. E com minha esposa e minha filha, eu havia aprendido a aproveitar cada instante. Por elas, eu vivia no presente.

Decidi responder brincando um pouco com Bella.

[Edward Cullen]
Por favor, retire-se da foto para que eu possa apreciar a água. A Natureza deve ficar furiosa por competir com a sua beleza.

PS: Só aceito o convite para um mergulho aí se as roupas de banho puderem ficar nas pedras.

[Bella Cullen]
Não sei mais sobre Natureza ou mergulho, mas um banho no chuveiro, definitivamente, será necessário (e sem roupas) daqui a pouco. Te quero lá. Me aguarde.

Eu ri, lambendo os lábios e sentindo o calor de prazer percorrer meu corpo, que só ela me proporcionava. Mal podia esperar pelas seis da tarde.

Um pouco depois do disco terminar, enquanto meditava na frequência do chiado e a agulha arranhando a bolacha, o som do coraçãozinho acelerado no andar de cima mudava seu ritmo. Renesmee enfim havia acordado da soneca.

Ela apareceu saltitante e sorridente na porta da biblioteca minutos depois, nem parecia que tinha passado as últimas duas horas dormindo.

— Tive uma ideia. Quero fazer uma surpresa pra mamãe.

— Qual? — Levantei-me do sofá indo ao seu encontro.

— Um buquê bem grande de flores raras. Me ajuda a buscar no jardim? — O jardim que ela se referia era toda a mata no grande terreno da família. Seu lugar favorito no mundo, dividindo com a biblioteca.

— Claro. Ótima ideia. Venha botar o casaco. — chamei, e eu a ajudei a entrar no pesado casaco amarelo de Hello Kitty. Também a fiz checar se as botas estavam bem presas.

Cada passeio me deixava mais ansioso, pensando nos perigos da selva. Cobras e insetos, quedas feias. Seu corpo podia se regenerar bem, mas não com tanta eficiência como o meu, e machucados lhe doíam de verdade. Era só mais uma preocupação que tínhamos com ela.

E eu que pensava que meu estresse sumiria uma vez que sua mãe, o desastre em pessoa, se tornasse vampira. Quanta tolice. O destino gostava mesmo de rir de mim.

— Eu quero essa! — Ela saiu correndo ao avistar orquídeas num tronco de árvore. — E essa. Ah, essa também.

— Calma, mocinha. Vamos pegar todas, mas sem destruir. Essas flores são de Rosalie. Depois diga a ela que pegamos, está bem?

— Uhum.

Passamos o final da tarde na trilha colecionando pequenas flores e plantas em nosso cesto. Ela também quis brincar de pique-esconde comigo, e como todas as vezes, ela me deixou fingir que eu não sabia onde encontrá-la, só para vê-la ganhar.

Embora, para minha surpresa, Renesmee viesse ficando extremamente habilidosa em correr, fugir e se esgueirar por lugares estreitos. Algumas vezes, de fato, me confundia. O instinto de caçadora começava a sobressair.

Perto do pôr-do-sol, uma Nessie ofegante e descabelada, de bochechas muito coradas, parou de correr e olhou para frente.

— Lá vem ela! Vamos voltar! — Sem pestanejar, ela pulou nas minhas costas para retornarmos à mansão em menos de um minuto.

Nos perdemos tanto nas brincadeiras, que havíamos esquecido de montar o buquê. Dessa vez, precisei usar minha velocidade vampírica, e assim que terminei o laço, Bella, Esme, Rose e Alice adentraram a casa.

Brincavam e riam, prometendo repetir em breve uma caçada feminina. As imagens em suas mentes eram de diversão, mas um papo íntimo de mulheres, em especial, parecia ser o foco. Precisei me poupar e bloquear.

Quando as moças subiram para seus respectivos quartos, Bella nos encontrou na cozinha.

— Oi, meus amores. Que saudade. — ela me cumprimentou com um beijo, outro em Nessie. — Hm, que cheirinho gostoso. Vocês ficaram o dia todo brincando na floresta, né?

— Imagina, mamãe, a gente cozinhou e estudou também. Mas temos uma surpresa pra você. — nossa filha falou, sendo recebida pelo sorriso deslumbrante de Bella.

— Qual?

Nessie correu atrás da bancada, onde eu havia escondido. O buquê rústico e coloridíssimo era metade do seu tamanho, ela trouxe sorrindo.

Observar o rosto tão expressivo de Bella ao ganhar um presente era sempre um prazer.

Vi a boca carnuda separando-se, os olhos aumentando no misto de curiosidade, timidez e fascinação que havia me laçado desde a primeira vez que vi seu rosto, ainda dentro dos pensamentos dos jovens na escola.

— Você que fez?

— Eu e o papai.

— Que coisa mais linda, meu amor. — ela se abaixou para pegar, dando um forte abraço e um cheiro na filha. — Muito obrigada.

— São todas as flores mais raras que encontramos. Elas são como você, mamãe. Rara e especial. É como é a nossa família e o nosso amor por você. — Nessie explicou, e até parecia que eu havia lhe mandado falar. Mas não. Seu coração era um poço de poesia naturalmente. Me fez sorrir.

— Vocês são tudo pra mim. — Bella estaria chorando agora, se fosse possível. Seu sorriso transbordava amor.

— Foi tudo ideia de Ness. — tratei de explicar. — Ela escolheu quase tudo, coordenando as cores. Preciso dar os créditos.

— É lindo, e é imenso! Aposto que deixaram a mata careca. — Bella riu.

— Nessie tentou, mas ainda tem muitas lá.

— Eu ouvi um ronco nessa barriguinha? — De repente, Rosalie apareceu na cozinha, olhando para a sobrinha, que assentiu a cabeça. — Fiquei sabendo que você queria testar comidas veganas, e peguei alguns cogumelos comestíveis na caçada. Que tal?

— A comida da Alice no País das Maravilhas! — Como de manhã, minha filha deu pulinhos de alegria.

— Eu juro que nunca a vi tão empolgada com comida humana como hoje. — comentei, e minha esposa riu me acompanhando.

— Também não faço ideia do que está acontecendo. O avô dela que vai adorar saber. Charlie finalmente vai conseguir enchê-la de fritura como sempre sonhou.

— Bella, pode ir pro banho, eu vou preparar um macarrão ao molho funghi bem gostoso pra Nessie.

— Obrigada, tia Rose! Nunca experimentei cogumelos.

— Acho que vai gostar, dizem que é delicioso e é boa fonte de proteínas. Edward pode ir descansar a mente, também, quero curtir minha pequena um pouco. — Rose piscou um olho, acrescentando em pensamento "O meu presente pra vocês."

Abri um ligeiro sorriso em agradecimento, antes de ir atrás de Bella, que já havia saído porta afora, correndo até nossa casa.

Por mais que tivéssemos passado a noite nos amando, por mais que minha memória pudesse recriar perfeitamente cada centímetro de sua pele, cada gemido e suspiro, parecia que minha necessidade por seu corpo nunca era satisfeita. E nem a dela. Só queríamos mais, todo dia, toda hora.

Às vezes o auto-controle exigia foco, passávamos o dia evitando encostar no outro para não implodirmos, mas não sucumbíamos. Tínhamos uma filha para cuidar, afinal.

Eu senti sua energia mudar enquanto corria ao meu lado.

— Não entre no chuveiro ainda. — eu ordenei, rapidamente.

— Por quê? — A atrevida provocou, sorrindo.

— Você sabe bem.

— Me recorde.

Bastou que eu escutasse sua risada rouca para um instinto me tomar e saltar sobre ela, jogando-a no chão. Estávamos na porta de casa. Longe dos ouvidos da família, podíamos ser quem nosso mais profundo íntimo desejava.

Ela deixou que eu me abrigasse entre suas pernas e prendesse suas mãos acima da cabeça, e me olhou com um sorrisinho desafiador. Eu daria um fim naquilo em um segundo.

— Porque seu cheiro depois de caçar me tira do eixo. — pontuei atravessando o nariz em sua boca, pescoço e colo à mostra pela camisa de seda preta entreaberta. Dei uma lambida. — Inebriante. Deleitável.

— Que cheiro? Fala pra mim.

— Cheiro de fêmea.

— Sua fêmea.

Minha. Cheiro de Bella… Forte. Decidida. Cheiro de sexo.

Sem dúvidas, ela sentiu seu efeito no meu corpo, os quadris vieram me encontrar. Seus olhos semicerrados me contavam o quanto gostava, e sua língua veio passear pelos lábios entreabertos. A pura visão do desejo.

Nos encontramos no meio da caminho num beijo profundo e lento, seus dedos adentrando meu cabelo e me levando à uma outra dimensão.

Nosso lado animalesco agora falaria por nós através de nossos corpos. Ela tinha o dom de me roubar todas as inibições, e vinha sendo assim toda noite, desde sua transformação.

Só conseguimos sair do estado de puro prazer frenético, incansável e alienante, quando percebemos que meu celular tocava com nova mensagem, duas horas depois.

— Nessie está chamando. — falei, com Bella ainda jogada sobre meu corpo, estávamos no sofá.

Apenas uma leve marca de unhas arranhou o móvel hoje. Sucesso.

— O que houve?

— Cansou de brincar de Barbie com Alice, agora quer me ouvir tocar um pouco de piano enquanto lê.

— Shakespeare, né?

— Provavelmente, sim. — eu ri. — Seu novo autor favorito da vida por uma semana.

— Espere só até ela conhecer Jane Austen.

— Sim. E faço questão que essa aula seja sua, amor. — sorri, e ela me deu um beijo casto antes de sair de cima, pegando um vestido para colocar. Eu a acompanhei.

Em pouco tempo, estávamos de volta à mansão. Carlisle havia chegado do hospital, e nos cumprimentou enquanto conversava com Esme na sala.

Pedi permissão para sentar ao piano, já engatando no livro de partituras que minha filha havia escolhido. Clássicos da Disney. Ainda era só uma criança, afinal.

Num sofá, Bella voltou à tarefa de ontem, costurava uma fantasia de Halloween para Nessie. Era outra que havia adquirido uma nova obsessão. A filha tinha a quem puxar.

Nessie passou algum tempo preparando seu cantinho perfeito de leitura — um monte de almofadas no chão sob a janela, velas aromáticas, e um cobertor. O local ideal para que ela caísse no sono em menos de uma hora. Era sempre assim.

Enfim, voltou da biblioteca. Cheia de si, carregava uma cópia de Hamlet que pertencia à Bella desde o ensino médio.

— Esse talvez seja um pouco pesado pra sua idade. — Bella comentou. — Não quer escolher outro? Talvez "Muito Barulho Por Nada"? É uma comédia.

— Não, esse está bom.

— Olha a malcriação, Renesmee. — ralhei, mas Bella tentou ir por outro caminho.

— O que conversamos de manhã, Ness? Sobre não pegar livros de adulto.

— Perdão. Mas esse não tem figuras feias. Nem figuras tem!

Bella sacudiu a cabeça. — Às vezes queria que você fosse só um pouco menos esperta. — falou com riso na voz e calou-se, desistindo de impedir a filha.

Antes que eu pudesse protestar sobre a leitura de Nessie novamente, minha esposa mostrou-me sua lógica: "Ela já vai dormir daqui a pouco, não chega nem na metade", obrigando-me a abrir mão da discussão por falta de argumentos.

Satisfeita, Renesmee aninhou-se logo em seu canto, e assim permanecemos um bom tempo em confortável silêncio, a não ser pelo meu piano. Uma perfeita e agradável noite na grande casa dos Cullen.

Foi no meio do tema de Pinóquio que, de repente, percebi o padrão de seu pensamento mudar.

Nessie achara algo inusitado. Tudo aconteceu rápido. Meus dedos erraram as notas, porém o choque não me permitiu evitar que lesse o bilhete que Bella havia guardado ali desde a ilha Esme.

"Bom dia,

Queria não precisar caçar em nossa lua de mel. Deixar de te ver e te sentir mesmo por um segundo é um grave pecado.

Meu nome voltou a brincar em seus lábios hoje. O que sonhou? Volto ao meio-dia.

Com amor, Edward"

Ela terminou de ler, rápida como era, e abaixou o livro, virando-se decidida para a mãe. Eu me precipitei assim que sua boca se abriu, e corri para desviar o assunto.

— Acho que está na hora de ir para a cama, Ness. — Fútil tentativa. Ela não desistiria de uma resposta dessa vez. Minha cabeça já latejava.

Sem mais adiar, soltou a pérola.

— Mamãe, pra que serve mesmo uma lua de mel?

A tensão que seguiu seria capaz de cortar um dedo de uma Bella humana.

A gargalhada de Emmett ressoou em algum canto da casa, enquanto Bella e eu disparamos praticamente no mesmo momento:

— Para viajar com a pessoa que você desposou.

— A lua de mel serve pra gente namorar.

Sequer era preciso dizer quem disse o quê. Nessie, agora completamente focada em Isabella, até sentou-se sobre os calcanhares, a testa franzida para decifrar o enigma.

— Mas as pessoas namoram mesmo depois de casar?

— Renesmee, você já sabe que esse é um assunto de adultos. — tentei cortar.

— Edward. — minha esposa olhou torto, por um segundo retirando o escudo de sua mente, "Também não estou pronta pra falar disso, mas se não respondermos agora, ela vai procurar na internet. Você não vai querer isso. Deixa".

— Apenas pense no que vai dizer…

Ignorando meu conselho, Bella debruçou-se nos joelhos dando atenção à Nessie. Seu nervosismo era denunciado apenas pelos ombros que foram parar quase nas orelhas.

— Sim, filha, os adultos namoram mesmo depois de casar. Mas é algo especial. Namorar não significa só estar saindo com alguém, mas também demonstrar carinho e afeto de várias formas, incluindo o toque. Como eu e seu pai quando nos beijamos e abraçamos. Na lua de mel, os casais demonstram tudo isso, celebrando o casamento.

Nessie demorou dois segundos para assentir a cabeça.

— Ah. Acho que entendi. Então vocês continuam namorando mesmo depois da lua de mel?

— Bastante. — Bella queria a minha morte. Era isso. Deve ter visto meu maxilar travando e meus dedos retesando ao piano, então acrescentou. — Digo, somos namorados para sempre. Mesmo casados. Porque nos amamos e queremos demonstrar de todos os jeitos.

— Porém somente adultos podem fazer isso com outros adultos. Entendeu? — Eu tratei de ratificar.

— Entendi, papai. Mas… Se na lua de mel vocês namoraram e demonstraram amor, e eu nasci logo depois, então… — Foi como ver um trem descarrilhado. Seu rosto iluminava-se pela descoberta que estava prestes a fazer, me tirando o ar que eu nem precisava, até enfim constatar, — Então a lua de mel serve pra fabricar bebês!

A agulha na mão de Bella foi massacrada, a tampa do meu piano fechada com força.

— Ah, mas essa eu não perco de jeito nenhum — A voz de Emmett soou um segundo antes que ele chegasse à sala, com Jasper, Alice e Rose em seus calcanhares. Tinham no rosto asquerosas expressões de diversão. Tudo à custa do meu sofrimento. Canalhas.

Por que eu ainda esperava ser respeitado nessa casa?

Com seu sorriso gentil, Carlisle tomou a frente e sentou-se ao lado dela no chão. Em sua cabeça, flutuavam adolescentes grávidas no consultório e palestras de educação sexual em escolas. "Deixe-me tentar, Edward".

— O que você sabe sobre a fabricação de bebês, querida? — Questionou, aparentemente à vontade.

— Bom, eu sei que para os bebês animais nascerem, uma fêmea se junta a um macho, e eles tem um encontro chamado acasalamento. Vi num programa do Animal Planet. Com as pessoas é assim também?

— Quem deixou essa menina assistir Animal Planet?! — Minha voz se alterou, levantando do piano, e Bella me parou com uma mão antes que eu arrebentasse algum dos meus irmãos. Todos me bloqueavam da cabeça. Traidores, todos.

— É assim apenas com os humanos, Ness. — minha esposa falou. — Vampiras não podem ter bebês, você lembra disso, certo?

— Sim. Por isso vocês falaram a todos os nossos amigos que eu sou especial. — Nessie confirmou com a cabeça. — Então quer dizer que eu fui criada quando você era humana e acasalou com o papai na lua de mel?

Eu só queria fazer minha cabeça atravessar a parede e depois entregá-la numa bandeja a Aro Volturi.

— Ok, isso não está funcionando. — Isabella suspirou e voltou-se para mim. Olhando-me profundamente, implorou, "Acho que infelizmente chegou a hora, Edward. Ela precisa ter A Conversa".

— Não. Nem por um decreto.

— Sim.

— Não!

"É pela falta de informação que meninas novas engravidam e crianças correm perigo. Eu tinha a idade dela quando minha mãe falou comigo. Ela precisa saber!"

Por que Isabella Swan-Cullen tinha que ser sempre tão sensata, sábia e inteligente? Diabos.

— Merda. — O xingamento saiu num sussurro, e mesmo assim Nessie arquejou de surpresa por me ouvir dizendo uma palavra feia pela primeira vez.

— Vamos, amor. Ela será uma moça em pouco tempo, e você sabe…

— Não precisa lembrar. — suspirei.

Bella entendeu que eu já havia aberto mão da discussão. Virou-se sorrindo para a filha.

— Renesmee, amanhã nós lhe daremos aula de Anatomia em Ciências, e vamos te explicar direitinho tudo sobre esse assunto, pode ser?

— Está bem! — Concordou. E como se a danadinha não tivesse atentado contra a minha vida nos últimos minutos, decidiu mudar de assunto. — Vovô, me conta mais sobre as versões do Hamlet que você já assistiu?

As leves risadas da família ecoaram na sala conforme foram se dispersando, finalmente. Bella veio até a mim e me abraçou. Não pude corresponder com ambos os braços, pois uma mão segurava firmemente a ponte do meu nariz.

— Vai dar tudo certo. Somos bons professores. — ela massageou minhas têmporas, o que foi me acalmando aos poucos e diminuindo a pressão na minha cabeça.

— Eu odeio a pré-adolescência. — resmunguei.

— Não tanto quanto vai odiar a adolescência.

— Por que você gosta tanto de me torturar?

Ela somente riu, a traidora.

— Tão rabugento. Vem. — E me puxou pela cintura para sentarmos com Nessie em seu pequeno forte de leitura.

Passamos o restante da noite ouvindo as histórias de Carlisle de um tempo muito distante, enquanto Renesmee tomava um leite quente — de amêndoas, é claro.

E embora minha mente viajasse com as lembranças fantásticas de Carlisle, em momento algum deixei de notar o aqui e agora. Estava mais alerta e presente do que nunca.

Com minha esposa ao meu lado, sua cabeça em meu ombro, e minha filha que havia vindo se aninhar no meu colo, porto-seguro onde ela poderia fechar os olhos e ressonar em seu sono tranquilo de criança. Na sua mente, apenas as borboletas que brincamos mais cedo e batatas fritas.

Por muitos anos, eu desejei poder dormir e sonhar como ela sonhava agora. Noites e noites invejando Bella, até. Mas tudo havia mudado.

A verdade era que estar acordado hoje em dia era muito melhor do que qualquer sonho.


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Notas finais do capítulo

BÔNUS - é a cena do sexo vampírico, óbvio. Pra receber, comente nessa fic deixando seu EMAIL (não esqueça, por favor).

Escolhi o título como um mimo do "meu" Edward pra vocês, nesse dia especial de um personagem que aproximou tanta gente. Sintam-se abraçadas e amadas!

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Até a próxima, beijos!