Jardim da Esme escrita por psc07


Capítulo 1
Jardim da Esme




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Às vezes, ser um bom filho podia custar caro.

Sempre que eu pensava no que estava fazendo, tinha que conter um longo suspiro – se minha mãe sequer suspeitasse que eu preferia correr pelado na rua em Dezembro a fazer isso, ela desistiria, e meus pais realmente precisavam de férias.

O único lado positivo era que eu não estaria sozinho.

Quando meu pai perguntou se nós poderíamos tomar conta do Jardim da Esme durante três semanas para que eles conseguissem fazer a tão sonhada rota romântica das cidades italianas, eu fui o primeiro a dizer que estaria disponível.

Alice e Emmett estavam levemente resistentes – ela queria aproveitar as férias antes de entrar na faculdade, enquanto meu irmão queria passar um tempo com a mulher.

Para convencê-los, meu pai prometeu uma viagem de compras em Seattle (Alice) e sugeriu que Emmett levasse Rosalie também.

Como aceitei logo de cara, não precisei dos subornos – apenas a gratificação de minha mãe.

Emmett ria toda vez que lembrava disso. 

A verdade era que nenhum de nós três estávamos muito animados para nos isolar em Forks, Washington, por tanto tempo. Eu e Emmett não chegamos a morar aqui; nossos pais vieram para cá com Alice assim que terminei o ensino médio em Seattle. Três anos depois e eu só podia achar a cidade… pacata.

Meus pais pediram para que eu e Emmett ficássemos de olho em Alice. Eu entendi que eles estavam com medo da baixinha destruir a casa numa festa, e não que fôssemos tentar impedir que ela levasse seu novo namorado Jasper para casa – nunca conseguiríamos.

Eu cheguei em casa uma semana antes de meus pais viajarem, o que foi bom, já que eu não sabia como comandar a loja. Minha mãe garantiu que a gerente estaria lá todos os dias, mas que não ia conseguir dar conta sem a gente.

—Eu não sei se consigo deixar a loja longe sem alguém… bem, da família – Minha mãe disse, passando a mão pelos meus cabelos acobreados enquanto sentávamos no sofá.

—Eu estarei lá, mãe – Tranquilizei-a. Não tinha como voltar atrás, mesmo que eu quisesse. Eu sabia quão importante a floricultura era pra ela. 

Meus pais eram novos. Eles se conheceram na faculdade. Minha mãe era colega de sala dele, e eles tiveram que fazer um trabalho em dupla.

Um ano e meio depois, Emmett nascia.

Eles tiveram que trabalhar para se sustentar, o que era um pouco difícil para eles no meio da faculdade de medicina e depois durante a residência de cirurgia para meu pai – além do fato de eu ter nascido antes dele poder dizer que era de fato um cirurgião. Minha mãe decidiu que não voltaria para a faculdade, que ficaria em casa para cuidar da gente e conseguir algum dinheiro trabalhando numa loja enquanto meu pai não se firmava.

Mas os dois sempre foram da filosofia de que onde tem amor, tem jeito, então eles lutaram e conseguiram não apenas se virar: hoje eles tinham condições para ter dois filhos cursando faculdades Ivy League ao mesmo tempo e sem dificuldades.

Os dois nasceram e cresceram em cidades pequenas – acho que por isso que se mudaram para Forks assim que o contrato de meu pai no hospital de Seattle terminou, e a primeira coisa que minha mãe fez foi o Jardim da Esme.

Ela se levantou para ajudar meu pai com o jantar; Alice estava chegando a qualquer momento com Jasper. Seria a primeira vez que eu o veria. Meu pai disse que ele era calado, mas que parecia ser um cara legal.

E ele realmente era. Tímido e calado, o que parecia balancear o humor sempre explosivo de minha irmã. Alice estava completamente sorridente durante todo o jantar, o que era bom. Se ele fazia a baixinha feliz, era o suficiente.

Emmett chegou no dia seguinte com Rosalie. Eu esquecia às vezes que meu irmão era casado com uma modelo. Geralmente eu me lembrava disso quando via Rose: ela era simplesmente estonteante.

Mas, bem… mesmo que não fosse a mulher de meu irmão, ela não fazia meu tipo.

Emmett e Alice também apareceram para receber instruções na loja. Rosalie ficou passeando no jardim do fundo, onde as flores eram cultivadas.

Antes que eu percebesse, a semana se foi e eu estava levando os dois no aeroporto. Mamãe não estava mais ansiosa com o Jardim da Esme, e meu pai parecia extremamente animado com a viagem – o que era algo incrível de se ver, considerando que ele geralmente só ficava desse jeito depois de uma cirurgia mais complicada em que ele conseguira salvar o paciente.

Ou quando minha mãe sorria. 

Eles eram esse tipo de casal.

Jasper também estava em casa quando eu cheguei: os quatro estavam sentados na mesa de jantar com três caixas de pizza na frente deles.

—Hey, chegou o solteirão! – Emmett me cumprimentou quando entrei em casa. Revirei os olhos, sabendo que era a forma que ele demonstrava afeto.

Sendo uma grande criança.

—Oi, Emm – Falei, me sentando ao lado dele – Rose, o pessoal da agência deixa você comer pizza? – Perguntei brincando. Ela revirou os olhos.

—Estou de férias, seu encalhado – Ela replicou.

—Eu não sou encalhado – Foi tudo que respondi enquanto pegava um pedaço de pizza – Apenas não encontrei ninguém que tenha chamado minha atenção o suficiente.

—Eu já ofereci pra te apresentar algumas colegas – Rose retrucou, enquanto Emmett ria.

—Edward ia ficar de cara fechada sem saber o que dizer, baby. Não ia ajudar em nada.

—Não é só isso – Alice discordou – Edward é romântico. Ele precisa de sentimentos envolvidos desde o início.

Revirei os olhos enquanto eles continuavam discutindo minha vida amorosa. Não era que eu nunca tivesse me envolvido com ninguém, eu só…

Bem, em parte Alice estava certa. Eu preferia quando era algo que significasse mais.

E no momento, eu não podia me dar ao luxo ter algo que significasse mais.

Fizemos nossas escalas enquanto dividíamos a pizza. Rosalie queria usar o jardim para algumas fotos – segundo ela, os fãs iriam enlouquecer ao ver que ela estava na floricultura da sogra.

Como planejado, no dia seguinte eu ocupei meu lugar atrás do balcão meia hora antes do horário de abertura. Carmen, a gerente, chegou pouco tempo depois, juntamente com sua irmã, Tanya, que trabalhava na loja também.

—Edward, bom dia! – Carmen cumprimentou – Você se lembra de Tanya?

Eu acenei com um pequeno sorriso; sim, eu lembrava de Tanya. Todas as vezes que vinha aqui nesses últimos três anos, ela sempre tentava conversar bastante comigo, e eu não sabia como iria… desviar disso passando esse tempo todo na loja.

—Hey, Edward! – Tanya disse alegremente – Eu não sabia que você estaria aqui! 

Sorri educadamente.

—Vou ficar revezando com Emmett e Alice enquanto meus pais viajam – Expliquei.

—Você vai ficar na parte de vendas, certo? – Carmen perguntou e eu confirmei – Então você também vai ser responsável por atender o telefone com encomendas, tudo bem?

—Certo.

—Quando tiver uma encomenda, é só falar com Lee, que é o nosso entregador fiel, e ele vai entregar.

Assenti enquanto Carmen falava mais algumas coisas sobre o funcionamento da loja. Parecia simples o suficiente.

O primeiro dia de trabalho mostrou que realmente não era muito difícil. Carmen e Tanya ajudavam os clientes a escolherem as flores, e encaminhava os clientes pra mim. Eu olhava a tabela de preços, cobrava e recebia os pagamentos. Quando alguém ligava, eu anotava o pedido, colocava os detalhes do cartão para pagamento, falava com Carmen ou Tanya para separar as flores solicitadas e falava com Lee para ele ir fazer a entrega.

Não era como se tivesse movimento o tempo todo, então eu matava um pouco do tempo no celular e no computador da loja – as vezes apenas usando redes sociais, outras aproveitando para ler algum artigo ou estudar.

Eu sabia que Emmett e Alice não viriam tanto para a loja quanto eu, então já tinha ciência que aquela primeira semana seria toda minha.

Apesar de não ser um trabalho difícil, não era algo que me animasse. Carmen e Tanya pareciam extremamente à vontade e contentes na loja, o que era bom. Eu imaginava que minha mãe ficasse do mesmo jeito.

Nessa primeira semana eu tomei cuidado para não tirar meu horário de almoço junto com Tanya. Era dolorosamente óbvio que ela estava mais interessada em mim do que eu desejava.

Não que tivesse algo de errado com Tanya, nada disso. Ela era bonita: seu longo cabelo loiro meio avermelhado em alguns pontos complementava bem seu rosto. Ela também era extremamente simpática, e era fácil de conversar com Tanya.

Mas eu não via nada além disso, e eu sabia que ficar almoçando com ela seria quase dar esperanças para ela. 

Tanto Tanya quanto Carmen estavam bem humoradas no sábado. Como qualquer loja de cidade pequena, a floricultura fecharia meio-dia. Carmen foi imediatamente para o jardim e Tanya veio para o balcão arrumar os arranjos prontos.

—Hey, Edward – Ela sorriu. Retribuí o gesto – Animado para o fim de semana?

—Hum… mais ou menos.

—Sem planos? – Ela perguntou. Dei de ombros e ela riu – Não me diga que você não faz nada no final de semana quando está em Harvard!

—Eu faço, mas… digamos que as opções aqui são mais limitadas – Expliquei, tentando não dizer que Forks era uma cidade muito pequena para o que eu estava acostumado. Tanya riu de novo.

—Falou como um típico cidadão de cidade grande, Edward – Ela replicou – Mas temos coisas para fazer aqui também. Talvez não essas festas tão loucas de faculdade que a gente vê nos filmes, mas tem coisas legais também…

—Os filmes são completamente exagerados – Repliquei – Pelo menos nas poucas festas que vou.

—Bom, Port Angeles não é tão longe daqui, e lá tem vários restaurantes, tem cinema… – Tanya sorriu e ergueu as sobrancelhas – Eu posso te mostrar como chegar lá…

Eu realmente não percebi que esse caminho direto era o que ela iria tentar, então fui pego de surpresa e congelei enquanto olhava para a tela do computador.

—Er, eu tenho que estudar, Tanya… – Respondi lentamente.

—Você não está de férias? – Ela perguntou.

—Participo de um projeto de pesquisa, e até nas férias continua – Justifiquei, e não era completamente mentira. Eu tinha que terminar de fazer análise de três artigos, mas só para a próxima quarta-feira.

Ela diminuiu o sorriso, mas continuou me olhando.

—Se você… arranjar tempo, eu posso lhe ajudar. Pense nisso.

Ela saiu ainda sorrindo ao ouvir a porta da loja abrindo e suspirei. Isso seria difícil de controlar se ela continuasse sendo tão direta assim

Então foquei em prestar atenção ao caixa, falando tão pouco quanto possível. Eu sabia que algumas pessoas me achavam antissocial, mas eu só era… recluso. Eu gostava de meus irmãos e de meus amigos da faculdade, e com eles eu conseguia me abrir melhor.

O movimento da loja estava intenso para um sábado – Tanya não teve mais chances de me abordar, porque ou ela estava com algum cliente, ou arrumando algum arranjo ou buquê.

Faltando apenas uma hora para a loja fechar, Lee foi fazer uma entrega e o movimento acalmou. Carmen disse para Tanya ir para casa, que nós dois conseguiríamos segurar a loja no tempo restante. Lee saiu para uma entrega, e dissemos para ele ir para casa depois.

Nós estávamos quase encerrando quando o telefone tocou novamente. Com um suspiro e um olhar exasperado para Carmen, que sorriu de volta para mim, atendi o telefone.

—Jardim da Esme, Edward falando, como podemos ajudar?

Oh, oi. Preciso de um buquê de flores pra enviar pra tipo… agora— A voz do outro lado era rouca e eu conseguia ouvir o vento forte ao fundo. Olhei para o relógio. Ainda restavam dez minutos para a loja realmente fechar, então segurei mais um suspiro e percebi que o Jardim da Esme tinha um novo entregador.

—Que tipo de flores o senhor gostaria? – Perguntei pacientemente.

Quais flores dizem ‘desculpas’?— Ele perguntou rindo. Franzi o cenho. Eu não gostei do tom dele.

Carmen apontou para um arranjo em cima da bancada.

—Rosas vermelhas – Repliquei num tom seco.

Ok, eu quero umas dez dessas. Espera, é muito caro?

—Cinquenta dólares.

Por flores?! Cara, espero que essas rosas sejam mágicas. 

Ele me deu os detalhes do pagamento e o endereço da entrega.

Ei, tem como colocar algum cartão ou algo do tipo?

E foi exatamente naquele momento, enquanto eu escrevia ‘Desculpe, Bells. Eu precisava fazer aquilo’ num cartão e saía na chuva que eu percebi que, de fato.

Ser um bom filho podia custar caro.

Carmen disse que poderia fazer a entrega, mas eu fiz o que achei que minha mãe faria: chamei a responsabilidade da floricultura para mim. 

Coloquei o endereço no GPS e segui. Não era longe, e como tudo em Forks, não era difícil de achar. Estacionei o carro de meu pai – que eu estava usando enquanto estava aqui – bloqueando a saída dos carros da casa. Tinha uma picape vermelha que parecia já ter visto dias melhores, e uma viatura. 

Com um suspiro, escondi as flores na minha capa de chuva e corri até a varanda, tomando cuidado para não amassar o buquê. Depois de ter certeza que nenhuma flor tinha sido danificada, toquei a campainha e aguardei.

Quem abriu a porta foi uma garota baixinha de cabelos cacheados e cheios. Ela arregalou os olhos ao me ver, mas se recompôs com um sorriso.

—Posso ajudar? – Ela perguntou, olhando para as rosas e de novo para meu rosto.

—Sou Edward Cullen, do Jardim da Esme, tenho uma entrega para Isabella Swan? – Falei meio incerto – Você seria Isabella Swan?

—Não… – A garota respondeu. E ficou me encarando e sorrindo.

—Ela está em casa?

—Ah, sim. BELLA!

Depois de alguns segundos ouvi um barulho de alguém tropeçando e dois pares de passadas. Duas garotas apareceram: uma era mais alta, com cabelos castanhos claros. A terceira tinha altura entre as outras duas, com cabelos castanhos escuros e os olhos de um tom de chocolate que me prenderam imediatamente.

Ela gemeu quando viu as flores, o que me trouxe à realidade. Limpei a garganta.

—Sou Edward Cullen, do Jardim da Esme, e tenho uma entrega para você – Anunciei, estendendo o buquê para ela. Ela não parecia querer pegar, mas, com um suspiro, tirou as flores da minha mão.

—Bella, isso é muito romântico! Rosas vermelhas! – A primeira garota exclamou – Significa amor eterno ou algo assim!

—Jess, não importa – Isabella respondeu, e depois olhou para mim – O que significam rosas vermelhas?

—Nesse caso, é um pedido de desculpas – Repliquei, enquanto procurava no bolso da calça o recibo para ela assinasse indicando que a entrega fora feita.

—Melhor ainda! – Jess guinchou – Eu acho que você não deveria ficar tão chateada com Jacob assim…

—Jess, você só está falando isso porque a malhação toda fez efeito – A garota mais alta replicou.

—Bem… não por isso, mas em parte! – Jess falou – Ele e Bella sempre foram melhores amigos, e ele sendo um gato, eu acho que seria uma excelente opção. E eles ainda vão para a mesma faculdade!

Finalmente achei o recibo e entreguei para Isabella, juntamente com uma caneta. Ela derrubou o buquê no chão e, quando deu um passo para a frente para pegar o recibo, pisou nas flores. Senti os cantos da minha boca se erguendo levemente, enquanto Jess fazia uma cara horrorizada.

—Hum, tem um bilhete – Apontei para o chão. Retrucando, ela se abaixou e pegou o cartão.

—Isso aqui nem foi escrito por Jacob – Ela disse – A letra é muito bonita pra ser dele.

—Bem, é – Falei dando de ombros – Geralmente quem atende a ligação que escreve o bilhete.

Isabella e a garota mais alta arfaram e eu dei um passinho para trás.

—Aquele cachorro nem foi na loja? Ele simplesmente ligou?! – Isabella vociferou. Assenti, arregalando os olhos, e ela pisoteou as flores de novo – Flores que dizem desculpas… ora, aquele imbecil… Edward, certo?

—Sim.

—Você tem flores que digam “vai se foder” ou algo do tipo?

Senti minhas sobrancelhas se erguerem.

—Eu realmente não sei dizer, me desculpe – Falei, recompondo minha feição – Eu não tenho conhecimento sobre significado de flores ainda, estou apenas ajudando na loja.

Jess estalou os dedos e apontou para mim.

—Você é filho de Esme Cullen, não é? – Ela perguntou e eu assenti – Espera, você é o casado com a modelo ou o que tá em Harvard?

—Eu não sou casado – Repliquei para ela, e depois me virei para Isabella novamente – Tem o telefone da loja no fundo do cartão. Se quiser ligar na segunda-feira, posso pedir para nossa gerente Carmen lhe ajudar com as flores.

Pela primeira vez desde que cheguei na casa, Isabella sorriu.

—Nah, tudo bem. Não vale a pena. Obrigada, de qualquer modo, Edward.

—De nada, Isabella – Respondi, também sorrindo.

—Bella, por favor.

—Bella. E desculpe por, er, ter trazido notícias não tão boas?

Ela riu e sacudiu a cabeça, corando.

—Não foi culpa sua que meu ex-melhor amigo tenha me beijado à força, certo?

Senti meu rosto se fechando.

—Nesse caso, sinto muito que não lhe ajudei a esmagar as flores. 

Ela sorriu mais uma vez, o rosto ainda vermelho. Com um aceno de cabeça me despedi das três e corri na chuva até entrar no carro de novo. Fiz o caminho para casa com mais cuidado que o habitual por causa da estrada molhada.

Emmett, Rosalie e Alice estavam vendo televisão quando cheguei, e me joguei no sofá ao lado deles. Alice recostou a cabeça no meu ombro.

—Dia cansativo de trabalho, maninho? – Emmett perguntou. Fiz uma careta.

—Tive que fazer uma entrega de última hora – Expliquei – A garota pisou nas flores.

Eu sabia que estava sorrindo – seria impossível não sorrir ao lembrar a fraca tentativa de dissimulação de Is– de Bella ao jogar o buquê no chão.

Rosalie soltou uma gargalhada.

—Ela pisou nas flores? O que o cara tinha feito?

—Aparentemente a beijou à força.

Rosalie ficou calada, mas o rosto dela era suficiente para demonstrar sua fúria com o assunto. Rose, como muitas modelos, sofreu assédios durante toda a sua carreira, e tinha sido uma das primeiras a falar sobre o assunto publicamente. Todo mundo sabia como ela se sentia sobre o assunto.

Emmett mudou de assunto rapidamente, perguntando quando Rose poderia ir lá fazer o ensaio. Primeiro precisaríamos de sol, o que era algo raro em Forks. Mas Alice estava confiante que conseguiriam fazer na semana seguinte.

Eu não achava que eles conseguiriam tirar fotos boas se dependessem do sol de Forks para isso, mas preferi ficar calado e fui adiantar o almoço. Não que eu fosse um excelente cozinheiro, mas tinha aprendido a não morrer. Se algum deles tivesse algo a reclamar, que viesse fazer a comida.

Depois de comer (Alice ficou com as louças), subi para meu quarto e peguei o computador para tentar adiantar as análises dos artigos. 

Mas eu mal conseguia terminar duas linhas e minha mente voltava para Bella.

Ela era extraordinariamente bonita, e aqueles olhos castanhos me encantavam absurdamente. Sua risada também me fazia querer vê-la novamente. Sim, eu só tinha passado cinco minutos com a garota, mas…

Sei lá. 

Dava vontade de passar mais.

E foi com Bella ainda na minha mente que, pela primeira vez em um bom tempo, quando eu entrei na biblioteca, eu não me direcionei aos livros de meu pai. Ao invés disso, fui para a estante de minha mãe, só certo do livro que queria quando o vi.

 

***

 

Eu sabia que não deveria estar nervoso, mas bem… eu estava. Ainda precisei usar o GPS para chegar no lugar. Eu tentava ao máximo evitar olhar para o objeto no banco de carona. Estacionei o carro com menos cuidado que eu talvez devesse, e fui rapidamente para a porta da frente, torcendo para ser a pessoa certa a atender.

—Oh. De novo?

Senti meus lábios se encurvarem num sorriso.

—Não são dele, dessa vez – Repliquei – Nem pra você, na verdade.

Ela fez uma cara de confusa.

—Não estou entendendo… E que flores são essas?

—É isso. Não são flores – Expliquei – Carmen tirou ontem do jardim, e bem… eu fui ler um pouco sobre flores que digam “vai se fuder”, mas acontece que não tem uma parte específica em livros de significados de flores que falem sobre os significados ruins, então tive que ler muitas páginas até achar que erva daninha é algo prejudicial e nocivo…

Enquanto eu falava, o rosto de Bella mudava de incompreensão para um pequeno sorriso.

—Eu gostei. Será que tem mais plantas com significados ruins? – Ela perguntou finalmente.

—O livro é grande. Com certeza tem. 

Se eu não estivesse a observando tão atentamente, teria perdido o brilho de uma ideia se formando em olhos. Mas, por Deus, eu estava.

—Tenho uma ideia. Você consegue achar mais flores igualmente agressivas? – Ela me perguntou.

—Provavelmente.

—Perfeito. Vou querer mandar mais de uma. Tem um cartãozinho aí?

Assenti e lhe entreguei o cartão e a caneta. Ela pegou e escreveu apenas um grande “S”.

—Cada dia, uma letra. Até ele receber um “se foda” bem criativo!

Mesmo que não tivesse sido uma ideia tão brilhante, somente o sorriso de Bella teria sido contagiante o suficiente pra me fazer gargalhar. Peguei o cartão e a caneta de sua mão, ignorando o choque que senti quando toquei seus dedos.

—Suponho que a entrega será feita amanhã? – Ela perguntou. Hesitei e depois confirmei com um aceno da cabeça.

—Lee estará na frente da casa dele na hora que desejar – Informei – Só precisamos do endereço. Liga amanhã para a loja e dá os detalhes.

Bella concordou com um sorriso. Me virei pra sair, as flores na mão e os lábios igualmente encurvados.

—Hey, Edward – Ela chamou, e voltei a olhar em sua direção – Por que tanta dedicação pra essa vingança?

Dei de ombros.

—Não faço a menor ideia.

Contudo quando seu sorriso aumentou mais ainda, eu sabia que tinha ali minha resposta.

 

***

 

Minha saída não foi estranhada em casa. Provavelmente porque Alice fora almoçar com Jasper, e Emmett estava mostrando o jardim do fundo para Rose. Mais uma vez, fiquei na biblioteca, com os livros de minha mãe.

Eu nunca tinha tido interesse por botânica antes, mas procurar por flores ofensivas estava sendo divertido. Claro que eram minoria no livro, então eu basicamente tinha que ler sobre 30 flores positivas antes de achar alguma que fosse possivelmente ofensiva.

Quando Emmett passou na biblioteca, eu apenas disse que estava estudando – o que não era mentira. Só estava estudando plantas ao invés de humanos.

Era também curioso ver as plantas que estavam diretamente ligadas a remédios tão importantes, e a gente mal sabia. 

Então acabei me distraindo o suficiente para não perceber que a hora do jantar chegara e passara há muito até Alice bater na porta com um sanduíche e um sorriso.

—Oh – Exclamei quando ela depositou o prato na mesa. Passavam de dez da noite – Obrigado, Lice. 

—Papai também se distrai assim – Ela me disse dando de ombros e sentando na outra cadeira – Estudando algo interessante?

Hesitei. Não tinha motivo para esconder isso de Alice. Ou de Rosalie. 

De Emmett definitivamente sim.

—Na verdade, eu estou estudando algumas plantas pra loja – Comentei lentamente – Um pedido especial, e fiquei interessado.

—Mamãe ficará extremamente feliz quando souber.

Minha única resposta foi sorrir. Ela realmente ficaria. Então meu pai ficaria feliz por minha mãe estar feliz, do jeito que ele sempre ficava.

Eu estava com um humor renovado no dia seguinte, e, mesmo que eu não quisesse admitir, eu sabia exatamente o que me fazia estar animado para aquele dia.

Uma ligação era tudo o que eu esperava.

Carmen e Tanya perceberam que eu estava mais satisfeito de estar ali naquela segunda-feira que no resto da semana passada toda junta.

—Se divertiu no final de semana? – Tanya me perguntou. Meu sorriso foi um pouco mais largo que o que eu geralmente reservava para esses momentos.

—Hum, fiquei em casa – Repliquei – Li alguns livros, estudei um pouco. Nada demais. E você? – Perguntei, mais por educação do que por interesse real.

—Saí com um grupo de amigos, mas nada demais também – Ela respondeu, e sorriu mais – Poderia ter sido melhor…

Senti meu sorriso diminuindo, e apenas assenti enquanto ligava o computador. A porta da loja abriu e Tanya foi oferecer ajuda.

Toda vez que o telefone tocava, eu me adiantava para atender, sentindo meu coração ridiculamente se acelerando com a possibilidade de ser Bella. Nós havíamos nos conhecido dois dias atrás. Não tinha nenhuma explicação razoável para minha reação.

Ainda assim, quando finalmente ouvi sua voz no outro lado da linha, meus lábios se curvaram imediatamente.

—Então essa é a loja que eu consigo mandar flores ofensivas para babacas? – Ela perguntou, e de algum modo eu sabia que ela também estava sorrindo.

—Oferecemos o melhor serviço botânico de toda a Península Olímpica – Repliquei e fui recompensado com sua risada.

—Maravilha! Esse é o momento que você anota meus dados e o endereço dele?

—Exato.

Ela me ditou seu número de celular e eu coloquei no registro de cliente, me perguntando se seria tão terrível assim colocar na minha agenda pessoal também.

—Algum horário melhor para enviar? – Perguntei.

—Às três da tarde? O pai dele não estará em casa e eu gosto de Billy. Queria poupá-lo disso.

—Sem problemas, Srta. Swan.

Ela riu de novo e senti meu sorriso aumentar.

—Ok, quanto ficou? 

Hesitei.

—Bem… vamos deixar para cobrar tudo no final? – Sugeri – Encare como um combo de cliente fiel.

—Hum. Não vou esquecer.

Fizemos silêncio por um momento. 

—Então amanhã eu deveria ir na loja para escrever o bilhete, não? – Ela perguntou lentamente.

—Hum, a ideia é boa. Mas eu só volto na loja na quinta-feira. Se quiser, posso pedir para alguém receber seu pedido – Ofereci.

—Acho melhor manter isso entre nós dois – Ela respondeu – Não quero que mais ninguém saiba da minha vingança.

Soltei uma risada que chamou a atenção de Tanya. Ah, droga.

—Bom, vou deixar você trabalhar – Ela disse – E nos falamos na quinta?

—Quinta – Confirmei.

—Então… tchau, Edward.

—Tchau, Bella.

Segurei o telefone até ouvir o bipe de ligação desconectada.

Não, não havia nenhum motivo racional para o calor estranho que tomava meu peito depois dessa ligação. 

Mas isso não fazia o sentimento desaparecer.

Lee pareceu confuso quando lhe entreguei o buquê com erva daninha – deveria ser a primeira vez que ele ia fazer entrega desse tipo – mas não falou nada. Não sei se ele confiava em mim, ou se ele simplesmente não se importava.

Acho que foi o primeiro, já que quando ele voltou ele questionou se eu tinha certeza da entrega.

—A pessoa que recebeu parecia bem confusa, principalmente com o bilhete – Lee falou, coçando a cabeça. Não consegui segurar o sorriso.

—É uma entrega especial. Tudo sob controle. Obrigado, Lee.

Ele parecia que por um segundo iria falar mais alguma coisa, mas acabou simplesmente dando de ombros.

No dia seguinte tive que me segurar para não ir diretamente pro livro de botânica. Eu realmente precisava terminar de ler os artigos para o grupo de pesquisa.

A atividade poderia ter sido terminada em uma tarde, mas eu não estava concentrado. Era inútil tentar fingir não saber o motivo exato da minha distração. Fiquei imaginando quem exatamente era esse Jacob Black, como ele teria de fato reagido a receber ervas daninhas com um bilhete de uma letra. Será que ele reconheceria a letra de Bella?

Claro que a maior parte do tempo eu pensei mais na própria garota de olhos castanhos-chocolate. Tantas vezes ouvi elogios a respeito dos meus olhos, mas… a expressividade que os olhos de Bella carregava era algo único e especial. 

Jasper se uniu novamente a nós no almoço na quarta-feira. Ele levou chili – receita especial da sua família texana. Estava realmente gostoso, apesar de mais apimentado do que eu estava acostumado.

Jasper realmente era um cara legal. Ele era quieto e escutava mais do que falava (o que provavelmente deveria ser necessário para se estar em um relacionamento com Alice), mas tinha um senso de humor ácido. Fazia um excelente contraste com minha irmã, e ela parecia estar muito feliz.

Eles estavam conversando sobre algum colega que levou uma multa por estar dirigindo numa velocidade acima do normal (Alice julgando apenas o fato dele ter sido pego), quando um nome me chamou a atenção.

—Swan? – Perguntei, tentando esconder meu real interesse.

—É, ele é o xerife da cidade – Alice explicou.

—Ah – Repliquei estupidamente – Ele tem uma filha?

—Tem, Isabella – Jasper confirmou.

—Ela faz faculdade longe daqui – Alice completou – Por quê?

—Ela recebeu uma entrega, e eu anotei o pedido. Achei o sobrenome não tão comum – Falei, dando de ombros. Alice pareceu aceitar, mas senti o olhar de Jasper em mim por mais um segundo – Vocês conhecem a garota?

—Ah, não. É só que chefe Swan fala bastante dela – Alice comentou e depois riu – É uma cidade pequena, sabe?

Dei uma risada; sim, meu pai comentava sobre a vida em Forks e a relativa falta de privacidade.

Consegui terminar minha atividade no meio da tarde, e rapidamente foquei mais uma vez no livro de minha mãe, anotando num papel algumas flores que me chamavam a atenção. Era uma excelente distração.

No dia seguinte, a ida para a loja foi mais tranquila.Talvez porque eu já tivesse me acostumado, então já sabia exatamente o que esperar do meu tempo ali.

—Bom dia, Edward! – Tanya cumprimentou entusiasticamente. Senti meu sorriso se abrir – Animado?

Franzi o cenho. 

—Normal, na verdade.

—Hum… desculpe – Ela disse sorrindo – Você chegou cedo e… achei que tivesse… não sei. Esquece.

Relaxei o rosto e fui para o meu posto atrás do balcão, já tendo separado a encomenda especial sem que Tanya ou Carmen vissem. Se por algum motivo Bella não viesse à loja hoje, eu preferia deixar em segredo a minha… dedicação ao trabalho.

Essa alternativa me pareceu ser bem possível quando se aproximou da hora do almoço e ela ainda não tinha surgido. 

—Não vai comer, Edward? – Tanya perguntou enquanto tirava o avental da loja e se preparava para sair. Neguei, mostrando a sacola que eu trouxera com meu almoço – Tudo isso para não ficar sozinho comigo, huh? – Ela disse com uma risadinha.

—Não, não é isso – Repliquei, apesar de… bem, isso era um bônus – Tinha uma sobra do almoço de ontem, então acabei trazendo.

Tanya assentiu, mas eu sabia que não tinha conseguido enganá-la totalmente. Ela sabia que tinha algo a mais no meu súbito desejo de comer na loja enquanto ainda trabalhava.

Eu só esperava que o motivo não ficasse tão claro quando Bella aparecesse.

Se Bella aparecesse.

Sacudi a cabeça e peguei meu almoço. Não seria o fim do mundo se ela não viesse, ponderei. Sim, eu tinha passado um bom tempo pesquisando para esse pequeno projeto de vingança, tinha chegado mais cedo para preparar o buquê, estava pensando no sorriso que ela daria ao ouvir o significado das flores de hoje…

Fechei os olhos. 

Eu pelo menos podia admitir para mim mesmo que eu estava mais ansioso para ver a garota de novo do que qualquer outra coisa.

O que, provavelmente, não era um bom sinal para mim.

Então fiquei sentado ali, olhando ansiosamente para a porta todas as vezes que ouvia alguém entrando na loja – tudo bem, não foram muitas até o horário do almoço acabar, mas o suficiente para eu me sentir levemente patético.

Tanya e Carmen já tinham voltado há algum tempo quando a porta abriu mais uma vez, e olhei para cima mais rápido do que eu deveria pela milésima vez naquele dia.

Dessa vez, era Bella.

Rapidamente abaixei o olhar, aproveitando que ela não tinha me visto olhando para ela, e fiquei esperando.

—Posso ajudar? – Ouvi Tanya oferecendo – Oh, você é Isabella Swan, certo?

—Só Bella – Foi a resposta.

—Desculpe. Seu pai fala bastante de você. Procura algo em específico?

—Hum… Edward Cullen está aqui? – Bella perguntou com incerteza. Eu só conseguia imaginar a cara de Tanya ao ouvir esse pedido.

—No balcão… – Ela replicou – Edward – Tanya chamou mais alto, e eu levantei a cabeça para ver Bella sorrindo em minha direção. Sorri de volta e ergui uma mão em cumprimento. Bella assentiu em agradecimento a Tanya e parou de andar na frente do balcão, com os braços cruzados e um tímido sorriso.

—Hey, Bella – Cumprimentei, contendo minha animação.

Ela viera, afinal de contas.

—É uma loja bem impressionante – Ela comentou olhando ao redor.

—É a paixão de minha mãe – Contei – Acho que ela gosta mais da loja do que de mim.

Bella riu, e senti meu coração acelerando por saber eu fui o causador dessa reação.

—Pode culpá-la? Esse lugar é incrível! – Bella continuou.

—Edward, se precisar de ajuda com a seleção das flores é só me chamar – Tanya informou com um sorriso… duro? Não consegui distinguir perfeitamente na hora.

—Ah, obrigado. Bella, essa é Tanya. Ela e Carmen sabem todas as flores possíveis daqui – Apresentei – São verdadeiras especialistas. Mas Bella já veio sabendo o que queria, Tanya. 

Não sei qual das duas ergueu mais as sobrancelhas – no fim, Tanya sorriu novamente e foi para o fundo da loja, falar com a irmã.

—Eu sei o que quero? – Bella perguntou com um meio sorriso. Dei de ombros e lhe entreguei um cartão – Ah, ótimo. 

Observei como ela tomava cuidado para fazer um “E” bem compreensível, e até sofisticado. Percebi que ela franzia o cenho quando se concentrava.

—Ok, qual a flor de hoje? – Ela me perguntou, colocando o bilhete dentro do envelope. Sorri e saí de trás do balcão, indicando um lado da loja com a cabeça. Bella me seguiu até o buquê que eu havia separado naquela manhã.

—Aqui são narcisos – Falei, prendendo o envelope no invólucro de plástico – São flores que significam egoísmo, vaidade e mentira.

Os olhos de Bella brilharam.

—Perfeito. 

Meu sorriso de resposta saiu mais rapidamente do que eu esperava, e Bella tentou controlar o dela mordendo o lábio inferior.

—Ele tentou falar com você depois da primeira entrega? – Perguntei, a curiosidade tomando o melhor de mim enquanto íamos para a frente da loja para dar o buquê com o endereço para Lee.

—Tentou, mas eu não atendi o celular. Então ele resolveu recorrer ao golpe mais baixo que podia – Ela contou dramaticamente, ao voltarmos para a loja.

—Qual? – Eu estava realmente intrigado. Bella soltou um pesado suspiro e revirou os olhos, cruzando os braços.

—Pediu para o pai dele entregar um bilhete para Charlie, meu pai. Nossos pais são velhos amigos, e o motivo de sermos amigos em primeiro lugar – Bella explicou – O problema é que Charlie é pouco… enxerido na minha amizade com Jacob, e fica reclamando pra eu perdoar o idiota logo.

—Seu pai sabe o que aconteceu? – Perguntei, me apoiando no balcão de novo e erguendo as sobrancelhas – Quero dizer, ele é policial, certo? O que aconteceu não foi exatamente… algo a ser encorajado.

—Não, eu não contei o que houve – Ela revelou – Com Charlie menos é sempre mais, então eu evito contar detalhes da minha vida. Principalmente dessa parte – Bella acrescentou, e consegui perceber seu rosto corando – É só que Jacob vai pra mesma faculdade que eu estudo. Ele ganhou uma bolsa esportiva esse ano, e Charlie e Billy estão contando que eu vá mostrar os caminhos das pedras. 

O sino da loja tocou, indicando que mais um cliente chegava. Vi Tanya sair do fundo e ir em direção à nova pessoa rapidamente, mas antes lançando um olhar para onde eu e Bella estávamos conversando, para minha surpresa inclinados um para o outro.

—Er, vou deixar você trabalhando então – Ela disse, do mesmo jeito que falara no telefone. Ela não parecia muito feliz em ir embora de fato ou era minha imaginação esperançosa pregando truques em meu consciente?

—Certo. Amanhã você estará aqui? – Ela perguntou.

—Sim, estarei.

—É uma sexta-feira, você… hum, sai mais cedo ou esse horário está bom? – Ela perguntou, mordendo o lábio mais uma vez.

—Esse horário está bom – Confirmei – Não é como se eu conhecesse muita gente por aqui – Acrescentei com um meio sorriso. 

—Então até amanhã, Edward!

—Até, Bella.

Tanya encaminhou o cliente com um buquê pré-pronto para o balcão assim que Bella saiu da loja. Sorri e fiz a transação, enquanto Tanya fingia mexer em algum arranjo. Digo fingia porque dava para ver que ela claramente não estava interessada nem um pouco nas flores.

—Amiga sua? – Ela perguntou assim que o cliente saiu. Segurei um suspiro.

—Ela está fazendo um combo de pedidos – Expliquei – Como me explicou tudo no primeiro pedido, resolvi manter o atendimento.

—Oh. E ela tem tanta certeza assim das flores que quer pra não precisar de ajuda?

—É. É algo bem específico – Dei de ombros – Mas obrigado de qualquer jeito.

Tanya não parecia especialmente feliz com a resposta, mas eu não me importei muito. Usei o resto do tempo na loja fazendo uma pesquisa online sobre outras flores, para ter certeza das minhas escolhas.

Rose e Emmett estavam fazendo lasanha quando cheguei em casa, então fui tomar banho diretamente. Quando desci, os dois já estavam sentados juntamente com Alice. A baixinha ficou me olhando por um bom tempo durante o jantar.

Quando Rose e Emmett saíram, deixando os pratos com nós dois, Alice virou a cabeça pro lado.

—O que aconteceu na loja? – Ela perguntou. Ergui as sobrancelhas.

—Uh… nada demais? Vendemos algumas flores.

—Você parece… animado.

Suspirei. De novo essa história de animado?

—Não aconteceu nada, Allie. E você? Fez o quê hoje?

Ela semicerrou os olhos, me dizendo claramente que aquela conversa não estava encerrada, apenas suspensa no momento enquanto íamos lavar a louça, e ela me dizia sobre os problemas do dormitório da faculdade que ela iria.

Quando cheguei na loja no dia seguinte, tomei cuidado extra para não parecer muito “animado” de novo, mas acho que exagerei – tanto Tanya quanto Carmen não tentaram conversar muito comigo. 

Dessa vez não almocei no balcão, já que eu sabia que Bella chegaria por volta das quatro da tarde. O desafio na verdade era não ficar olhando para o relógio no canto da tela do computador de cinco em cinco minutos. Por ser sexta-feira, foi um pouco mais movimentado, visto que muitas pessoas compravam flores para levar para seus encontros durante o final de semana, e isso foi bom para me distrair.

Quando o relógio mostrou que eram finalmente quatro da tarde, minha perna começou a balançar. Eu nunca fui tão impaciente assim, e tinha até receio de parar e refletir porque tamanha inquietude enquanto esperava Bella chegar.

Não que precisasse refletir muito; o sorriso que tomou meu rosto quando ela entrou na loja era um indicativo claro sobre o motivo – e isso era levemente assustador.

—Edward, o que temos hoje? – Ela cumprimentou com um sorriso ao chegar no balcão.

—Oi, Bella – Repliquei, saindo do meu local habitual depois de entregar um cartão e ela escrever “F” – As flores de hoje são gerânios, e elas significam estupidez.

Ela franziu o cenho, enquanto olhava para o buquê.

—Muito forte? – Perguntei. Ela negou com a cabeça.

—Não, não mesmo é só que… são flores tão bonitas…!

Soltei um riso enquanto prendia o cartão ao plástico que segurava a encomenda e comecei a andar com ela para a porta da loja, onde Lee estava esperando.

—O que mostra que beleza não é tudo – Comentei, brincando. Bella, contudo, mordeu o lábio.

—Bem, isso eu já sabia – Ela confessou – Jacob não é exatamente… feio, digamos assim.

Assenti com um pequeno sorriso.

—Eu lembro de sua amiga comentando – Falei. Bella revirou os olhos.

—Jessica se impressiona demais com beleza e esse tipo de coisa – Ela falou – Não que eu não aprecie – Bella continuou, e percebi seu rosto corando absurdamente – mas não é a única coisa que importa. Ou a que mais importa. Uh, você entendeu.

Soltei uma risada e assenti.

—Entendi, claro. E concordo com você – Falei, dessa vez olhando para ela mais uma vez. Quando ela me encarou de volta, senti meu coração acelerando – Talvez… a beleza chame a atenção de início, mas o que está por dentro é o que faz a relação.

Bella mordeu o lábio inferior e corou ainda mais.

Senti minha mão coçando para tocar seu rosto, mas coloquei as duas nos bolsos – não existia nenhuma desculpa casual para simplesmente acariciar a bochecha dela.

—Bem… – Ela disse, limpando a garganta – Eu tenho que ir… meu pai vai chegar mais cedo hoje e não sabe se alimentar.

—Compreendo o lado dele. Você cozinha?

Bella sorriu.

—Aprendi desde pequena com minha mãe – Ela contou.

—Você morava com sua mãe?

—A maior parte da minha vida, na verdade. Minha mãe não se adaptou à vida de Forks quando eu ainda era um bebê, mas me mudei pra cá no ensino médio quando as coisas ficaram... complicadas com ela e o novo marido dela.

Bella se calou por um instante.

—Isso parece ser uma longa história – Comentei – Amanhã é minha irmã que estará na loja, mas segunda-feira estou de volta – Senti meu coração acelerando de novo – se você vier na hora do almoço, dá tempo de contar tudo.

Bella, ainda corada, exibiu um pequeno sorriso e cruzou os braços, o lábio inferior preso entre os dentes.

—Pode ser… contanto que você me conte um pouco mais sobre seu castigo aqui no verão.

Senti meu sorriso crescendo aos poucos.

—Temos um acordo, Bella.

—Até segunda-feira, Edward.

Ao invés de ficar em casa o tempo todo no final de semana, resolvi aceitar o convite de Alice e Jasper de ir para Port Angeles ver um filme e jantar alguma coisa. Rose e Emmett ficariam em casa – ela tinha que fazer uma live ou algo do tipo.

Tinha ficado com receio de bancar a vela no encontro de minha irmã caçula, mas não chegou nem perto. Sempre tínhamos nos dado super bem, e mesmo a distância não tinha mudado tanto.

Ela continuava irritante, me perguntando o tempo todo sobre a vida na faculdade e garotas e festas e todo o resto que ela pensava que eu não contava por causa de nossos pais.

—Não precisa esconder de mim, Ed – Alice insistia. Soltei uma risada.

—Não estou. Não tem nada pra contar, Allie – Respondi, dando de ombros. Ela parecia incrédula.

—Isso não é do curso – Ela me garantiu – A gente conhece outras pessoas que fazem medicina e não são chatas que nem você.

—A maioria dos meus colegas gosta de festa, sim – Concordei – Mas você sabe que não é a minha praia. Sempre fui mais quieto e na minha.

—Sim, você sempre passou uma vibe meio depressiva.

Revirei os olhos, mas sabia que não adiantava discutir. Primeiro porque era Alice, segundo porque ela tinha um pouco de razão. Eu nunca fui o mais sociável dos irmãos. Ou dos colegas.

—Mas todo mundo sabe que Tanya sempre foi super afim de você – Alice continuou. Dei um peteleco em sua orelha.

—Para de ser enxerida, sua baixinha – Reclamei – Minha vida amorosa não é da sua conta.

—É sim! – Ela exclamou – Eu preciso aprovar sua namorada. Eu já te disse, ela vai ser minha melhor amiga.

—Rose não é sua melhor amiga? – Jasper desafiou, sorrindo.

—Claro que sim. Mas vai ser minha outra melhor amiga. De preferência uma que precise de ajuda pra se vestir? Rose tem um time inteiro só pra isso.

—Claro, Allie. Vou procurar garotas que estejam se vestindo mal – Repliquei ironicamente. Alice apenas abriu um imenso sorriso.

—É só o que peço.

Jasper conseguiu desviar o assunto da conversa para os planos de Alice na faculdade. Eles iriam para a mesma universidade, e aparentemente tinham conseguido dormitórios próximos – o que era realmente bom para eles. 

No final das contas, foi um ótimo jeito de passar o sábado. Impediu que eu ficasse pensando loucamente no almoço de segunda-feira – pelo menos enquanto estávamos lá.

Domingo foi mais um dia de leitura. Eu estava cada vez mais interessado nos múltiplos significados que as flores podia ter, e me vi anotando mais do que eu esperava.

Eu gostaria de dizer que não levei mais tempo escolhendo a roupa na manhã de segunda-feira, mas seria mentira. Eu sabia que não deveria me importar se a camisa que eu usaria ficaria boa com o avental da loja, ou se o avental iria protegê-la com eficácia.

Não significa dizer que eu não tenha evitado camisas claras por medo da terra me sujar.

Nem que eu tenha caprichado um pouco mais no perfume.

Eu tinha completa consciência que eu estava agindo feito um adolescente idiota, mas não conseguia evitar. Percebi o olhar de Tanya em mim mais de uma vez, como se ela estivesse tentando decifrar alguma coisa.

Quando Bella entrou na loja, Tanya ergueu as sobrancelhas, aparentemente desvendando o mistério. Bella lhe ofereceu um sorriso, e veio caminhando até o balcão, ainda olhando ao redor.

—Edward – Ela disse, já sorrindo.

—Como vai, Bella?

Ela deu de ombros, mas o sorriso já me era suficiente. Entreguei o cartão para que ela escrevesse o “F” e peguei as flores.

—O buquê de hoje é feito de dedaleiras, que significam insinceridade. 

—Hum. Apropriado. 

Antes de andar para fora da loja, tirei meu avental e coloquei no balcão. Tanya estava nos olhando de soslaio, e como Carmen não estava por perto, teria que avisar a ela mesmo.

—Tanya, estou indo almoçar. Volto já.

Ela apenas assentiu, mas sua expressão não era muito amigável.

Se Bella percebeu, ela preferiu não falar. Entreguei as flores a Lee, que saiu imediatamente para a entrega.

—Então… para onde? – Bella perguntou. Levei uma mão aos cabelos.

—Uh… eu não conheço muito a área?

Bella riu.

—Então vamos. Tem um restaurante de comida mexicana muito bom aqui perto – Ela convidou. Eu já teria ido de bom grado, mas ela me puxou pelo braço enquanto andávamos na rua. Era um dia raro em Forks: o sol brilhava e não havia nenhuma nuvem no céu.

—Não gosta de praia? – Perguntei, indicando o tempo.

—Até gosto, mas não quero ir para La Push e correr o risco de me encontrar com Jacob – Ela explicou – E você? Se sentindo privado desse belo dia?

—Nah, nem tanto. Nunca fui muito chegado à areia. 

—Sério? Eu adoro a areia! Um dos problemas das praias daqui: muitas pedras.

—Qual praia você gosta?

—Hum, isso cai um pouco na história um pouco longa de como vir parar em Forks – Ela comentou. Sutilmente, ajeitei meu braço para que capturasse a sua mão na minha.

—Sou todo ouvidos – Falei, enquanto entrávamos no restaurante.

Bella me contou sobre se sentir mal em prender a mãe quando o padrasto viajava, sobre ter decidido vir morar com o pai e, no final das contas, não ter se arrependido de nada. Contou sobre como a mãe e o padrasto agora moravam na Flórida, e como as praias da Flórida eram realmente praias.

Em troca, expliquei como meus pais tinham vindo para cá logo depois de eu ter ido para a faculdade, como surgiu o Jardim da Esme, como eu e meus irmãos acabamos ali no controle da loja.

Acabamos falando também sobre nossas universidades: ela estudava letras na Brown, o que era uma grata surpresa porque era próxima de Harvard, sendo uma das faculdades menos conhecidas da Ivy League.

Não que isso significasse alguma coisa, claro.

—Consegui metade de uma bolsa por desempenho escolar – Ela confidenciou. Eu sabia que a Brown não era o mesmo preço de Harvard, mas ainda assim era uma faculdade cara – Tenho dívidas ainda, porque não deixei Charlie e Renée gastarem todo o dinheiro deles, mas ficou mais tranquilo.

Falamos sobre Forks, falamos sobre a diferença de clima de onde íamos para faculdade, falamos mais de nossas famílias – ela ficou surpresa quando contei que Rosalie era minha cunhada.

—Eu adoro a forma como ela não hesita em falar sobre causas importantes.

Falamos tanto que acabei perdendo o horário, e quando percebi, já estava vinte minutos atrasado. Bella pediu desculpas imediatamente, mas eu sorri, impedindo que ela continuasse.

—A única culpa que você teve foi de ser extremamente agradável, Bella – Repliquei. Ela corou levemente enquanto saíamos do restaurante.

—Sabe o que isso significa?

—O quê?

—Que terei que voltar para continuarmos nossa conversa.

Deixei o sorriso tomar meu rosto, e informei que quarta-feira eu estaria trabalhando lá de novo. Ela disse que estaria na loja na mesma hora para almoçarmos, e seguiu para seu carro.



***

 

Terça-feira foi mais um dia de leitura. Me debrucei em alguns artigos para o grupo de pesquisa, antes de voltar para o livro de floricultura de minha mãe.

Alice chegou sem Jasper para o jantar. Ela estava com a cara de quem tinha ouvido alguma coisa e estava se segurando para não contar. Não me preocupei; se Alice quisesse compartilhar qualquer coisa, ela não teria problema em fazer isso em seu próprio tempo.

E eu não estava errado. Eu estava assistindo televisão no meu quarto quando ela bateu na porta.

—Pode entrar – Convidei. Ela sorriu e se jogou na minha cama ao meu lado, se enfiando debaixo das cobertas – Com saudades, baixinha?

Ela de deu de ombros e recostou a cabeça em meu braço.

—Tive um dia muito interessante hoje – Alice contou, e eu me ajeitei para que ela deitasse no meu braço que lhe abraçava.

—Foi? Conte mais.

—Foi bem calmo na loja na verdade – Ela continuou – Deu tempo de, sabe, conversar com Tanya e Carmen…

—Huh.

—Tanya me contou uma história bem interessante.

—Foi mesmo?

—Ela me perguntou desde quando você e Isabella Swan eram tão bons amigos.

—Bella – Corrigi automaticamente, fazendo Alice sorrir.

—Bella. Eu respondi que honestamente não sabia, e Tanya pareceu decepcionada. Acho que ela queria que eu dissesse que vocês eram só amigos antigos ou algo do tipo.

Minha única reação foi um suspiro, e isso foi o suficiente para ela soltar uma risadinha.

—Olha para você, Eddie. Não queria se envolver com nenhuma garota pra não atrapalhar a faculdade e agora está se enrolando com duas!

Cutuquei Alice até ela estar do outro lado da cama, tentando se esquivar de minhas mãos.

—Eu não estou me enrolando com ninguém, Allie. Tanya… você sabe como ela sempre foi, certo?

—Sim. E Bella?

Suspirei, enquanto ela voltava a se aconchegar em mim.

—Ela é muito legal. Estou ajudando num plano de vingança – Expliquei.

—Segundo Tanya, vocês foram almoçar juntos ontem, Ed.

Não respondi, encarando o teto.

—Você sabe que é possível… sei lá, sair com garotas e tal.

—Eu sei disso. Eu já fiz isso.

Foi a vez de Alice suspirar.

—Edward, você pode entrar em um relacionamento sem atrapalhar seu desempenho na faculdade. 

—Nossa mãe…

—Não use o que aconteceu com ela como desculpa, Ed – Alice me repreendeu – Até porque você nem sabe o que realmente ocorreu.

Sacudi a cabeça.

—Além do mais – A baixinha continuou – você pode simplesmente ter um romance de verão. Faz bem.

—Como você sabe que faz bem, Alice? Jasper não parece ser um romance de verão.

—E não é. Ainda assim… você merece relaxar.

Alice depositou um beijo em meu ombro e saiu do quarto, me deixando sozinho para refletir sobre o que ela falara. Certamente um romance de verão seria interessante – mas eu não conseguia imaginar esse tipo de envolvimento com Bella.

Fiquei levemente receoso de Tanya tentar pescar alguma informação comigo do mesmo jeito que fizera com Alice, mas ela se limitou a desejar bom dia e me ignorar o resto da manhã. Não que eu tivesse nada contra Tanya, mas eu fiquei aliviado.

Ela nem se preocupou em lançar um olhar de desconfiança quando Bella escreveu um “O” bem redondo no cartão que eu prendi ao buquê do dia.

—Ulmárias – Contei.

—Parece… dente de leão? – Bella perguntou, incerta. Soltei um riso.

—Parece. No caso, ulmária significa inutilidade. 

Bella gargalhou.

—Perfeito. Isso vai irritá-lo tão profundamente – Bella disse, mas franziu o cenho – Ou irritaria, se ele soubesse o significado.

Entregamos o buquê para Lee e seguimos para o carro de Bella. Não me importei para onde ela estava me levando.

—Planeja contar para ele? – Perguntei quando ela saiu da vaga.

—Sim! Qual seria a graça de fazer tudo isso sem que ele entendesse completamente?!

Rimos juntos disso, e depois rimos da escolha do restaurante italiano – tinha alguma relação com o nome dela?

A realidade é que quase sempre nós estávamos rindo. E mesmo quando não estávamos, a sensação era de mesma felicidade. Era fácil, confortável, estar com Bella. Dessa vez não me atrasei para voltar para o Jardim, mas ficamos menos tempo juntos.

Então Bella decidiu que no dia seguinte, ela levaria o almoço e comeríamos juntos em seu carro, para garantir que eu não me atrasaria. Ela ficou tão feliz com o significado dos cravos amarelos (decepção) que levou quase cinco minutos para terminar de rir e escrever o D. Nesse dia ficou provado quão bem Bella cozinhava.

Como ela providenciara a comida nesse dia, eu insisti para pagar o almoço na sexta-feira. Enquanto ela escrevia o “A” e expressava sua tristeza em saber que lírios laranjas, flores tão bonitas, significavam “eu te odeio”. Ela realmente parecia decepcionada, e eu não conseguia não achar o fato adorável.

Tentei ignorar o fato de que aquele era nosso penúltimo almoço juntos, e mais ainda ignorar a fisgada no meu peito ao pensar que nosso tempo estava encerrando. Bella também parecia perceber o mesmo, mas tampouco falou sobre.

Eu sabia que o próximo buquê teria que ser especial, mas não tive muito problema para escolher durante o final de semana – meu problema seria achar a flor. Eu sabia que essa não teria na floricultura, então teria que procurar em outro lugar, e me vi agradecendo fortemente pela localização da casa que meus pais haviam escolhido.

Esperei Alice sair com Jasper – Rose e Emmett estavam no Jardim da Esme tirando as fotos que ela tanto queria – e fui para o fundo da casa.

Eu gostaria de dizer não passei muito tempo procurando as flores, nem que deu muito trabalho, mas quando eu finalmente consegui voltar para casa já tinham se passado algumas horas e minhas roupas tiveram de ir diretamente para a máquina.

Pelo menos eu ainda estava sozinho em casa.

Mas uma vez saí mais cedo de casa – agora pra esconder que eu estava levando flores para o Jardim da Esme. Aproveitei o tempo livre para mandar uma mensagem para Bella, falando para ela vir mais tarde ao invés de no almoço. Quando Tanya e Carmen chegaram eu já estava atrás do balcão, computador ligado e pronto para começar o dia.

—Ansioso para a chegada de seus pais amanhã? – Carmen perguntou.

—Ah, definitivamente – Concordei com um sorriso – Minha mãe está louca achando que nós destruímos a loja dela. Acho que ela sente mais falta daqui do que da gente – Brinquei. Carmen sorriu de volta.

—Duvido. Você não sabe o quanto Esme fala de vocês todos. Ela estava de coração partido com Alice saindo de casa.

Isso realmente parecia com minha mãe. Tanya sorriu e acenou levemente, e devolvi o gesto. A manhã se passou tranquila, e até ajudei a organizar algumas amostras. Tanya estava me falando sobre algumas das mudanças no sistema de organização que minha mãe tinha feito.

—Não vai comer com Bella hoje? – Tanya me perguntou quando chegou a hora do almoço. Sacudi a cabeça em negação.

—Hoje não.

—Então… quer companhia?

Sorri levemente, e aceitei. Não faria mal, certo?

Bem, realmente conversamos normalmente, e ela só deixou seu interesse claro umas três vezes, mas nada desconfortável. O humor dela estava levemente melhor, e perto do final do turno ela me convidou para jantar.

Delicadamente, lhe respondi que não tinha interesse. 

Faltavam 15 minutos para a loja fechar quando Bella chegou. Tanya ergueu as sobrancelhas, como se questionando o interesse que eu tinha mencionado no almoço, mas não falou nada. Peguei o buquê debaixo do balcão e me encontrei com Bella do lado de fora.

—Já escrevi o bilhete – Ela me contou – Sem identificação? – Bella perguntou quando viu que o plástico que envolvia as flores estavam sem o logo da loja.

—Digamos que essa flor não é… o melhor exemplo de uma loja a ser vendido.

Bella ergueu uma sobrancelha e eu sorri levemente culpado.

—Oleandro é uma flor usada na Itália para enfeitar os corpos dos recém falecidos – Expliquei.

—Que pode ser uma analogia para minha amizade com Jacob – Ela acrescentou sorrindo.

—E também é extremamente perigosa. Uma folha ingerida é suficiente para matar um homem de 70 quilos. Talvez seja bom acrescentar isso no bilhete. Desencargo de consciência e tudo.

Ela assentiu com a cabeça e fez um pequeno post scriptum no bilhete. Falei para Lee tomar cuidado com a encomenda e não mencionar o nome da floricultura.

—O cara já está acostumado – Ele contou para nós dois, dando de ombros – Fica feliz ao receber as flores.

—Bem – Eu disse enquanto observávamos Lee sair – Parece que você estava certa quanto a ter que explicar o significado de cada flor.

Bella soltou uma gargalhada.

—Não seria a primeira vez – Ela replicou – Vamos entrar, Edward? Preciso pagar por essa vingança, huh?

—Hum, eu nem tinha pensado nisso – Confessei, enquanto entrávamos na loja.

—Que tipo de herdeiro de loja não pensa em lucro? – Bella desafiou. Foi a minha vez de rir.

—Eu honestamente nem sei como cobrar – Contei, enquanto íamos para o balcão – Algumas das coisas que mandamos nem tem aqui na loja para vender. Eu achei lá perto de casa.

—Cobre então pelas coisas que tem na loja – Ela me disse, cruzando os braços – Você deveria ter pensado nisso antes, sabe, Edward?

Dei de ombros, mostrando a minha preocupação com o assunto.

Bella pegou a carteira e depositou algumas notas no balcão.

—Se você não me diz o valor, vou ter que adivinhar. E se for a menos, a culpa será toda sua.

—Eu posso viver com isso.

—Edward – Carmen chamou – Precisa de ajuda? Já já eu vou fechar.

—Pode deixar que eu fecho, Carmen. Último dia e tal.

Carmen sorriu e se despediu, puxando Tanya com ela. Bella se virou para mim com um sorriso.

—O Jardim da Esme cresceu em você, então?

Dei de ombros mais uma vez.

—Podemos dizer que sim – Nos encaramos por alguns segundos – Então… tem um tempo livre?

Bella mordeu o lábio inferior.

—Tem algo planejado?

—Bem – Falei, saindo de trás do balcão com uma pequena cesta e indicando para Bella passar na frente – Você ficou curiosa com a floricultura, então decidi lhe mostrar nossos fundos, onde tem muitas das flores que vão para a frente.

Quando Bella entrou no jardim de cultivo, ela arfou. Todo mundo que via o local pela primeira vez reagia desse jeito: era uma área imensa, com diversas flores. Ela se virou e sorriu para mim. Indiquei o caminho para ela, até estarmos no meio de algumas flores, quase como se estivéssemos ao ar livre. Depositei a cesta e me sentei, e logo Bella me seguiu. Ela olhou ao redor mais algumas vezes e não segurei uma risada.

—Desculpe – Ela disse, corando imediatamente – É só… isso aqui é impressionante, Edward.

—Que bom que gostou.

Ficamos em silêncio por alguns momentos, observando o ambiente e comendo alguma fruta da cesta.

—Último dia, então? – Ela perguntou. Assenti.

—Meus pais chegam amanhã. Alice vai ficar aqui e eu vou pegá-los.

—E depois você vai voltar para Harvard, presumo?

Nos olhamos mais uma vez, mas não consegui perceber se ela tinha mais alguma coisa por trás.

—Vou passar mais um tempo aqui, mas não sei quanto – Respondi.

—Hum – Ela disse, corando – Então não tem ninguém lhe esperando do outro lado do país?

—Não – Respondi de imediato – Er, não tenho namorada nem nada assim.

Ela virou o rosto, e me vi admitindo para ela tudo que me segurava nesse departamento. Ela ouviu sem expressar mais do que um cenho franzido, e senti meu rosto corando.

—Eu… é idiota, e babaca, eu sei. Mas…

—Não é babaca, em minha opinião – Ela replicou – É solitário, eu acho. Talvez você esteja projetando experiências externas em sua vida sem considerar se o rumo seria o mesmo.

Depois de uma pausa mais longa, continuamos a conversar, agora sobre assuntos mais superficiais, e antes que pudesse perceber, o sol tinha se posto e Bella dizia que precisava voltar. Peguei a cesta e a segui, fechando a porta atrás de mim.

Quando chegamos no carro dela, Bella se virou para mim.

—Bem… muito obrigada por sua ajuda, Edward – Ela agradeceu, sorrindo – Eu nunca me diverti tanto com uma vingança, pra ser honesta.

—E eu me diverti muito mais do que imaginava nesse período. Você me ensinou a gostar da paixão de minha mãe, Bella. Eu que agradeço.

Hesitantemente, me aproximei com os braços abertos, e ela sorriu, me abraçando de volta. 

Não soube precisar quanto tempo ficamos envolvidos daquele jeito – as sensações de tê-la tão perto ofuscavam toda a realidade: o cheiro que emanava de seu cabelo, a forma que ela encaixava perfeitamente em meus braços, o calor que seu corpo disseminava era suficiente para me manter aquecido mesmo na noite fria de Forks…

Eu ainda estava tentando absorver a riqueza de sentimentos quando ela se separou de mim, sorriu e entrou no carro.

Quando as luzes do lanterna desapareceram, a única coisa que senti foi um aperto no peito.

 

***

 

Como esperado, minha mãe chorou quando viu Emmett, Rose e eu no aeroporto esperando por eles. Ela nos deu um abraço extremamente apertado, enquanto nos beijava. Minha mãe sempre fora desse jeito, e provavelmente sempre seria.

Quando chegamos em casa e Alice estava esperando com Jasper e a mesa posta, ela chorou de novo. 

Passamos um bom tempo na mesa depois de comer, ouvindo os dois falarem sobre as paisagens e restaurantes, dizendo que Rose e Emmett deveriam ir lá quando tiverem férias. Eles mostraram várias fotos também, e pareciam estáticos com a viagem.

—Agora me contem o que vocês fizeram com minha floricultura – Minha mãe falou e nós rimos.

Garantimos a ela que não tínhamos destruído o lugar e que ainda estava em perfeitas condições. Alice me olhou de soslaio algumas vezes mas não falou nada.

No dia seguinte, fiquei em casa. E a parte mais estranha era que eu ainda me vi tentado a ler um pouco sobre flores. 

Mas não precisava, então finalmente dediquei mais tempo ao projeto de pesquisa – o que durou até o meio da tarde. Depois disso, fiquei sem muita coisa a fazer, então fiquei no meu quarto assistindo televisão o resto do dia.

E o dia seguinte também.

Na quinta-feira de noite, Alice invadiu meu quarto mais uma vez, se jogando na cama.

—Sabia que existe uma casa inteira além desse quarto? – Ela falou. Revirei os olhos.

—Mas aqui eu posso escolher qual programa eu quero assistir.

—Verdade – Ela concordou – E aqui você também pode fingir que não está se auto-isolando porque queria estar com Bella.

Suspirei.

Eu não queria admitir, mas a baixinha estava certa. Era absurdo o quanto eu sentia falta de Bella, considerando que tínhamos nos conhecido há menos de um mês. Não fazia o menor sentido o desejo de voltar na loja e pegar o número dela. Ou ir na casa dela, porque eu sabia onde era.

—Eu não estou me auto-isolando – Rebati, mas não tive como negar a segunda parte.

—Edward… eu entendo que você não pode ter um caso de verão com Bella – Alice disse depois de alguns segundos em silêncio – Você não ia conseguir… terminar tudo caso se aproximasse mais.

Fiquei calado mais uma vez, olhando para a televisão

—E isso significa que você não deveria terminar tudo. 

—Alice…

—Eu sei que ela estuda na Brown, Edward. Isso é a… duas horas de Harvard?

—Uma hora.

Ela colocou seu rosto sorridente na minha frente.

—Você pesquisou!

—Não.

Sim, pesquisei.

Alice soltou uma risada.

—O que está te segurando, cabeçudo?

—Você sabe muito bem o que é.

Alice suspirou e sacudiu a cabeça.

—Você está sendo um baita idiota. Mas você vai ver a razão, ou não me chamo Alice Cullen.

Alice saiu do quarto decidida, e pensei que ela fosse pensar em mais argumentos.

Mas eu subestimei minha irmãzinha.

Quase duas horas depois a porta do quarto se abriu de novo e eu suspirei.

—Esquece, Alice. Não tô afim agora. – Falei, sem deixar de olhar pra televisão.

—Ainda bem que não sou Alice, então.

Virei para ver minha mãe entrando no quarto, pegando o controle da minha mão para dar pausa no seriado, e sentando na beira da cama, ao meu lado.

—Mãe?

—Acabei de ter uma conversa muito interessante com sua irmã – Ela disse, e não segurei a revirada de olhos.

—De onde ela puxou esse lado fofoqueiro, ein?!

—Edward, sua irmã só está preocupada com você, e achou que eu pudesse ajudar.

—Ela é enxerida, isso assim. Como uma pessoa tão pequena consegue ser tão irritante?!

—Edward.

Olhei para minha mãe, para seu rosto em coração que dizia claramente que eu não ia me safar dessa conversa, e suspirei.

—Alice me disse que você está sendo idiota e burro, e que tem alguma coisa a ver com uma garota?

Apenas dei de ombros.

—Ela disse que você gostava da garota, mas que tinha medo de ter algo sério… por causa da faculdade?

Suspirei.

—Mãe, por que você saiu da faculdade?

Ela deu um sorriso de imediato, mas depois franziu o cenho.

—Edward, você acha que eu só saí da faculdade por causa de Emmett e de seu pai?

—Não foi por isso?

Ela riu.

—Edward, eu entrei na faculdade de medicina porque eu só sabia que queria cuidar de pessoas. Quando eu engravidei de seu irmão, eu tive de me afastar, e minha intenção era voltar. Mas quando seu irmão nasceu, eu percebi que era isso que me fazia feliz. 

Foi minha vez de franzir o cenho, e ela riu de novo.

—Eu gosto de cuidar, Edward, e eu queria cuidar da minha família. Eu não era exatamente feliz na faculdade, e quando eu segurei seu irmão em meus braços, aquele embrulho que estava vermelho de tanto chorar, foi o melhor momento da minha vida. Quando falei com seu pai sobre o assunto… ele disse que não queria que eu largasse tudo porque tivemos um filho. Ele se ofereceu para sair da faculdade e ficar com Emmett, enquanto eu me formava. Mas eu escolhi sair e escolheria de novo.

Ela sorriu e passou a mão no meu rosto.

—Eu não sabia que você achava que eu tinha saído porque tinha me apaixonado por seu pai, Edward. Me apaixonar por seu pai foi a melhor coisa que me aconteceu, porque me deu minha família. E eu acho que ele também diria isso, mesmo que tivesse sido ele a não concluir a faculdade. Você não teria nenhum problema em se apaixonar ou ter um relacionamento, meu filho, mesmo que tivesse sido isso a me afastar do mundo acadêmico.

Abri a boca para falar, tentar responder alguma coisa, mas não consegui e minha mãe riu de novo.

—Agora você vai me contar um pouco sobre essa Bella?

Finalmente sorri, e ela se animou.

—Eu não… ela recebeu flores de um amigo lá para a floricultura, e eu fui entregar. E ela fez um comentário, brincando, sobre flores… agressivas, para mandar de volta. Eles tinham brigado. Só por curiosidade, peguei aquele seu livro e… bem, descobri como podia ajudar. No final, acabamos conversando e… 

—E você se apaixonou por ela?

—Eu… eu não sei exatamente, mas… eu nunca me senti assim, mãe. Eu… eu quero estar com ela, sabe? Mas eu não sei como… eu meio que falei pra ela que eu não tinha namoradas e o motivo… 

Minha mãe sorriu.

—Não está claro? Tudo isso começou com flores, então deve terminar com flores.

 

***

 

Era uma sexta-feira de tarde e eu estava nervoso. Dessa vez eu sabia o motivo de não me sentir completamente à vontade.

Eu conseguia admitir que eu estava nervoso porque eu estava indo falar com Bella.

Falar que eu estava incondicionalmente e irrevocavelmente apaixonado por ela.

E eu, bem, precisava que funcionasse.

Minha mãe parecia extremamente feliz quando cheguei no Jardim da Esme e disse que eu sabia exatamente as flores que eu queria.

—Você fez sua pesquisa, Edward – Ela exclamou com um sorriso. Tentei ignorar Tanya lançando olhares, e foi mais fácil do que imaginei. Eu estava ali por um motivo específico.

Suspirei uma última vez e bati na porta. Bella demorou alguns segundos, mas eventualmente abriu a porta. Quando ela viu o buquê nas minhas mãos, ela revirou os olhos e sorriu levemente, cruzando os braços.

—Mais uma vez? Será que o bilhete não foi suficiente?

Soltei uma risada nervosa.

—De novo, não foi de Jacob.

—Oh. Então… – Ela começou, depois se interrompeu.

—Bella, eu acho que não preciso dizer que eu não pensava que iria me envolver tanto no Jardim da Esme até você me perguntar se tinha flores ofensivas para mandar. Eu não esperava isso, não esperava que fosse passar horas lendo sobre flores, nem que fosse aprender tanto sobre flora.

Ela ergueu as sobrancelhas, e sorri.

—Para cada flor que eu escolhia para Jacob, eu… eu achava uma que… que era sobre você, Bella.

—Edward…

—Crisântemo branco significa sinceridade, e foi exatamente isso que senti quando você derrubou o buquê e pisou – Comecei, apontando para a flor em questão – Camélias significam beleza perfeita, e quando você falou que beleza não importava eu concordei, mas sabendo que você tinha os dois. Jasmim significa doçura, e eu vi esse seu lado quando você falou de seus pais. Gérbera significa pureza, e eu não tinha tanta certeza disso por causa de sua imensa vingança, mas ainda assim… Orquídea significa desejo, e acho que não preciso falar muito sobre isso. Madressilva são para delicadeza, que eu vejo em você. Mesmo com seus problemas de equilíbrio. E… cravos significam… amor puro e entrega. Que é basicamente o que você me fez sentir nesse período tão curto, mas tão expressivo.

Bella estava me olhando, a boca levemente aberta, aceitando o buquê. Eu sorri e segurei seu rosto com uma mão.

—Edward… eu pensei que você não quisesse se distrair na faculdade…

—Eu iria me distrair de qualquer jeito, Bella – Admiti rindo – Eu não sei o que você fez comigo, mas… – Sacudi a cabeça – Se você… quiser… eu acho que… eu tenho certeza que… 

Bella deixou o buquê cair no chão.

Por um segundo, pensei que ela teria a mesma reação comigo que teve com Jacob.

Mas no momento seguinte Bella estava na ponta dos pés, me puxando para baixo com as duas mãos e me beijando. Minha outra mão foi imediatamente para sua cintura, e automaticamente aproximei seu corpo do meu.

Só percebi que tínhamos entrado na pequena casa quando Bella fechou a porta e eu a empurrei contra a madeira. Ela se separou com um sorriso.

—Seu buquê foi muito bonito, Edward. Vamos começar com as orquídeas, então?

E dessa vez, ser um bom filho valeu à pena.


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