Tudo Deu Em Nada escrita por Sáskya


Capítulo 1
Tudo Deu Em Nada


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!

Faz mais de um ano que eu não posto nada, mas estou retornando aos poucos e por que não começar o processo com uma one-shot? Ela faz parte do projeto #POSO (como tá no disclaimer) e foi bem divertido (e um tanto desafiador) escrever isso tudinho de palavras no ponto de vista do Edward! E falando em Edward... Hoje é o aniversário do nosso vampiro favorito, 119 anos ♥.

Prontxs para conhecerem esse Edward emocionado? Boa leitura!



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Edward Cullen

Novembro de 2019

A chuva, típica essa época do ano em São Francisco, caia em gotas grossas pela janela do apartamento em que eu morava, aprofundando o estado de melancolia no qual eu me encontrava.

Soltei um suspiro, questionando-me onde ela estaria. Olhei o horário no relógio pendurado na parede, em formato de gato, assim como ela gostava. Passava-se das dez da noite. Suspirei novamente, percebendo que o rádio tocava baixo uma estação das baladas românticas dos anos 80. Foreigner falava constantemente que queria saber o que era o amor, uma pergunta que eu me fiz por um tempo, até achar ela.

Julho de 2017 — Board Walk, Santa Cruz

A contragosto, eu pagava minha entrada no parque antigo da cidade. Parques de diversão para mim gritavam ‘’perigo’’ em tudo, mas minha irmã simplesmente adorava. E, aparentemente, o novo namorado dela também, já que o cara encarava tudo com os olhos brilhando, parecendo uma criança halterofilista de dois metros de altura.

─ Vamos lá, Ed. Não faça essa cara de quem comeu e não gostou. É uma das melhores coisas que pode vir a cidade! – Exclamou Rosalie, rodopiando no lugar.

Fitei a adolescente de dezessete anos com uma sobrancelha arqueada.

─ É só um bando de brinquedo de procedência duvidosa, Rose. Não sei por que insistiu que eu viesse.

─ Primeiro – Levantou um dedo. ─ Porque eu te amo. E segundo – Levantou outro dedo. ─ Porque papai e mamãe ficariam mais tranquilos com você aqui, já que eles não conhecem Emmett muito bem e... Bom, o resto você sabe.

Cerrei os punhos, sabendo muito bem do que a minha irmã falava: do ex-namorado babaca, Royce, que tentou abusá-la. Se eu não tivesse chegado a tempo... Balancei a cabeça. Me dava repulsa só de lembrar do maldito filho da puta!

─ Baby, baby! Tem algodão doce! Precisamos comer. – Guinchou Emmett, puxando minha irmã pela mão.

─ Não quero vomitar ao irmos na roda-gigante, Emm.

─ Você não vai, baby. Um algodão doce não mata ninguém. ─ Fez um olhar pidão para minha irmã. ─ Não é, Edboy? – sorriu para mim.

O cara namorava minha irmã há um mês e já achava que tinha intimidade comigo... Tentei não fazer careta, pois eu vi o sorriso no rosto da minha irmã, o que demonstrava claramente que ela gostava do rapaz. Rose não era uma garota de sorrisos.

─ Se ela vomitar, quem vai receber é você mesmo, McCarty. – Pisquei um olho.

Ele fez uma careta, mas logo o sorriso de covinhas estava de volta em seu rosto. Diferente da minha irmã, Emmett era um rapaz de sorrisos – até demais, diga-se de passagem.

─ Bem, correrei o risco. – Sentenciou. ─ Você vem?

Olhei para minha irmã, que pedia silenciosamente para deixá-los um pouco a sós. Eu sorri de lado. Quem disse que vida de irmão mais velho era fácil?

─ Vão indo na frente. Eu já alcanço vocês.

Eles assentiram e, de mãos dadas, caminharam até a barraquinha de algodão doce, que não ficava muito distante de onde estávamos.

Sozinho, olhei ao redor, procurando algo para me distrair enquanto eu gastava meu tempo no parque. Eu poderia estar em casa terminando meus trabalhos finais da faculdade? Poderia, mas o que a gente não faz pelas caçulinhas?

Achei um banco de madeira vazio perto de uma lixeira e me dirigi até lá, sentando-me como o perfeito idoso de 21 anos que eu era. O local direcionou o meu olhar diretamente para a barraca de tiro ao alvo, que eu não tinha notado antes. Percebi que tinha dois garotos, que pela altura deveriam ter cerca de treze anos, tentando a sorte, e... Uma longa cabeleira castanha. Era de uma mulher, mas eu não poderia chutar a sua idade, pois tudo que via era os cabelos castanhos, a saia jeans cintura alta que ela usava, uma blusa sem mangas e botas de combate nos pés.

O que mais me atraiu a atenção para lá é que a mulher era realmente boa de pontaria. Dos cinco tiros que ela deu, errou apenas um. Antes que eu pudesse me dá conta, meu corpo tomou a decisão própria de se levantar do banco, intrigado com a boa pontaria.

Parei próximo a barraca, observando-a recarregar a arma com mais munição, enquanto a mulher que organizava a brincadeira colocava os prêmios que ela tinha ganhado ao lado dela, que se resumiam a doces. A dona da barraca não tinha um rosto muito feliz. Acho que ela não gostava das pessoas de boa pontaria.

A mulher de cabelos castanhos disparou mais cinco vezes e, incrivelmente, acertando as cinco e ganhando um dos ursos que estavam presos. A careta da dona se intensificou.

─ Uau! – Soltei sem conseguir me conter.

Isso atraiu a atenção da mulher da boa pontaria. Os grandes olhos castanhos me fitaram com curiosidade e eu pisquei, deslumbrando com o rosto bonito. Ela tinha o rosto em formato de coração, os lábios avermelhados como cerejas, as bochechas rosadas e um pouco de maquiagem, o que ressaltava ainda mais a beleza natural.

Ela sorriu. Um sorriso de repuxar de lábios, mas ainda era um sorriso.

─ Bem, você deveria me ver com uma arma de verdade. – Deu de ombros, pegando os seus prêmios em cima do balcão.

─ Você é da polícia ou algo assim?

Dessa vez o seu sorriso foi mais amplo, mostrando a fileira de dentes alinhados, os dois da frente um pouco maiores do que o restante.

─ Meu pai é. Aprendi a atirar com ele, de espingarda ainda mais. – Apontou com a cabeça para a arma do jogo, que era uma espingarda. – Não tenho vocação para ser policial. Prefiro ensinar literatura inglesa.

─ É professora então?

─ Estou terminando de me licenciar. Me pergunte em alguns meses. – Piscou, mas logo pareceu ficar tímida, pois desviou o olhar para a barraca. – Quer tentar atirar? Posso te ensinar alguma coisa.

Eu fui, sem pensar duas vezes. E eu nem gostava de armas.

Atualmente

Sorri com a lembrança. Ela tentou me ensinar, mas eu era realmente péssimo. Depois, um ser saltitante, que acabei por descobrir que era sua amiga Alice, chegou perto de nós acompanhada do namorado, Jasper. Eles a chamaram para irem comer e ela se despediu de mim com um aceno e um sorriso. E eu nem tinha pegado o seu número, ou o seu nome...

─ Parece que o destino estava a nosso favor na época. – Pensei em voz alta, olhando para uma foto dela pendurada na parede do nosso apartamento. O dia de sua formatura.

A música no rádio passou para outra balada romântica. Sentindo-me nostálgico demais para o tipo de música, desliguei o aparelho de som, sentando-me no sofá próximo a janela. A chuva tinha se tornado mais intensa, e eu passei a acompanhar com o olhar as gotas que escorriam pela janela. Pelo reflexo, me dei conta do meu velho violão, escorado próximo a porta de entrada.

Há quanto tempo que não tocava mesmo? Minha paixão pela música tinha sido adormecida, desde quando eu vi que eu não teria futuro no meio. Mas, naquela noite, eu não estava pensando em futuro... Estava mergulhado em minha própria dor e, aparentemente, nas minhas próprias lembranças.

Peguei o instrumento musical, carregando-o para o sofá junto comigo. Passei a dedilhar, sem tocar nem uma música de verdade, até que uma letra totalmente nova começou a se formar na minha cabeça, e eu tentei criar uma melodia para ela.

I met you at the carnival (Eu te conheci no parque de diversões)

You were so good at shooting (Você estava tão boa no tiro)

And I was just good at looking... (E eu só estava bom em olhar...)

Look at you (Olhar para você)

Cantarolei, repassando o momento outra vez, chegando ao momento em que nos reencontramos, exatamente duas semanas depois do conhecimento no parque.

Julho de 2017 — Supermercado

Eu poderia ter saído de casa, mas quando você retorna a ela, parece que nada mudou. Mamãe tinha me mandado ao mercado para comprar algumas coisas para o almoço que ela faria hoje. Estava inspirada em fazer algo gostoso e faltavam ingredientes.

Estava passando pelas seções, quando vi uma garotinha de cabelos escuros e ondulados em frente a uma prateleira, tentando alcançar uma caixa de sucrilhos que estava bem mais alta do que ela.

Sorri e me direcionei até a menina, pegando a caixa de sucrilhos e entregando para ela. Ela sorriu e os seus olhos azuis pareciam brilhar.

─ Puxa! Muito obrigada, moço bonito. Parecem que botam os pacotes para que a gente não pegue... E olha que é criança que gosta disso. – Reclamou, parecendo muito fofa com o bico que fez. Lembrava-me Rose quando era criança.

─ Crianças podem fazer uma bagunça, não acha?

Ela empinou o nariz.

─ Não crianças como eu. – Retrucou muito convicta.

Eu apenas sorri.

─ Bree? – Alguém chamou no corredor.

Olhei para trás, me deparando com a mulher que eu pensava que nunca mais veria... Mas lá estava ela, em um vestido de verão, os cabelos adornados por uma faixa preta e os lábios brilhantes de gloss.

─ Eu já estava indo, Bells. – Bells? Aquele era apelido para que? ─ Só tive um probleminha com os sucrilhos, mas o moço bonito me ajudou. – Disse Bree com a voz muito alegre.

Bells cruzou os braços, um sorrisinho de canto nascendo em seus lábios.

─ Parece que nos encontramos de novo, senhor mira ruim.

Não contive a risada que escapou pelos meus lábios.

─ Bem, eu não posso discordar do apelido, senhorita boa de mira.

─ Uau! – Soltei Bree e eu voltei o olhar para a garotinha. Ela sorria travessamente. – Esse é o cara gost.. – E então a menina foi calada pela Bells, que em um átimo estava ao seu lado, colocando a mão sobre sua boca.

─ Acho que você conheceu a senhorita boca solta aqui. – Falou Isabella, lançando um olhar para a irmã. ─ Por que você não vai levar a caixa de sucrilhos para a mamãe, hein? Ela está atrás de você.

Senhorita boa de tiro livrou a boca de Bree, que tinha uma expressão sapeca no rosto. A garota tinha jeito de ser uma pilha.

─ Tá. Vou deixar vocês sozinhos. – Pentelhou, correndo com a caixa de sucrilhos na mão.

─ Desculpe-me pela minha irmã. – Pediu, quando ficamos a sós no corredor. ─ Ela é de uma energia inesgotável.

─ Crianças. – Dei de ombros, não me importando muito. Na verdade, tinha gostado da garotinha.

─ E então? Andou treinando o tiro ao alvo?

Eu sorri de lado.

─ Talvez eu precise de umas aulas. Que tal fazer isso, senhorita professora? – Arqueei uma sobrancelha, flertando descaradamente.

Isabella olhou para o chão por um momento, antes de olhar para mim. Eles estavam com o mesmo brilho brincalhão dos da irmã.

─ Primeiramente o meu aluno tem que ter um nome.

─ Edward Cullen. Prazer. – Disse, estendendo a mão para ela em um cumprimento.

Ela aceitou, apertando sua mão macia contra a minha. Leves choques percorreram desde as pontas dos meus dedos até a minha espinha, fazendo com que eu me aproximasse involuntariamente dela.

─ Isabella Swan, mas prefiro que me chamem de Bella.

Bella. Era simplesmente perfeito para ela.

─ BELLS! MAMÃE VAI PARA O CAIXA JÁ! DEIXE DE NAMORAR NO CORREDOR. – Gritou Bree, tirando-nos da nuvem de flerte que nos envolvia.

Isabella soltou sua mão da minha, murmurando algo que eu não consegui entender, e se afastou.

─ Nos vemos por aí, Edward Cullen. – Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, deixando-me sozinho no corredor logo em seguida.

——

Voltei para casa com um sorriso bobo no rosto. Eu estava tão atraído por aquela mulher... Atraído de uma forma que eu nunca tinha ficado antes.

Lembrei que eu ainda não tinha o seu número, mas estávamos em tempos de redes sociais, não era? Eu a procuraria no instagram, a encontraria e assim, que sabe, poderíamos viver um romance... Céus! Eu já estava pensando em romance? Que merda era aquela?

─ Edward! – Exclamou minha mãe, tirando-me do transe.

Foquei o olhar nela, vendo-a com uma mão na cintura a me olhar. Seus cabelos estavam em um rabo de cavalo e ela usava roupas tipicamente de casa.

─ Sim?

─ As sacolas. – Falou, apontando para as sacolas que estavam na minha mão. Entreguei-as para ela. – Está sonhando acordado, querido?

Passei a mão pela nuca, sentindo-me meio bobo.

─ Só pensando em algumas coisas da universidade.

─ Claro. – Sorriu amorosamente, beijando-me a bochecha. ─ Logo o almoço estará pronto.

Assenti e subi para o meu quarto. Joguei-me na minha cama, encarando o meu celular. Procurar ou não a garota? Ela tinha devolvido meu flerte, certo? E tentar nunca era demais... Eu não estava procurando por alguém, mas vai que a vida me presenteasse com algo bom...

Jogando os questionamentos para puta que pariu, desbloqueei meu celular, entrando já na minha conta de instagram. Joguei seu nome no search.

Isabella Swan.

Uau! Muitas Isabella’s nesse mundo. Precisava ser mais específico... Bella. Ela disse que preferia ser chamada de Bella.

Bella Swan.

Procurei, procurei, mas nenhuma daquelas garotas parecia ser ela até que... Eu a encontrei. Seu user era bellswan, mas o nome estava simplesmente Bella. Cliquei na conta, agradecendo por ela ser aberta. A minha era privada, não que eu me expusesse muito na internet, afinal, eu só tinha 4 fotos no meu instagram: uma minha tocando violão na praia, outra minha de quando eu entrei em Berkeley, do cachorro que criamos aqui em casa há 7 anos e uma da minha irmã. Porém, ainda assim, preferia manter-me reservado em meu mundinho.

Bella não tinha muitas fotos suas no feed. A maioria eram de livros, paisagens, um gato persa de pelo caramelo, da sua irmã, uma dela com sua irmã e do que julguei serem os pais dela (e, caramba, ela parecia muito com a mãe). Fotos dela sozinha só tinham quatro: uma ela estava de costas em frente ao mar; outra de perfil e ela carregava uma xícara de café próxima aos lábios; a terceira pegava o seu corpo todo em frente ao que me lembrou muito a fachada da Berkeley... Será que ela estudava lá também? E a quarta foto... Era simplesmente perfeita. Pegava o seu rosto e ela tinha um sorriso tão amplo estampado que os seus olhos estavam fechados.

Eu me peguei sorrindo para aquela foto, sentindo uma tranquilidade me abraçar, aquecendo o meu coração. Antes que eu ficasse olhando feito idiota por horas a foto, eu subi para o início do instagram, olhando para o que tinha em sua bio. Uma frase e o endereço de um outro instagram.

"Amor não é coisa que se possa pedir a alguém." – Anne Frank.

@betweenbooks

Cliquei no segundo perfil, percebendo que ele era completamente focado para a leitura de livros. Uau! Ela era realmente uma leitora voraz... Não era de se espantar que estivesse se formando em literatura.

Voltei para o seu perfil original, clicando no botão de seguir.

─ Quem é essa? – A voz de Rosalie próxima demais do meu ouvido me fez pular da cama.

Olhei assustado para a minha irmã, que estava do meu lado com um sorriso malicioso no rosto.

─ Inferno, Rose! Como entrou aqui sem eu ver?

─ Mamãe gritou seu nome umas duzentas vezes e você nada, então ela me mandou aqui para vê se você ainda estava vivo. – Deu de ombros.

─ O almoço já está pronto?

─ Não, mas está quase. – Voltou a sorrir maliciosamente. ─ Então, quem a garota que fez você perder a noção do tempo, hein? Nunca te vi com tanta cara de otário em toda minha vida. – Riu.

Bloqueei o celular, guardando-o no bolso. Não queria ser pentelhado pela minha irmã mais nova.

─ Não é ninguém da sua conta, Rose.

─ Ah, vamos lá, Edward. Você me contou quando começou a namorar a Jane.

─ Você invadiu o meu quarto e leu a carta que ela me mandou! – Acusei, lembrando-me do episódio. Jane foi a primeira namorada que tive, isso aos dezesseis anos.

─ Não importam os meios, o que importa é que eu soube. – Jogou o cabelo para trás. – Não me esconda o doce, irmãozinho.

Bufei.

─ Por que você não liga para o seu namorado e para de me importunar?

Ela fez um bico.

─ Emm está no treino.

─ Ótimo. – Falei, levantando-me da cama. – Vou tomar banho antes de descer para comer.

─ Você não vai me contar mesmo quem é ela?

Eu sorri para minha irmã, entrando no banheiro e trancando a porta. Rosalie que lutasse.

─ Saco, Edward! – Resmungou e a próxima coisa que eu escutei foi a porta do meu quarto sendo fechada.

Tirei minha camisa, deixando-a sobre o balcão. Peguei o celular no bolso da minha calça, para que ele não caísse assim que eu tirasse a peça, e ele vibrou no meu bolso. Era uma notificação.

bellswan quer seguir você.

Eu nunca tinha ficado tão feliz por uma notificação do instagram.

Atualmente

Naquele dia eu compus a minha primeira música para Bella. Era uma letra meio desengonçada, mas ela gostou quando eu tive coragem de tocar para ela um tempo depois.

Engraçado como tudo na época era fácil. Quer dizer, começos em sua maioria eram fáceis. Tinham todo o nervosismo, o frio na barriga, o medo de dá errado, mas também tinham os sorrisos, os flertes, as conversas eternas... A fase inicial do amor era linda, colorida e cheia de luz. Era por isso que eu o adorava. Não era gostoso quando se tinha o sentimento retribuído? Com os pensamentos girando, uma nova parte da música fluiu do meu coração para os meus lábios.

So you're gone (Então você se foi)

And I only saw you two weeks later (E eu só te vi duas semanas depois)

But, damn, I was already so surrendered (Mas, caramba, eu já estava tão rendido)

Surrendered by you (Rendido por você)

Era verdade. Eu já estava rendido por Isabella Swan desde aqueles dias, mesmo que eu me negasse a aceitar, afinal, era possível se apaixonar tão rápido por alguém? Eu senti na pele que sim.

Busquei por uma folha e um lápis na escrivaninha da sala, achando-o facilmente, afinal, Bella adorava escrever poemas, histórias soltas... Ela tinha um talento nato para aquilo e dizia que gostaria de escrever um livro um dia. Eu brincava, dizendo que adoraria ver a nossa história nos papeis de um livro, e ela me beijava, falando que ainda faria aquilo.

Talvez ela não pensasse mais nisso. Bella gostava de romances felizes e o nosso não estava tão feliz assim. Como ruímos tão rápido? Será a falta de tato ou experiencia no amor? Ou será que o nosso destino era se cruzar, mas não caminhar um ao lado do outro?

Sentei-me no chão, abandonando o violão no sofá e a folha e o lápis ao meu lado. Coloquei a mão no rosto, não querendo pensar mais nos sentimentos ruins. Eu queria lembrar dos bons, então eu voltei a reviver nossa história, lembrando-me do nosso primeiro encontro. Depois de uma semana de conversa pelo direct do instagram, eu fui o primeiro a ter coragem que convidá-la para sair.

Julho de 2017 — Pier de Santa Cruz

─ Vai sair com ninguém, é? – Maliciou Rose, assim que passei pela sala na sexta à noite.

Ela e Emmett estavam assistindo algum filme na TV. Nossos pais tinham ido jantar fora e... Bem, eu também iria, só que em um lugar mais simples: no píer.

─ Sim. E eu vou fazer questão de não lhe contar o nome. – Provoquei, pegando as chaves do carro e da casa em cima do aparador.

─ Eu espero que você caia no mar e chegue lá todo molhado! – Respondeu birrenta.

Ri, saindo de casa e deixando uma Rosalie irritada para Emmett. Peguei meu volvo, me dirigindo até o FireFish Grill, o meu favorito da cidade. Eu me ofereci para levar Bella, mas ela recusou gentilmente, afirmando que iria em seu carro.

Estacionei o carro, percebendo o movimento de pessoas pelo píer. Era um dos pontos turísticos da cidade, dava a vista para uma das praias e do Board Walker, onde os corajosos se aventuravam em ir aos brinquedos.

Me direcionei até o restaurante. Estava olhando para o mar escuro a minha frente quando eu a vi. Ela estava parada perto da borda, fitando o mesmo mar. Seus cabelos castanhos estavam soltos e esvoaçantes. Bella trajava um vestido solto da cor preta com pequenas flores, que balançava de acordo com o vento. Em seus pés estavam all stars pretos. Ela era tão simples... E a sua beleza girava principalmente em sua simplicidade.

Bella era tão linda! Eu estava deslumbrado.

─ Espero que não tenha a deixado esperando por muito tempo. – Falei, aproximando-me dela.

Bella voltou o olhar para mim, parecendo levemente surpresa com a minha presença. E então sorriu.

─ Cheguei quase agora. Só estava aqui admirando o mar... A luz da lua deixa tudo tão lindo. Eu já disse que adoro o mar? – Perguntou, fechando um olho.

Eu me escorei na grade de madeira, fingindo pensar.

─ Hm... Sim. E do sol, e da areia, e do verão... Você é uma garota verão.

─ E eu ainda não acredito que você é um garoto inverno! Qual é, você é californiano, nasceu em uma cidade linda e prefere água congelada! – Bufou, mas não parecia realmente irritada. ─ Já não basta ser ruim de mira. – Provocou, com um sorrisinho no rosto.

─ Eu posso te perdoar por ser a doida do verão, mas zombar da minha pouca habilidade com armas já é demais. – Finge-me de zangado.

Bella gargalhou e eu acabei por rir junto, sentindo-me contagiado. Era tão fácil com Bella... Era fácil rir, conversar, se sentir confortável. Que tipo de encanto que ela tinha?

─ Será que podemos entrar? Eu realmente estou com fome.

─ Claro! Você vai adorar o peixe frito daqui.

─ Eu espero, se não, eu terei que escolher o próximo lugar.

Eu sorri enormemente. Somente a ideia de nós sairmos de novo já era o suficiente para me deixar abobalhado.

Pegamos uma mesa perto da janela e pedimos o prato principal com peixe frito. Ficamos conversando enquanto ele não chegava. Descobri que ela estudava realmente em Berkeley e contei que era de lá também. Ela me disse que não estava pronta em ter que voltar em menos de um mês para lá, pois estava em processo de conclusão do curso e eu também. Ela me contou sobre o seu gato, Drácula como o batizara, e Bella realmente parecia apaixonada pelo bichano. Contei-lhe sobre Baby, meu velho labrador, que tinha recebido esse nome estúpido da minha irmã (e que, ironicamente, era o apelido que seu namorado atual a chamava). Então, passamos a falar sobre nossos pais assim que os pedidos chegaram.

─ Espera, você é filho do Dr. Cullen, o cardiologista? – Questionou, fatiando seu peixe.

─ Sim, por quê?

─ Ele é o cardiologista do meu pai, tipo, há muito tempo. – Falou surpresa. – Charlie Swan realmente tem medo de que um dia morra de ataque cardíaco, então ele tá sempre lá fazendo o seu exame anual. Eu acho que é paranoia de policial.

─ Que mundo pequeno! – Comentei, pensando que, talvez, Bella e eu poderíamos ter nos conhecido antes. Tanta coisa se cruzava em nossa vida: mesma cidade, mesma universidade, seu pai era paciente do meu pai...

─ Sim! E eu conheço o trabalho da sua mãe também. Ela é uma ótima publicitária. Foi por isso que escolheu a profissão?

─ Sim. Quando era mais novo, ela me levava para o escritório. Eu sempre adorei a atmosfera da arte, seja ela qual fosse. – Dei um sorriso pequeno, levando uma nova garfada de comida a boca.

─ Hmm... – Bella murmurou, olhando para o prato a sua frente, parecida presa em seus pensamentos. ─ Publicidade foi sua primeira opção de ‘’como vou levar minha vida?’’

Eu passei a mão pelos cabelos, sendo pego de surpresa pela pergunta. Ninguém tinha mais me perguntado aquilo. Fazia tanto tempo que tinha ido por aquele caminho que tinha deixado para o lado o meu antigo sonho.

─ Na verdade, eu gostaria de ter sido cantor em primeiro lugar. – Respondi, sentindo-me meio tímido. ─ Eu tentei por um tempo, mas não consegui sucesso, então meu pai disse que era estúpido continuar tentando, que nem todos teriam chance, e que eu deveria fazer algo que realmente me trouxesse uma garantia. Escolhi Publicidade. Eu gosto...

─ Mas não é sua paixão. – Concluiu Bella, seu rosto tornando-se sereno. – Eu não consigo me imaginar fazendo outra coisa, se não perdida no meio dos livros. Eu gosto de dar aulas, mas tenho a pretensão de escrever um livro um dia. Tenho alguns rascunhos, mas nada finalizado. Eu acho que não devemos desistir dos nossos sonhos.

Eu sorri meio desconcertado, lembrando-me da época em que eu acreditava naquilo.

─ Infelizmente, a gente não pode comer sonhos, Bella. – Suspirei, sentindo um clima estranho pairando no ar.

Bella olhou por dois segundos para o lado, antes de voltar a sorrir para mim.

─ Depende. Se for um sonho de padaria, pode sim. – Brincou, piscando um olho.

Eu ri de sua perspicácia e concordei com a cabeça, sentindo a tensão indo embora da mesma forma que chegou: fugazmente.

Terminamos o nosso jantar, eu me ofereci para pagar a conta, já que eu quem tinha convidado. Ela aceitou, mas disse que na próxima a conta seria dela. E estava lá outra vez a possibilidade de uma próxima. Era idiota ficar feliz por isso? Porque eu realmente ficava.

Passeamos pelo píer em um silêncio agradável entre nós. Uma música animada tocava em algum ponto da rua, mas eu não conseguia entender muito bem a letra. As pessoas ainda passeavam, comiam, conversavam e riam entre si, a vida ainda agitada no velho píer de Santa Cruz.

Bella e eu paramos em um ponto mais afastado e, assim como o início da noite, escoramo-nos nas grades para olhar o mar a nossa frente.

─ Eu sempre quis sair com um músico. – Disse, quebrando o silêncio.

─ Sério?

Ela balançou a cabeça, sorrindo, mas suas bochechas estavam coradas.

─ Espero que um dia você escreva uma música sobre esse dia. Adoraria ser uma musa inspiradora. – Piscou os olhos, levantando os ombros. – Ó bela morena dos cabelos esvoaçantes, eu amei sair com você. Diga que me verá outra vez. – Cantarolou.

Eu ri de sua canção improvisada.

─ Ó bela morena dos cabelos esvoaçantes, eu te verei quantas vezes quiser, se você prometer não maltratar o meu coração. – Entrei na sua pilha.

Rimos juntos da nossa idiotice, até a graça se dissipar e a única coisa restar ser nós dois. Nossos olhos se conectaram e nossos corpos foram atraídos um para o outro, um magnetismo envolvendo-os completamente. Levei uma mão até o rosto de Bella, afastando os cabelos que voavam pelo seu rosto. O próximo passo foi selar meus lábios nos seus.

Foi uma explosão estrelar. Ela me aceitou em sua boca, subindo suas mãos para o meu peito, trazendo-me para mais perto de si. Minha mão caiu de seu rosto, escorregando pelo seu braço e encontrando-se com suas costas, aproximando-me ainda mais dela.

Foda-se se eu era inverno e ela verão. Naquele instante eu percebi que gostaria de ter Isabella para sempre em minha vida.

Atualmente

O resto do verão se resumiu a Isabella e eu descobrindo o amor que crescia entre nós. Começamos um namoro antes de voltarmos para Berkeley, eu conheci a sua família, ela conheceu a minha família e eu não poderia estar mais feliz. Meu instagram ganhou uma nova foto. Dela, obviamente. Era o nosso último dia em Santa Cruz e tínhamos ido à praia. Ela trajava um biquíni azul escuro e ria, pois o vento insistia em trazê-los para o seu rosto. A foto espontânea tinha ganhado o meu coração, mas Bella insistia em dizer que estava ridícula. Eu disse que de nenhuma maneira ela pareceria ridícula e isso pareceu convencê-la.

O que eu tinha dito sobre está rendido, hm?

Suspirei, sentindo ardentemente a falta dos dias leves, fáceis. Não é maravilhoso se apaixonar? O que as pessoas temem não é a paixão, mas sim com os questionamentos do depois: E se não der certo? E se eu nunca conseguir superar esse sentimento? Como vou continuar a viver com a angústia de um amor malfadado? Eram esses os meus temores de agora.

Suspirei novamente e meus olhos focaram na foto em tamanho 20x24 acima do aquecedor. Era do dia do nosso casamento. Sorrisos singelos estavam em nossos rostos e Bella mantinha uma mão em meu peito, mostrando anel de noivado que eu a tinha dado meses antes, e a aliança abaixo dele. Ao olhar o anel em formato oval (herança de família), recordei-me do dia que eu o dei uma nova dona.

Dezembro de 2017 — O Pedido

Era isso. Depois de muitas noites em claro, preocupações, esforços e um pouco de farra também, eu tinha conseguido me formar com excelência em publicidade. Agora eu só esperava encontrar um emprego na área. Minha mãe se ofereceu em ajudar, mas seria muito fácil. Queria construir algo com minhas próprias mãos. Entretanto, eu tinha um plano... E para ele, eu não poderia ser um desempregado por muito tempo, então era bom saber que eu tinha opções.

Falando no meu plano... Revirei com os dedos a caixinha de veludo que eu guardava fielmente em meu bolso.

— Querido, você está bem? – Mamãe questionou, afastando o cabelo da minha testa. Isso me lembrou que eu precisava cortá-lo.

— Sim. Só um pouco agitado por tudo ter acabado. – Sorri um pouco.

Esme sorriu de volta e não me fez mais perguntas, voltando-se para Carlisle. Estávamos entrando no restaurante italiano, para um almoço especial de formatura. Eu ainda estava com a beca e tudo mais, pois tínhamos vindo direto da colação para cá.

— Eu sei que você está aprontando. – Sussurrou Rosalie em meu ouvido, assim que nos sentamos à mesa reservada.

Arregalei os olhos para ela. Geralmente eu não me importava muito com as pentelhices de Rosalie, mas estava tão ansioso que qualquer coisa poderia me pegar. Ainda assim, neguei.

— Não estou aprontando nada.

Ela me olhou desconfiada. O garçom chegou nesse momento, o que eu agradeci. Gostaria que Bella estivesse aqui, mas hoje também tinha sido sua formatura e ela teria o seu tempo com sua família. Eu a veria mais tarde, quando finalmente eu...

Levantei de repente e quatro pares de olhos me fitaram. Pigarreei.

— Eu quero uma água e Carpaccio – falei para o garçom, que anotou. Olhei para a minha família. — Preciso ir ao banheiro. Volto já.

Eles assentiram, voltando a se concentrarem em seus pedidos. Deixei a mesa e segui até a área do banheiro. Percebi que no restaurante tinha uma pia de uso comunitário no meio dos dois banheiros e acabei preferindo usá-la. Fitei a minha aparência no espelho acima da pia, vendo que minhas bochechas estavam avermelhadas. Bem, a agitação deixa suas marcas.

Liguei a torneira, jogando água pelo meu rosto, a fim de amenizar um pouco. Desliguei a torneira, pegando o papel toalha ao meu lado e passei por meu rosto. Minhas mãos voltaram para a caixinha em meu bolso e eu a tirei de lá. Focado, abri-a, revelando o anel de formato oval com várias pedrinhas de diamante o adornando.

— Oh, meu Deus! – Alguém resfolegou ao meu lado.

Virei a cabeça em uma velocidade impressionante, encontrando Rosalie com os olhos vidrados no anel em minha mão. Minha irmã sempre tinha que dar uma fantasma?

Fechei automaticamente a caixinha, enfiando-a de volta no meu bolso.

— Você não viu nada, Rose.

— É claro que eu vi! – falou com a voz saindo mais fina. — O que você está pensando, seu cabeção?

— Não é da sua conta. – Bufei.

— Você vai pedir a Bella em casamento? – Questionou, ignorando-me por completo.

— Não é a da sua conta. – Repeti.

Agora ela quem bufou, cruzando os braços.

— Você é burro? Estão namorando há cinco meses! Acha mesmo que ela vai aceitar essa loucura?

— Isso não é você quem vai decidir, Rose.

Ela colocou a mão em meus ombros.

— Olhe, Edward, eu adoro a Bella. Ela é maravilhosa, mas isso entre vocês é muito recente para um pedido de casamento. – Pausou, parecendo refletir algo. – Por exemplo, eu amo o Emmett com todo o meu coração, mas eu não me imagino casando-se com ele agora.

— Até porque vocês só têm 17, não é, Rosalie. – Revirei os olhos. — Nem estão na universidade ainda. Bella e eu já somos adultos e formados.

— Você sabe que isso não é o suficiente, sim? – Suspirei. Ela balançou a cabeça. — Só pensa direito, tá? E vamos voltar que eu estou com fome. Mamãe mandou eu vir verificar se sua barriga estava boa. – Revirou os olhos.

Fiz uma careta. Dor de barriga era a última coisa que eu precisava agora.

——

Fiz um som de irritação, pois Rosalie tinha realmente conseguido me irritar. Passei o almoço todo com a cabeça nas nuvens, considerando as palavras da minha irmã. Agora eu estava em casa, tomando banho para poder ver Bella, e as palavras de Rose ainda rodavam feito espiral nos meus pensamentos.

Eu sei que poderia ser um pouco cedo, estávamos juntos oficialmente há cinco meses, mas eu não enxergava mais meu futuro sem Bella nele. Eu a amava, a queria sempre por perto, todos os dias. Queria compartilhar uma vida ao seu lado...

Você sabe que isso não é o suficiente, sim?

A voz de Rosalie zombou em minha cabeça. Desliguei o chuveiro, puxando a toalha em seguida para me secar. Saí do banheiro, e a primeira coisa que meus olhos fitaram foi a caixinha jogada em cima da cama. Me sentei ao seu lado, fitando-a.

— Será que você poderia me dá uma dica? O que acha de conhecer um novo dedo? Eu juro que ele é tão macio como a da minha mãe. Bella é toda macia, cheirosa... – Suspirei, lembrando-me das mãos dela. – Ela sabe realmente usar as mãos, se você entender o que eu digo. – Sorri de lado.

A caixinha continuou imóvel, como deveria ser. Ótimo! Agora estou conversando com seres inanimados. Levantei-me da cama, terminando de me secar. Coloquei a toalha em cima da cadeira, vestindo a roupa que eu já tinha separado. Passei desodorante, perfume, dei um jeito no cabelo e estava pronto.

Olhei para a caixinha mais uma vez e, sem pensar muito, a enfiei no meu bolso. Aproveitaria o caminho até a casa de Bella para pensar em seu destino.

No carro, liguei o rádio e Lovesong do The Cure tocava. Batuquei meus dedos no volante ao som da canção. No refrão, eu me juntei para cantar.

— However far away, I will always love you. However long I stay, I will always love you. Whatever words I say, I will always love you. I will always love you.

Era isso? Lovesong era um sinal para eu pedir Bella em casamento? Ou talvez fosse melhor esperar?

Estacionei o carro em frente a garagem dos Swan e eu ainda não tinha uma resposta decente. Se eu estava em dúvida, então...

Uma batida na janela fez com que eu pulasse no banco. Olhei para o lado, encontrando minha linda namorada, sorrindo, mas com uma ruga entre as sobrancelhas.

Baixei a janela do carro.

— Você está bem? Parou o carro e ficou aí...

Eu sorri, beijando os seus lábios rapidamente.

— Estou ótimo. Só pensando como tudo acabou.

— É. Não somos mais universitários. Acho que agora somos oficialmente adultos. – Fez bico.

Eu ri.

— Parece que sim.

Bella se afastou do carro para que eu saísse. Assim que estava fora, tranquei o automóvel.

— Agora você pode me dá um oi decente, meu formando favorito? – Fez charme.

Sorri, pegando-a nos braços e girando. Bella agarrou-se em meu pescoço, rindo. Parei de nos girar, colocando-a no chão, para poder beijar-lhe os lábios de forma decente. Bella suspirou em meus braços.

— Como foi com seus pais? – Perguntei, assim que nos soltamos.

Bella pegou em minha mão, levando-nos para dentro de casa.

— Foi tranquilo. Bree parecia mais animada do que eu. – Sorriu.

— E quando ela não está?

— Você tem um ponto.

Ao adentrarmos na casa, percebi que ela estava silenciosa demais.

— Estamos a sós?

Ela me fitou com a malícia evidente nos olhos castanhos.

— Mamãe prometeu levar Bree para um passeio no shopping com uma amiguinha e papai voltou ao trabalho. – Contou, enquanto arrastava-me para o andar de cima. — Parece que vamos ser apenas nós dois nas próximas horas. – Piscou, abrindo a porta do seu quarto.

Ele estava com as cortinas fechadas e tinha algumas velas espalhadas. Pétalas de rosa também adornavam o ambiente e um vinho com duas taças estava em cima de sua mesinha de estudos.

— Você está cheia de pensamentos indecentes, senhorita Swan. – Arqueei uma sobrancelha.

— É a nossa comemoração particular. – Sussurrou, empurrando-me para sua cama.

Caí sentado e ela subiu em cima de mim, pegando meu rosto com as duas mãos. Porém, antes que seus lábios se encontrassem com os meus, ela roçou sua perna de forma estranha sobre a minha.

— O que é isso? – Questionou, levando a mão para onde a sua perna esfregava.

Antes que eu pudesse raciocinar, a caixinha com o anel de noivado estava na mão de Bella. Petrifiquei com o olhar na caixinha na sua mão. Como eu não respondi nada, Bella abriu a caixinha. Meus olhos se movimentaram para o seu rosto, vendo os olhos castanhos se arregalarem e sua boca se abrir minimamente.

— Isso é o que eu estou pensando?

— Depende. – Minha voz saiu esganiçada. Pigarreei.

Ela olhou para mim. Estava difícil ler o seu olhar... Era uma mistura de incrédulo com... Fascinação?

— Depende do que?

— Do que você acha.

— Eu acho que é um anel de noivado. — Levantou-se do meu colo, levando a caixinha consigo. — Agora me diga por que isso está no seu bolso.

Eu olhei para o chão, sentindo-me idiota de repente. Rosalie tinha razão. O pedido era precipitado demais. Não estávamos prontos. Nem tínhamos uma casa, ou um emprego. Ser um cara emocionado era complicado às vezes.

— Acho que eu pensei que fossem as chaves de casa. – Menti, passando a mão pela minha nuca, sem coragem de olhar para ela.

— Porque são coisas bem parecidas, né? — Retrucou com a ironia presente em sua voz.

Eu não disse nada. Bella andou até mim novamente. Tirou as minhas mãos do meu colo, substituindo-as pelo seu corpo. Ela pegou a minha mão caída ao meu lado, colocando a caixinha fechada nela.

— Me diga o real motivo. – Pediu em um sussurro.

Tomei coragem e olhei nos olhos dela. Eles estavam em chocolate derretido, cheios de doçura e compaixão. Acho que eu nunca tinha visto o seu olhar castanho desse jeito.

— Promete não me achar bobo?

— Eu já acho você um bobão. – Brincou, colocando a ponta do dedo em meu nariz. – Mas vou achar mais se você não pedir.

Meus olhos se tornaram esperançosos.

— Pedir? – Ela assentiu com a cabeça. – Se eu pedir, você dirá sim?

— Tente.

Coloquei Bella de pé, ajoelhando-me de frente para ela. Abri a caixinha, olhando-a nos olhos, tentando expressar todo o amor que eu sentia por ela através deles. Minha mão tremia um pouco, mas enquanto a caixinha não caísse dela, as coisas ficariam bem.

— Isabella Marie Swan, você me daria a encantadora honra de ser a minha esposa?

Vi duas lágrimas escorrem dos seus olhos antes de ela se ajoelhar à minha frente, oferecendo-me a mão.

— Com todo o prazer do mundo.

O sorriso que irrompeu pelo meu rosto poderia ser visto a quilômetros, eu poderia apostar. Peguei sua mão, beijando-a e deslizando o anel pelo seu dedo anelar.

Era isso. Rosalie estava errada. Bella era a minha noiva. Meu coração sentia com todo o ardor que seríamos para sempre.

Atualmente

As lágrimas escorriam pelo meu rosto, por mais que eu as limpasse. Eu nunca tinha sentido tanta felicidade como no dia em que pedi a Bella em casamento. Apesar do meu medo, eu sempre soube no fundo que era o certo... E ainda é o certo, por isso a ideia de me separar dela é a coisa dolorosa e ridícula do mundo. Eu a amava, a amava, a amava, a amava... Amava que doía.

Sequei as lágrimas outras vez, voltando a pegar o violão, o papel e a caneta. O verso fluiu entre as minhas mãos e voz.

I don't know how our story will end (Eu não sei como a nossa história terminará)

But I want you to know that I tried (Mas quero que saiba que eu tentei)

Be the best for you (Ser o melhor para você)

And don't make you cry (E não te fazer chorar)

 

Cause you are my sunrise (Pois você é o meu nascer do sol)

I feel you under my skin (Eu te sinto sob minha pele)

And I will walk miles (E eu caminharei milhas)

To have you by my side (Para te ter ao meu lado)

Because I can't believe (Porque não posso acreditar)

That everything came to nothing (Que tudo deu em nada)

As lembranças agora vinham como enxurrada em minha cabeça. O nosso casamento ocorreu no dia treze de agosto do ano seguinte. Foi na praia, assim como Bella sempre desejara. Ela traja um vestido solto, os cabelos soltos, Bella em si estava solta, radiante e feliz. E eu? Bem, eu pensava que poderia entrar em combustão a qualquer momento. Tornar-me marido daquela mulher espetacular era o sonho que eu nem imaginava ter, mas que percebi que o tinha quando o realizei.

Nossa família achou um pouco cedo, mas sempre nos dera suporte. Inclusive, minha mãe tinha conseguido uma entrevista de emprego para Bella na escola em que ela trabalha atualmente. Eu tinha demorado um pouco mais, porém tinha conseguido uma vaga de assistente júnior em uma empresa de publicidade famosa em São Francisco. A oportunidade de emprego tinha surgido para nós nessa cidade, apesar do nosso desejo de voltar a Santa Cruz e começar a nossa família lá.

E foi nesse desejo que eu me perdi. Desde que entrara na Denali Publicity, eu passei a viver para o trabalho, a fim conquistar tudo que sonhávamos. Eu me envolvi tanto, que eu acabei deixando uma das pessoas que eu mais amava no mundo de lado. E ficava com raiva toda vez que ela reclamava da minha ausência, porque só pensava no esforço que eu estava fazendo para conseguir realizar os nossos sonhos, sem pensar no esforço que ela fazia diariamente também, sem pensar que Bella e eu éramos parceria.

E o mais triste foi perceber que eu só percebi todo o mal que estava causando em nossa última briga, cerca de duas horas atrás, a briga mais feia que tivemos em quase três anos de relacionamento. A mais feia, pois foi a primeira vez que a palavra ‘’divórcio’’ surgiu.

— Egoísta filho da puta. – Esbravejei para mim, esmurrando a almofada ao meu lado.

Sem conseguir controlar meus pensamentos, minha mente remoeu a briga.

2 horas atrás — A Briga

Mais um dia estressante de trabalho. Como se não bastasse a correria no escritório pelas contas que chegavam por conta do final do ano, aparentemente a minha chefe, Irina Denali, estava interessada demais no meu trabalho. Eu só esperava que ela não cruzasse os limites porque, além de eu ser um cara casado, eu ainda precisava de um emprego.

Abri a porta do pequeno apartamento que Bella e eu passamos a morar após o nosso casamento. Eu tinha saído mais tarde que o normal, e tudo o que eu pensava era em tomar um banho e me jogar na cama. Nem em comida eu estava pensando.

Porém, assim que eu adentrei no apartamento, me deparei com o ambiente parcialmente escuro, iluminado apenas por luz de velas. Não demorei em encontrar minha esposa. Ela estava sentada à mesa, uma taça do que deduzi ser vinho em sua mão e um pequeno banquete a sua frente. Não olhou em nenhum momento em minha direção.

E então eu lembrei que Bella tinha me avisado que faria o jantar de comemoração do nosso casamento hoje, pois no dia oficial eu não poderia estar presente por conta do trabalho.

— Bella...

Tentei falar, mas parei no meio do caminho, pois sua cabeça virou em um raio na minha direção. Seus olhos estavam em facas, magoados. A luz trepidante das velas denunciava as suas lágrimas também.

Merda.

— Eu não quero ouvir desculpas, Edward. Estou te avisando desse jantar há uma semana. Uma. Maldita. Semana. E o que você me faz? Aparece horas depois! E nem para mandar uma mensagem.

— Eu sei, eu sei. Me descu...

— Eu não quero desculpas! – Gritou, levantando-se da cadeira com a taça de vinho na mão. — Estou cansada dessa rotina. Éramos para está comemorando essa data meses atrás! Eu me pergunto se o nosso casamento ainda significa alguma coisa para você, pois tudo o que recebo é sua ausência cada dia mais.

— Será que você pode parar de gritar? — Pedi, esfregando a ponte do meu nariz. Estava tão farto daquela mesma briga. — Eu tive um dia exaustivo e tudo o que eu não quero agora é você gritando na minha mente.

Ela ri, mas o som não parece nenhum pouco feliz.

— E você acha que o meu dia não foi exaustivo? Eu não fico brincando de casinha o dia todo! Eu tenho um trabalho que exige de mim também.

— Se você sabe como o trabalho é exaustivo, por que ainda fica me enchendo o saco? – Bufei. – Eu me atrasei para o jantar, desculpe, mas eu tenho uma chefe exigente e se eu quiser crescer na minha profissão, tenho que me esforçar cotidianamente.

— Exigente? – Semicerrou os olhos, incrédula. – Por Deus, acorde! Aquela mulher está com outro tipo de interesse em você e te mantém preso naquela maldita empresa para ficar te secando. Eu vi como ela olhava você na festa do quatro de julho!

Fitei-a chateado. Duvidar do trabalho que eu fazia era um dos meus pontos fracos. Primeiro foi a música, agora a publicidade? Eu me sentia sem valor.

— Está dizendo que meu trabalho não vale de nada?

— Não, mas você precisa enxergar que sua chefe está dando atenção demais para um simples funcionário.

— Simples funcionário? E ainda diz que não está falando mal do meu trabalho. – Ri com escárnio.

— Não estou falando mal do seu maldito trabalho, só estou cansada de nunca ser prioridade em sua vida! Nem para comemorar o dia em que nos casamos! – Falou exasperada. – Mas talvez não tenha o que comemorar aqui, já que aparentemente o casamento não serve de nada para você!

Me faltou a paciência.

— Chega, Isabella, chega! – Falei um pouco mais alto. – Todo dia a mesma história, inferno! Você não aceita desculpas, não entende nada, eu não sei nem como conversar com você sem ter um maldito escândalo no meio! Eu chego em casa em busca de paz e só encontro guerra.

— Eu que estou cansada dessa merda toda! Às vezes eu nem entendo você. Quando eu te conheci era tão vibrante. Falava de música, poesias, sonhos... — Sua postura altiva tremeu um pouco, mas logo ela se recompôs. — Eu nunca pensei que você seria um desses caras de terno, que nem percebem o tempo passar. Esse casamento tá me saindo um belo de um erro! — Cuspiu.

Fitei-a, sentindo a dor e a raiva se misturarem em minha mente e em meu coração.

— Ninguém te obrigou a se casar comigo. Se está tão infeliz, peça o maldito divórcio!

— Talvez eu peça! – Gritou outra vez, as lágrimas caindo dos seus olhos, jogando a taça de vinho no chão.

— Perfeito! – Retruquei, enevoado pela dor e pela raiva.

Em seguida, Bella pegou a bolsa sobre o sofá e saiu do apartamento, batendo a porta atrás de si com força.

Atualmente

Cause you’re my moonlight (Pois você é meu luar)

I feel you in my veins (Eu te sinto em minhas veias)

And I will walk miles (E eu caminharei milhas)

To have you by my side (Para te ter ao meu lado)

Because I can’t believe (Porque não posso acreditar)

That everything came to nothing (Que tudo deu em nada)

Finalizei a última parte da canção, depositando todas as emoções que eu sentia através das palavras. Nomeei a música de Everything Came To NothingFaz tanto tempo que eu não fazia isso... Devo ter perdido a minha vibração, como Bella mesmo tinha dito.

Uma ideia iluminou minha cabeça, fazendo um pequeno sorriso crescer em meus lábios. Levantei-me do chão, em busca do velho tripé que estava guardado no escritório do apartamento (que na verdade deveria ser um segundo quarto). O trouxe até a sala, posicionando em frente a janela. Depois peguei meu celular e o ajustei nele, colocando no modo gravação.

Sentei-me novamente no sofá abaixo da janela, peguei o violão e toquei a música que eu tinha acabado de compor. Fechei os olhos e deixei as palavras saírem do meu coração outra vez. Minha mente repassou, como um filme antigo, a minha história com Bella outra vez.

Assim que cantei o último verso, abri os meus olhos, levemente molhados pelas lágrimas, e falei diretamente com a câmera, mas pensando nela:

— Espero recuperar um pouco da minha vibração com essa música. Sei que fui um idiota, acabei de afastando de mim, mas espero que acredite que eu te amo com todo o meu coração. E eu não vejo nenhum futuro no qual você não esteja nele.

Terminei a gravação. Fiquei olhando para o vídeo pausado, pensando se eu enviaria ou não. Antes que eu ponderasse demais, em um impulso decidi upar o vídeo no youtube, revivendo um antigo canal que eu tinha, onde eu postava alguns covers na época que eu tentava ser um cantor.

Assim que o vídeo ficou disponível no site, o enviei para Bella, desejando com todo o meu coração que ela apenas o visse.

——

Eu estava quase dormindo no sofá quando escutei a porta da frente se abrindo. Abri os olhos, deparando-me com a figura de Bella iluminada apenas pela luz da lua. Percebi também que tinha parado de chover.

Ela parou à minha frente. Sentei-me no sofá, dando espaço para que ela se sentasse ao meu lado e assim Bella o fez. Um suspiro saiu dos seus lábios, enquanto ela fitava as mãos em seu colo.

— Eu estava no bar com Alice. — Começou com a voz baixa. — Você sabe que ela está na cidade esses dias por conta do trabalho. E então, enquanto eu despejava minha merda sobre ela, o seu celular vibra em uma notificação. Acho que eu já contei que ela era fã dos covers que você fazia, não é? – Olhou para mim com um meio sorriso.

— Sim.

— Então, qual foi a nossa surpresa em vê que era uma notificação do seu canal com uma nova música. Para mim. – Soltou uma risada desacreditada pelo nariz. — Você me fez chorar pela terceira vez no dia Edward e isso não se faz. Fica compondo essas músicas, fazendo-me lembrar de quando namorávamos para eu ficar toda besta por você e me sentir uma idiota pela briga. Me desculpe.

Eu não contive a risada baixa. A puxei pelos ombros para perto e Bella se aconchegou em mim.

— Eu estou me sentindo do mesmo jeito também, Bells. Somos tão estúpidos! Eu mais do que você. — Suspirei. — Disse coisas nas quais eu me arrependo e peço desculpas por isso, mesmo você estando farta delas. Se esquecer a ideia do divórcio, eu vou tentar ser um marido melhor para você. Caso eu não cumpra esta promessa, pode me dá um pé na bunda, ou um tiro, você é boa nisso.

Ela riu baixinho, dando um soco fraco na minha perna.

— Idiota! Só não esqueça que eu existo, ok? E eu acredito muito em seu trabalho, em seu talento. Você é bom em tudo o que faz e eu vou te apoiar, independente do que seja. Menos se você quiser matar alguém, querido. — Brincou, subindo o olhar para mim.

— A boa de mira aqui é você, não sou eu. — Retruquei com um ar divertido, mas logo estava sério outra vez. — Não tem como esquecer que você existe, Isabella. Nem que eu tentasse por mil anos — falei seriamente, beijando o seu olho esquerdo. — Eu te sinto sob minha pele. — Fiz referência a música, beijando seu olho direito. — Porque eu não acredito que tudo deu em nada.

Minha boca alcançou a sua e Bella tomou os meus lábios em um beijo urgente, caloroso, cheio de paixão. E nós pegamos fogo outra vez, inebriados pelo amor selvagem que nos consumia. Talvez as coisas tivessem sido rápidas demais entre nós, mas, quer saber? Eu não me arrependia nenhum pouco.

FIM


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Eu fiquei meio insegura com uma parte da história, mas relendo ela toda até que eu gostei do resultado! Eu adorei escrever esse Edward todo emocionado e essa Bella maravilhosa.
.
A música é de autoria minha, então se ficou muito b#sta, por favor, me perdoem e finjam que ela é maravilhosa KKKKK.
.
Me contem o que acharam na caixinha de comentários logo abaixo. Estarei esperando :D. Um beijo e até a próxima!